Chasing a Starlight escrita por ladywriterx


Capítulo 15
My Opressor


Notas iniciais do capítulo

OI GENTE! Eu to demais. Eu sou uma máquina de atualizações. Eu sou foda - sou demais. Me amem. BRINCADEIRA.

Eu só quero agradecer, a fanfic passou das 1000 visualizações (300 no mínimo devem ser minhas, mas ok), temos mais de 30 acompanhamentos (ou pelo menos é isso que o Nyah diz) e os comentários são lindos. Perfeitos. Amo vocês. É a fanfic que eu amo trabalhar, que eu fico feliz de verdade em ver que vocês tão gostando. Então espero que gostem desse capítulo também.

A música do título dessa vez é The Handler - Muse (perceberam que eu sou só um pouco viciada em Muse né? Nome da fanfic, música no trailer, nomes de capítulos... Acontece)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/638437/chapter/15

–Lady Sigyn. - Levantou os olhos do livro que estava lendo. Tinha vasculhado todas aquelas prateleiras até achar um que a interessava. História da Medicina em Asgard. Tinha sido jogada para milhares de anos atrás, no começo dos tempos, quando Asgard ainda engatinhava como civilização, quando a Terra não passava de lar de selvagens, não mencionavam nem que a evolução tinha chego ao ponto do Homo sapiens, quem dirá desenvolvimento de cultura. Percebeu uma empregada parada na porta e, atrás dela, uma figura pequena e parecendo assustada. - Lady Jane está aqui.

–Ah, claro. - Marcou a página do livro, jogou-o na cama de qualquer jeito e levantou-se, colocando a sapatilha dela jogada embaixo da cama. - Pode ir, eu assumo daqui. - A empregada fez uma reverência. Com passos rápidos, colocou-se ao lado dela, com um sorriso cordial. - Jane, certo?

–Sim, e você... Sigyn? - Negou com a cabeça, sorrindo.

–Helena. Sigyn é o nome do meio e, pelo que consegui entender, meu nome oficial aqui, mas Helena. - Ela assentiu com a cabeça. - Cheguei faz pouco tempo, mas sei o caminho para os jardins. Que tal?

–Claro. Hm, posso perguntar? - Ela levantou as sobrancelhas, num sinal de que estava prestando atenção. - Não me contaram muito da sua história... Só que...

–Eu era namorada de Loki? É. - Riu da expressão que a mulher que andava ao seu lado fez. - Ele era bem diferente do Loki que você conheceu, Jane.

–Duvido. - Helena sorriu fraco e olhou para o chão, e depois para o corredor a sua frente. - Desculpa. É que ele parecia tão... fundo naquilo. Como se estivesse por anos, centenas, parecia.

–Bem, quando você descobre que passou a vida inteira achando que era uma coisa, para descobrir ser, na verdade, “o monstro” para Asgard, além de seu pai ter te separado da sua namorada falando que ela tinha morrido num acidente de carro, sem ter chance de dizer adeus e, além disso, descobrir que ele era nada mais que uma manobra de Odin, acho que as pessoas piram um pouco. - Falou, seca, não gostando do jeito que Jane falava de Loki. Conhecia-o melhor do que ninguém. Sabia que ele era um idiota, inconsequente, sabia que não sentia remorso, sabia que ele foi capaz de matar milhares de pessoas e nem perder uma noite de sono por causa daquilo, mas ela ainda o amava e odiava ver algum julgando-o quando ele não podia se defender.

–Por que você está aqui?

–Um pouco curiosa demais, não acha? - Tentou quebrar o clima, seguindo aquela frase com uma risada. - Depois de Loki, minha paixão é medicina. Não consegui resistir quando Odin me chamou de volta para Asgard. Eu ainda sou daqui, eu ainda sou uma deusa. E eles tem a maior biblioteca sobre qualquer assunto no mundo. É um jeito de eu me manter perto de Loki. Apesar de eu odiar Odin, aqui estou eu. E bem, o quarto de Loki agora é meu, tenho todas essas lembranças... Melhor que ficar na Terra, tendo que inventar desculpas para todo mundo o porquê estou com a mesma aparência de seis anos atrás, o porquê não envelheço, o porquê não tenho um namorado. - Rodou os olhos.

