Chasing a Starlight escrita por ladywriterx


Capítulo 12
Nova York


Notas iniciais do capítulo

O QUE? ISSO É UMA MIRAGEM? Eu, atualizando capítulo em menos de duas semanas? Pois é, gente linda. E é um dos maiores capítulos da fanfic ainda. VEJAM SÓ! Tem recadinho pra vocês nas notas lá embaixo.



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Capítulo 12 -

Nova York

Quatro anos depois...

Não tinha conseguido pregar o olho aquela noite. Estava ansiosa demais com a viagem que faria a Nova York para conseguir dormir e descansar, mesmo que tivesse ficado o dia de plantão. Estava sentada no parapeito da janela, tinha passado a noite inteira ali, olhando as estrelas, observando a lua, sentindo o vento fresco do verão. Se alguém a visse ali, provavelmente a acharia louca, chamaria os bombeiros porque alguém do sexto andar estava querendo se jogar do prédio. Helena não ligava. Não sabia muito bem os limites da imortalidade das maçãs de Iddun, mas também não sentia medo de ficar ali, há muitos metros do chão.

Agora entedia Loki perfeitamente – Loki, suspirou -, o porquê de algumas vezes ela acordar no meio da noite e vê-lo completamente acordado, distraído, olhando pela janela, lendo. Era tão fácil se esquecer que precisava dormir quando se tinha a eternidade. Era tão difícil ficar cansada sendo imortal. Parecia ter energia para ficar três dias inteiros acordada. Loki.

Era impossível não pensar nele todos os dias. Era impossível passar um dia sem lembrar de qualquer coisa relacionada a ele. E se odiava por isso. Já fazia quatro anos. Tinha voltado para Londres uma vez em todo aquele tempo, algumas semanas depois do acontecimento. Voltou para trancar sua pós-graduação e pedir transferência para Islândia. Arrumou todas as papeladas e toda burocracia, para no final do dia ter que voltar ao apartamento, ver se ainda tinha alguma coisa dela ali e devolver as chaves para o dono.

Tinha sido tão dolorido abrir aquela porta que já estava fechada a tanto tempo. Tão dolorido olhar para a mesa de centro que ainda tinha o copo – o copo que sempre tinha a rosa tão vermelha, tão viva, tão cheirosa -, que agora era suporte para uma flor morta, sem cor, sem vida, sem perfume, sem nenhuma esperança. Ainda a tinha, no meio do livro de mitologia, tão seca, mas parecia uma conexão com Loki e não conseguiria se desfazer dela. Tinha algumas roupas que havia ficado na secadora, já que tinha sido pega tão de surpresa aquele dia que nem pegá-las deu tempo. Entre elas, duas camisetas de Loki. Estava usando uma aquele dia. A outra estava guardada, recém lavada. Não conseguia usar outra roupa para dormir que não fossem aquelas duas camisetas.

Sempre se perguntava como estava Loki. Ele tinha superado? Tinha realmente acreditado na história do acidente, ou ainda passava todos os dias em Londres, esperando qualquer sinal dela? E os sentimentos dele, como estavam? Toda aquele ódio que ele sentia, toda aquela rejeição que ela sabia que existia. Como ele estava conseguindo conviver com Odin sem pensar em matá-lo com as próprias mãos? Suspirou e encarou o sol que começava a despontar no horizonte. Precisava sair dali, tomar um banho e revisar as malas. Não podia esquecer nada.

Era casamento de Hannah. Finalmente, depois de oito anos, John tinha parado de enrolar a coitada. Virou o corpo e levantou-se sem fazer barulho. Os dois estavam morando em Nova York e fariam uma cerimônia só com os amigos mais íntimos e a família. Conversava sempre que podia com eles por telefone e internet, mas fazia pelo menos uns dois anos que não via os dois – desde que eles tinham vindo visitá-la na Islândia. Estava preocupada, dois anos de estresse podem mudar uma pessoa, mas ela estava igual. Nenhuma ruga a mais, nenhum cabelo branco, nenhum sinal de envelhecimento. Ouviria da sua amiga, igual ouviu dois anos atrás, como estava igual e não tinha envelhecido nem um dia. Helena sabia disso. Sabia disso mais do que ninguém. A única coisa que podia pensar quando lembrava disso era que um dia teria que inventar alguma desculpa para abandoná-los, porque estaria com aparência de vinte e quatro anos já há algum tempo.

