Lilith escrita por Lyria Danis


Capítulo 3
Cena III


Notas iniciais do capítulo

Editado em 19/04/2018
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Quase que me esqueço de postar, jesus do céu!
Espero que aproveitem ler tanto quanto aproveitei escrever. As coisas vão começar a ficar mais difíceis agora.



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E a mulher de cabelos castanhos não queria mais ser a mesma... E mesmo que quisesse, nunca mais seria. Não teria como voltar atrás.

Agora ela vê e sente tudo ao seu redor de forma diferente, estranhamente nada está como antes... Está escuro. E o sentimento que sempre evitara por causa de seu criador deixava transparecer. Enfim, a delicada Lilith tinha consciência de todas as suas ações.

Ela se sentia... Viva.

Como jamais sentiu.

De alguma forma gostava da adrenalina rebelde que corria por suas veias, fazendo seu coração bater rudemente.

Ela queria compartilhar isso com seu marido, Adão. Afinal, ele sempre temera o Pai, pobre tolo. E Lilith entendia que não se deve temer, mas sim respeitar; e não há como respeitar uma pessoa que não a tratasse por igual.

Iria fazer uma última tentativa com Adão... Ela o amava, a pesar de tudo.

Precisava tentar levar Adão consigo. Ele, ao ver de Lilith, não sabia o que estava perdendo.

A mulher sorriu.

—x-x-x-x-

Adão observava de longe Lilith; sempre a admirou desde que fora criado. Ele não sabe se foi feito para isso, mas gostava e admirava de sua mulher sob todos os aspectos, e se perguntava muitas vezes se ela entendia isso, pois ela reclama tanto. Ela parecia sentir falta de alguma coisa que ele pelo visto nunca fora capaz de dar.

Via-lhe, deitada na grama verde observando a lua, como fazia todas as noites de forma incansável.

O que há de errado com você?

Resolveu se aproximar. Saiu da sombra das árvores onde estava escondido e sorrateiramente sentou-se ao lado da mulher deitada.

— Elas são bonitas não são? — A mulher perguntou, distraidamente.

— Elas quem?

— Elas. — Lilith apontou para o céu. — As estrelas.

Adão sorri.

— São sim...

Adão deita-se ao lado de sua esposa, apoiado em seu cotovelo, encarando-a.

— Mas... — Lilith disse. — Isso quer dizer que a lua não está sempre solitária.

— Não Lilith, não está. A lua não brilha sozinha nem nunca poderá... Afinal, ela para brilhar, precisa absorver parte da essência de um ser maior que ela. — Adão explica, sussurrando. — Assim como nós, Lilith...

Ele estava disposto a fazê-la voltar a ser sua esposa.

A mulher suspira.

— Não, Adão... — Ela se deita com o lado de seu corpo, ficando de frente para Adão. — Por que brilhando ou não, ela continuará lá. E além do mais... Ela tem as estrelas para fazer companhia, como eu tenho a você, certo?

O homem loiro não conseguiu responder. Diante dessa pergunta, sentiu sua garganta se fechar e algo no seu peito queimar, deixando-o ofegante.

Algo morno escorreu por sua bochecha, e quando o tocou, curioso, descobriu que era água. E quando a gota desceu para sua boca, sentiu o gosto salgado como a água dos mares.

— Certo...? — O homem perguntou.

Não, não está certo. E eu sei disso. Por que não quis enxergar?, Lilith pensou.

— Tudo bem Adão, eu entendo. — Adão começou a acenar negativamente, de uma forma desesperada. — Na verdade, eu deveria saber desde o início que você é quem nunca entenderia. — Lilith completou.

Dito isso, empurrou Adão com toda sua força para longe de si e acertou-lhe um tapa no rosto.

Só assim se sentiria melhor. E com o peito pegando fogo, ela correu para dentro da floresta.

Adão, deitado no chão, olhava indignado para o lugar onde vira pela última vez a silhueta da sua esposa... Da mulher que lhe fizer um ato tão violento, uma coisa que ele nunca esperaria.

Parecia muito como quando os animais brigavam por território, ou por uma fêmea...

Tocou na marca avermelha da mão de Lilith em seu rosto, e sentiu mais lágrimas caírem.

Na verdade, não parecia nem um pouco.

Animais não batem no próximo por prazer.

—x-x-x-x-

Observava aquela árvore. Bonita, majestosa, talvez a mais antiga que conhecia.

Com seus frutos avermelhados, chamava atenção. Adorava comer aquelas frutas, das quais ela e Adão chamavam de cereja. Pequeninas e adocicadas, sempre sentia vontade de comer mais.

A mulher de cabelos castanhos olhou para o céu.

Escuro, estrelado e sem nenhuma nuvem, com a lua jazendo luminosa. A brisa fria da noite encostava-se a sua pele pálida, e ela se arrepiava.

O que fazer?

Suas cascatas onduladas balançavam, fazendo-a se sentir desolada. Seus olhos negros estavam perdidos, misturando-se com a escuridão ao seu redor, e antes Lilith havia se enganado, ela percebera. O tal Pai, o tal Criador, o tal Deus... Fora muito cruel.

Muito maldoso e injusto...

Só restava se lamentar agora.

Por que, por que tinha que acontecer isso com ela? Deus disse-a que ela e Adão foram criados para um propósito único e especial, mas que raios de propósito era esse? De sofrer?

Decidiu-se que o Criador era o pior de todos. A mais venenosa serpente... Por que fizera isso com ela? Nesse caso, seria melhor nem tê-la criado. Lilith sentia pena de si mesma, e isso era o melhor que podia fazer.

Caiu de joelhos sobre a terra da gigantesca árvore, bateu com força seus punhos contra o tronco forte e começou a banhar suas raízes com lágrimas.

Fincou suas unhas no tronco da árvore e caiu de joelhos, arranhando-os.

Raiva.

Então ela viu um pequeno coelho, inocente por sua natureza e com os pelos num puro branco, passando perto dela.

Ela repensou tudo o que havia feito... E uma curiosidade a tomou no meio de uma turbulência.

Sabor.

Qual seria o sabor daquele coelho?

Quando deu por si, talvez nem fosse, mas aquele animal parecia muito aquele mesmo coelho daquela noite. Para Lilith, a curiosidade era algo torturante.

Qual seria o sabor?

E finalmente resolveu fazer algo que há algum tempo estava com vontade... Só queria matar sua curiosidade.

Talvez não soubesse, nem nunca saberia...

Mas a humana Lilith, feita do amor e do barro de Deus, deixara de existir naquele instante.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por todos os comentários e acompanhamentos e quem favoritou. Sério. Eu não to acreditando que tanta gente aproveitou e gostou dessa história. Achei q tava fora de moda!