Chasing a Starlight escrita por ladywriterx


Capítulo 2
Dúvidas


Notas iniciais do capítulo

Bem, eu já tenho até o capítulo 10 no outro site, então vou deixar no mesmo ritmo, pra quando eu tiver o prox capítulo, ter nos dois sites. Espero que gostem.



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Entrou correndo em casa, afobada e ofegante. Tirou o gorro, deixando-o de qualquer jeito na cômoda do hall, quase derrubando um porta-retratos com uma foto sua e de sua família, e apressou o passo até a janela da sala que dava para a praça. Abriu-a, empurrando para cima com força, já que ela estava um pouco emperrada, e colocou a cabeça para fora, sentindo o vento que começava a ficar cada vez mais forte. Viu que ele ainda estava na praça, parado. Não sabia o que estava esperando, mas parece que sentiu quando os olhos dela caírem nele e se virou. Helena sorriu e se apoiou no parapeito da janela. Ela podia jurar ter visto um sorriso de lado aparecer no rosto dele – mesmo estando tão longe – e mordeu o lábio inferior. O destino provavelmente estava rindo dela agora, com o nome que tinha, encantada por Loki, o deus das travessuras e das mentiras. Com agilidade, ele virou-se de novo, fazendo-a encarar suas costas enquanto as nuvens começavam a se juntar de novo no que parecia ser uma tempestade. Olhou para o céu e depois para onde ele estava, encontrando uma praça vazia enquanto um raio atingia a pequena caverna. Suspirou, levantou-se do parapeito e seus olhos pousaram na rosa que trazia em mãos. Era tão perfeita, tão vermelha, que ela sabia que teria a maior dó do mundo quando ela começasse a morrer.

Foi até a cozinha a passos rápido e silenciosos. Nas pontas dos pés, alcançou um copo longo e fino, enchendo-o de água. Da gaveta da cozinha, puxou uma tesoura e cortou parte do cabo da rosa em diagonal, colocando-a delicadamente no vaso improvisado. Levou-a até a mesa de centro da sala e cheirou-a mais uma vez para sentir o perfume que parecia muito melhor que o perfume de qualquer rosa que ganhara na vida. Não eram muitas, ok, mas aquela parecia tão especial, tão diferente. Ainda estava de pé, admirando a flor, quando o telefone começou a tocar. Franziu o cenho, mas se jogou no sofá, puxando o telefone consigo. Começou a tirar as botas com os pés mesmo enquanto apertava o botão para aceitar a chamada.

—Alô?

—Sigyn, filha. Tudo bom? — Rodou os olhos com o nome. Por que insistia em chamá-la assim?

—Oi, mãe, tudo bem, e a senhora? — A tentativa de tirar as botas foram frustradas, então segurou o telefone com o ombro, enquanto se abaixava para puxá-las e se ver livre para poder deitar no sofá que tinha limpado a pouco tempo. Depois que terminou, se espreguiçou, ainda sem tirar os olhos da rosa a sua frente.

—Preocupada com você. Estou há mais de uma hora tentando te ligar. Achei que estava de folga. Não conseguia nem falar com você no celular. — Fechou os olhos e suspirou.

—Desculpa, sai para dar uma volta e esqueci de levar o celular.

—Ai filha, você sabe como por ai é perigoso para sair dando voltas sozinha a essa hora. — Sorriu com a preocupação dela.

—Relaxa, eu estava com um amigo. Duvido que algo fosse acontecer com ele perto. — Por ele ser um deus e tudo mais, completou em sua mente, escondendo um riso. — Desculpa se te preocupei. Queria falar algo em especial?

—Não, só fazia algum tempo que você não ligava. Eu sei, ocupada com a faculdade e o trabalho, eu entendo. — Helena passou a encarar o teto agora. — Está tudo bem por ai?

—Tudo ótimo, mãe, corrido e cansativo, mas tudo bem. — Um silêncio se estabeleceu na linha. Lena se viu pensando longe, num homem de cabelos pretos, olhos verdes, quase azuis, alto e de roupas pretas e elegantes. Mordeu os lábios. Ela sentia tanta necessidade de saber mais sobre ele.

—Ah, lembrei. Sua vó quer que você vá para Islândia essas férias passar as duas semanas lá, Natal e Ano-novo. Na verdade, ela não quer, ela exige. Já comprou suas passagens. Alguma objeção? — Helena riu.

—Não mãe, nenhuma, vou adorar passar um tempo com ela. Vocês vão também?

—Não, seu pai tem algum trabalho para fazer e não vai conseguir se livrar. Mas divirta-se com a sua avó, ok? — Sorriu.

—Claro, pode deixar. Hm, mãe? — Ouvi a mulher do outro lado da linha sussurrar um “sim?” e respirou fundo. — Então, por acaso, quando você me trouxe aquele monte de livro do meu quarto, você trouxe aquele livro de mitologia que vovó me deu?

