Shadows of the past escrita por larissabaoli


Capítulo 16
Capitulo 16




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Se eu estava preocupada em apanhar de Jessica no dia seguinte, eu agora estava em pânico. Depois de apanhar pelo resto da aula e ser derrubada inúmeras vezes, eu me sentia dolorida em todos os lugares que eu podia pensar. Meredith havia me derrubado em confronto rápido até que eu aprendesse a por força em oposição, combatendo sem medo. Além de ter me feito bater em um saco de pancada até que eu conseguisse dar socos com as duas mãos e chute com uma das pernas. Amanhã talvez eu aprendesse a dar com as duas, Meredith me disse esperançosa, ela também havia me dito que eu aprendia rápido, mas que precisava deixar de ser “molenga”. Eu tentei não me ofender com isso e no final da aula eu já nem ligava com nada que ela estava me dizendo, eu só precisava sair dali.

Quando cheguei no meu quarto, eu pensei em cair na cama, mas era bem provável que eu dormisse ali mesmo, então me arrastei até o banheiro. No espelho eu já via partes do meu corpo com vermelhos que amanhã estariam roxos com toda certeza, além do arranhão no joelho feito por Oliver. Meu Deus, o quanto eu odiava essa escola. Eu vesti um pijama e fiquei na cama enquanto sentia todo o meu corpo dolorido e ardendo. Dormir parecia impossível agora e logo a fome chegou, mas eu não queria ir até lá embaixo e nem acreditava ter forças para isso.

Ouvi alguém bater na porta e pedi para que entrasse me lembrando do que Janine tinha me falado sobre isso. Bea abriu a porta segurando uma bandeja com duas tigelas e dois copos e eu me sentei.

– Não vi você lá embaixo e resolvi trazer isso aqui. Vai precisar aprender a cumprir os horários, novata. E não pode ficar sem se alimentar depois de um dia como esse. – ela disse, sentando-se no chão ao lado da minha cama.

– Pode me chamar de Ana, por favor. – eu disse enquanto prendia o cabelo.

Bea tinha me trazido sopa e o cheiro parecia bom, eu aceitei e comemos em silencio.

– Obrigada. – eu disse depois.

– Tudo bem, deve estar sendo difícil para você, não é?

– Tente impossível. – eu disse me encostando na parede.

Bea se levantou e se sentou na cama ao meu lado.

– Para mim é sempre o mesmo. Eu moro aqui desde que eu me lembre, então nem consigo imaginar como deveria ser sua vida antes.

– Pode ter certeza que era bem mais livre e sem tanta dor. – eu disse, mas depois me perguntei se eu estava mesmo falando a verdade.

– Você vai se acostumar. Quer dizer, sua família tem praticamente um legado como guardiã, isso deve ser algo que você se orgulha, certo?

– Bea... – eu suspirei sem saber como começar – Ser guardiã não está nos meus planos e eu não me importo que minha mãe e minha irmã sejam.

Bea me olhou com a mesma impressão que o guardião Alto havia me olhado.

– Existe mais do que apenas uma função para cada um de nós, sabia? – eu continuei – Não precisamos ser obrigados a aprender a ser guardiões. Podemos escolher ser qualquer outra coisa. O futuro de ninguém está escrito em pedras. E se estiver, bem... – eu sorri – até pedras quebram. Na minha cidade, se você fosse um guardião era algo incrível, mas se você não fosse, isso não te fazia menor.

Bea se mantinha quieta, apenas absorvendo o que eu falava até me responder.

– Sua cidade anterior parece legal. Mas Moscou não tem escolas como a que o Stan falou?

Droga, todos achavam que eu era de Moscou. Eu encarei Bea e considerei contar a ela sobre minha vida, mas preferi ficar com a historia que todos sabiam.

– É, mas tem uma parte de lá que não pensa assim. – ela não precisava saber que eu não falava da cidade de sim do país.