Eles perguntariam se tinha arranjado algum namorado. Ela daria risada e falaria que não tinha tempo para aquilo – afinal os dois tinham sido muito sortudos de se conhecerem na faculdade -, enquanto na verdade sabia que nunca mais conseguiria olhar para alguém e pensar como seria bom ter um relacionamento amoroso com ele. Odiava aquela vida eterna que tinha. A saudade de Loki era tanta que tinham dias que não conseguia sair da cama. Odiava-se por isso.

Loki respirou fundo e encarou a movimentação a sua frente. Estralou o pescoço, a tensão acumulada já refletindo numa incômoda dor de cabeça. Se Helena estivesse ali… Levantou-se com pressa, já odiando-se por ter pensado nela mais uma vez. Midgard definitivamente não fazia bem para sua sanidade, precisava terminar seu trabalho, e logo, e só assim se ver livre para fazer o que bem entender – até mesmo se jogar da Bifrost de novo. Odiava todas as entidades que não permitiram que caísse para a escuridão naquele dia, teria poupado-o de tanto trabalho, tanto sofrimento, tanto sangue. Thanos queria o maldito Teseract – e o teria –, Loki já nem se importava mais com as consequências de seus atos.

–Estamos chegando, Loki. - Virou o corpo mecanicamente para o homem que falava com ele. Clint Barton, uma das mais úteis aquisições desde o seu primeiro dia naquele reino. Assentiu com a cabeça, sentindo o avião pousar lentamente numa praça inabitada.

–Fique aqui, não vou demorar. - Sua voz saiu autoritária. Clint virou-se, apoiado no banco onde estava sentado.

–Estamos em Londres, por que, senhor? Não podemos demorar, logo SHIELD nos acha.

–Não irei demorar, já disse. - Respondeu, amargo. - Não se meta em assuntos que não lhe dizem respeito, Barton. - Clint deu de ombros e acenou positivamente com a cabeça para os agentes que bloqueavam a porta da aeronave. Ele só precisava ver o apartamento de novo, pela última vez, ter a certeza que ela não estaria ali, esperando por ele.

–Preciso conversar com você. - Hannah levantou os olhos do notebook e sorriu para a amiga que entrava no quarto com um livro pesado e grosso embaixo do braço. Franziu o cenho, a última vez que tinha visto aquela cena fora alguns dias antes da formatura, quando estudavam juntas para as provas de residência e pós graduação.

–Claro, o que foi? - Deu espaço para que Helena se sentasse na cama. A loira suspirou e olhou para o livro em seu colo. Não fazia ideia como contaria para ela, seria a primeira pessoa a saber do segredo fora da sua família. - Está tudo bem, Lena?

–Tentando descobrir como vou contar isso pra você. - Soltou um riso fraco enquanto colocava uma mexa de cabelo atrás da orelha. - Sempre comentei com você como meus pais e meus avós faziam questão que eu soubesse sobre mitologia nórdica?

–Sim, o que isso tem a ver? - Passou o livro para ela. - Helena?

–Sei que é difícil de acreditar, mas é verdade. Deuses, magia, outros reinos. - Loki. Mordeu o lábio inferior enquanto a amiga abria o livro com cuidado. Desde que tinha se tornado imortal, não tinha aberto aquele livro. Deixou que ela folheasse até que caísse na página com seu nome.

–Você deve ter batido com a cabeça, Lena. - Suspirou e puxou o livro de volta, folheando até a última página, onde tinha deixado a flor seca.

–Eu sei o que parece, de verdade. Demorei algum tempo para assimilar tudo isso. Minha família inteira morava em Asgard, foram banidos para Terra alguns milhares de anos atrás. - Hannah riu, fechou o notebook e se levantou da cama. - Hannah…

–Você deve ter comido alguma coisa estragada. Foi na pré-jantar né? Sabia que comida japonesa no jantar não seria bom… - Helena se jogou na cama, gemendo. Esperava uma reação parecida, mas não imaginava que seria tão difícil. Teria que apelar.

