7 Atos do Impossível escrita por Ly Anne Black


Capítulo 2
A Briga Que Eles Nunca Tiveram




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/639356/chapter/2


– Bella? Bella, você está me ouvindo? Prestou atenção em tudo que eu disse?

Da sua posição, deitada de costas para a irmã, Bella não se moveu nem um centímetro, ou fez menção de responder. Havia um novo motivo para se recusar a sair do quarto agora, e não era o luto pelo seu futuro arruinado. Ah, não, era o luto pelo seu passado arruinado, que agora estava habitando o mesmo teto que ela.

Ainda não conseguia acreditar que Sirius Black estava há dois dias vivendo no cômodo ao lado. A perspectiva era tão absurda que cada vez que pensava nela, tinha vontade de rir de si mesma; um riso nervoso, e em nada feliz.

– Bella! Estou atrasada, você ouviu?

– Não me importo com as horas dos remédios de Black, Andrômeda. No que depender de mim ele apodrece naquela cama.

Andie deu um longo suspiro resignado e não lutou.

– Vou deixá-los aqui em cima. O azul é para febre, o vermelho é poção fortificante e a pasta prateada é para dor, é local, se ele sentir… ok. Por favor, lembre-se do que conversamos. Volto em algumas horas.

Andrômeda foi embora e Bella permitiu seu corpo a rolar de barriga para cima; qualquer outra posição, inclusive de lado, incomodava a coisa. Ela se perguntou do que exatamente deveria se lembrar, do que tinham conversado, porque houvera muita coisa – monólogos de Andromeda em sua maioria – naqueles últimos dois dias. A irmã viera lhe explicar que Sirius sofrera danos de efeitos tardios, causados por magia das trevas, talvez na emboscada à Voldemort, talvez em sua caçada louca pelos comensais da morte restantes. Que o feitiço em sua cabeça causara a concussão e a convulsão, e poderia ter danos permanentes se não fosse cuidadosamente tratada nos próximos dias.

Depois, ela voltara para pedir desculpas por Sirius ter de ficar ali, mas “não havia outro jeito”. Falara com Dumbledore e este lhe pedira para manter Sirius ali, escondido e em segurança, enquanto ele não se recuperava. Muitos comensais que ele não fora capaz de alcançar agora estava atrás dele querendo a sua cabeça em uma bandeja (E eu sou um deles, ela pensara de imediato, mas nada dissera).

Mais tarde, Andrômeda voltou e lhe disse que devia tentar se reaproximar dele. Eram família afinal. Talvez devessem conversar sobre a gravidez… essa última conversa fora demais para Bella, que mirou e quase acertou nela o abajur mágico que costumava ficar ao lado da cama. Depois disso, a irmã não mais a perturbou… até aquele dia.

Bella ficou olhando para o teto até o feitiço-alarme que Andie lançara em seu relógio disparar, avisando que era hora dos remédios do traidor de sangue. Ela fechou os olhos e ignorou.

“Ele pode ter danos permanentes se não for cuidadosamente tratado nos próximos dias”

Bella descobriu que queria Sirius Black saudável para poder revidar e ser derrotado por ela, quando ambos estivessem em posse de suas varinhas. Ela era muitas coisas… mas não era uma covarde, e não haveria qualquer prazer em derrotá-lo se ele já estivesse no chão, babando ou mais inútil que uma mimbulus mimbletonia.


– BD –

Esperava que Sirius estivesse dormindo, mas estava acordado e olhando para a porta quando ela entrou. Seus olhos se cruzaram rapidamente, mas ela logo os desviou, ignorando a surpresa do rapaz por vê-la ali.

– Quando Andie me falou que ia precisar sair e nos deixar sozinhos, achei que você aproveitaria a chance para acabar comigo. – ele comentou, acompanhando o movimento dela pelo quarto.

