7 Atos do Impossível escrita por Ly Anne Black


Capítulo 1
O Encontro Que Nunca Aconteceu


Notas iniciais do capítulo

Essa shortfic foi feita como prêmio para um dos desafios do Indignad@s em Ação, um evento de comemoração aos sete anos da fanfic Indigna Rosa Negra. Os ganhadores foram Lara Pena, Thais Camilla e João Pedro, a quem eu dedico essa fic. 



O pedido: Bella tendo uma gravidez normal com o pai da filha junto.



Decidi fazer o prêmio como um spin-off Universo Alternativo da fanfic Dossiê Bellatrix. Considerem os acontecimentos da Dossiê até o capítulo 10, logo após a Bella ajudar o Ted a fazer o você-sabe-o-que da Andrômeda. Ela está com pouco mais de quatro meses de gravidez.

Se você não leu Dossiê, recomendo fortemente.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/639356/chapter/1


Estava havendo alguma espécie de gritaria na cozinha.

Bellatrix abriu seus olhos, mal acreditando que tinha sobrevivido a mais uma noite. Era de se pensar que gravidez aos dezesseis já fosse terrível o bastante – seu corpo sendo deformando, repuxado, exigido e faminto o tempo todo – isso sem contar as tentativas de aborto frustradas pelas quais passara. Os pesadelos com crianças que nasciam mal formadas, ou pior, que se pareciam extremamente com o culpado da sua condição.

Como se não bastasse tudo, há alguns dias ela recebera a notícia mais aterradora da sua vida. A que mudou tudo, a que a deixou sem chão, sem um fio de esperança no qual se apegar para sobreviver aos próximos meses.

Lord Voldemort estava morto. Fora derrotado em uma emboscada pela Ordem da Fênix, aquela estúpida organização formada por Alvo Dumbledores e alguns bruxos que há pouco mais de um mês tinham se unido para pôr um fim à situação “insustentável” que os Comensais da Morte estavam “impondo” sobre os nascido-trouxas, ou assim ela lera no jornal.


Ela queimou o jornal com magia reativa que emanou da sua raiva. Insatisfeita, ela também queimou a mesa sobre a qual estava o jornal e o tapete embaixo dela. Estava prestes a incendiar a sala quando Andrômeda e Ted a encontraram entre as chamas, ardendo junto com elas, quase pondo o chalé à baixo.

Ainda estava se recuperando de algumas queimaduras, mas Bellatrix mal sentia a dor sobre a sua pele. Dentro dela, outra coisa queimava: o nome daquele fogo era desamparo. Largara tudo – tudo – para trás por Lord Voldemort. Fugira da sua família, deixara a escola, aceitara gerar a criança de seu primo traidor porque aquele homem lhe garantira que podia tomar o bebê como moeda de troca dos seus ensinamentos em artes das trevas… Confiara nele, e agora estava morto, se deixara ser derrotado. O que ela tinha? Além da desonra, de um bebê bastardo, dependendo do favor de sua irmã traidora do sangue para ter um teto sobre a sua cabeça e comida em seu estômago?

Nada. Só a humilhação, a raiva e o desamparo sendo alimentados dentro de si dia após dia desde O Dia da Queda, como os jornais passaram a chamar a derrota do bruxo das trevas.

Para Bellatrix, Voldemort lhe enganara. Surgira como um sol negro em sua vida, levantando todas as promessas nas quais ela apoiou o seu futuro, e deixou-se derrotar por tão pouco. Na sua escala de ódio – e ela tinha muito guardado dentro de si – ele estava bem no topo. Era uma sorte que estivesse morto, porque senão…

Mais gritos. Resignada, Bella lançou as cobertas para o lado e levantou da cama, coisa que não fazia há uns três dias, a não ser para ir ao banheiro. Será que aquela família estúpida não podia se controlar e respeitar o seu momento de profunda auto-comiseração? Não, é claro que não podia.

Quando passava pelo corredor, os gritos também perturbaram a recém nascida Nimphadora, que desatou a chorar, somando sua estridência ao barulho no andar de baixo. Ela hesitou no corredor, por um momento esquecendo-se que não era a sua obrigação acalmar o bebê, e foi quando Ted surgiu no topo da escada, seu rosto vermelho e afobado.

