Shadows of the past escrita por larissabaoli


Capítulo 15
Capitulo 15




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Depois que Janine foi embora, eu comecei a organizar minhas coisas em silencio. Ouvia algumas meninas passando por minha porta, mas ninguém veio até meu quarto. Eu guardei minhas coisas e pus meus despertadores ajeitando os horários novamente. Coloquei meu celular para carregar e depois de tudo organizado eu me sentei na cama. Esse seria meu quarto pelos próximos três anos. Eu respirei fundo e depois não me contive. Eu sentia falta dos meus pais, da minha cidade, da liberdade que eu tinha, dos carros e das fugas. Eu sentia falta dos conselhos de Yeva, de passar a noite ajudando Sydney e agora de Jill também. Não sei por quanto tempo chorei baixo até que resolvi tomar um banho e dormir. O sol já tinha aparecido e não conseguia ouvir mais ninguém do lado de fora, eu pus um short e uma camiseta confortável e me deitei, agradecendo pelo sono ter vindo rápido.

Me acordei de repente ouvindo alguém bater na minha porta e depois de ter percebido que meu alarme estava no chão – eu provavelmente teria o derrubado quando ele tocou pela primeira vez – eu me levantei e fui atender a porta cambaleando.

– Você sabe que está atrasada, certo? Quer dizer, nossa aula deveria começar agora. – disse uma dhampir duas cabeças mais alta que eu, de olhos verdes e ombros largos.

Eu bocejei.

– Desculpe. Bom dia. Você é a minha professora? – eu queria não ter soado tão impressionada quanto soei.

– Quase isso – ela riu – eu sou Bea. E vou ser tipo sua guia aqui dentro. Me pediram para te dar aulas extras e eu também comando o 6º tempo, mesmo que sendo supervisionada por Alberta. Anda, fique pronta e no caminho eu falo mais sobre isso.

A claridade ainda estava no quarto, eu tinha esquecido de por as cortinas, o que deveria ser madrugada para os Moroi. Eu tomei banho com uma água muito gelada por não ter conseguido ligar a ducha elétrica e já que Bea ainda estava no meu quarto, resolvi me vestir no banheiro. Eu vesti calça de malha preta e uma camiseta de algodão, a maioria do meu guarda-roupa agora eram roupas de Jill e Rose que insistiram em me pedir para que eu experimentasse enquanto estávamos na Corte. Bea parecia estar começando a ficar impaciente e depois que fiquei pronta, ela me olhou como se eu tivesse algum mal.

– Brincos? Cordão? Anel? Cabelo? – ela disse apontando.

Eu lembrei que usava tudo isso e que meu cabelo estava solto e tive que ser rápida enquanto os guardava.

– Agora vamos. – e então ela saiu e eu saí praticamente correndo atrás dela enquanto prendia meu cabelo num rabo de cavalo. – Perdemos meia hora da aula que deveríamos ter, então amanhã ponha cinco alarmes se necessário ao invés de só um, okay? – ela me disse e então me levou até a cozinha. – Como você não acordava, antes de ir ao seu quarto eu preparei isso. Vai te manter sem fome até o almoço. Tome no caminho até o ginásio.

Eu peguei o copo com canudo verde que tinha um liquido grosso dentro e continuei andando atrás de Bea até que saímos do edifício e caminhamos pelo lugar. Comecei a tomar o que descobri ser uma vitamina, mas até chegar o final eu não consegui dizer de quê exatamente era. Era doce e era melhor do que não comer nada – o que eu tinha quase certeza que era o que aconteceria se eu reclamasse ou pedisse outra coisa pra Bea.

Nós andamos até o ginásio que possuía três cordas grossas penduradas no meio. Era uma quadra grande e mais além havia uma porta de vidro aonde eu vi aparelhos de academia. Bea começou me pedindo para fazer um alongamento e eu copiei tudo o que ela fazia.

– Amanhã quero que os faça sozinha, de preferencia antes mesmo de eu chegar aqui. Agora cinco voltas.