–Entendo você. A parte do namorado. - Helena realmente podia sentir algo diferente vindo de Jane, algo que a conectava com a moça de um jeito que não tinha se conectado com ninguém. Talvez fosse o fato de Jane ser fiel a Thor.

–É, consigo sentir isso.

–Como?

–Deusa da fidelidade. - Jane abriu um pouco o queixo e deixou uma exclamação sair. - Bem, não tenho nenhum poder impressionante como Thor de conjurar trovões, infelizmente.

–Mais uma coisa?

–Sim?

–Você disse a maior biblioteca? Do universo? Em qualquer assunto? - Helena gargalhou e assentiu com a cabeça. - Astrofísica por acaso...

–Podemos dar uma olhada depois do almoço. Que eu não vou comparecer por motivos de não suportar ficar na mesma sala que Odin. - Ela apenas não conseguia ver Loki com aquela figura, de um cara que ela odiava, que ela tinha vontade de matar, então o evitava a todo custo.

–Também não gosto daquele cara.

–É a vida. - Helena suspirou e sorriu para Jane, tentando fazê-la ficar o mais confortável possível. - Estamos chegando. - Anunciou quando viraram pelo corredor. Jane já havia se perdido, e admirava Helena por ter decorado o caminho em tão pouco tempo. Já podia sentir o cheiro das flores e do ar fresco.

Lena adorava aquele lugar. Tinha passado a maior parte do seu tempo ali, sentada em um dos bancos, com alguns livros ao seu lado, tentando se distrair de toda loucura que agora era a sua vida. Atravessaram um arco e chegaram em uma varanda com uma escada de cada lado. O jardim interno do castelo era circular, todo rodeado por varandas como aquela. Bem no centro, a árvore mais imponente que já tinha visto. Os frutos dourados reluziam conforme a luz do sol batia neles e ela podia sentir o cheiro deles dali e, se fechasse os olhos, podia sentir o gosto. Respirou bem fundo para poder perceber o cheiro das rosas que cresciam aos montes, das flores das árvores que estavam prestes a dar frutos. Ela podia imaginar Loki naquele lugar, provavelmente usando o labirinto de flores e arbustos que escondiam o caminho para a árvore de Iddun como esconderijo. Sorriu fraco.

–Helena?

–Desculpa, eu me perco um pouco quando chego.

–Percebi que te perdi quando você encarou aquela árvore. Por quê? - Helena semicerrou os olhos e Jane deu de ombros.

–A árvore de Iddun. Não sei explicar, mas assim que você prova, essa árvore parece te tentar de todos os jeitos de dar mais uma mordida na maçã.

–Essa é a maçã da imortalidade? - Jane já virou-se para começar a descer as escadas em direção ao jardim. Helena levantou a barra do vestido roxo e a seguiu.

–Sim. - Falou, receosa.

–Se eu mordesse uma dessa, então, todos os problemas acabariam, certo? Meus problemas com Thor. Ele poderia voltar a ser rei e eu...

–Não, Jane, nem pense. - Segurou-a pelo pulso, antes que ela fosse atrás de algum fruto. - Ele funcionou comigo porque sou de Asgard. Meus pais eram de Asgard, meus avós também, só foram banidos para Midgard. Sou filha de Asgard, pelas palavras de Odin. Uma mordida na maçã e tenho imortalidade. Já humanos... Desculpa.

–O que acontece? - A mulher perguntou baixinho.

–Morte, acredito. Desculpa, Jane. - A morena olhou para a árvore mais uma vez e assentiu com a cabeça.

–Foi idiotice minha pensar assim. Nem acredito em amor verdadeiro e amor para sempre. Fui irracional. Eu nem conseguiria suportar Thor pela eternidade. - Helena riu.

–Minha teoria é que essa árvore tem alguma coisa que te atrai para ela. Sempre que venho aqui tenho vontade de subir e pegar o melhor fruto, talvez ficar ali em cima comendo o tanto que eu puder. Talvez foi isso.