–Tem alguma tesoura, navalha, qualquer coisa? - Perguntou, já colocando-se de pé e seguindo até o banheiro.

–HELENA! Eu sabia que estava deprimida, mas nem tanto – A moça correu atrás da amiga, preocupada, vendo Lena já revirar a gaveta do banheiro até encontrar um refil do gilete de sua amiga. - Lena, por favor.

–Só… Observe, ok? - Arregaçou as mangas, procurando um lugar no antebraço que sabia que não doeria tanto, e nem sangraria tanto, só daria o efeito desejado. Apertou levemente contra a sua pele, apenas o suficiente para um pequeno filete de sangue aparecer no pequeno corte. - Sério, Hannah, olha.

–É para eu fazer um teste de coagulação? Porque você escolheu o lugar totalmente errado para isso.

–Mais ou menos. - Helena riu, abriu a torneira e jogou água no ferimento, lavando o sangue de cima. Já começava a fechar e cicatrizar. - Aqui, veja. - Hannah rodou os olhos e pegou o braço de Helena, puxando para perto para observar. Depois de alguns segundos, encarou-a, as sobrancelhas franzidas

–Você… Cicatrizou. Em… minutos!

–Acredita em mim agora? - Estava cansada, não queria ficar revirando aquilo, tocando na ferida. Queria que Hannah acreditasse no que falasse e pronto.

–Eu estou perplexa, não sei o que falar, com um pouco de dúvida, mas definitivamente tem algo não humano em você.

–Há cinco anos, eu tive a mesma reação que você. Quando ele apareceu. - Aquelas últimas frases foram ditas num sussurro. A loira cruzou os braços, voltando a ficar séria, olhando para o livro na cama.

–Seu namorado. Ele não era daqui. - Levantou as sobrancelhas para Hannah. - Não! Ele não era daqui! - Rolou os olhos. - Ele era de Asgard. - Assentiu, devagar, e engoliu um seco que parecia que não a deixava respirar.

–Ele apareceu um dia, me contando sobre Asgard e mitos, sobre o reino dourado e sobre os Nove Reinos. Eu não acreditei na época. Até minha vó me explicar que, na verdade, meus avós e meus pais foram banidos de Asgard quando meus pais se casaram. Passaram mais de mil anos aqui até mamãe engravidar.

–Eles são imortais? Elli e Iwall são imortais? Seus avós?

–E eu. Quer dizer, eu não era. Até... A história é tão longa, Hannah. Eu só precisava contar para você. É por isso que não mudo desde a faculdade. Estou presa no corpo de vinte e quatro anos por sabe-se lá quanto tempo. Não sei quanto tempo vou ter aqui, não sei como vou envelhecer, não sei como vai ser ver todos vocês envelhecendo, mudando, tendo filhos, e eu, aqui. - Hannah ainda a encarava perplexa. Esperava uma reação parecida e sorriu fraco.

–Você ainda pode ter tudo isso. - Negou com a cabeça, lentamente. - Claro que pode, Lena, não seja idiota.

–Acho que você tem que ler o que está escrito no livro sobre mim, Hannah. - Observou o jeito como ela voltou correndo para o quarto, puxou o livro, ansiosa, e voltou a folheá-lo, procurando aquela página que seu nome era escrito com tanta pompa. Se fechasse os olhos, conseguia lembrar ainda de cada curva no seu nome, e no de Loki, de tanto tempo que passava encarando aquela escrita enquanto ainda estavam juntos. Esperou alguns minutos até que ela pudesse absorver a informação e também voltou para o outro cômodo, abaixando as mangas do pijama.

–Deusa da fidelidade. Deusa, Helena? Da fidelidade? - Soltou uma risada pelo nariz ao ver a amiga perplexa. - E a quem você é tão fiel assim?

–Loki.