E depois ela passou a me fazer diversas perguntas sobre onde eu morava e eu me vi em território confortável. Bea tinha trazido chocolate quente no copo e eu me senti nostálgica enquanto a respondia e bebia. Depois ela foi em seu quarto e me trouxe um comprimido de ibulprofeno, eu agradeci e me senti melhor aos poucos, ate que dormi profundamente, logo sendo arrastada para um sonho com minha mãe.

– E então? Como foi seu primeiro dia de aula? – perguntou Oksana com um sorriso esperançoso no rosto.

Eu não consegui dizer a verdade. Esse sorriso e essa esperança que minha mãe nutria pelo meu futuro, era o que me fazia querer continuar nessa escola no momento. Mas sabia que ela leria minha aura e me confrontaria se eu estivesse mentindo.

– Foi difícil, mas só porque eu não fazia ideia de como eram as coisas. – eu comecei contando sobre meu dia e omitindo toda a merda que tinha acontecido.

– É, mas você está bem e amanhã vai ser melhor por você já saber o que esperar, certo? – ela me disse, enquanto me abraçava, dessa vez em meu antigo quarto.

Eu queria tanto chorar e simplesmente admitir pra minha mãe tudo o que havia acontecido, mas eu sabia que ela ficaria preocupada e passaria a brigar com Abe e Janine para que eu voltasse para casa.

Eu fiquei em silencio enquanto ela começou a falar sobre suas plantas, o novo projeto de reconstrução de carro de Mark e como Yeva estava vindo com frequência até sua casa para lhe ensinar a tricotar.

– Tricô? Sério? – eu tentei não rir.

– O quê? Eu estou me saindo bem, talvez eu consiga lhe mandar algo ainda esse mês. O melhor é que não tenho que me preocupar com os furos com as agulhas, já que eu me curo – ela disse brincando.

– Mãe... não tem usado o espirito em excesso ultimamente?

Oksana suspirou e passou a mão em meus cabelos.

– Eu estou bem, enquanto não preciso mais fazer os seus amuletos, eu passo a me curar sobre os furos que ganho das agulhas e quanto a entrar em seus sonhos... eu deixei de cuidar do meu jardim do meu jeito.

Eu a olhei. Minha mãe estava fazendo sacrifícios e trocando os lugares onde usa o espirito. Eu sabia o quanto ela amava seu jardim e o quanto não cuidar dele como ela podia deveria estar deixando ela em pedaços.

– Não precisa se preocupar. O jardim está bem, eu estou bem. Seu pai não deixaria que nada saísse do controle. – ela disse, afagando meu cabelo. – Vou enviar para você um gorro que estou fazendo. Espero que você goste e use. Agora vou deixar você descansar, boa noite minha Ana.

E depois disso eu caí num sono sem sonhos.

No dia seguinte eu me sentia dolorida e cansada, mas consegui me acordar com o despertador e seguindo o horário como todos os outros eu consegui tomar um café da manhã descente. Bea deu um sorriso curto do outro lado da sala, quando me viu. Ela estava conversando com alguns guardiões e aprendizes e eu logo foquei em comer.

Eu me sentia nervosa quando o sexto tempo chegou e entrei na quadra sentindo minhas mãos soarem e ficarem um pouco tremula. Jessica me viu e logo pôs um sorriso malvado no rosto, ela era menor que eu, mas estava lá há mais tempo. Bea tinha a derrubado varias vezes na aula passada, mas ela ainda sabia mais do que eu. Quando Alberta deu sinal para que a aula começasse eu tentei lembrar do que Meredith tinha me ensinado. Pelo que eu lembrava, Jessica atacava com força bruta assim como Meredith tinha feito e bastava que eu mantivesse a força para não cair, ou pelo menos era onde nós tínhamos chegado na aula de ontem. Jessica fez exatamente o que eu tinha previsto e segurar ela foi o suficiente, mas por pouco tempo, logo ela me deu um soco no estomago e eu cambaleei sem ar imediatamente.