–É, talvez. - Jane virou para a loira e sorriu.

Provavelmente já era quase na hora do almoço quando percebeu quanto tempo tinha passado que elas estavam no jardim. Jogadas embaixo de uma árvore qualquer, Jane contava o que tinha acontecido na Terra durante esses poucos dias que estava em Asgard. Depois, conversaram sobre tudo e nada, compartilhando histórias já que, no começo, as duas histórias eram bem parecidas. Apaixonadas por deuses nórdicos e imortais e não tinha nada que pudessem fazer para controlar isso. Apesar da desconfiança que ainda sentia em Jane, a conversa fluiu tão bem que não tinha muito o que reclamar.

–Jane. - Helena levantou a cabeça para a voz potente que chamava pela mulher a sua frente para encontrar um homem alto, com barbas e cabelos loiros, os olhos tão azuis quanto o céu e muitos músculos. Thor. As duas levantaram, batendo as folhas e grama da roupa. - Lady Sigyn. Um prazer.

–Thor. - Acenou com a cabeça. - Igualmente.

–Gostaria de falar com você depois.

–Claro. - Sorriu para o deus e depois para Jane. - Vou deixá-los agora.

–Obrigada, Helena.

–Estarei no meu quarto, se precisarem.

–Sigyn? - Helena piscou duas, três vezes, até se acostumar com a claridade. Colocou a mão acima dos olhos e respirou bem fundo, procurando a fonte da voz. Foi tão suave, como se estivesse num sonho. Sonho. Tinha certeza que há alguns minutos estava deitada na cama depois de ouvir Loki reclamar dos problemas. - Querida? - A voz não lhe era estranha, principalmente depois que a ouviu de novo, um pouco mais forte do que a primeira vez. Girou o corpo, ainda meio desnorteada. Frigga. Aquela voz com certeza era de Frigga. E confirmou assim que a viu parada, sorrindo para ela, com um vestido prateado maravilhosos.

–Frigga. - Sussurrou, aliviada. Apressou o passo para encontrá-la esperando-a para um abraço. - O que...?

–Aproveite o abraço, sim? - Helena riu um pouco e assentiu com a cabeça, sentindo-a apertá-la um pouco mais. - Eu achei que nunca mais a veria, Helena. Só as Norns sabem o que passa na cabeça de meu marido.

–Posso dizer a mesma coisa, Frigga. Como aconteceu? O que...?

–Essa conversa... Não vamos tê-la agora. Pergunte a Thor, ou a Loki, e eles responderão. Mas não vim aqui para isso. - A rainha soltou-se do abraço e passou as mãos pelos braços da moça, que sorriu triste.

–Posso deduzir o que a senhora quer falar comigo. - Suspirou e Frigga soltou um riso fraco. É claro que ela sabia. - Eu sei o que vai falar, mas eu não sei. Eu não sei como lidar com isso, eu não sei como tirar da cabeça dele esse plano maluco e... Tenho medo do que pode acontecer quando ele finalmente perceber o que fez.

–Eu entendo, Helena, de verdade. É por isso que você precisa negociar com Odin antes de fazer qualquer coisa. - Franziu o cenho, teria que lidar com Odin? Odiava aquele cara, queria poder socar a cara dele, fazer ele sentir cada ano que passou sofrendo por causa do Loki, queria poder vingar o que ele tinha feito com seus pais e queria poder simplesmente gritar com ele até ficar sem voz. - Só agora percebi o quão absurdo esse pedido pode ter soado para você. Veja, Sigyn, eu entendo o porquê da raiva, mas ele é meu marido ainda, e eu o conheço. Assim como você conhece Loki. - Frigga levantou as sobrancelhas.