Depois do que parecia ser uma eternidade, mas eram apenas trinta minutos, Bea havia me feito fazer a sequencia: a cada cinco voltas eu precisava escalar a corda e depois descer. Correr para mim já foi difícil e na terceira volta de cada sequencia, eu já diminuía o ritmo, o que causava suspiros de exasperação em minha treinadora. Escalar as cordas então... era humilhante. Primeiro eu não conseguia de maneira alguma subir e depois que passei a subir eu não sabia como continuar.

– Quando me disseram que você nunca tinha tido aulas de treinamento, eu pensei que eles estavam brincando ou que pelo menos você já tinha feito educação física na vida. – ela disse me entregando uma toalha. Eu estava sentada encostada a uma parede depois que ela disse que nossa aula tinha acabado.

Eu não respondi e depois voltamos para o bloco dos guardiões, todos os dhampirs pareciam começando a acordar, mas mais despertos do que eu estava anteriormente. Eu me sentia cansada e sabia que isso era apenas o começo do dia. Tive poucos minutos para tomar banho e por o uniforme, pegando a mochila e descendo o mais rápido que pude. O problema é que eu não sabia para onde ir. O edifício central era obviamente no meio da escola, mas eu não sabia em que sala ir ou qualquer outra coisa.

– Você vai precisar aprender a ser mais rápida, honestamente. – disse Bea aparecendo ao meu lado já pronta e me assustando. – Anda, vou te levar até sua sala. Ou vai querer que eu prepare uma lancheira para você antes?

Eu mais uma vez não respondi e segui atrás dela, junto a alguns de seus amigos. Ela me apresentou para eles como “Anastacia, a novata” e eu cumprimentei esquecendo o nome de maioria assim que ela me disse.

Chegamos até a entrada do bloco principal e esse era o maior, assim como o bloco central da Corte, mas a grande diferença era que esse era lotado por pessoas com o mesmo uniforme que eu. Morois e dhampirs, professores, guardiões e alunos. Todos indo para o lado e para o outro, o que me deixou mais uma vez intimidada. Bea também era uma pessoa popular e muitos dhampirs vinham cumprimenta-la e depois de falar com alguns amigos, ela me deixou na porta da sala.

– Siga os seus agora e vai dar tudo certo. Eu estou no segundo ano, então minha sala é para o outro lado. Por favor, só, por favor, não se perca me obrigando a ir te achar, Anastacia. – ela disse e saiu.

Eu a observei ir enquanto pensava em mais de cem insultos para dizer a ela, mas sabendo que ela poderia me derrubar com facilidade quando bem quisesse, eu apenas me virei e entrei na classe.

A aula ainda não havia começado e eu me sentei na mesa mais afastada que pude, próximo a parede. Observei mais alguns alunos entrarem até que resolvi tirar o meu material da mochila e por na mesa, começando a ler um pouco sobre o que poderia ser a aula.

– Nos encontramos de novo, Anastacia – uma voz masculina disse e eu levantei meu rosto para enxergar Dane Zeklos.

Ele estava com o mesmo uniforme em versão masculina, mas parecia bem mais confortável. Estava usando uma bolsa transversal marrom e puxou uma cadeira, sentando-se na minha frente.

Eu resolvi me manter em silencio, afinal o dia já estava uma merda e eu não faria nada para piorar.

– Quando nos encontramos na festa você falava. Será que é necessário álcool para fazer você falar? – ele me disse sorrindo cínico.

Eu cruzei os braços.

– Fico feliz por ter vindo para cá. Essa escola estava precisando de alguém como você.

E então uma menina pulou rapidamente em seu colo e lhe beijou sem pudor nenhum. Eu não consegui evitar minha surpresa e os outros alunos começaram a dar gritinhos de apoio, enquanto algumas meninas pareciam nervosas e comentavam umas com as outras. Quando finalmente eles se separaram, Dane continuava calmo em sua pose.

– Anastacia, como você pode ver, essa é Gwen. Minha não tão inocente namorada.

Ela tinha cabelos loiros com mechas castanhas em ondas perfeitas e era uma Moroi alta e magra como qualquer outra, o que eu não esperava foi ver seu rosto e saber que essa era a mesma garota que eu havia encontrado no escuro na festa dos Badica.