–Ok, e onde está esse Loki? - Piscou algumas vezes, tentando achar a voz para falar. Hannah já a encarava preocupada. Abaixou os olhos para o livro e puxou do colo dela, fechando devagar, era tortura demais.

–O pai dele é um idiota. Baniu os meus pais de Asgard para que, caso eles tivessem uma filha, não se encontrasse com Loki. Não que isso tenha impedido o destino. - Limpou a garganta e levantou o rosto. - Quando descobriu, me tornou imortal, me jogou aqui na Terra pela eternidade. Loki acredita que eu estou morta.

–Isso é terrível. Foi por isso que se mudou de Londres? - Assentiu com a cabeça, lentamente. - E vocês não se falam desde então?

–Não. - Soprou e sorriu triste. Apertou o livro no seu colo, mordeu o lábio inferior, respirou fundo e se segurou para não chorar. - Eu não sei onde ele está, o que ele está fazendo, se ele está bem…

–Helena...

Torre Stark. Colocou uma mão na cintura e outra na testa para se proteger do sol e olhou para cima. Sorriu, seu pai amaria ver aquilo, ficaria louco. A quinta avenida estava movimentada e cheia de turistas para ver de perto o novo prédio espetacular de Nova York. O casamento de Hannah e John tinha sido no dia anterior. Eles já tinha partido para a Lua de Mel. Ela tinha alguns dias a mais naquela cidade maravilhosa, tinha pedido alguns dias de férias e aproveitaria para tirar um tempo para si mesma.

Estava se sentindo tão bem naquela cidade, era tão bom poder tirar alguns dias de férias e simplesmente tentar esquecer tudo o que tinha acontecido na Inglaterra e na Islândia. Ela queria apenas se distanciar daquilo. Deu mais uma olhada no prédio antes de arrumar a bolsa no ombro e ir até o café da esquina. Estava com fome, não comia fazia um tempo, um chocolate quente ou um expresso não faria mal. Parecia tão lotado, mas tinha uma mesa virada para o prédio que parecia esperar por ela. A garçonete sorriu simpática e já atendeu o pedido.

Parecia um dia tão perfeito. Hannah tinha entendido um pouco de seus problemas e não tinha duvido dela – pelo menos ela não estava internada em algum hospício, então deduziu que a amiga tinha aceitado. Enquanto esperava seu café, passou a observar a rua. Como as pessoas passavam apressadas, como se a vida fosse acabar naquele momento. Suspirou, para eles era possível. Ela já não tinha mais pressa, não tinha porquê correr, não estava mais contra o relógio. Mordeu o lábio inferior e passou a mão pelo rosto e pela nuca. Não conseguia tirar aquilo da cabeça por um minuto, como odiava isso.

Levantou o rosto quando percebeu que muitos apontava para o céu. Lá estava. Homem de Ferro. Sorriu e puxou o celular para tirar foto. Seu pai ficaria tão feliz. Franziu o cenho quando percebeu o quanto a armadura dele estava detonada. Ficou atenta com qualquer coisa que aconteceria, pronta para correr ou até mesmo proteger alguém se fosse necessário. Talvez aquela coisa de imortalidade fosse servir para alguma coisa. Jogou a bolsa no ombro, não sem antes deixar uma nota de dez dólares na mesa.

Não pensou direito. Quando a primeira explosão aconteceu, Helena pulou. Ouviu o grito de alguém e olhou para cima. Um feixe luz azul atingia o céu e um buraco – parecido com um buraco negro – estava aberto. Engoliu um seco e teve o estranho pressentimento que alguma coisa muito errada aconteceria, e que essa coisa estava intimamente ligada com Asgard. Engoliu um seco e, antes que pudesse concluir alguma coisa, precisou se abaixar porque um vidro se estilhaçou.

Estava tremendo, morrendo de medo e correndo para onde todos estavam indo. Podia ver algumas pessoas de preto conduzindo os mais assustados e feridos para um canto da rua e não conseguiu ficar parada. Tinha visto Homem de Ferro e o Hulk. Tinha visto alienígenas. Ela era uma deusa – afinal, tinha consumido a maçã de Iddun -, mas nunca tinha visto tanta coisa estranha num lugar só. Chegou na concentração e percebeu a quantidade de feridos, que aumentava cada vez mais, para um só médico que trabalhava sem parar. Tirou da bolsa um amarrador de cabelo e prendeu num coque rápido.