—O de couro, bem grosso, com letras douradas?

—Esse mesmo.

—Está na última prateleira da sua estante, se você não mexeu, o que deduzo que não tenha feito para não achá-lo. Posso saber o porquê do súbito interesse?

—Curiosidade. — Repetiu no mesmo tom de Loki e não pode deixar de soltar um sorriso bem grande. Jogou a cabeça para trás e mordeu o lábio inferior. A voz dele voltou para a sua mente.

—Hm. Se cuida, filha. Vou desligar.

—Manda um beijo pro papai. E pode deixar.

Em pouco tempo, estava de banho tomado – apesar de ainda não ter água quente -, de moletom e pantufas, enquanto se esticava toda em cima de um banquinho para conseguir alcançar o livro que ela tanto queria. Tinha esquecido como aquele livro era pesado. Lembrava apenas de uma vez que havia pego aquele livro para ler, e foi no seu aniversário quando o ganhou. Nunca tinha terminado, já que achava boa parte daquilo uma besteira sem tamanho, mas agora as circunstâncias eram outras. Afinal, havia conhecido Loki e se sentia uma idiota por estar querendo saber tudo sobre ele. Realmente acreditava que ele apareceria de novo? E se tudo aquilo não fosse um delírio da sua mente? Abraçou o livro e virou-se para a mesa da sala. A rosa continuava ali do mesmo jeito que ele havia estendido-a para Helena. As pétalas continuavam vermelhas, lisas e imponentes, o cheiro conseguia encher a casa de perfume. E era apenas uma flor. Imaginou o que um buquê podia fazer. Mordeu o lábio inferior e se jogou no sofá sentada, de pernas cruzadas e o livro em seu colo. Abriu na primeira página, onde um desenho de Asgard aparecia, dourada, linda. Passou o dedo no relevo da página e depois virou-a.

Das trevas se faz a luz

Da morte se faz a vida

Dos deuses se fazem os homens

Das lutas se fazem as lágrimas

 

Da serpente se faz o veneno

Da lua se faz o lobo

De Loki se faz a morte

E a fidelidade o acompanha

Enquanto do veneno se faz a raiva”

 

cântico Prelúdio do Ragnarok – parte 1

 

Continuou a ler a página. Sua vó contava a história para ela: Loki, o deus sempre ligado a maldade, era predestinado a trazer o caos para todo o universo. Seus filhos, o lobo Fenrir, a morte Hell e a serpente Jorgunmund foram aprisionados para viver anos de tortura. O deus também tinha sido, acorrentado embaixo das presas da cobra mais venenosa do universo, cujo veneno pingava dia e noite sobre ele. Sigyn – suspirou ao lembrar -, casada com Loki e deusa da fidelidade, ficava também dia e noite com um recipiente embaixo das presas da serpente para amenizar a dor do marido. Quando ficava cheio, ela saia para jogar o veneno fora, e as gotas que caiam em Loki eram tão doloridas que ele não conseguia conter seus gritos desesperados, que ecoavam pela Yggdrasil e faziam Midgard tremer. A profecia dizia que, um por um, os filhos de Loki saíram de sua prisão, libertariam o pai, que começaria uma investida contra os deuses de Asgard. E a fidelidade o acompanhava. Aquele verso ecoava em sua cabeça.

Não, o Loki que conhecera naquele dia não parecia o Loki dos mitos. Ele era charmoso, com um sorriso maravilhoso e olhos profundamente sinceros. Ou ao menos parecia. Parecia adepto a algumas mentiras e travessuras, mas nada perigoso. O Loki que havia conhecido era um verdadeiro príncipe, com palavras perfeitas e voz maravilhosa que ela tinha certeza que podia fazê-la suspirar. Balançou a cabeça, soltou um riso pelo nariz, incrédula com o que estava pensando, e voltou a ler o livro. Passou delicadamente para a próxima página, envolvida mais do que nunca com a atmosfera dos mitos que ignorava quando criança.

Loki chegou furtivamente no castelo, imaginando que conseguiria passar despercebido até seu quarto, onde tomaria um banho, trocaria de roupa e ficaria em sua cama. Não conseguia se enganar e sabia que sua mente vagaria para a menina de Midgard, Helena, para o seu sorriso perfeitamente alinhado e para os olhos castanhos que pareciam brilhar. Patético. Tentava fazer com que seus passos ecoassem o mínimo possível pelos corredores. Não queria que Thor viesse encher seu saco quando estava de tão bom humor, não queria dar de cara com um dos Três Grandes ou com Sif. Queria apenas ir até seu quarto e ficar lembrando da mortal que havia encontrado em Midgard. Momentos de paz no castelo eram poucos, mas estava torcendo que conseguisse encontrar um. Faltava tão pouco para o seu quarto quando ouviu os passos pesados de Thor atrás de si. Soltou um suspiro, sabendo que não teria como escapar do irmão.