– O que foi novata? Não aguenta um pouco de dor? Vai precisar ser mais forte que isso. – ela me disse com uma voz anasalada. – Gwen ficou sabendo sobre você e Dane sozinhos ontem.

Nós agora nos movimentávamos esperando que uma de nós atacasse, Jessica continuou.

– Eu vi vocês ontem e achei justo contar para ela. Você não pode chegar aqui e tomar o namorado de alguém tão fácil. Não sei como era na sua terra, mas as coisas são diferentes aqui. – ela partiu para cima de novo e dessa vez eu além de bloqueá-la com força, consegui lhe dar um chute na perna que a fez cair de joelhos, mas ela rapidamente se levantou e se afastou.

– Não tenho interesse nenhum em Dane, pode dizer isso para sua amiga Gwen? Aproveita e pede a ela para por uma coleira nele, afinal não sou eu que vou atrás dele. – eu disse.

– É melhor ficar fora do nosso caminho, vadia – ela disse e partiu para cima de mim.

Eu fiz o meu melhor a bloqueando, mas dessa vez ela me deu outro soco no estomago e logo depois um no rosto, me nocauteando e me fazendo cair.

Merda, mais uma ameaça. Foi a ultima coisa que eu pensei antes de desmaiar.

Eu acordei com Bea pondo uma bolsa de gel gelado em meu rosto.

– Caramba, o que você disse para Jessica? Alberta suspendeu ela o resto da semana, mas ela nunca bateu em alguém para derrubar.

Eu me sentei e segurei a bolsa. Eu me sentia tonta, mas a raiva já estava tomando conta e eu olhei ao redor em busca de Jessica, mas a maioria já tinham saído da quadra.

– Ela acha que estou atrás do namorado imbecil da amiga dela.

Bea riu e só parou depois que percebeu que eu não estava no mesmo humor.

– Uh. Você mexeu com Gwen e Dane, certo? Jess é o capacho oficial de Gwen, ela está treinando para se tornar guardiã dela no futuro. Ela também é uma fofoqueira e tanto. Você agora já deve ter muitas historias espalhadas por aí.

– Eu não mexi com ninguém. É Dane que insiste em ser um idiota e me perseguir. Se Gwen não consegue manter seu relacionamento a culpa não é minha. – eu disse com raiva.

– Hey, calma aí. Provavelmente você vai se meter em problemas se brigar com Gwen ou Dane aqui dentro, mas semana que vem, se você trabalhar bastante, vai ter uma chance de descontar esse belo soco de Jessica. Então guarde essa raiva, okay?

Eu fiquei em silencio. Eu teria uma revanche com aquela vaca, eu só precisava focar em minhas aulas essa semana.

Quando o domingo chegou, eu considerei aproveitar o dia livre e simplesmente passa-lo inteiro dormindo, mas ir a missa era um costume que eu não queria abandonar e ouvir algumas palavras ditas por um padre, mesmo que em inglês, era o mais próximo de casa que eu estaria agora. Eu me sentia exausta, mas já estava me acostumando – ou pelo menos eu estava acreditando naquele negocio de força de vontade mais uma vez. Me levantei e depois de perceber que maioria das minhas roupas eram de treino, eu tentei separar algo descente para vestir, mas resolvi entrar em acordo com Deus, esperando que ele me perdoasse. Afinal, minha semana já tinha sido próxima de uma descida ao inferno o suficiente, então eu me aprontei e caminhei até a igreja em um suéter rosa claro de Jill, jeans e tênis.

O padre Andrew era menos assustador do que o que tínhamos na Baia e embora maioria das pessoas não estivesse prestando atenção ao que ele falava, eu gostei dos seus sermões. A igreja tinha alguns Morois nos bancos da frente e alguns guardiões que se dividiam entre estarem nos bancos de trás e de pé, próximos nas paredes. Ninguém que eu conhecia estava ali, exceto por Alberta, o professor Lemoine e Dane, que estava de óculos escuros dentro da igreja.