– Não perca as suas esperanças ainda. – disse secamente, agarrando o primeiro copo que viu pela frente e despejando a poção vermelha nele. – Tome. – estendeu o recipiente para ele, evitando olhá-lo.

Enquanto ele demorava para pegar, ela teve uma lembrança engraçada e não requisitada. Toda vez que Sirius ficava doente em casa (pouquíssimas, ele tinha a saúde de ferro), ela inventava qualquer motivo para ficar longe do quarto dele. Dizia que não queria pegar a sua doença, mas era mentira; na verdade, não suportava vê-lo vulnerável. Ver seu incansável e invencível primo vencido pelo próprio corpo, deitado e febril, pálido e sem a energia vibrante de sempre era para ela uma enorme fonte de agonia.

Agora lá estava ele: doente, com mais danos do que uma varíola de dragão ou catapora escarlate podiam causar, e ela ainda era incapaz de olhá-lo ali deitado.

– E a outra? – ele perguntou, depois de beber o conteúdo do copo obedientemente. – A verde?

– É para febre. – ela resmungou, se virando para deixar o quarto.

– E você não vai me dar?

– Bem – virou-se impaciente – Você está com febre?

– Como é que eu vou saber? Você é a "curandeira" aqui.

Ela não estava achando graça nenhuma. Aliás, estava achando-o louco de brincar com o seu humor perigoso naquele momento. Será que ele não percebia a gravidade daquela situação toda? Que ela não suportava ficar no mesmo quarto que ele? Que toda vez que ele falava uma palavra, ela sentia uma vibração dentro dela, uma resposta do ser que estava gerando?

– Andie disse que mesmo a menor das febres pode desencadear outra convulsão. – ele comentou, como quem não quer nada.

Bella esfregou seu rosto em frustração.

– Eu não vou… sangue de Slytherin! – praguejou, girando os calcanhares e voltando para perto da cama. Ia fazer Andrômeda pagar por aquela tortura desnecessária, jurou a si mesma. – Eu não tenho a minha varinha comigo, como sugere que eu descubra a sua temperatura sem magia?

– Faça como os trouxas – ele sugeriu, e quando viu o olhar vazio e irritado dela, rolou os olhos – É só colocar a mão em minha testa e ver se estou mais quente do que deveria.

Ela o olhou com renovada repulsa e ultraje.

– Eu não vou tocar em você, se é o que está pensando. – pelo seu tom, qualquer um pensaria que fora requisitada a meter a mão num ninho de explosivins.

– Tudo bem. Espero que saiba lidar com uma convulsão… ou não. Provavelmente me deixar morrer sufocado com a minha língua faz parte do seu plano.

– Não… – ela exalou, tão irritada que não se espantaria se os vidros do quarto começassem a trincar – Isso seria muito pouco para a morte que você merece.

Reunindo todo seu frio auto-controle, ela foi até ele e obrigou a sua mão a pousar sobre a testa (mentalmente, tentava se convencer de que não se tratava de contato físico com o homem que representava a ruína da sua vida, estava apenas fazendo um favor à Andrômeda). Mas no momento que as peles se encontraram, as resistências foram varridas pela estática. Estava quente, mas como saber se era mais quente do que deveria? Não o era sempre, quando se tratava dele?

Ela puxou a mão o mais rápido que pode.

– Você não está com febre.

Pegou o copo da mesa de cabeceira apressadamente, ansiosa para sair de dentro do quarto, onde seus pulmões não funcionavam do jeito correto. É claro que ele não a deixou escapar tão fácil da sua agonia:

– Bella. Eu não sabia.


Ela estancou com a mão na maçaneta, toda rígida.

Não.

– Eu digo, eu realmente não fazia a menor ideia de que você não tinha…

– Cale a boca, Black. Nós não vamos fazer isso.

– Andie me contou que você tentou algumas vezes, e então… – ele expirou pesadamente. Com a visão periférica, viu que ele tentava se sentar com algum esforço. – Por que não me contou?