—Loki! Estava procurando você por todo castelo. — Rodou os olhos e virou-se.

—Estava dando uma volta pelos jardins.

—Mas eu fui até lá e não encontrei você. — Loki levantou as sobrancelhas.

—Isso porque você não sabe procurar muito bem. — Thor deu de ombros e Loki escondeu um sorriso que queria brotar em seu rosto, era tão fácil enganá-lo. — Enfim, o que queria comigo?

—Sobre ir para Midgard e me mostrar a passagem. — Negou com a cabeça.

—Desista, Thor. Não. — Se antes ele já não mostraria a passagem secreta, agora muito menos, porque Helena estava atrás daquela passagem e ela seria só dele se a mantivesse em segredo.

—De algumas vezes acho que você só inventou essa história do desvio da Bifrost. — Loki massageou as têmporas e voltou a andar. Thor o seguiu.

—Alguma vez já menti para você, irmão?

—Loki... — Thor soltou uma risada e Loki precisou se controlar para não dar um soco na cara dele. Vivia uma relação de amor e ódio com o irmão e com o título de deus das mentiras.

—Você entendeu. Se eu revelar para você, Heimdall pode ouvir. Heimdall vai ouvir. Se eu levá-lo até lá, você vai sair contando para todos que aparecerem na sua frente e, então, Heimdall vai ouvir. Percebe que, de qualquer jeito, eu fico sem minha passagem?

—Você tem uma imagem negativa de mim, irmão. — Encarou-o com as sobrancelhas franzidas. Quantas vezes não tinha confiado um segredo a Thor e nas próximas semanas o reino inteiro parecia saber? Aprendera do modo mais doloroso a guardar tudo para si, depois de tanto ser alvo de fofocas e piadas, descobriu que o irmão não era a melhor pessoa para ser confidente.

—Não vou nem responder a isso, Thor. — Chegaram em seus aposentos. Loki colocou a mão na maçaneta. — Não. Não vou te levar para Midgard. Não vou te mostrar a passagem. Agora, com licença, que pretendo tomar um banho e voltar para meus treinos de magia.

—Papai não vai gostar quando descobrir isso.

—É só você manter essa boca fechada, coisa que eu acho que você não vai conseguir, e então mamãe intercede por mim. — Thor continuou parado junto a ele, que rolou os olhos de novo antes de encará-lo profundamente. — Então?

—Ok, Loki. Mas não pense que eu desisti de arrancar isso de você.

—Nunca conseguirá. É melhor desistir. — Cantarolou, antes de abrir a porta do quarto, entrar rapidamente e fechar a porta na cara do deus dos trovões.

Finalmente sozinho, ele pode deixar os pensamentos vagarem para a humana. E seu cheiro floral. Fechou os olhos e suspirou. Parecia um idiota apaixonado. Precisava tirá-la de sua mente, precisava esquecê-la. Ao mesmo tempo, precisava sentir o toque dela, tão delicado quando pegou a rosa de sua mão, e precisava ouvir a voz dela, escutá-la quando disparava a falar e não parava. Tinha ficado só algumas horas com ela e já tinha analisado-a para saber como seus olhos brilhavam quando falava de algo que gostava. Que patético. Ao mesmo tempo que se achava um idiota por sentir aquilo, sabia que no dia seguinte estaria rumando a Midgard, esperando encontrá-la no mesmo lugar da primeira vez, dessa vez sem a cara de assustada. Esperava encontrá-la também ansiosa por vê-lo de novo. Esperava ser recebido com um sorriso e mais algumas horas do dia dela. E também esperava que ela estivesse igual ele estava: com a cabeça longe do lugar de origem.

Levantou os olhos para procurar o celular. Esticou-se para pegar e ver as horas. Onze da noite. Tinha ficado quase duas horas e meia na mesma posição lendo o livro de mitologia e ainda não tinha descoberto tudo o que queria. Sentia as costas reclamarem por ter ficado tanto tempo abaixada para ler o livro e ainda queria continuar. Só não faria isso porque sabia que, se não dormisse, ferraria com todo seu esquema de sono e segunda acordaria parecendo um zumbi. Abaixou os olhos para o livro mais uma vez e se convenceu que seria a última página. No topo dela, com uma caligrafia bonita e trabalhada, escrita em tinta dourada, era possível ler “Loki e Sigyn”. A ilustração no canto esquerdo mostrava a deusa com o recipiente, enquanto Loki estava caído, acorrentado, exausto. Passou a mão na figura, franzindo o cenho. Loki.