Ela também me reconheceu e olhou para Dane, que ainda possuía o mesmo sorriso idiota em seu rosto e então resolveu ficar com a mesma expressão.

– Oi, novata. Bem vinda a St. Vlad. – ela disse e saiu do colo de Dane, sentando-se na cadeira ao lado, na mesma hora em que o professor chegou.

Não lembro exatamente o começo dessa aula, porque minha mente começou a dar voltas. Dane, que tinha me beijado na festa, tinha namorada. Gwen era a namorada que obviamente não estava com ele naquele quarto e que pelo visto não fazia ideia do que Dane tinha feito. Melhor casal do mundo, eu pensei.

Depois de finalmente conseguir focar na aula e nos exercícios, eu tentei terminar o que o professor havia pedido desesperadamente, pois pelo meu relógio eu sabia que a aula estava próxima a acabar. E então não percebi que estava sendo observada até que Dane pôs a mão na minha, me impedindo de escrever. Eu levantei o rosto e o encarei, mas então percebi os outros olhares e o professor Ellsworth que me observava impaciente.

– Hathaway, você é nova aqui. Pode se levantar e se apresentar?

Não. Era tudo o que eu queria dizer, mas mesmo assim eu me levantei, respirei fundo e comecei a falar olhando apenas para o professor.

– Sim, senhor. Meu nome é Anastacia Hathaway, eu tenho 15 anos, nasci na Rússia e agora vim para cá.

– Da Rússia, interessante. Você foi transferida de que escola?

Ah, merda.

– Eu recebia ensino particular, senhor. – eu improvisei uma meia verdade e pude ouvir os cochichos começarem.

– Oh, certo. É bom ter você aqui na St. Vladmir. Seja bem-vinda.

Eu me sentei e ia voltar a escrever quando ouvi Dane dizer:

– Russa, uh. Explica o seu humor. – ele disse rindo baixo.

Sério? Eu suspirei exasperada e voltei para o exercício.

As outras aulas foram seguidas de mais apresentações repetidas e eu procurei me manter sentando atrás. Gwen chamou Dane para frente a partir da segunda aula e eu me senti mais aliviada por não ter que ficar perto do casal perfeito.

No almoço, eu me sentia com sono e cansada, mas por saber as próximas aulas seriam piores ainda, eu garanti de me alimentar bem. Bea me chamou para a mesa com seus amigos e eles foram mais que gentis em me manter perto deles, mesmo eu somente observando e não entendendo grande parte dos assuntos discutidos. Eu peguei meu celular e comecei a trocar mensagens com Jill que foi super positiva como sempre.

“É só o primeiro dia, pense nesse dia como aprendizado! Amanhã vai ser melhor” J

Eu balancei a cabeça em descrença e depois de ter terminado, fui até Bea.

– Hey, sabe onde fica a sala do professor Lemoine? – eu perguntei.

Bea olhou ao redor antes de me responder e depois falou baixo.

– Vai precisar ir para o bloco depois da igreja, saia do refeitório e siga a direita. Se você se perder, diga que está procurando por Meredith, okay? – ela me disse tentando não rir.

Eu estranhei, mas concordei e depois disso segui suas instruções, mas achar esse bloco foi fácil, pois eu havia passado por ele com Janine anteriormente. Era o bloco das crianças em St. Vladmir e logo eu me vi cercada por elas que estavam em seu horário de almoço também. Dhampir e Moroi brincando sem distinção alguma, eu sorri enquanto tentava não esbarrar em nenhum deles e depois de perguntar a um guardião onde ficava a sala do professor, eu andei até encontrar uma sala no começo de um corredor.

