Teoricamente, o fim do mundo! escrita por Miss Addams


Capítulo 1
One


Notas iniciais do capítulo

Para o começo desse capítulo, sugiro que escute Apocalipse, cantada por Roberto Carlos. Aqui: https://www.youtube.com/watch?v=344a9E8sTCg



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Poncho

Perto do fim do mundo, como negar o fato, como pedir socorro, como saber exato o pouco tempo que resta, só vai sobrar o que presta...”

CARAJO!!!

Eu soquei pela décima segunda vez o volante do meu carro totalmente irritado.

Aquele definitivamente não era o momento para ele simplesmente deixar de funcionar. O desespero tomava conta de mim. Tanto que minhas mãos tremiam desde que entrei no meu velho carro para fugir.

Aonde o senhor está agora, hein? Eu refiz um questionamento diário meu e de várias outras pessoas no mundo. Eu olhava para o teto do meu carro buscando alguma explicação divina desejando realmente que ele me visse que ele se sensibilizasse, que ele me desse algum sinal. Mas, ele havia desaparecido.

A impotência me debilitava, apesar da grossa tempestade com raios e trovões que rasgava o céu com violência e causava um impacto muito forte no meu carro, eu conseguia ouvir os gritos e até rezas das pessoas do lugar isolado onde eu estava. E o nível era tão alto e constante que aquelas vozes venceram a batalha com a tormenta, eu pouco a pouco, terrivelmente cedia a minha vontade de desistir de tudo.

E tudo que eu fiz foi chorar. Não podia ter sido assim.

Aquele era o fim do mundo, as profecias estavam sendo confirmadas e eu sentia aquilo, eu via diariamente no decorrer daquele ano de 2012.

A cada momento eram guerras iniciadas, enchentes inesperadas, furacões devastadores, florestas queimadas, animais desaparecendo, catástrofes a cada instante. Quando algum país se recuperava de algo ruim, logo outro país era tomado por outro fato pior. Parecia alguém que estava furioso e estava brincando, julgando os humanos como bonecos.

As pessoas estavam cada vez mais desesperadas, as igrejas estavam mais lotadas, procurávamos respostas para tanta desgraça. Os governos não conseguiam controlar mais a população, os estudiosos não sabiam explicar o que se passava diariamente, os -anteriormente ditos como- malucos repetiam gritando aos quatro ventos que era o apocalipse. O pavor das pessoas era cotidiano, havia lixo nas ruas, miséria, egoísmo, violência, desespero, o pavor era tanto que várias pessoas se suicidaram para se poupar do sofrimento. A solidariedade, o amor, a paz ...estavam distantes. O sentimento era o mesmo e coletivo por todos pelo menos uma vez.

Tudo estava acabado e nada do que fizéssemos adiantaria, nenhuma reza, nenhuma prece, nenhuma súplica, nenhum socorro. Ninguém ajudaria ninguém. Se todos eram um no sofrimento segundo a visão do divino e esse um logo seria extinto.

O único ato global de todos, absolutamente, todos. Era a atitude de esperar o fim do mundo, estando com as pessoas que mais amavam e abraçá-las fortemente, fechando os olhos para que não nada vissem do que acontecia.

Baque!

O barulho de vidro sendo estraçalhado penetrou meus ouvidos, senti os cacos caírem no meu colo.

Meu coração veio à boca, com o susto que eu tomei. Olhando para o lado esquerdo vendo uma sombra escura embaçada, me afastei para o banco passageiro quando meu carro levou outro golpe que foi certeiro dessa vez. Pela primeira vez senti o gosto amargo da morte próximo por mais que ela tivesse mais cotidiana e presente nos últimos tempos. Não sabia definir se senti medo ou conforto por isso.

A sombra na realidade era um homem que estava com uma marreta na mão direita e me estendeu a mão esquerda. E eu fiquei assustado.

:- SAIA JÁ DAÍ GAROTO! – ele gritava e corria ao mesmo tempo, acompanhando o meu carro – Quer morrer prensado dentro do seu carro?

Olhei para os lados e só então notei o meu carro em pleno movimento e ainda sendo arrastado em direção a uma cratera enorme que se formou depois do último terremoto seguido de tempestade aqui no DF, naquilo que antes deveria ser uma avenida.

Sendo ajudado por ele eu consegui apoio e me impulsionei para pular e sair do carro. Foi tudo em questões de segundos ou até milésimos não sei definir, não sei se tenho mais senso de realidade. Mas, o que eu ainda consegui constatar foi que eu pulei do carro e ele caiu sendo destruído no fim do trajeto.

Eu e o homem respirávamos ofegantes pela adrenalina, do momento. Até que ele se levantou e se recompôs da maneira que pode, tirando um pouco da camada de poeira que estava sobre ele. Virou de costas e falou arrogante.

:- Vá para a praça principal, todos estão lá esperando tudo acabar. – começou a sair andando.

Me levantei ainda fraco com o corpo tremendo.

:- Você não vai?

:- Sou um homem solitário, meu rapaz quando tudo acabar quero estar sozinho.

Dito isso saiu andando no meio da poeira e o caos que se tornou o centro da cidade, num caminho sem direção fiquei o olhando até o ver desaparecer. Apesar do caos onde me encontrava, estava perto da praça ou ao menos eu sentia isso.

Caminhei em direção da praça que estava completamente tomada. Olhando a multidão senti na pele, a previsão dos Maias sendo concretizada. Eu via conforme eu andava a morte em todos os lugares, aquela sensação me causou medo por que eu a sentia me acompanhando, seguindo meus passos.