Helena suspirou, sabia que Frigga tinha razão. Quantas vezes não precisou falar que Loki não era só aquele Loki que todos insistiam em lembrar? Que um dia teve um cavalheiro, que levava rosas para ela, que a fazia rir e que não tinha esses pensamentos de vingança? Loki que ela conhecia – e sabia que ainda existia em algum lugar dentro daquele Loki que ele havia se tornado – não era um assassino, tinha alguns problemas com o pai, sim, mas também amava sua mãe de um jeito incondicional. Era o cara que foi educado com Elli e Iwal, que era apaixonado por aprender cada dia uma coisa nova. Talvez um pouco familiar demais com as travessuras e as mentiras, mas, pelos deuses, não era o vilão e nem o monstro que todos pareciam afirmar.

–Desculpa. - Soprou. - Eu entendo. - Engoliu um seco e quis se matar pelo que falaria agora, mas tomou coragem depois de respirar bem fundo. - O que eu faço?

–Você vai acordar depois que terminarmos aqui e quero que vá procurá-lo. Ele está no salão de armas, vou dar um jeito de guiá-la. Só não chegue muito perto da caixa azul que vai estar num pedestal, pode ser perigoso para você. - Assentiu, enquanto prestava atenção na deusa mais velha. - Ouça o que ele tem a dizer, e depois diga o que vier no seu coração para falar com ele. Vocês vão brigar, um vai gritar com o outro, provavelmente. - Frigga riu e passou as mãos, que ainda estavam nos braços de Helena, em seu rosto. - Interceda por Loki. Por vocês dois.

–Ok. Vou tentar. Obrigada, Frigga.

–Eu te amo, querida, e amo meu filho. Só o quero de volta. - Assentiu com a cabeça, mordendo o lábio inferior. Também queria seu Loki de volta. - Então acorde, Sigyn.

Sentou-se na cama, sentindo falta de ar. Respirou fundo algumas vezes antes de virar para verificar se Loki ainda estava dormindo. Com o rosto sereno de quem finalmente estava conseguindo descansar depois de um dia cheio, Loki estava esparramado na cama, sem a camisa e só com a calça do pijama, exatamente como tinha ido dormir. Um braço estava em seu travesseiro, mostrando que ela havia dormido em cima de seu peito e ele parara de abraçá-la quando caiu num sono mais profundo. Coçou a cabeça e sorriu. Assim, parecia que eles não estavam num furacão de problemas. Sentindo-se um pouco culpada, inclinou-se para depositar um beijo em sua bochecha antes de jogar os pés para fora da cama, sem paciência para procurar sua sapatilha ou um chinelo. Encarou-o mais uma vez antes de se esticar para pegar a capa que usava para sair no meio da noite, colocando-a por cima dos ombros e amarrando em seu pescoço. Loki se mexeu um pouco na cama e Helena segurou a respiração. Ficou parada por alguns segundos antes de se virar para a porta e sair o mais silenciosamente possível do quarto.

–E agora, Frigga? - Sussurrou, já fora do quarto e encostada na porta, sentindo o coração acelerar. Um brilho prateado chamou sua atenção. Olhou para o corredor e percebeu pequenos pontinhos de luz que formavam um caminho. Sorriu e correu para acompanhar.

Precisou parar muitas vezes no caminho para se esconder de algum emprego que terminava suas tarefas noturnas ou de guardas que patrulhavam o castelo. Encostada em uma parede, fechou os olhos e suspirou. O que estava fazendo? Quando os dois guardas passaram, os dois com os capacetes embaixo dos braços e conversando como se estivessem num passeio no parque, Helena voltou a seguir seu caminho. As luzes indicaram uma escadaria que ela não sabia muito bem onde daria. O caminho era iluminado apenas por Frigga. Antes de continuar, fechou os olhos e fez uma prece silenciosa para que a deusa estivesse certa. Deu de cara com outros dois guardas que – provavelmente – deveriam vigiar uma porta dupla que parecia ter o triplo de sua altura, mas decidiram que seria uma hora conveniente para dormir no posto.

A porta se abriu imediatamente quando chegou perto dela e se fechou depois que passou. Com passos receosos, continuou a descer as escadas, os olhos focados em uma caixa que tinha um brilho tão azul que a hipnotizava. Ao lado dela, um cubo brilhava em tons cósmicos e a fez perder o fôlego. Continuou avançando, até lembrar-se do aviso de Frigga. Era perigoso chegar tão perto. Então, alguns metros de distância, no meio do cruzamento de dois corredores, ela ficou encarando as caixas, quase sem fôlego.