A sala do professor Lemoine era simples e sem decoração. Havia apenas um aluno sentado à frente e assim que entrei os dois presentes me olharam. O outro aluno era da minha sala e o amigo de Dane que eu já tinha visto na festa dos Badica. Era um garoto Moroi que tinha aproximadamente a minha idade, mas me lembrou Yuri e eu imediatamente me perguntei se Yuri não teria um irmão mais novo. Os dois possuíam olhos e cabelos castanhos opacos, mas esse era mais pálido quase num tom doentio até para um Moroi. Já o professor Lemoine, tinha cabelo castanho-claro quase dourados e com ondulações. Eu não consegui ver seus olhos direito, mas percebi que eram claros e ele era magro como maioria dos Moroi.

– Você deve ser Anastacia. Sente-se em qualquer lugar. Esse ano só terei vocês dois por aqui.

Eu sentei no lado oposto ao outro aluno e o professor começou a explicar:

Como Oliver já sabe, nossas aulas serão de segunda a sábado, mas todos os dias uma matéria diferente. No sábado, eu darei duas aulas e elas serão a partir do primeiro horário. Tratam-se de matérias básicas e nas segundas, nós daremos língua inglesa.

– Está tudo escrito no folheto de inscrição da sua aula, Lemoine. Ela pode ser atrasada, mas não é retardada e sabe ler. – disse Oliver.

Lemoine pareceu envergonhado e se endireitou.

– Tudo bem, eu... nem tinha lido mesmo o folheto – disse dando de ombros.

– Então eu estava errado. Você deve ser retardada. – Oliver respondeu.

Eu olhei para ele que me encarava com raiva e optei por ignorar e me acalmar.

Lemoine então começou a dar sua aula com um carregado sotaque francês e eu percebi que ele era um tanto atrapalhado e que Oliver só fazia com que isso piorasse com suas piadas. Aliás, em uma aula eu estava tendo minha paciência elevada ao limite, pois Oliver fazia a aula parecer um inferno e faltando alguns minutos para a aula acabar, ele simplesmente se levantou e saiu apressado.

Eu olhei para o professor e ele parecia acostumado a ver isso acontecer.

– Então, acho que a aula acabou. Nos vemos amanhã, Anastacia.

– Okay, e pode me chamar de Ana, senhor. – eu disse enquanto guardava as minhas coisas.

– Certo, Ana. E não ligue para os comentários e brincadeiras do Oliver. Ele só está chateado por estar em seu terceiro ano de reforço.

Eu fiquei em silencio enquanto deixava a informação absorver e sem querer perguntar o por que. E então eu optei por perguntar outras coisas.

– Por mim tudo bem, mas por que o senhor aceitar que ele faça essas brincadeiras? – eu disse me encostando a mesa e cruzando os braços.

– Bem, ele é o aluno que tem pais importantes no governo da Rainha, ele é quem já está a três anos me fazendo dar aulas de reforço na academia além das de francês para as crianças daqui e porque eu tenho pena.

Eu o encarei incrédula.

– Vamos lá, ele é apenas um garoto que tem um monte de dificuldades e esconde isso fazendo esse tipo de travessura. Ele vai ficar aqui até que melhore e enquanto ele não tiver notas boas para mostrar, eu estou preso a ele o tanto quanto ele está preso a mim. – ele disse.

Eu refleti por um momento e depois ouvi o sino que informava que agora sim a aula tinha acabado, eu peguei meu exercício e fui até a mesa dele para entregar, na hora que ele pegou eu o encarei e pude ver que seus olhos eram cor de mel, mas meio amarelados como os de um gato. Não era algo que se via todos os dias, mas eu achei legal.

Eu saí mais uma vez tentando sair do caminho das crianças e enquanto passava pela igreja, não percebi que meu pé tinha enganchado em uma raiz e caí quase de cara no chão. Depois que me pus de joelhos e percebi que tinha ralado o esquerdo, comecei a limpar meu uniforme, até que vi alguém se aproximar e de repente era Oliver que estava na minha frente.

– Fique esperta, ruiva. Se contar para alguém que tenho essas aulas, um tropeço vai ser o menor dos seus problemas. – ele disse e saiu.