Focando na missa, eu pedi perdão por ter me aproximado da escuridão tantas vezes essa semana e pedi ajuda para que eu conseguisse me encaixar ali. Deus pelo que eu sabia era a favor de “honrar pai e mãe”, certo? Então eu ia precisar de mais reforços do que o normal já que eu tinha mais pais e mães do que o comum.

Eu não costumava comungar por acreditar que o que havia acontecido comigo não me fazia pura o suficiente, embora eu nunca falasse sobre isso com ninguém e então depois que a missa acabou eu esperei que todos saíssem para que eu saísse em seguida. O problema é que quando Dane se levantou, ele parecia saber exatamente onde eu estava e logo se dirigiu até onde eu estava sentada.

– Bom dia, Anastacia.

Eu precisei lembrar que eu estava em uma igreja.

– Bom dia, Dane. – eu disse o mais seca que pude.

Ele se sentou ao meu lado, se fazendo confortável no banco. Ele pôs o braço atrás da parte onde eu estava sentada e eu me afastei imediatamente.

– Então, estamos sendo educados hoje?

– A igreja significa um lugar santo para alguns de nós. – eu disse olhando para frente.

– Sua roupa não parece apropriada para um lugar santo.

Eu revirei os olhos e decidi encarar isso como um teste, onde Dane era minha tentação pessoal.

– Nem todos temos condição financeira suficiente para vestir roupas de marca. E para Deus não importa como estamos vestidos e sim como somos por dentro.

– Embora eu veja boa parte de como você parece ser por dentro, eu gostaria de ver bem mais.

Eu me virei para encarar ele e não podia acreditar que ele havia dito isso. Eu fechei meus punhos e senti a raiva pulsar em mim, já pensando em como seria fácil derruba-lo com o que eu havia aprendido essa semana. Mas – mais uma vez – eu optei por seguir o caminho mais difícil e me mantive calada respirando fundo até que eu estivesse calma o suficiente.

– Dane, já que obviamente você não tem respeito nenhum pelo lugar, por que você está aqui?

Ele tirou os óculos, o que deixou visível suas olheiras profundas e percebi que seus olhos estavam vermelhos como se ele estivesse sob efeito de substancias ilegais, o que eu não duvidava que ele estivesse.

– Porque me acalma. Vir aqui, ouvir o que o Andrew tem a dizer... é reconfortante. E se tudo o que ele diz é verdade, eu posso acreditar que tem sentido tudo o que acontece comigo. – ele falou, encarando o Padre Andrew que agora falava com um professor idoso.

Eu fiquei em silencio, mas me sentia tentada a perguntar sobre o que ele estava falando. Depois ele voltou me olhar.

– E então. Soube que você apanhou essa semana. – e lá estava o Dane de sempre de volta.

Eu suspirei.

– É e por culpa sua. Aparentemente sua namorada tem um cão de guarda atrás de você e ela acha que eu quero roubar você dela. Eu agradeceria se você parasse de vir atrás de mim e simplesmente me ignorasse.

– Não vejo por que fazer isso. – ele disse pondo as mãos atrás da cabeça.

– Dane, pode por um momento parar de ser esse idiota que você sempre é? Uma amiga tem me feito acreditar que todos temos algo bom e deve existir alguma parte em você que tem esse algo bom, então pode por favor ser uma pessoa boa e fazer o que eu estou te pedindo? Me ignore, pare de vir atrás de mim, pare de falar comigo. Você tem namorada, você tem amigos, se mantenha com eles. Eu tenho tentado todos os dias sair do seu caminho e do caminho dos seus amigos, mas preciso que você faça o mesmo por mim. Eu não quero me meter em problemas e você tem “problema” escrito em sua testa, então por favor, se mantenha longe de mim. Pode fazer isso?

Dane finalmente tinha saído de sua pose e estava sentado ereto no banco agora, depois do que falei ele se levantou, mas antes de sair, me disse:

– Eu tenho tentado, Anastacia. Eu tenho feito meu melhor para me manter com Gwen, mas não é o suficiente. Não mais, não desde que eu te conheci. Você tem algo que eu não consigo expressar em palavras e você não faz ideia do quanto eu estou atraído. Eu posso não falar mais com você, mas não posso ignorar sua presença, acredite eu tenho tentado.