–A Caixa dos Invernos Anciões. Trouxe de Jotunheim no mesmo dia que trouxe Loki. - Helena engoliu um seco quando ouviu a voz de Odin. - Tesseract. Uma gema do infinito, com tanto poder. O que Loki tentou roubar em Nova York. Caso esteja curiosa.

–Obrigada por esclarecer. - Respondeu, seca, agora se virando para o lugar onde a voz vinha. Percebeu que no final do outro corredor tinha uma cela, envolta num brilho dourado que ela deduziu que fosse alguma magia para Odin não escapar. - Como você consegue falar do seu filho assim, tão frio? - Perguntou, enquanto seguia pelo corredor a passos lentos.

–Porque Loki não é meu filho. - Helena riu, irônica, e negou com a cabeça. - Você deve saber que ele é adotado. Ele não esconderia isso de você, talvez até com um drama igual ele fez comigo. Nessa sala.

–Não fale de Loki assim, por favor.

–Ah, e gostaria que eu falasse como? Queria que eu falasse que eu amo o meu “filho” e que mesmo com tudo o que ele fez, eu o perdoaria? A senhorita está com expectativas demais. Aliás, a que devo a honra da presença da nova rainha de Asgard? - O tom debochado dele a fazia querer socá-lo. Trincou os dentes e fechou as mãos em punho, respirando bem fundo para se acalmar.

–Pare com isso. Se Loki se tornou o que é hoje, a culpa é sua. - Odin riu e a encarou.

–Minha culpa? Eu pensava no que era melhor para Asgard.

–Você baniu os meus pais porque seria melhor para Asgard? Você me tornou imortal, me jogou na Terra de novo, e disse para Loki que eu havia morrido porque seria melhor para Asgard? Você escondeu a verdade do seu filho, da sua esposa, porque seria melhor para Asgard? Que merda de rei é esse? Não sou muito boa com política, mas acredito que escolheu as estratégias erradas.

–Não traga Frigga para essa conversa. - Rugiu e avançou para as grades da porta, fazendo-a tremer. Helena recuou um passo, mas, ainda assim, continuou falando.

–Você deixou Loki sofrer, se deteriorar ano após ano, enquanto você podia ter contado tudo para ele desde o começo. Contasse para ele que o criava para governar Jotunheim, contasse para ele que era adotado. Percebe que todas as suas ações o trouxeram até aqui?

–Não me arrependo de nada do que fiz. Aliás, me arrependo de uma coisa. Eu devia tê-la matado.

–Cala a boca. - Gritou, irritada. Sua voz já começava a tremer e podia sentir que seus olhos já estavam ardendo com algumas lágrimas que formavam. Respirou bem fundo. Frigga tinha razão, mais uma vez, e estava gritando com Odin, liberando todo o ódio que sentia por ele antes de conseguir falar qualquer coisa. - Por que você não me quis? - Perguntou depois de acumular coragem o suficiente.

–Porque você é a peça chave pro Ragnarök, Sigyn. - Encarou o teto e depois fechou os olhos. - Frigga previu a vinda de uma menina que traria felicidade a Loki, mas nada do que eu fizesse, do que você fizesse, impediria o Ragnarök. Você só aceleraria.

–Se você não fosse tão venenoso, se você tivesse contado para Loki desde o começo, talvez não estivéssemos a beira do fim do mundo. - Cuspiu as palavras. Odin riu e logo depois um silêncio caiu, tão pesado que a sufocou um pouco. Pensava que podia matá-lo de tanto ódio que sentia naquela hora, e provavelmente Odin estava debochando dela internamente.

–Como chegou até aqui? Por que veio? Não acho que Loki te daria um mapa.

–Porque eu me importo com Frigga. - Foi a vez de Odin ficar sem palavras. - Ela me pediu.

–Frigga?

–Apareceu para mim em um sonho. Disse para que eu tentasse resolver as coisas. - Tentou controlar o tom de voz, tentou controlar a vontade de gritar com ele. - Eu só decidi ficar em Asgard porque o que Loki está fazendo não é certo. Eu precisava ajudá-lo. E...