O nome dele ainda soava estranho. Loki. Talvez ela nunca se acostumaria. Tentou falar uma vez em voz alta e riu em seguida. Mordeu o lábio inferior e passou os dedos na caligrafia bonita e percebeu ser em alto relevo. Ficou um tempo encarando o jeito que os nomes eram escritos, as curvas no S, o L bem feito. O jeito como o final do L se estendia por debaixo do nome da deusa e depois subia, envolvendo-o. Dedilhou mais uma vez antes de falar em voz alta e sentir as bochechas corarem. Odiava seu nome do meio, mas falado assim, parecia ter até um pouquinho mais de cor e sonoridade. Estava definitivamente começando a delirar. Loki. Loki era a causa daquilo tudo. Fechou o livro com força e o colocou perto do copo com água e a rosa. Olhou para aquilo e negou com a cabeça. Estava ficando obcecada com ele. Totalmente louca. Levantou-se, sentindo os joelhos reclamarem por terem ficado tanto tempo dobrados. Pegou o celular e rumou para o quarto. Precisava descansar antes que perdesse completamente a sanidade.

Acordou sentido-se levemente culpada por não ter estudado quase nada no dia anterior. Gemeu, virando-se na cama. Levantaria, pularia a parte do banho porque estava frio demais para se submeter àquela água congelante, tomaria seu café da manhã, ligaria para o técnico, e estudaria. Estudaria até não aguentar mais ficar sentada naquela cadeira e começar a ficar impaciente, olhando para fora, esperando que ele aparecesse. Que idiota que ela era. Puxou o travesseiro e colocou no rosto, bufando em seguida, frustrada. Precisava começar o seu dia, mas, ao mesmo tempo, queria voltar no sonho que estava tendo, porque sonhara com o Príncipe de Asgard e seus olhos hipnotizantes.

Contra a sua vontade, jogou os pés para fora da cama, colocou-se sentada e espreguiçou-se, sentindo alguns ossos do corpo estalarem. Suspirou. Será que ele viria? Será que ele a deixaria esperando por ele? Coçou a cabeça, a testa e depois passou a mão no rosto. Ela precisava parar de pensar nele. Precisava focar em outra coisa que não fosse Loki. Procurou sua pantufa e seu moletom que estava jogado na cadeira da penteadeira. Colocou-o por cima do pijama antes de, a passos lentos e preguiçosos, rumar até a cozinha onde tomaria o seu café da manhã e talvez conseguisse estudar. E talvez conseguisse tirá-lo da cabeça por alguns momentos.

Foi difícil pregar o olho a noite inteira. Tinha tomado seu banho e tinha sim praticado um pouco de magia antes de se sentar no parapeito da sua janela e encarar as estrelas, lembrando do que tinha dito para Helena. Apesar disso, quando sentiu os primeiros raios de sol entrarem na sua janela, sabia que precisava levantar. Apesar de seus pais não estarem no castelo, precisava seguir sua agenda, precisava tomar o café para depois ficar numa sala cheia de gente chata falando dos problemas de todos os nove reinos, enquanto encarava entediado alguma coisa – qualquer coisa – a sua frente e falava quando era chamado. E então Thor falaria algo bem idiota, e Loki teria que corrigir. Passariam a manhã toda daquele jeito, quando, na verdade, ele queria estar em Midgard. O dia seria cansativo e chato. Estralou os dedos, fazendo as cortinas se fecharem e virou-se para continuar a dormir. Talvez não teria problema se ele continuasse a dormir por mais alguns minutos.

—Não acredito que você ainda está dormindo. — Ouviu batidas na porta e a voz de seu irmão invadir seu quarto. Rolou os olhos e sentou-se na cama.

—Thor, você realmente tem a idade que aparenta? Porque acredito que sua idade esteja entre dois meses e três anos de idade.

—Pare de reclamar, Loki, e levante! O café já está na mesa. A primeira vez na vida que preciso te acordar. O que aconteceu? — Continuou gritando de fora. Loki levantou e começou a tirar o pijama, colocando a roupa que consistia na calça preta, a camisa verde e seu sobretudo preto, com detalhes em dourado e verde.

—O que aconteceu é que eu queria ficar livre de você por mais alguns instantes! — Rosnou enquanto abria a porta. — Será que é possível?

—Você tem a tarde toda para fazer isso. Vamos.

—Vá na frente, logo vou.