Eu me mantive na igreja até que não ninguém mais estivesse lá. Padre Andrew se manteve arrumando algumas coisas no altar e depois entrou em uma pequena sala para guardar tudo o que costumava usar. O silencio na igreja fez com que as palavras de Dane se mantivessem em minha mente. Eu resolvi pedir ajuda sem saber exatamente o que eu estava pedindo enquanto rezava e depois saí dali e voltei para o quarto.

Na sexta-feira, Oksana tinha me dito que havia enviado o gorro que tinha feito para mim e que provavelmente essa semana poderia chegar. Ela também me enviaria as roupas que eu costumava usar para ir à missa e por mais bobo que parecesse, eu me sentia empolgada em ter algo vindo de lá. Na segunda, assim que acordei, perguntei a Bea como funciona a entrega de pacotes na escola. Bea me esclareceu que quando um pacote chega, fica sempre em mãos de um guardião e são eles os encarregados de deixar na sua porta.

Quando o sexto tempo chegou, Jessica se comportou como se nada tivesse acontecido e se portou da mesma forma que ela lutava com Bea, exceto que eu ainda era uma adversária fácil. Eu agora conseguia me proteger e dar alguns socos e chutes, mas ela me venceu na maioria das vezes, nunca falando comigo e sempre mantendo uma cara azeda. Meredith continuava sendo grossa – o que eu imaginava que era o natural dela agora – mas nós também tínhamos melhorado nossa relação de aluna-professora por eu agora não reclamar do que ela me mandava fazer. Minhas mãos, apesar das luvas, estavam criando alguns calos nas laterais e meus cotovelos estavam rachados e feridos de tanto ir para o chão ou aprender a usa-los numa luta.

– Está começando a melhorar. Já pode lutar com alguém de dez anos daqui. – ela me disse enquanto eu arrastava o saco para guardar. Eu considerei um elogio e não falei nada além.

Eu também estava melhorando nas aulas do professor Lemoine. Ele me deu esperanças dizendo que se eu continuasse dessa maneira, só precisaria frequentar um semestre de aulas extras. O sábado era o pior dia, a aula era matemática e eu era horrível em qualquer matéria exata. Meus livros se tornaram multicoloridos com tantas paginas marcadas e eu depois das aulas de Meredith, passei a gastar mais uma hora para estudar. Não é que eu não gostasse das aulas de Lemoine, mas ficar ao lado de Oliver durante a aula me deixava com um certo medo. Ele não voltou a falar comigo ou me ameaçar, mas eu ainda sentia o olhar dele enquanto eu escrevia ou enquanto eu falava nas aulas para esclarecer minhas duvidas.

Na quarta-feira eu vi uma caixa branca na porta do meu quarto enquanto voltava da aula de Meredith e a trouxe para dentro do quarto imediatamente com um sorriso no rosto. Abri a caixa o mais rápido que pude e comecei a tirar as roupas que continham nela, ficando surpresa por encontrar somente três vestidos azuis que pareciam caros e que ainda estavam com etiquetas. Eles eram lindos, um era azul claro com detalhes em um tom de azul escuro no colo, outro era azul coral com detalhes floridos no final do vestido e o ultimo era simples e azul marinho escuro, com botões na frente e extremamente elegante. Eu vasculhei por um cartão ou algo que tenha vindo na caixa, mas só encontrei um bilhete que me fez largar os vestidos assim que terminei de ler:

“Acho que azul lhe cai bem. Se eles não forem do seu tamanho, pode vir falar comigo. Pode me encontrar na sala vazia no terceiro andar do seu prédio as quatro. D.”