–Você quer negociar a vida de vocês. - Assentiu lentamente com a cabeça. - O que te fez pensar que eu deixarei vocês saírem daqui com vida depois de tudo isso?

–Esperança, talvez. Finja que estamos mortos, nos jogue em Jotunheim, na Terra, em qualquer lugar onde possamos ficar juntos e não incomodá-lo. Só...

–E a senhorita acredita que eu deixaria os dois juntos? - Os lábios de Helena juntaram-se em uma linha fina quando percebeu que a primeira lágrima escorreu pela bochecha. Limpou rapidamente.

–Frigga gostaria.

–Não traga Frigga para essa conversa. - Repetiu, rugindo mais uma vez.

–Na verdade, sim, vou trazê-la. Porque só vim aqui porque você e Loki não são tão diferentes, sabia? Pelo menos pelo que Frigga me conta. Ela consegue ver algo em você que eu não consigo, o mesmo que eu vejo em Loki e ninguém mais vê. Bondade, talvez? Caridade? Se ela estava com você, era por um motivo, e não por você ser rei, acredito.

–Você não conhecia Frigga. - Helena percebeu que achara a ferida. Sorriu de lado.

–Não? Porque acredito que ela foi me visitar pelo menos uma vez por mês desde que eu e Loki nos conhecemos. E conversávamos a tarde inteira sobre tudo e nada. Acho que conheço-a. - Odin virou de costas e Helena desfez um pouco a pose, sentindo que podia desabar em lágrimas a qualquer hora. - Frigga ia querer que você poupasse o filho dela.

–Ele não é nosso filho. - Estava começando a ficar acostumada com os gritos repentinos de Odin.

–Acho que ela discorda. - Mais alguns minutos de silêncio. Helena agora vasculhava o local com os olhos, tentando absorver cada detalhe. Ainda podia perceber o brilho azul das duas caixas no outro corredor.

–Quando chegar a hora, Sigyn. - A forma como ele falou seu nome deu vontade de vomitar. Cheio de ódio, raiva, veneno. - Não vai ser só Loki acorrentado embaixo da serpente, espero que esteja ciente disso.

–Eu estou tentando te ajudar, seu idiota! - Gritou de volta. - Estou tentando ajudá-lo a ter o trono de volta, a ter Asgard de volta. Mas sabe de uma coisa? Loki está fazendo um trabalho maravilhoso. Os empregados agora cantam enquanto fazem suas tarefas, acredita? Por todo o castelo, se ouve o que “o Pai de Todos ficou mais generoso e um rei tão melhor”. Talvez seu lugar seja aqui mesmo, no salão das armas, trancado longe de todos. Porque o verdadeiro vilão do Ragnarok não vai ser Loki, não vai ser eu, vai ser você. Odin. O cara idiota com um cetro enorme e o ego maior ainda. - Terminou de gritar e respirou fundo, sentindo a garganta arranhar com o esforço.

–Volte outro dia, quem sabe podemos continuar com nossa conversa? Estou cansado, o amor da sua vida não é muito bonzinho quando se trata de refeições e não suporto mais a sua voz.

–Ótimo. E pense que talvez eu seja a melhor aliada para você recuperar o trono. Só precisa pensar a respeito. - Despejou nele, sentindo-se cansada da discussão e se arrependendo de ter atendido os pedidos de Frigga.

Não esperou que ele respondesse, só deu as costas e saiu correndo. Precisava voltar para o quarto, se aconchegar em Loki e chorar. Talvez acordá-lo dizendo que tinha tido algum pesadelo para que ele a abraçasse bem forte e dissesse que estava tudo bem, que ele estava ali e nada de ruim aconteceria. Talvez tudo aquilo fosse um pesadelo e ela acordaria logo. Quase tropeçou nas escadarias que davam na porta do salão de armas e, quando olhou para baixo para seguir as luzes que agora estavam mais fracas, como se Frigga também lamentasse o rumo daquela conversa, percebeu que não daria tempo de chegar ao quarto antes de começar a chorar. As lágrimas já escorriam pelas bochechas e embaçavam sua visão.