O chuveiro estava consertado e o cara que tinha feito o serviço pareceu ter ficado com dó de Helena – já que era a segunda vez que o chamava para consertar a mesma coisa em menos de um mês – que ele até fez um desconto para ela. Agora estava com menos sessenta libras no bolso. Pelo menos tinha conseguido tomar um banho quente, lavar o cabelo. Agora estava com uma de suas roupas favoritas: calças pretas, uma camiseta de manga comprida cinza, um suéter quentinho verde e sua jaqueta de couro forrada preferida. A bota era a mesma que estava ontem. Suas luvas eram pretas e seu gorro também, diferente do dia anterior, que era cinza. Sabia que era idiotice estar tão arrumada assim para ficar dentro de casa, sentada na cadeira de frente para a janela, com o livro de mitologia na mesa, enquanto esperava qualquer coisa diferente no céu. Passou a mão no rosto e apertou os olhos. Pelo menos não chegou no cúmulo do desespero de ter feito babyliss para que seu cabelo ficasse ainda mais enrolado, ou de ter passado maquiagem. Arrumou a franja que insistia em começar a cair em seus olhos e voltou a focar no livro a sua frente. Inútil, porque depois de cinco segundos tinha voltado a encarar a janela, suspirando.

Já tinha almoçado e lavado a louça, já tinha revisado a matéria da prova de terça, já tinha varrido o apartamento e arrumado um pouco da estante de livros. E ainda eram duas da tarde. E nada dele aparecer. Talvez ele fosse aparecer no mesmo horário de ontem, tentou se convencer. Mas também ele podia não aparecer. Bufou, fazendo que alguns fios de cabelo voassem. Enrolou uma mecha no dedo e tentou se entreter com aquilo, ainda encarando a janela aberta. Em alguns segundos, o vento pareceu ficar mais forte e as nuvens mais concentradas. Apertou os olhos. O céu agora estava mais escuro que antes. Deixou um sorriso enorme escapar, pegou o livro, abraçando-o contra si, e correu para fora do apartamento. Desceu as escadas pulando os degraus, abriu e fechou o portão com força e atravessou a rua sem olhar nem se vinha carro. Era o mesmo vento de ontem, era a mesma quase tempestade que tinha presenciado. Diminuiu o passo quando chegou perto do parque, não queria se mostrar tão desesperada. Então ele surgiu e seu sorriso aumentou mais ainda.

Ele girou o corpo quando não encontrou ninguém, já começando a ficar decepcionado. Claramente ele tinha sido o único a aguardar por aquele momento. Quando estava quase completando um giro de 180º, encontrou-a sorrindo, vindo em sua direção, abraçada num livro. Levantou as sobrancelhas e obrigou um sorriso que também queria sair ficar escondido. Não queria mostrar que estava tão desesperado por vê-la.

—Helena. — Falou, chegando perto dela. Percebeu como ela inclinou a cabeça um pouco para o lado e passou um pouco da língua nos lábios. Percebeu o jeito como os cabelos levemente bagunçados denunciavam que ela tinha corrido até ali. Percebeu como ela estava bem mais arrumada que ontem. E então o sorriso não resistiu e apareceu em seu rosto.

—Loki.

—Estava esperando? — Percebeu quando as bochechas dela coraram levemente.

—Sim e não. Ontem você foi sem dar uma resposta se vinha mesmo. Da próxima vez, vê se marca horário. — Os dois riram. A risada dela era tão gostosa.

—Ainda não decorei o caminho, me leve até onde fomos ontem, sim? — Ela assentiu com a cabeça.

Colocou-se ao lado dela, observando de canto de olho o seu perfil, o jeito que ela parecia muito mais animada naquele dia, o jeito como seu cabelo parecia extremamente dourado na luz do sol, e com o a roupa deixava seu olho um pouco mais claro. O jeito que ela franzia a testa quando o sol batia direto em seu olho e o jeito que, calmamente e suavemente, ela falava as direções. Loki tentou decorar, mas parecia difícil quando tinha Helena ao seu lado.

—O que é isso? — Ele perguntou quando se sentaram. Helena hesitou um pouco, mas entregou-o o livro.

—Minha avó por parte de mãe me deu quando completei 15 anos. Eu nunca o li inteiro. Enfim, quando me mudei, minha mãe trouxe e deixou no meu apartamento. Achei que ia gostar. — Olhou-o, esperando alguma reação. Ele levantou os olhos para ela antes de puxar o livro e abri-lo.

—Mitologia inteira? - Acenou com a cabeça. — O que você já leu disso? — Loki engoliu um seco. Sabia como aquelas histórias falavam dele. Sabia que na visão dos antigos, ele era o pior deus que podia existir, um traidor, um tremendo canalha. Helena deu de ombros. Ele tinha tanto medo que ela usasse aquelas histórias para fazer um julgamento dele.

Não que Loki fosse a melhor pessoa do mundo. De algumas vezes, sentia-se tomado pelo ódio e pela raiva que tinha quando seu pai o ignorava e o tratava como inferior, como um lixo naquele castelo que precisava ser recolhido, odiava todo o favorecimento que Thor recebia. Mas ele não era o vilão que as histórias descreviam. Ele era um deus com sentimentos. Ele não era perfeito igual Thor. Ele era egoísta, ele era manipulador. E tinha consciência. Mas Helena não precisava ficar sabendo daquilo tão cedo. Viu que ela molhou os lábios de novo. Percebeu que era um tique quando estava nervosa, ou ansiosa, e cerrou os olhos.