Eu não conseguia acreditar no que tinha acabado de acontecer. Quando eu me levantei, percebi que a raiz tinha sumido e vi minha raiva aumentar enquanto caminhava até o bloco dos guardiões para trocar de roupa. Quando entrei, todos estavam indo para suas aulas e que provavelmente eu me atrasaria para minha próxima aula. Eu queria me acalmar sozinha, mas tinha a necessidade de fazer alguma coisa para acabar com a raiva que eu sentia. Nunca tinha sido ameaçada dessa maneira por alguém que mal me conhecia e que eu nunca tinha feito nada. Eu queria gritar, mas resolvi apenas trocar de roupa, pondo um curativo no pequeno ferimento.

Desci as escadas e segui dois dhampirs apressados e atrasados como eu. Quando cheguei na quadra – que era aberta, mas muito bem iluminada – reconheci Alberta e Bea. Elas não fizeram com que eu me apresentasse e logo separaram todos em duplas. Eu deveria ser o par de Jessica Martin, mas Bea ficou com ela e me pediu para que eu só observasse por hoje. Parecia um alivio finalmente ter um tempo para pensar e me manter sentada e quieta em algum lugar. Eu me sentei em uma das arquibancadas de ferro do lugar e depois de me acalmar eu passei a observar a aula. Era brutal. Eles se moviam rapidamente e golpeavam uns aos outros até que alguém desistisse, mas as lutas eram longas e desistir parecia ser a pior coisa do mundo. Eu assisti tudo e depois de um tempo comecei a torcer como se assistisse pela televisão. Me perguntei o que aconteceria comigo amanhã, já que um soco de direita não seria nem o começo para uma luta e isso era tudo o que eu sabia fazer e então comecei a observar Bea e ela parecia ser a melhor dali. Ela era forte e grande para Jessica, mas isso não a deixava lenta. Ela era rápida e não errava. Derrubava sua parceira com facilidade e Jessica parecia cada vez mais atacar com raiva. Ela era pequena e baixinha, menor do que eu e tinha cabelos castanhos e olhos azuis que brilhavam de raiva cada vez que atacava. Também tinha um nariz levemente torto e eu me perguntei ela já tinha nascido assim ou se isso tinha acontecido em algum treino.

Depois que a aula acabou, todos seguiram para o chuveiro carregando suas bolsas, mas eu me levantei para perguntar a Bea onde seria a próxima aula e ela me disse que era novamente no bloco central.

Voltar para lá foi mais fácil e eu fiquei feliz por começar a memorizar o local, amanhã eu já não precisaria de Bea para me guiar – o que eu acho que deixaria ela bem feliz também. Enquanto passava pelo pátio, vi Gwen abraçada a Dane e Oliverr ao lado deles, junto a mais dois Morois, outro casal pelo que pude perceber. Quando Oliverr percebeu que eu os observava, pôs uma expressão destemida com um sorriso doentio, me encarando de volta e eu virei o rosto seguindo para minha aula. Eu precisava ficar fora de problemas, se eu estava presa a essa escola pelos próximos três anos. Eu tinha quatro pais e uma irmã para não desapontar e se necessário eu aguentaria isso. Eu só precisava evitar contato com todos eles e fazer minha parte aqui. Eu só precisava manter minhas notas altas, não precisava nem sequer ser boa nas aulas de guardiões. Okay, Janine e Rose provavelmente iam ficar bem aborrecidas com isso, mas eu tinha prometido a rainha Lissa que frequentaria as aulas, não que eu seria boa nelas. Eu entrei na sala de aula e logo em seguida vi alguém entrar atrás de mim.

– Oi, Anastacia.

Eu nem me dei ao trabalho de me virar para perceber que era Dane Zeklos que havia me seguido.

– Ah, qual é. Pode parar com esse negócio de não falar. Afinal, estamos só nós dois aqui...

Eu me virei sem acreditar.

– Você não tem uma namorada para perturbar além de mim?

Ele riu e continuou me seguindo.

– Oh, Gwen... ela realmente é... alguma coisa.

Eu revirei os olhos e continuei andando até chegar à cadeira próxima à parede, no final da sala.

– Desculpe não ter mencionado que tinha namorada, não sabia que você ficaria com ciúmes.

Eu joguei a mochila na cadeira e me virei para ele.