–Precisa de ajuda? Sou médica. - Ele a encarou de cima em baixo. O uniforme azul escuro tinha o símbolo de uma águia no braço direito e, no cinto preto, uma pistola pendia. Seu coração estava acelerado e bombeava mais sangue do que o necessário, sentia seu ouvido zunir. Os gritos a deixavam um pouco atordoada e os sons de lutas faziam seu estômago revirar com as várias possibilidades do que estava acontecendo.

–Sim. Qual o seu nome?

–Helena. - Ele assentiu e apontou para algumas pessoas que aguardavam atendimento.

Tinha conseguido mais uma maleta que tinha o básico – linha e instrumentos para pontos, gazes, água oxigenada, algodões. Tentava atender por gravidade, mas tantas pessoas chegavam que estava difícil de computar. Uma menina desmaiou e ela correu para ajudar. Percebeu o rio de sangue que saia de um ferimento em sua testa e suspirou. Abaixou-se. Seu vestido já estava arruinado, nunca mais conseguiria usar aquela sapatilha, estava com vontade de chorar porque tinha visto Thor e estava tirando conclusões que estava torcendo para serem erradas. Pressionava a gaze com força na testa da garota e levantou os olhos, vendo todos aqueles aliens passarem, tentando absorver tudo. Seu celular tocava feito louco na bolsa, mas não tinha tempo de atender. Não sabia porque seus pais estavam preocupados – não é como se com qualquer ferimento ela fosse se machucar de verdade, ou morrer. Com aquele pensamento, seus olhos focaram em um dos instrumentos que os chitauris estavam usando para voar.

Quem estava em cima era grande demais para ser um chitauri, relaxado demais, vitorioso demais. Reconheceu aquele ar de longe e precisou se controlar para não gritar com ele, mandar ele para o inferno por estar fazendo aquilo. Todos os seus temores se concretizaram naqueles segundos que ela focou em Loki. Suas lágrimas escorriam ainda mais e se esqueceu que tinha mais pessoas para atender. Fazia quatro anos que não via Loki, quatro anos que não estava tão perto assim dele. Os olhos azuis – por que eles estavam tão azuis? Amava o quase verde de antes – vasculharam o chão, procurando por vítimas também, até que ele também a viu. Viu com o cabelo bagunçado, o corpo todo ensanguentado, o vestido rasgado, a garota em seu colo sangrando.

Loki achou ter visto um fantasma. Helena tinha voltado para assombrá-lo. E assim que ela tinha morrido. Coberta em sangue e bagunçada. Ela sentiu que ele a olhava como se fosse um fantasma e precisou conter o grito de ódio. Queria gritar com ele para que parasse de ser tão idiota e a enxergasse de verdade, agora imortal, presa naquela Terra sem poder vê-lo para sempre e, quando teve a oportunidade, viu-o sendo um assassino, um vilão que queria destruir a Terra. Apesar disso, também sentia a extrema necessidade de sentir os braços dele de novo, o beijo, o cheiro e bufou em frustração. Ele foi o primeiro a quebrar o contato, os olhos marejados, as mãos fechadas em punho, e toda aquela pose de superior tinha sumido.

Helena fechou os olhos, tentando entender o que tudo aquilo significava. Significava que ele realmente acreditava que ela estava morta, porque ele provavelmente teria descido, teria gritado com ela por tê-lo abandonado e a culpar por tudo o que estava acontecendo - conhecia Loki bem o suficiente para saber que era aquilo que ele faria. Depois ele pediria desculpa e, claro, ela aceitaria para poder abraçá-lo e se encaixar no corpo dele como sabia que nunca mais se encaixaria em mais ninguém. Engoliu um seco, as lágrimas escorrendo mais do que ela queria. Tinha vontade de levantar dali e correr para Loki, mas sabia que simplesmente não podia.

