Teoricamente, o fim do mundo! escrita por Miss Addams


Capítulo 2
Two




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“Perto do fim do mundo, quem quer correr não pode. Onde há fumaça, há fogo quando a verdade explode muitos não querem ver mentes em eclipse. Mas tudo está escrito no Apocalipse...”

:- Poncho, por Deus não se cansa? De novo com essa história? – ela me perguntou me olhando com uns olhos cansados, quase implorando para que eu finalmente mudasse de assunto, mas não podia era mais forte e perseguidor para que eu conte-se.

:- Sabe que não posso... – respondi vendo as pessoas se dirigirem para a saída do local.

Estávamos eu e Perla no seu local de trabalho no Museu Nacional de História e Antropologia, ela estava atrás do balcão devidamente acomodada para não se cansar e eu apoiado no balcão tinha acabado de recontar a ela o meu pesadelo.

:- Ok, eu como Antropóloga vou tirar algumas dúvidas suas, certo?

:- Certo. – assenti feliz por ela finalmente ter cedido.

:- Os Maias usavam vários calendários que tem semelhança com o que usamos hoje, como nos meses, anos e séculos, porém sua estrutura vai além no tempo. Possuindo unidades maiores, para eles a cada 20 dias se formava um “mês” ou Uninal. – estava completamente atento a tudo o que ela dizia – a cada 18 uinals, 1 tun, ou seja, um “ano”; a cada 20 tuns era um katun... E assim sucessivamente. – ela fez um sinal com a mão para não se prolongar muito na explicação. E eu ri por isso.

:- Não existe um fim, na nossa contagem dos séculos, mas para eles o calendário com a maior data tem cerca de 5.200 anos e se encerra na data 13.0.0.0.0. O que para muitos estudiosos isso corresponderia ao nosso 21 de dezembro. Mas, isso não quer dizer que o mundo acabaria simplesmente seria o fim de um dos seus calendários. Entendeu Poncho? O que causou tanto burburinho sobre esse assunto foi o filme americano feito, outros povos antigos também “preveem” sobre o fim do mundo, o medo do desconhecido da humanidade...

:- Mas, Perla os Maias são um dos povos mais inteligentes que existiram na face da Terra, como não dar essa credibilidade a eles? - perguntei insistente.

:- Quer uma opinião pessoal minha?

:- Quero! – disse firme para aquela que um dia já foi minha namorada.

:- O mundo não vai acabar, nisso eu não acredito. Os maias sim foram um dos povos mais inteligentes que habitaram a face da terra blá blá blá e apesar dos pesares ainda bem temos indícios disso, somente em ver as pirâmides que eles construíram, a escrita que deixaram, os calendários elaborados e milhares de outros fatos. Mas, eles eram misticismos tanto que faziam sacrifícios humanos, que credibilidade daremos diante desse fato. Poncho, eles eram inteligentes, mas eram fantasiosos isso é fato. Tanto que para os Maias, não existia mundo, menos ainda o fim dele, apenas existiam ciclos, acabando um inicia outro. – Eu fiquei sério colocando o que ela dizia numa balança.

:- Sobre o ponto de vista divino bom, apesar de não ser tão religiosa, eu estudo diversas religiões e credos. E acredito numa força maior que nos une, que podemos chamar de Deus, esse Deus Poncho não vai destruir uma criação sua assim. Não ele com sua bondade infinita, - ela me falou sorrindo, tentando me convencer – então você me dirá. Mas, e o apocalipse?

:- É e o Apocalipse, o que você tem a dizer sobre ele? - Repeti a pergunta, a fazendo rir, entrei no jogo dela para saber as respostas das minhas dúvidas.

:- Tudo é uma questão de interpretação. A palavra apocalipse vem do grego, apokálypis e significa revelação. Na terminologia de algumas religiões significa revelação divina, sem entrar em outras questões, a tradução da Bíblia nesse caso, foi feita por apocalipse e não revelação, trazendo um lado obscuro e equivocado sobre o “fim do mundo”. – Ela suspirou cansada de novo, afastou a cadeira na qual estava sentada e ficou de pé colocando suas mãos sobre a minha.

:- O meu conselho para você é que esqueça esse pesadelo que você teve, ignore-o. Viva a sua vida Poncho, vai ser feliz, vai atrás daquilo que realmente te faça bem. E se não conseguir esquecer, lembre-se também que sempre há esperança, sempre. Existem diversas coisas ruins e horríveis no mundo isso sempre existiu desde sempre, mas a cada ato de bondade, de amizade, de solidariedade... A cada vez que uma mulher da à luz a um bebê ou quando um homem pede em casamento à mulher que ama. Essa sim é a força que temos que nos agarrar por que ela faz com que tenhamos esperança que amanhã tenhamos um novo mundo, com novos seres humanos. – ela terminou seu discurso com lágrimas nos olhos, emocionada.

E eu fiquei refletindo nas suas palavras, o peso dos meus pensamentos fez com que eu abaixasse a cabeça e enxergasse ali mais uma prova. Vi a sua mão apertando a minha tentando passar segurança, para que eu esquecesse todo aquele incomodo, vi a sua aliança amarela refletindo no meu rosto abaixado. Subi o olhar para a sua barriga já grandinha, me dei conta do gesto de amizade que ela teve comigo.

:- Hey, não precisa ficar assim. Andou vendo as coletâneas de filmes infantis da Disney de novo? - perguntei implicante.