—Já disse que nem todas as histórias são verdadeiras, Helena. — Sabia que ela já tinha lido sobre ele. Talvez tinha sido a primeira coisa que ela fora procurar quando redescobriu o livro em sua casa. Talvez tenha ficado a noite folheando o livro, procurando sobre ele.

—Eu percebi. — Passou a mão no cabelo, colocando-o inteiro de um lado do ombro. — Eu não estou falando que acredito em tudo o que está ai. São histórias tão antigas.

—Bem, os antigos me achavam um idiota.

—E você é? —- Levantou as sobrancelhas para ele. Loki riu.

—Hm, depende da situação. Mas nada do que está escrito aqui. Talvez um pouco. — Helena pareceu hesitar por um momento. — Quer perguntar algo? — Ela puxou o livro de seu colo e começou a voltar as folhas, já que estava aberto na metade do livro. Voltou na primeira página, virou-o de novo para Loki e apontou uma parte do cântico. — A fidelidade?

—Bem, esse poema é sobre você, não é? Quem é fidelidade? — Loki encarou os olhos castanhos que agora brilhavam de curiosidade.

—Fidelidade é uma lenda até mesmo para Asgard. É claro, muitas mães colocam o nome de suas filhas de Sigyn na esperança de se casar com um príncipe. — Helena rodou os olhos ao ouvi-lo ser tão prepotente. Ouviu uma risada dele. — Mas nunca conhecemos a fidelidade. Muitos nem acreditam que ela exista, na verdade.

—E você, acredita? — Deu de ombros.

—Talvez. Se ela for bonita. — Helena o encarou, não acreditando no que ouvia. Se ela tivesse a aparência da mulher a sua frente, não ligaria nem um pouco do Sigyn existir. Soltou uma risada. — Não sei, Helena. Não sei se a fidelidade pura existe. Não sei se alguém conseguiria se entregar tanto a uma pessoa do jeito que Sigyn é descrita na mitologia. — Ela abaixou os olhos para o livro e suspirou. — Por que tanta curiosidade?

—Nada. — Foi a vez de Loki cerrar os olhos.

—Sabe uma coisa que é verdade nesse livro? Eu sou o deus das mentiras. Eu sinto quando alguém mente para mim. Igual você está fazendo agora. — Helena tentou ficar quieta, tentou não falar o que veio em sua mente naquela hora, mas seu cérebro a traiu e logo ela estava despejando sua teoria.

—Ta ai o porquê fidelidade te escolhe, Loki. Ela sempre precisaria ser sincera com você. — Loki levantou as sobrancelhas. Nem ele tinha pensado nisso. — Ela não conseguiria ficar com você com outro em mente, porque você saberia que ela estaria mentindo. Não conseguiria falar que te amava sem ser verdade, porque você saberia que não é a verdade. — Helena calou a boca. Começaria a falar demais e logo falaria coisa que não devia, falaria o que não queria falar. Afinal, ele descobria facilmente mentiras, não coisas omitidas.

—Eu nunca pensei dessa forma. Então, o porquê de tanta curiosidade? — Sentiu os olhos dele em si e também olhou em seus olhos, sentindo o verde a envolver. Mordeu o lábio inferior e respirou fundo. Desviou os olhos, arrumou a touca, passou a mão nos cabelos. Quando se voltou para ele, ainda esperava a resposta. Ela não tinha escapatória, porque não conseguiria mentir para ele. Loki analisou cada pedaço do seu rosto, percebeu os tiques de ansiedade antes dela suspirar e soltar os ombros. Voltou a olhá-lo.

—Não ria. Por favor. E não me venha com piadas sobre isso se não nunca mais falo com você, ok?

—Tudo bem. — Ele sorriu de lado. Sabia que não conseguiria cumprir, mas estava contando que Helena não fosse tão boa em perceber esses detalhes.

—Não minta pra mim! — Apontou o dedo para ele, que sorriu.

—Não estou. — Helena o encarou por mais alguns segundos antes de pegar o livro, fechá-lo sobre o colo.

—Meus pais dizem que meus avós nunca realmente falaram sua idade. Ninguém sabe. O que me lembro é que desde que quando era criança, eles tem o mesmo rosto. É como se não envelhecesse. Meu pai diz que desde que se entende por gente mora na Islândia, mas é como se escondesse algo. Mamãe também. - Loki continuava a encarar, agora interessado na história. — Mas eles nunca me pareceram daqui. Eles falam igual você. Igual. Todo esse formalismo. E ai, o meu nome.

—Seu nome?