–Helena, você está bem? - Passou o braço limpo pelo rosto para tirar as lágrimas do rosto. Recompôs-se antes de puxar a maleta para começar o curativo o mais rápido possível.

–Estou em choque, não sou acostumada com isso. - Sussurrou, tremendo enquanto puxava os pontos e tentava deixar o mais perfeito possível.

–Especialidade?

–Medicina Intensiva. E você, Peter? - Percebeu que conversar melhorava um pouco seu humor. Tirou a visão de Loki, lindo naquela roupa que amava, ameaçador e perigoso, liderando uma invasão alienígena para dizimar a humanidade da cabeça. Tentou esquecer daquele olhar perdido como se pudesse ver através dela, como se ela não existisse, apenas um espírito.

–Urgência e Emergência.

Jogou-se no chão, exausta, quando tudo aquilo acabou. As pessoas desacordadas começavam a recobrar a consciência, mais pessoas em uniformes apareceram e começaram a tentar limpar o local. Recolhiam corpos de alienígenas e, de algumas vezes, alguns corpos sem vida de pessoas que não conseguiram chegar a tempo para a segurança. Helena engoliu alguns secos antes de se colocar sentada, sentindo o cheiro de sangue seco e pólvora. Se tudo aquilo tinha parado, se tudo aquilo tinha terminado, algo tinha acontecido com Loki. Olhou em volta, procurando qualquer sinal dele, sentindo-se idiota.

Ele podia estar morto àquela hora. Ele podia...

–Você foi muito bem hoje. - Assentiu com a cabeça e tentou não começar a chorar. Estava tão abalada. Se a viagem estava fazendo bem para seus problemas de coração partido, depois de ter visto Loki, não sabia muito bem como reagiria quando toda àquela adrenalina saísse do seu sistema. - Meu superior quer falar com você. - Franziu o cenho.

–Estou suja, cheia de sangue, com a roupa toda rasgada.

–Todos nós estamos.

Foi colocada num carro que seguiu viagem para partes da cidade que não tinha visitado, então se perdeu nas curvas. Estava sozinha no banco de trás, com Peter na frente e mais um agente que dirigia, o silêncio estava tão grande, o que permitiu sua mente vagar para assuntos que tentava esquecer. Aqueles poucos segundos que ela conseguiu contato com os olhos dele de novo foram suficientes para todos aqueles anos de superação sumirem. A saudade estava maior que nunca, precisava dele, precisava falar com ele para ter a certeza de que ele não tinha sido idiota o suficiente de ter feito aquilo. Precisava também dar um tapa na cara dele e gritar. Gritar alto o suficiente para Asgard ouvir o quanto ele tinha sido estúpido, que ele tinha se deixado levar por todos aqueles sentimentos que ela tinha ficado um ano inteiro tentando fazê-lo esquecer. Gritar por ter desistido dela e não ter mais procurado por ela, por ter aceitado a palavra de Odin. Gritar que sentia tanta saudade que logo ela poderia explodir.

–Helena, quer passar no banheiro antes? - Peter virou-se para ela quando o carro parou na frente de um prédio enorme. Tentou focar em outra coisa que não fosse espancar Loki, se ele ainda estivesse vivo, claro, e tentou sorrir.

–Por favor, para pelo menos dar uma arrumada no cabelo.

A primeira coisa que fez no banheiro depois de trancar a porta foi deixar-se cair no chão, encostada na parede. Colocou a cabeça nos joelhos dobrados e respirou fundo algumas vezes. Estava se sentindo sufocada por tantos agentes naquele lugar que ela nunca tinha ouvido falar. Para distraí-la depois que tinha visto Loki, Peter contou um pouco sobre o que era a SHIELD. Todos pareciam estar atordoados com os acontecimentos daquele dia, mas Helena não estava preparada para ser vigiada, cuidada, com todo mundo olhando para ela. Levantou depois de alguns segundos e se olhou no espelho. Estava um caco. Lavou a mão e os braços, tirando o máximo do sangue que tinha ali, depois lavou o rosto e soltou os cabelos loiros que agora estavam com aparência de sujos. Parecia saída de uma guerra.