:- Besta, é assim que você me trata depois de te ajudar! – ela me deu um pequeno tapa. – Confesso que sim, esses filmes não deveriam ser aconselháveis para mulheres grávidas. – ela comentou rindo e voltou logo com uma expressão chorosa.

:- Que foi? - perguntei preocupado.

:- Eu não acredito que você cortou o cabelo de novo, Poncho. – ela me olhou quase chorando. E eu deixei escapar um riso, não acredito que ela choraria por que eu aparei um pouco minha juba.

:- Só foi um pouco Perla, olha os cachos estão aqui ainda. – apontei para o meu cabelo.

:- Ah, mais eu gosto tanto deles grandes! – disse ainda chorosa. – Mas, agora acho bom você ir embora que eu tenho que trabalhar. – falou quase agressiva.

:- Meus Deus, como mulheres grávidas são insuportáveis. Lindas, mas insuportáveis. – Eu bufei rindo.

:- Ha-ha, que engraçadinho você. – ela estendeu os braços para me abraçar. – Não se esquece dos meus conselhos, viu?

:- Pode deixar, obrigada viu, Mande lembranças ao Inácio e cuida desse bebê aqui. – Comentei sorrindo e passando a mão rapidamente em sua barriga pontuda.

:- Ok, pode deixar, cuide-se! Agora vá que eu tenho que alimentar minha cria. – falou me empurrando, mesmo que o balcão dificultava seu esforço.

Fui caminhando calmamente para a saída pensando nas palavras de Perla, que de certa forma tinha razão. E sorri ao ver que minha relação com ela é ótima, por mais que sejamos ex-namorados. Perla e eu terminamos nosso relacionamento de forma tranquila, ficamos juntos um ano e dois meses, no começo não tinha entendido o porquê dela ter rompido. Mas, depois de alguns meses nos reencontramos e ela contou que estava noiva preste a casar e que tinha a suspeita de estar grávida. Mantivemos uma amizade desde então, ela que me atura quando eu tenho esses surtos por conta do meu pesadelo. Que aconteceu no começo do ano de 2012.

Esse ano que passou foi estranho eu sentia uma necessidade de ficar sozinho e essa vontade era súbita, quando eu percebia estava sumindo do mapa. Arrumando alguma viagem para cá ou para lá. Ou ás vezes eu sentia necessidade ser presente na vida das pessoas que eu quero e amo, então ficava ligando, mandando sms, marcando encontros. Nesse ano não fiz nenhum trabalho para a televisão, apenas para o cinema e o teatro, outro fato para eu me afastar um pouco das pessoas.

Minha última viagem foi para visitar o monumento, Chichén Itzá e o templo Kukulkan e estou meio obcecado pelos Maias. Me lembrando disso me fez pensar quando foi a última vez que entrei em alguma rede social? Por Deus faz muito tempo, preciso voltar antes que pensem que eu desapareci do mundo. Pensei sorrindo finalmente saindo do museu.

:- Tem um trocado, garoto?

Fechei o sorriso ao ver a mão calejada estendida e ouvindo a voz repentina. Observei o rosto do homem, encarando não por mal só não pude conter, abaixei o olhar para vê-lo de corpo inteiro, estava vestido da maneira que podia. E estremeci mais uma vez, me dando conta de uma realidade diferente da minha.

Levantei minha mão antes que ele abaixasse a sua, quando a peguei puxei para que ele me seguisse, ele tinha uma confiança estranha por que deixou que eu o guiasse, passei entre meu carro e outro carro estacionados, olhei para os dois lados e o puxei para que atravessássemos a rua rapidamente, antes que o carro desistisse de dar passagem.

No outro lado da rua entramos num bar/restaurante, que estranharam a entrada dele, porém não questionaram nada. Paramos em frente no balcão.

:- Por favor, quero o prato do dia e um suco que ele quiser – apontei para o homem do meu lado. – e alguma sobremesa? - virei a cabeça na sua direção, depois dele me afirmar, virei para confirmar para o atendente o pedido. – E uma sobremesa que ele preferir, tudo bem? Quero tudo caprichado.

Me afastei para pegar minha carteira no bolso do meu jeans e deixar as notas no balcão para deixar tudo garantido para todos os lados.

:- O troco que sobrar, você por favor der a ele, Sim? - falei simpático para o homem, que correspondeu me olhando rapidamente mais concentrado no dinheiro que contava e nos pedidos que eu havia feito.

Eu não pretendia falar nada para o homem, mas antes de eu sequer pensar em nada. Ele segurou meu braço firme me fazendo encara-lo de novo.

:- Obrigado, garoto! O mundo seria melhor se mais pessoas tivesse um ato de bondade como esse. Usarei com sabedoria o resto do dinheiro que sobrar. – ele que era mais velho, tinha uma expressão sofrida e fechada natural sorriu de lado. Fiquei sensibilizado.

:- Não tem que agradecer, não foi nada. Senhor...? - me interrompi querendo saber o nome dele.

:- Alfonso. – respondeu rude, voltando a uma expressão fechada.

Incomodado novamente com a situação em que me encontrava, ainda mais por ele ter o mesmo nome que eu. Acenei com a cabeça me despedindo, ainda olhando para o braço que desde quando nós estávamos no museu permaneceu abaixado ao lado do corpo.

Ele tinha o mesmo nome que eu, era solitário e para me assustar um pouco andava com uma marreta nas mãos. Balancei a cabeça na tentativa de esquecer tudo aquilo, finalmente dando a partida no meu carro.

Sou um homem solitário, meu rapaz quando tudo acabar quero estar sozinho.

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