Eu simplesmente não conseguia acreditar. Quando olhei no relógio e já era quatro e quinze, sem pensar eu juntei os três vestidos, pus na caixa com o cartão e saí em direção às escadas e sem ligar se alguém estava me vendo furiosa com uma grande caixa na mão. Quando encontrei a sala, eu entrei e estava totalmente escura, o que me deixou em alerta e com medo. Dane estava sentado no sofá com as pernas esticadas e encarava a porta.

– Não acertei nenhuma medida?

– Achei que eu tivesse sido clara o suficiente.

– E esse foi meu pedido de desculpas. Eu não pedi para você vir me encontrar aqui, eu disse que você poderia me encontrar aqui. – ele disse com um sorriso de sabe-tudo.

Eu deixe a caixa perto do sofá e fiquei de braços cruzados.

– Eu não quero suas desculpas. Eu não quero nada seu.

Ele parecia impassível, mas se sentou pondo as pernas no chão e eu pude ver que ele estava tonto.

– Então aceite como se fosse algo para o bem da igreja. Você está pondo muitas pessoas no caminho do pecado se vestindo como se veste.

– Dane, você está bêbado?

Ele riu.

– Isso foi rude. – ele disse apontando e como viu que eu fiquei em silencio ele continuou – Talvez eu tenha bebido uma ou duas doses, mas é necessário álcool para vir falar com você. Afinal, dizem que álcool é a coragem dos covardes, certo?

Eu me virei em direção à porta e segui pisando firme.

– Se precisa de álcool para fazer alguma coisa, deve ser verdade que você é um covarde. – eu disse da porta enquanto saia o deixando sozinho no quarto e dando de cara com Jessica na porta. – Pode ir contar para a sua dona. Peça a ela para ficar com os vestidos.

Eu voltei para o meu quarto e consegui me acalmar, depois fui estudar e dormi segurando marca-textos nas duas mãos.

Na quinta-feira, uma caixa cheia de etiquetas, selos e outros adesivos estava na minha porta. Essa, eu pensei, deveria ser a caixa que eu esperava finalmente. Mas mesmo assim por precaução e antes de abri-la eu verifiquei cada selo e etiqueta até encontrar o nome de minha mãe como remetente. Depois eu a trouxe para o quarto e a abri reconhecendo minhas roupas e encontrando um cachecol e um gorro amarelo claro, depois de guardar tudo, mandei uma mensagem para minha mãe e liguei o notebook para fazer uma videoconferência com meus pais.

– Ana, como é bom ver você! – disse meu pai.

Passamos cerca de duas horas conversando. O sinal da cabana era tão ruim como sempre, mas eu os via e isso era o suficiente. Agradeci minha mãe e depois tive que fazer com que eles ficassem mais calmos, pois segundo minha mãe eu parecia abatida, cansada e mais magra. Mark disse que isso era o jeito dela de dizer que “estava com saudades” o que me fez rir. Mas logo eu realmente estava bocejando e eles se despediram de mim, me dizendo para ir dormir. Eu até queria continuar estudando, mas depois de tomar banho, o máximo que consegui foi responder um dos exercícios extras de Lemoine.

Na sexta pela manhã, eu percebi alguns olhares estranhos vindo dos dhampirs que agora já tinham rostos conhecidos para mim, mesmo assim eu resolvi não me importar. Jessica se mantinha espalhando coisas sobre mim quase todos os dias e eram fofocas cada vez mais absurdas. Da ultima vez ela tinha espalhado que eu era uma espiã russa Janine tinha adotado, mas isso não tinha durado muito, então talvez na hora do almoço todos já tivessem esquecido. Cheguei a perguntar a Bea se ela sabia qual era a fofoca da vez, mas ela parecia não saber, então eu achei que fosse algo que ninguém estava dando importância e segui para minhas outras aulas. Já fazia bastante tempo desde que Jill não respondia minhas mensagens e eu imaginei que talvez ela só estivesse ocupada com as reuniões que precisava ir com sua irmã, ou com os problemas que Adrian se metia. Resolvi ligar para Rose na hora do almoço e me dirigi até o lado de fora do refeitório.


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