– Quer levar outro soco?

Ele pôs as mãos para cima em defensiva, mas ainda estava com aquele sorriso cínico.

– Hey, não seja tão agressiva. Na festa você tinha seus amigos para te defender, mas se você me bater aqui, pode se meter em problemas.

Eu fiquei em silencio por saber que ele tinha razão e me sentei, ele sentou-se na minha frente e virou-se para mim. Eu já estava cansando de Dane e seus amigos.

– Okay, agora você pode ir embora? Ir atrás da sua namorada ou do seu amiguinho?

– Não, eu estou bem aqui.

Eu resolvi voltar a não falar nada e peguei um caderno em minha bolsa, junto ao estojo. Estava me sentindo incomodada e aborrecida e comecei a escrever palavrões em russo em sequencia no caderno. Quando percebi que ele ainda me observava, eu parei e o olhei pronta para encara-lo até que ele se tocasse que era indesejado, mas o que aconteceu foi bem diferente. Ele me observava por completo. Seu sorriso havia sumido e ele era agora atencioso. Eu passei a encarar percebendo para onde ele olhava até que ele encontrou meu olhar. Eu não entendi exatamente o que estava acontecendo, mas eu me sentia fora de controle. Meu estomago começou a dar voltas e eu comecei a me sentir sem ar. Dane tinha olhos azuis quase acinzentados e cabelos loiros com algumas mechas mais escuras que iam em todas as direções, mas formavam um topete na frente, seus lábios eram finos e no momento não possuíam humor algum.

– Sr. Zeklos, creio que você não tenha essa aula em seu horário. – disse o homem dhampir que apareceu na porta, nos fazendo quebrar o contato e me fazendo voltar a realidade.

Dane voltou a ser o idiota que eu já estava me acostumando.

– Não, senhor. Eu só estava fazendo companhia para a novata. – ele disse e me deu uma piscadela com que eu retribui com uma careta.

– Porque Deus nos livre de deixar uma dhampir sozinha dentro de uma escola lotada de guardiões. Vá para sua aula, Zeklos. E que isso não torne a acontecer.

Dane deu uma risadinha e se levantou andando preguiçosamente e saindo de sala. O professor começou a programar sua aula e logo depois os alunos começaram a entrar. Depois que a aula começou, eu odiei cada minuto. Me sentia irritada por ter encarado Dane por tanto tempo sem necessidade e por ter me sentido como eu me sentia. Me xingava internamente e desejava que esse dia acabasse logo, eu ansiava por um tempo sozinha dentro do quarto.

No final da aula, o professor Alto fez com que eu me apresentasse e eu repeti o mesmo.

– Imagino então que você costumava frequentar a St. Constantine. Não há melhor em toda a Rússia na minha opinião.

– Eu... recebi ensino particular, senhor.

O professor me olhou como se eu tivesse dito que era um extraterrestre.

– E quem era encarregado do seu treinamento de guardião?

Eu suspirei.

– Eu nunca tive esse tipo de aula, senhor.

A classe inteira começou a cochichar. O professor pigarreou e pediu silencio, mas parecia em vão. Ele então me deixou sentar e eu pude apenas tentar ignorar todos os olhares que eu recebia enquanto meu dia ficava cada vez pior.

O professor Alto não me fez mais perguntas e eu me mantive quieta até o final da aula. Quando todos foram embora, eu fiquei na cadeira até ser a ultima a sair e antes de passar pela porta ouvi o professor me chamar.

– Srta. Hathaway?

– Sim, senhor? – disse enquanto fui até sua mesa.

– Eu sinto muito por ter lhe perguntado sobre seu ensino. Não fazia ideia que você não tinha frequentado ensino regular antes.

Ele dizia isso como se estivesse com pena de mim e eu me esforcei para não revirar os olhos.

– Tudo bem, senhor.

– Pode me chamar de guardião Alto, todos aqui me chamam assim. E se precisar de ajuda com a matéria, sinta-se a vontade para vir falar comigo. Eu posso conseguir um tempo para você, aposto que sua mãe deve querer que você se torne a melhor daqui. – ele disse com convicção.