—O nome do meu pai é Idawl. O nome da minha mãe é Elli. — Deixou que aquilo tudo fizesse sentido na cabeça de Loki. Percebeu as sobrancelhas dele levantarem com a realização. Helena não aguentava mais ficar de pé, então levantou, mordendo o lábio inferior. Loki a seguiu com os olhos. — Helena é só o nome britânico. Em casa, na Islândia, todos me chamam de Sigyn.

O silêncio que caiu foi assustador. Lena suspirou e se abraçou, sentindo um frio que nunca tinha sentido. Loki agora estava com o olhar perdido em algum lugar distante. Demorou um tempo para voltar a si e conseguir formular alguma frase. Talvez fosse por isso que se sentia tão atraído por ela. Talvez essa fosse a explicação. Helena parecia nervosa demais, ansiosa demais, esperando que ele falasse alguma coisa. Loki só riu e balançou a cabeça.

—Bem, ai está uma maravilhosa coincidência. — Sorriu de lado. Como já tinha constatado, se fidelidade existisse, adoraria que fosse minimamente parecida com a moça a sua frente. E agora tudo conspirava para que aquilo fosse verdade. E se fosse, explicaria o porquê não conseguia tirar o sorriso dela de sua cabeça, ou a sua voz, ou o tom de seus cabelos. Explicaria o porquê ele estava um idiota apaixonado.

—Não. Não comece. — Saiu do transe. Levantou os ombros em defensiva.

—Com o que? — Tentou se defender.

—Com esse sorriso de lado e esse charme como se soubesse desde sempre. — Loki achou graça no tom de voz dela. Achou graça no jeito que ela apontava para ele e brigava com ele como se tivesse feito algo muito errado. Loki aumentou o sorriso.

—Mas...

—Não.

—Ok, e como você quer que eu lide com isso, Sigyn? — Loki pode ver as chamas no olho dela quando o ouviu chamá-la assim. Escondeu que, na verdade, sentiu o coração acelerar ao ouvir seu nome dito com tanto carinho. Escondeu que, na verdade, tinha passado todo aquele tempo querendo que aquilo fosse verdade. Mas não podia admitir, então colocou sua máscara de raiva.

—Helena. — Sussurrou, sentou-se ao lado dele.

—Por favor. — Ele rodou os olhos.

—Me chame de Sigyn de novo, eu levanto, vou embora, e nunca mais olho para você. — Loki soltou uma risada incrédula. Queria perguntar quem ela achava que era para imaginar que aquilo fosse detê-lo de fazer o que queria. Pensou na possibilidade de nunca mais ver os olhos castanhos e parou de rir.

—Tudo bem, Helena. — Ela sorriu vitoriosa. — Pare com isso, desmanche essa pose.

—Que pose, Loki? — Perguntou, com uma voz cansada.

—Essa de indiferença. De quem está tentando esconder que na verdade, bem lá no fundo, está gostando de tudo isso. — Helena queria ter algo para jogar nele, então tirou o gorro, fez uma bola e acertou seu rosto. Loki gargalhou. Lena ficou séria e Loki também. Seus olhos se encontraram de novo e Loki respirou fundo. Não acreditava no que estava acontecendo. Não queria acreditar. Mas era só olhar nos olhos dela que sentia tudo aquilo dentro dele e tinha vontade de gritar para que ela parasse de hipnotizá-lo. — Como você fez isso? — Perguntou, já derrotado.

—O que? — Ela soprou, curiosa, sem desviar os olhos dele.

—Me deixar tão idiota por uma humana que conheço a um dia. — O coração de Helena parou por alguns segundos antes que ela pudesse esboçar qualquer reação. Abriu e fechou a boca algumas vezes, sem saber o que falar, sem saber o que pensar. Ela conseguia sentir a aura dele a atraindo cada vez mais perto. — Cedo demais?

—Não. — Sussurrou de volta. — Porque você faz a mesma coisa comigo.

—Não sinto um pingo de mentira ai. — Ela balançou a cabeça, ainda sem desviar os olhos.

—Mentir pra você é inútil. — Ele esboçou um sorriso. — Já aprendi isso.

—Talvez você seja fidelidade. — Helena deu de ombros. — Quer descobrir?

—Acho que não faria mal.

Quando percebeu, a mão dele estava em sua nuca, embolada no cabelo, os lábios dele pressionados com força contra os seus. Sentiu uma descarga elétrica passar pelo seu corpo inteiro enquanto se colocava de joelhos para ficar na mesma altura que ele. Segurou o rosto de Loki com as duas mãos, deixando que ele aprofundasse o beijo. Helena odiava admitir as coisas. Odiava admitir que tinha passado todo aquele tempo se perguntando quando aquilo aconteceria – se aquilo aconteceria – e se achou uma idiota. Sonhava em beijar um desconhecido logo depois do primeiro dia. O que a confortou é que ele pensava a mesma coisa. A sincronia dos dois parecia natural demais, como se eles tivessem programados para aquilo. O jeito como o corpo inteiro dela pareceu acender quando ele a beijou, ela esperou que ele sentisse a mesma coisa.