–Meu nome é Nick Fury, sou diretor da SHIELD. - A moça assentiu com a cabeça, olhando em volta, tentando absorver cada detalhe da sala. Seus olhos pararam em alguns monitores.

–Helena Iwaldatter.

–Sei quem você é. - Levantou as sobrancelhas para o homem a sua frente, voltando a encará-lo. - Somos uma agência de inteligência. - Puxou uma pasta e dela tirou um papel. - Nascida na Islândia, criada na Inglaterra, mudou-se de novo para a Islândia faz quatro anos.

–Eu estou em Nova York a viagem. Preciso ligar para os meus pais, eles estão preocupados. Estou exausta. O que vocês querem? - Fury ficou ainda mais sério antes de puxar mais um papel. Percebeu que era uma foto e sentiu o coração parar de bater. Outro papel, dessa vez menor, parecido com um bilhete. Ele desdobrou os dois e estendeu para Helena, que puxou a cadeia para sentar-se, sabendo o que viria em seguida.

–Não vai ver? - Negou com a cabeça, os lábios numa linha fina enquanto encarava a janela atrás do homem.

–Não preciso. Fiquei quatro anos tentando deixar isso para trás, estou bem sem ver o que quer que seja.

–O bilhete. Acho que você nunca viu. - Não respondeu. - Achamos isso no sobretudo...

–O que vocês querem de mim? - Interrompeu-o, já irritada com tudo aquilo.

–Você é de Asgard?

–Não, meus pais são. - Respondeu seca e cruzou os braços, sentindo o dedo coçar para alcançar a foto e o bilhete.

–Você é como Loki e Thor? - Molhou os lábios com a língua. - Só precisamos saber, você não está sob ameça.

–Se eu sou “deusa”, “imortal” e etc? - Fury assentiu com a cabeça lentamente. Helena não sabia muito bem como responder àquilo, mas não adiantava esconder, então soltou o ar dos pulmões ruidosamente. - Sigyn. Deusa da fidelidade.

–Quer vê-lo? - Apontou para o monitor. Seu coração ficou um pouco aliviado ao ver que ele estava vivo, bem, apenas machucado. Suas sobrancelhas involuntariamente se curvaram numa expressão que misturava saudade, dor e todos aqueles sentimentos que estavam dentro dela desde que o vira no ataque. Ele estava tão perto.

–Não posso. - Sabia que teria que contar se quisesse se livrar de todo aquele interrogatório, se quisesse ir para o hotel, tomar banho, se jogar na cama e chorar por mais quatro anos. - Loki vinha para Terra escondido de Asgard, estávamos juntos há um ano quando Odin descobriu. Meu castigo foi ter a imortalidade e ser jogada de volta aqui. Loki acha que estou morta. Se eu tentar vê-lo, falar com ele, Odin vai atrás dos meus pais, depois dos meus avós e... - Parou de falar por ali. - Então se você acha que eu tenho alguma coisa a ver com isso, pode acreditar que não, não tenho. - Nick respirou fundo e colocou os cotovelos na mesa. Voltou a encarar o homem a sua frente, derrotada. Estava emocionalmente e fisicamente exausta. - Posso ir? Eu realmente quero manter o máximo de distância.

–Tenho uma proposta de emprego para você. - Juntou as sobrancelhas em dúvida e endireitou a postura. O bilhete estava cada vez mais perto da ponta do seu dedo. Era só esticar um pouquinho e poderia ver o que dizia. - Estamos precisando de médicos na SHIELD. Só para ficar nas bases e, de algumas vezes, missões como a de hoje. Não podemos arriscar colocando médicos “normais” na frente de batalha.

–Diretor, de verdade, agradeço a proposta, mas quero distância de tudo que vá envolver o mínimo de sobrenatural ou ação.

–Você é a deusa aqui.

–De uma religião morta, não tenho muito com o que me preocupar, você sabe. - Deu de ombros. - Hoje eu estava no lugar errado na hora errada. Nem ia visitar a Torre Stark, mas meu pai é fascinado por arquitetura e engenharia e pediu algumas fotos. Eu estou bem na Islândia, fazendo meu trabalho lá e estando isolada disso tudo. Eu realmente estou. - Fury assentiu com a cabeça.