Quando ele avistou Bellatrix, seus olhos se arregalaram em alarme e suas mãos fizeram um gesto de “pare”, com as palmas para fora.

– Não vá lá embaixo. – advertiu, num tom de demanda que nunca se atrevera a usar com ela.

– Você não manda em mim, trouxa. – cuspiu, desafiada pela ordem a fazer o exato contrário, mas ele até mesmo tentou segurá-la.

– Bellatrix, é sério!

– Ficou louco? Não encosta em mim! Quem está lá embaixo? – exigiu saber. Ainda ouvia uma voz masculina gritando com Andrômeda, e a sua irmã respondendo duramente de volta. O compasso daquela briga, o conjunto de tons, era ligeiramente familiar, como se já tivesse ouvido aquele par brigar outras vezes. Mas o choro de Nimphadora tornava impossível saber sobre o quê discutiam.

– Bellatrix, é para a sua segurança! – ele avisou, irritado com a teimosia dela.

– Vá calar a sua filha, infernos!

Choro de bebê a perturbava imensamente, e o mesmo para os gritos lá embaixo. Alguma coisa muito errada estava acontecendo na cozinha e não fazia sentido Ted ter deixado Andrômeda sozinha. Não fazia sentindo Ted não sair da sua frente e ir calar a filha…

– EU SEI QUE ELA ESTÁ AQUI! NÃO ADIANTA TENTAR ESCONDER ANDIE, É O ÚNICO LUGAR ONDE ELA PODE ESTAR!

– SIRIUS BLACK, NÃO OUSE…

As vozes se tornaram audíveis quando seus donos se deslocaram da cozinha para a sala. Um arrepio de choque e repulsa sacudiu Bellatrix ao reconhecer a voz, logo em seguida confirmada pelo nome.

– Suba para o sótão – Ted murmurou urgente para ela – Não vamos deixar ele chegar até você.

– O que ele quer aqui? – perguntou embasbacada, sua raiva substituída pelo choque, a totalidade do sangue indo parar nos pés.

– Ele está caçando…


– Ele está o quê?

– Caçando Comensais da Morte.

Ela demorou uns três segundos inteiros para entender aquela afirmação, e quando fez sentido, o fogo negro aceso constantemente em seu peito ardeu com mais voracidade.

Ela sorriu sardonicamente, por fim.

– Saia da frente, Tonks.

Bella… – Ted pediu, identificando a veia pulsante de inconsequência da garota se expandir.

Saia. – ela rosnou.

Sirius enfim conseguiu se desvencilhar da prima do meio de subir as escadas. Ele chegou antes de Bella se sentir pronta, mas se fosse pra ser honesta, talvez ela nunca estivesse preparada o suficiente para aquele encontro.

Ele parou no pé da escada, ao mesmo tempo exatamente como se lembrava e nada como esperava. Para começar, estava todo imundo e amarrotado, como se não tomasse um banho ou trocasse de roupa há vários dias. Toda parte da sua pele tinha arranhões antigos e sangue pisado, e sua têmpora esquerda parecia ter sido atingida e sangrado muito, sangue se misturara com os cabelos longos e secara, deixando traços escuros. Ela reparou olheiras, e uma palidez que ele conseguia quando ficava sem dormir por um longo tempo.

E energia, muita energia no fundo dos olhos negros. A chama incandescente da vitória ainda ardendo, e pedindo para queimar mais e mais e continuar sustentando seu corpo espizinhado e exausto de lutar.

Foi quando Bellatrix percebeu que ele estivera na emboscada. Fora um dos bruxos a derrotar Lord Voldemort na armadilha de Dumbledore.

Pela segunda vez Sirius Black destruíra a sua vida… já estava se tornando um hábito. E enquanto ela percebia isso tudo, ele congelou no topo da escada ao dar de cara com ela em uma camisa larga, com os cabelos emaranhados e cara de sono, surpresa e zombaria olhando de volta para ele.

Sirius apertou a varinha em sua mão, como se tentasse se lembrar do que fora fazer ali, mas não a levantou na direção dela.

– Seu Lord da Podridão está morto, Bellatrix. – lhe disse cruelmente. Bella pensou que talvez ele tivesse ensaiado aquilo o caminho inteiro.

– Assim eu ouvi.

