"Já de pé Guilherme?"
"Já sim. Nem dormi dona Lourdes."
"E o que tanto te tira o sono?"
"A Manuela."
"Ihh, não vai me dizer que brigaram de novo."
"Não, a falta de sono é por uma boa causa. Eu e a Manuela finalmente estamos juntos."
"Amém meu filho. Finalmente você e ela vão ser felizes, e juntos."
"A senhora tem razão. Acho que a noite da virada pode ser dos milagres também."
"Poe milagre nisso."
"E a senhora? A festa foi boa?"
"Maravilhosa, pena que acabou. Meu bem, eu queria te pedir uma coisa."
"Pode falar."
"Tem umas tábuas no porão, você poderia ajudar botando elas nas janelas? Hoje é o dia mais conturbado das tempestades."
"Claro, só vou chamar os reforços, ou melhor, a Manu."
Eles riem, Dona Lourdes aproveitou para botar os móveis externos na garagem, Guilherme entra no quarto escancarando a porta e abrindo a janela e as cortinas para acordar Manuela.
"Vamos acordar, Manubela."
"meu Deusinho do céu homem, você acorda com as galinhas..." Diz Manuela resmungando e pondo os travesseiros na cara.
"Não é atoa que acordei do seu lado."
"Acordou pra gracinha hoje?"
"Não, muito pelo contrário meu amor. Eu te acordei agora porque preciso de ajuda para pregar as tábuas nas janelas e portas e tudo que é abertura dessa casa. Hoje começa as trovoadas, lembra."
"Se me lembro... Mas senta aqui vai. Tô com saudade de ti."
"Saudades? A gente conversou de madrugada." Diz ele se jogando na cama e beijando seu rosto.
"Sim, já estou. Eu não tenho uma boa desculpa pra ficar mais um pouquinho com você."
"Como é puxa-saco." Diz Guilherme com uma voz de criança, o que fez Manu não se conter em o beijar. Mas ela para e prossegue.
"Sua ausência me fazia tão mal só que você parecia não se importar, agora que eu me acustumei você resolve voltar, você quer o quê? Eu vou me aproveitar dessa situação de nós juntinhos."
"Eu me importava sim, me importei no nosso último beijo cenográfico, me importei no nosso último "eu te amo" e me importei mais ainda no tempo que estávamos separados. Só que eu sou meio tonto e fui perceber depois."
"Meio tonto? Só meio?"
"Se você não fosse mulher eu falaria uma palavra bem feia pra você. Mas eu sou um cavalheiro. E você é muito amável."
"Concordo. Eu não sou a mais bonita, não sou a mais gostosa. Mas não me importo muito, eu sou legal e se você tiver paciência e souber lidar comigo eu posso ser melhor do que qualquer uma dessas bonequinhas de plástico."
"Então, menininha, vai botar uma roupa pra irmos pro trabalho braçal, vai."