– Okay, sen... Guardião Alto. – eu disse querendo encerrar a conversa.

– Pode ir e seja bem-vinda, Hathaway.

Eu acenei e saí da sala o mais rápido que pude. A próxima aula era na academia que ficava ao lado do ginásio e eu segui para lá, encontrando Bea no caminho.

– Hey, novata. Eu fiquei encarregada de fazer seus exercícios e essa semana você vai começar com essa sessão – ela disse me entregando um papel com todos os exercícios que eu precisava fazer.

Eu peguei o papel e enquanto eu lia, Bea se foi e eu fiquei no lugar encarando os equipamentos. Depois de me alongar como Bea tinha me ensinado essa manhã e tentar seguir o que os meus outros colegas faziam com os equipamentos, eu me sentia dolorida e no final da aula ainda tinha quinze minutos na esteira. Como correr quando tudo em você já está esgotado? Eu peguei meu celular e os fones de ouvido e pondo uma musica com vários solos de bateria e guitarra eu subi na esteira. Correr, ao contrário do que eu pensava me fez ficar agitada e desperta. A sensação de adrenalina, embora artificial, começou a me deixar feliz e eu comecei a lembrar de quando fugia e de como eu me sentia enquanto dirigia em alta velocidade. Logo eu percebi que corri vinte minutos ao invés de quinze e desci da esteira respirando ofegante e me sentindo melhor. Haviam poucas pessoas no local e eu vi que as aulas normais tinham acabado e que eu estava atrasada para minha aula extra. Por saber que minha aula era no ginásio ao lado, eu acreditava que o professor ou professora da minha ultima aula talvez nem tivesse chegado e logo eu me vi sem pressa em pegar minha mochila e abrir a porta.

Quando entrei no ginásio, vi que eu estava enganada e uma dhampir morena de cabelos castanhos curtos em um corte que parecia muito irregular que me encaravam com raiva, me esperava de braços cruzados no meio do ginásio.

– Que bom você ter aparecido.

Eu fiquei ereta e tentei esconder o constrangimento.

– Sinto muito, perdi o horário enquanto estava na esteira.

– Não preciso de desculpas, preciso que você esteja aqui no horário certo. Agora deixe suas coisas aí, vamos correr lá fora.

Correr? Mais? Eu tentei não suspirar e deixe minha mochila no canto enquanto seguia minha treinadora. Nós demos dez voltas que pareciam infinitas ao redor do ginásio e minha treinadora parecia incansável, enquanto eu me perguntava até quando essa tortura duraria e depois que entramos ela me deixou beber água, além de me dar cinco minutos sentada nos colchões.

– Alberta me falou tudo sobre você, mas vai precisar se esforçar. Eu posso lhe ensinar o que eu sei, mas não posso fazer milagres. Ninguém aqui vai ter pena de você nas aulas e pegar leve.

Eu olhei para ela, que estava encostada a parede.

– Não preciso que ninguém tenha pena de mim. Nunca tive interesse em ter essas aulas e só estou tendo porque a rainha Lissa me pediu para experimenta-las. – eu disse recuperando meu folego.

– Ser filha de uma guardiã respeitada e ter uma irmã que é guardiã da rainha não te faz melhor do que ninguém aqui. Vai precisar frequentar as aulas como qualquer outra dhampir.

– Não pedi para ser tratada diferente, treinadora. Só falei que não tenho interesse em me tornar guardiã de ninguém.

– E o que pretende fazer aqui então? Me fazer perder tempo durante essas aulas e apanhar em todas as outras?

Merda. Eu não tinha pensado nisso. Podia reclamar o quanto eu quisesse, mas eu amanhã mesmo ia ser espancada pra valer pela minha parceira na aula da Alberta. O que significava que eu precisava aprender alguma coisa com urgência.

– Não, senhora. – eu disse me sentindo derrotada e me levantando. – Eu pretendo aprender. Eu preciso aprender.

– Certo e pode me chamar de Meredith. Agora vamos ver o que eu posso fazer por você.


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