– O que havia para contar?

– Bellatrix! – exclamou, como se ela estivesse sendo irracional, teimosa, e lhe devesse uma satisfação.


Ela se virou abruptamente.

– Você fez sua escolha, Sirius! Você a fez, naquele maldito dia que eu lhe perguntei, você fez a sua escolha!

– Não, você disse que ia abortar, e eu fiquei calado!

– EXATAMENTE! – gritou. Será que ele não entendia??

– Porque eu pensei que era o que você queria! – rebateu ele, em sua defesa.

– E era! Mas também era o que você queria, era o mais fácil pra você!

– Bem, se tratando de você, o que mais eu poderia esperar, Bella? Que sentido faria tentar dissuadir você? Você sempre teve sua cabeça feita pra tudo!

– É, mas você nem tentou!

Ele ofegou, surpreso; o silencio recaiu sobre eles como o peso de uma bigorna de ferro, e ela colocou uma mão sobre a sua barriga, que se contraíra inteira. Por alguma razão, seus olhos estavam queimando e embaçados. Aqueles malditos, odiosos hormônios de gravidez, realmente…

– Você podia ter me dito que não tinha dado certo. – ele disse depois de um tempo, fazendo um esforço para se levantar. Isso a fez girar no mesmo lugar.

– Que diferença teria feito te dizer qualquer coisa? – perguntou cruelmente – Depois que me disse a sua posição, e seguiu a sua vida com a sua namorada sangue-ruim, que diferença teria feito?

– Toda! Eu teria… – ele olhou para ela, transtornado. Seus olhos estavam vermelhos e brilhantes também, e a voz estranhamente embargada – Que tipo de monstro você acha que eu sou? Eu teria te ajudado!

– “Se tratando de mim”, – ela repetiu as palavras dele com amargor – Eu não podia arriscar conseguir nenhuma ajuda de você, nem teria esperado. Ouça a si mesmo, Black, você entrou aqui há três dias querendo me entregar para os aurores!

– Eu não sabia que estava grávida!

– EU AINDA SOU SUA PRIMA! – ela lhe devolveu, tremendo da cabeça aos pés – EU AINDA TENHO O MESMO SANGUE QUE VOCÊ! MESMO ASSIM VOCÊ NÃO PENSOU DUAS VEZES ANTES DE DECIDIR QUE EU MEREÇO IR PARA A PRISÃO POR ALGO QUE VOCÊ NEM TEM CERTEZA QUE EU FIZ!


Ele cambaleou levemente no lugar com o peso das palavras, ou talvez com a fraqueza de seu corpo, impossível saber. Seu olhar era confuso.

– Você está dizendo que não teria lutado ao lado daquele monstro, se tivesse a chance? Fale a verdade, Bella! Era o que você queria!

– Sim! Era o que eu queria! Não houve um minuto dos últimos quatro meses que eu não lamentei ter de estar aqui presa, e não lutando ao lado de Lord Voldemort! E talvez se eu estivesse, ele nunca teria caído!

– VIU SÓ? Não dá pra falar com você! Você é maluca, uma completa maluca, uma psicopata!

– Então me deixe em paz! Finja que eu não existo, e eu vou fazer a mesma coisa! Suma da minha vida, como você já devia ter feito antes, e esqueça que eu existo, porque eu vou fazer o mesmo a partir desse exato momento!

Completamente fora de si, ela escancarou a porta e passou por ela, batendo com um estrondo atrás de si. Ela ainda ouviu Sirius gritar através da madeira, sua voz grave reverberando pela casa e pelo seu corpo inteiro.

– COMO EU SOU SUPOSTO A FAZER ISSO, SE VOCÊ VAI SER A MÃE DA PORRA DO MEU FILHO??

(Continua...)


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não consigo simplesmente fazer eles "funcionarem" sem colocar uns pontos nos 'is' antes, é apenas como a vida é.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "7 Atos do Impossível" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.