Loki ainda sentia os choques que percorriam seu corpo quando as línguas se encontravam, podia sentir o coração dela acelerado e podia sentir o próprio parecendo que ia explodir no peito. Nunca tinha sentido nada daquele jeito. Nunca tinha imaginado sentir nada daquele jeito. E não duvidou que ela se sentia da mesma maneira, já que estava cada vez mais perto dele. E quando respirar ficou difícil e se separou dela, pode perceber os segundos que ela ficou de olhos fechados, ainda segurando o seu rosto, do mesmo jeito que ele ainda a segurava, os lábios ainda entreabertos, o peito subindo e descendo em busca de ar. A boca dela ainda estava perto demais dele, os narizes quase se tocando. Em seu rosto, todo o efeito que ele tinha nela transparecia. Aproveitou para sorrir sem que ela percebesse. Não esperou que ela olhasse para ele, grudando seus lábios de novo, querendo todas aquelas sensações de novo. Se ela era a sua Sigyn, precisava muito agradecer ao destino.

O outro braço de Loki a abraçou com força pela cintura, como se existisse a mínima possibilidade dela se afastar dele. Sorriu com aquele gesto dele, e sentiu uma mordida no lábio inferior. Foram diminuindo o ritmo até o beijo acabar com dois selinhos.

—E então? — Ela sussurrou quando se separaram pela segunda vez. Os lábios ainda próximos aos dele. Helena abriu os olhos para encontrá-lo olhando para a sua boca, provavelmente vermelha e inchada e sorriu quando ele levantou os olhos para encontrá-la.

—Ainda preciso tirar a prova real. — Sussurrou, capturando mais um selinho. — Mas estou bem convencido. E você?

—Ainda não. — Sorriu maliciosamente antes que ele voltasse a beijá-la com vontade.

Esqueceu por um tempo as consequências que aquilo traria. Esqueceu do frio que sentia, esqueceu de onde sua touca tinha caído ou de onde o seu livro estava. Esqueceu da sua prova na terça feira e no trabalho que tinha pra entregar na sexta. Só deixou que ele se inclinasse sobre ela, fazendo com que se deitasse delicadamente na grama. Deixou que o corpo dele ficasse em cima do seu como num encaixe perfeito e suspirou. Sentiu a mão que a apertava na cintura, que a segurava possessivamente pela nuca, enrolada em seu cabelo. Loki esqueceu do que precisava fazer no castelo, esqueceu de Thor e esqueceu que estaria ferrado se alguém descobrisse que começaria a passar todas suas tardes livres em Midgard. Só se concentrou em beijá-la, enquanto todos aqueles fogos de artifício pareciam explodir dentro dele.

—E agora? — Loki perguntou.

—Quero falar que acredito, mas isso significa que você pararia, então continuo não acreditando. — Sorriu enquanto mordi o lábio inferior. Loki riu e levantou. Helena levantou-se também, passando a mão no cabelo para tirar alguma grama presa e depois esticou-se para pegar o gorro caído longe deles e arrumou no topo da cabeça.

—Você ter ficado em dúvida sobre fidelidade foi a melhor coisa que me aconteceu nesses últimos dois mil anos. — Helena sorriu. — Se eu te chamar de Sigyn agora, rápido demais? — Encarou-o, pensando. Já estava acostumada com seus familiares a chamando assim. Mas não estava acostumada com Loki. — Porque acho um nome muito mais bonito que Helena.

—Que pena. Helena por enquanto. — Sorriu quando percebeu que o rosto dele se apagou.

—Bem, eu duvido que você conseguiria ficar sem olhar e falar comigo depois disso tudo, Sigyn. — Levantou as sobrancelhas e desviou o olhar. — Vamos lá, pare com isso. — Não respondeu. Levantou com o livro em mãos, pronta para deixá-lo ali. — Percebe o quanto isso é infantil, não percebe? É só seu nome do meio. — Tossiu, como se não estivesse o escutando. Começou a descer o morro em direção ao bairro.

Loki bufou. Não fazia dois dias que a conhecia. E já no segundo dia teria que correr atrás dela. Levantou-se sem pressa. Ela não olhou para trás. Rodou os olhos e, a passos largos, começou a segui-la. Quando estava prestes a virar a esquina, segurou seu pulso e a virou para ele.

—Qual é o grande problema?

—Helena, por favor. — Suplicou. — Ainda é tudo um pouco demais para mim. — Loki percebeu que ela estava falando a verdade.

—Tudo bem, Helena. — E ela sorriu para ele.


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Notas finais do capítulo

Não esqueçam de comentar, ok? Seus lindos!