Já não se importou com as pessoas em seu caminho. Só tomava o cuidado para não trombar em ninguém. Queria o quarto o mais rápido possível, então correu pelo caminho, mais rápido do que quando estava indo para o salão de armas. Apenas percebeu que tinha chego quando as luzes acabaram. Ergueu os olhos para encontrar a porta dourada que dava para o quarto de Loki e respirou fundo. Colocou a testa ali, tentando recuperar o fôlego e ensaiando o que diria para ele. Sabia que não conseguiria esconder aquela conversa por muito tempo, apenas queria que fosse capaz por aquela noite. Franziu o cenho quando olhou para baixo e percebeu o feixe de luz que vazava por baixo da porta. Loki estava acordado. Respirou mais uma vez antes de empurrar a porta.

–Deuses, Helena, que susto. - A moça fechou a porta atrás de si. - Você está bem? O que aconteceu? - Loki avançou a passos rápidos. Envolveu o rosto dela com as duas mãos, levantando-o.

–Pesadelo. - Sussurrou. Percebeu o alívio no rosto de Loki. - Não quis te preocupar, desculpa.

–Podia ter me acordado. - Sorriu fraco e negou com a cabeça.

–Não queria. - Ele assentiu e a puxou para um abraço forte. Helena se encaixou nos braços dele, fechando os olhos e tentando parar de chorar. Não sabia mais quanto tempo Loki conseguiria manter o disfarce e o plano. Não sabia se sairiam vivos daquela confusão, já que se dependesse de Odin os dois já estariam mortos, então só queria poder sentir os braços dele pelo maior tempo possível. - Loki? - Ouviu um “sim?” vindo dele. - Eu já disse que eu te amo?

–Também te amo, Sigyn.

–Eternamente? - Perguntou. Como resposta, Loki a apertou ainda mais e beijou o topo da sua cabeça demoradamente. Depois sentiu o queixo dele ali e sorriu.

–Infinitamente. - Helena sabia que aquele infinito não ia durar muito, mas, mesmo assim, agradeceu aos deuses por tê-lo. - Acha que consegue voltar a dormir?

–Sim. - Respondeu fraco. Sim, como precisava da cama. Separou-se dele e o encarou por um tempo. Percebeu o sorriso dele, tentando confortá-la e parecia que, só por aquele breve momento, eles estavam de volta ao seu apartamento em Londres, onde tudo era perfeito e nada estragava o conto de fadas perfeito que ela estava vivendo. Só por aquele momento, aquele Loki de alguns anos atrás voltou a tona, fazendo-a derreter e chorar mais ainda.

–Lena?

–Sei que é pedir demais, mas fica comigo na cama até eu acordar amanhã? - Loki franziu o cenho com o pedido. Estava estranhando-a. Passou o polegar em suas bochechas, limpando as lágrimas que escorriam.

–Vou tentar.

–Ok.

Quando percebeu, Loki já havia tirado sua capa e conduzido-a para cama, observou quando ele deu a volta para deitar ao seu lado e, assim que ele se arrumou, virou-se e abraçou seu tronco, voltando a deitar-se sobre seu peito, sentindo a respiração dele, que parecia um pouco acelerada, talvez por causa da preocupação. O coração dele também estava disparado. Fechou os olhos com força e tentou tirar Odin da cabeça por tempo suficiente para voltar a dormir. Loki a apertou com um braço, fazendo questão que ela soubesse que ele estava ali se precisasse de algo. Antes de se render ao cansaço, Helena pensou em Frigga. Pediu desculpas mentalmente pelo fracasso do encontro e tinha certeza que podia ouvi-la falando que não era sua culpa, que Odin também sabia ser cabeça dura. Também tinha certeza que ouviu Loki repetir baixinho algumas vezes que a amava antes de conseguir se acalmar e voltar a dormir.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Como vocês são lindos, sei que vão me falar nos comentários o que acharam, não é mesmo, kéridos?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Chasing a Starlight" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.