As pessoas da praça estavam como eu já havia visto antes, diversas vezes somente aquele mês de dezembro, todos com a mesma expressão de derrota, de medo, todos ali eram apenas uns seres que formavam parte algo maior, não havia classe sociais, credos, dinheiro, bens materiais, sexo, nada apenas todos estavam submissos ao fim. Abraçadas com aquelas que amavam. E eu vendo todo mundo senti um choque por que estava sozinho. Esse sempre foi um dos meus maiores pavores, a solidão. Não tinha a mínima ideia de como eu havia chegado ali, onde estava minha família ou os meus amigos.

E de novo comecei a chorar.

Sozinho.

Olhando para cima, o céu estava escuro não tinha nuvens, somente escuro.

Totalmente Negro!

Abaixando a vista para enxugar minhas lágrimas eu recebi a facada final.

Vi Dona Blanca abraçada a Don Fernando, vi Claudia segurando no colo um bebê e seu marido abraçava os dois. Vi Blanca abraçada com algum homem que eu não soube identificar quem seria e fatalmente eu a vi, abraçada com o Luis Rodrigo, seu namorado.

O chão começou a tremer, as pessoas se agarraram mais forte uma nas outras, algumas gritaram desesperadas. Estava começando o fim de tudo. Um buraco abriu abaixo dos meus pés imóveis, eu não fiz nada, apenas me deixei cair, me deixei levar, sozinho. Pela escuridão convidativa do abismo, eu cai de tristeza, as pessoas estavam abraçadas a quem elas amavam. E não era nos meus braços que Dulce estava. Minha decepção foi tanta que tudo que eu fiz foi...

Acordar!

Meu coração disparava tanto que sentia até dor. Meus olhos estavam arregalados, minha vista embaçada, meus pensamentos embaralhados. Flashes do meu pesadelo vinham constantes na minha cabeça. Estava suado, transpirando por todos os poros.

Me levantei tonto e fui cambaleando pelo apartamento escuro até a cozinha ligando todas as luzes possíveis. Abri a geladeira e tomei um longo gole de água gelada. Senti o choque inicial eu estava quente e tomei a água tão desesperado que me engasguei. Depois de tossi como um condenado, puxei o ar respirando profunda e rapidamente.

Meu coração ainda trabalhava sem interrupções e me senti feliz por isso. Olhei para a porta da minha cozinha e vi Miau, minha gata me olhando. Se ela falasse só faltava dizer com desprezo e surpresa “O que está fazendo?”

Feliz eu corri até ela a agarrando que não compartilhou minha felicidade, tentava me arranhar a qualquer custo. A apertei caminhando na direção da sala, ligando a Tv e encontrei meu notebook e o liguei também. Miau finalmente conseguiu sair do meu abraço apertado, não sem antes me arranhar. Saiu com o rabo levantado e se ainda falasse, diria. “Isso é para você aprender.”

Nunca me senti tão contente por senti dor, tanto que precisava de mais, necessitava um contato humano.

Abri a porta do me apartamento, saindo feito um louco no corredor olhando da esquerda para a direita procurando alguma alma. A senhora Soledad, minha vizinha do apartamento 362 ficou assustada quando eu fui a sua direção no fim do corredor, onde ela esperava o elevador. E a abracei tão forte.

Meu deus que sensação é essa?

:- Me solta, Alfonso, está louco meu filho!!! – ela dizia espremida nos meus braços. Eu apenas sorria e a abraçava mais forte. – Meu elevador chegou, eu preciso pega-lo Alfonso.

Como eu não me separei dela, ela começou a me empurrar até a usar sua bolsa para me bater e eu finalmente a soltasse.

:- Tenha uma ótima noite Soledad, obrigada pelo abraço. – eu gritei para que ela escutasse de dentro do elevador. Ela apenas me chamou de doido e soltou um palavrão.

E eu quase soquei a parede de tanta felicidade por está vivo? Por que era isso que eu estava, VIVO. Senti minhas veias saltando transportando sangue.

Voltei para o meu apartamento, peguei o controle da Tv passando por todos os canais possíveis, entrei na internet para ver as notícias, fui até minha janela e todos os prédios nos seus lugares, aparentemente seguros, as pessoas passando na rua, sorrindo ou apressadas. A noite estava caindo e apenas fechei os olhos e agradeci por comprovar que tudo estava bem.

Sentindo uma fome inesperada, voltei para a cozinha para comer, me dei conta do que realmente aconteceu. Eu voltei para casa, morto de cansaço após um dia inteiro de ensaio para minha próxima peça de teatro e de tão cansado, deitei no sofá para tirar apenas um cochilo. E tudo isso deu no que deu.

Cheguei à sala com um prato de comida, digno de um caminhoneiro com fome. Era como me sentia faminto, ainda mais quando comecei a décima tentativa para deixar de fumar, sentindo o cheiro de comida, Miau chegou do meu lado querendo comi.. Quer dizer, carinho. Eu dei os dois.

Peguei o controle e coloquei num canal famoso por seus documentários e eu sei que não foi por acaso que começou um que justamente falava sobre o fim do mundo ainda relacionando a cultura Maia, O Efeito Nostradamus. Deixei o controle de lado e fiz um carinho em Miau, prestando atenção no documentário, aquele assunto dali em diante seria um tema que eu teria bastante curiosidade, ainda mais depois do meu pesadelo.

As pessoas estavam abraçadas a quem elas amavam. E não era nos meus braços que Dulce estava.

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