– Nós vamos mandar para o inferno cada infeliz desgraçado que ousou se afiliar àquele monstro.

– “Nós” – ela repetiu com zombaria – Você e mais quantos?

– Me mostre o seu braço. – ele disse ameaçadoramente – Eu sei que esteve naquelas reuniões várias vezes. – quando ela se atreveu a sorrir, isso o irritou ainda mais – MOSTRE SEU BRAÇO, MOSTRE AQUELA OBSCENIDADE QUE AQUELE MANÍACO MARCOU EM VOCÊ!

Os gritos e as acusações dele arrancaram um amargor inesperado dentro dela, um formigamento estranho e improvável de temor. Os hormônios, pensou vagamente, estão me deixando fraca.

– Isso é o bastante, Sirius! – Andrômeda chegou ao lado dele, e ela estava tão furiosa, tanto quando Bella jamais a vira, nunca mesmo. Seu rosto ardia, e ela literalmente o empurrou, apontando o dedo na cara dele. – Você não pode entrar na MINHA casa desse jeito e acusar a MINHA irmã de coisas!

– ELA É UM DELES, ANDIE! – ele protestou – Você está acobertando uma comensal da morte todos esses meses!

– Impossível!

– Quer ser acusada de cúmplice? O que acha que ela faz quando não está aqui? AGINDO COM AQUELE MANÍACO, matando famílias, aterrorizando os seus amigos e pessoas como você!

– PARE AGORA MESMO, Sirius BLACK! Você não tem como provar isso!

– Sim, eu tenho! É só olhar o braço dela!

Nimphadora continuava chorando em seu quarto, mas ninguém a essa altura pensava em abandonar a cena para consolá-la. Ted estava indeciso entre se meter na briga de família e partir em defesa de alguém, mas ele já tinha decidido que se Sirius gritasse mais uma vez com Andrômeda seria posto para fora dali aos chutes.

– Andie! – Sirius continuou, furioso com a prima por sua pretensa falta de senso – Bellatrix é um risco para todos nessa casa! Porque acha que ela fugiu da escola? Porque acha que tem se escondido de todos, até mesmo do resto da família? Não banque a idiota!

– Não seja você idiota! Olhe para ela! O motivo não poderia ser mais óbvio!

Frequentemente entre brigas caóticas na casa dos Black Andie era a voz da razão, e talvez por isso Sirius obedeceu e virou o rosto de novo para Bellatrix, que continuava parada ali, as sobrancelhas erguidas desafiadoramente. Ela ajeitou sua postura, cruzando os braços na frente do corpo, o que permitiu que a protuberante barriga fosse delineada pelo tecido e se tornasse discernível.

E foi então que ele viu.

– Ah, meu… mas quê… – pareceu tonto. Ela esperou algum palavrão rude do tipo que ele aprendia com a escória de amigos e deixava escapar em casa, fazendo Wallburga lavar sua boca com um feitiço espumante, mas Sirius parecia ao contrário, engasgado.

Então ele caiu. Com um tombo seco no chão, de uma vez só, quase em cima de Andrômeda, que se desviou no último minuto, dando um grito de surpresa. Então o corpo de um metro e oitenta começou a sacudir em espasmos violentos, e foi Bellatrix quem se viu gritando.

– ELE ESTÁ MORRENDO!

Andromeda entrou em modo medi-bruxa imediatamente, contornando o corpo do primo e amparando a sua cabeça.

– Não morrendo, tendo uma convulsão! Ted, pegue meu kit de primeiros socorros! Bella, alcance a minha varinha! BELLA!

Ela saltou sobre a varinha da irmã, que tinha caído quando Sirius quase caiu sobre ela, e lhe entregou. Suas mãos tremiam, e um zumbido alto preencheu sua cabeça, tornando difícil ouvir as próximas instruções de Andromeda.

Ela só conseguia ver Sirius no chão, convulsionando, seus olhos girando em suas órbitas e uma espuma branca saindo dos lábios que tinham acabado de acusá-la tão ferozmente.


E soube que ele não podia morrer. Ele precisava sobreviver, porque Bella não suportaria dedicar seu mais profundo ódio a outra pessoa que não estivesse viva para recebê-lo.

(Continua… )


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

=)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "7 Atos do Impossível" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.