–Eu não gosto de Loki, de verdade, eu espero que ele apodreça em alguma prisão de Asgard, mas... - Tirou uma caneta do bolso do sobretudo e se esticou para que a loira pegasse. Helena pegou e segurou a respiração, sem saber o que escrever, tanta coisa que tinha para falar, tanta coisa que precisava falar. Pegou o bilhete e virou para encontrar a caligrafia corrida de Loki.

Eu não desisti, Lena”

Engoliu um seco, tentando não chorar. Levantou os olhos para Fury, que fez um sinal para que ela agilizasse.

Me desculpa, sai com pressa. Não se meta em confusões por minha causa. A gente se vê quando?”

As últimas palavras que tinha dito para ele ficaram marcadas em sua memória por tanto tempo que foi quase automático aquelas frases aparecerem no papel. Deixou o ar sair devagar e ruidosamente e depois puxou a foto. Era a foto que ficava no aparador do hall. Sorriu ao ver aquela foto de novo e se achou uma idiota. Virou no lado em branco. Colocou um coração pequeno, igual costumava a fazer com papéis pequenos e enfiar sem ele perceber nos bolsos do sobretudo. Apertou a caneta, ouvindo o clique que invadiu a sala.

–Que desculpa quer que a gente dê para Loki?

–Digam que descobriram que eu viajaria no dia que o acidente que ele acredita aconteceu. Que eu tinha deixado aquele bilhete no apartamento e ele não viu. - Aquela desculpa foi terrivelmente dolorida de se inventar. O diretor recolheu os papéis da mesa. - Posso pedir outra coisa? Inventem mais detalhes sobre o acidente. Façam parecer real e banal. Odeio Odin, eu espero que aquele cara arda no inferno, mas ele ainda é pai de Loki. Não quero que ele fique pelo resto da vida formulando planos para matar Odin enquanto dorme.

–Estamos fazendo isso por você, Helena, não por ele.

–Eu sei. Obrigada.

–Se precisarmos de você...?

–Sabem onde me encontrar. - Fury assentiu. - Boa sorte, com toda essa confusão.

–Tenha uma boa viagem de volta, Helena.

Loki estava entediado. Sentia cada pedaço do seu corpo doer. E ainda tinha a visão de Helena. Parecia tão real, tão assustada. Os olhos castanhos o olhavam com tanta dor, parecia tão machucada, cansada e suja. O pior fantasma que podia ter aparecido para ele em qualquer momento da sua vida. E, para melhorar, tinham pego a foto e o bilhete que carregava consigo de forma irracional, porque sabia que nunca a encontraria para entregá-la. Levantou a cabeça quando ouviu barulho de passos ecoando no metal do chão. Thor e Nick Fury.

–Quero deixar uma coisa bem clara. Não estamos te devolvendo isso porque somos legais e achamos que o que você fez não foi nada, mas porque todo mundo merece saber a verdade. - Viu a foto e o bilhete na mão de Fury e sentiu tanta raiva que podia levantar dali e quebrar seu pescoço em dois segundos. - Sabemos sobre Helena e temos detalhes do acidente dela. No apartamento, foi encontrado um bilhete escrito por ela que nossos mais habilidosos copiadores fizeram o favor de transcrever para você. Quer saber dos detalhes?

Travou a mandíbula e passou a olhar Thor. Ele era o culpado, não tinha nenhum outro detalhe para se ouvir. Ele era o idiota que tinha falado sobre Helena para Odin, ele era o único culpado de Helena não estar mais em Midgard, ou em Asgard, ou em qualquer plano de criaturas vivas. O deus loiro cruzou os braços e suavizou a expressão. Já sabia o que viria em seguida, então rolou os olhos e deixou o corpo relaxar, sentindo as costas baterem com força na parede.

–Irmão. Ouça.

–Helena morreu porque você é um idiota, Thor. Não tem nada para se ouvir.

–Ela descobriu que teria um congresso de última hora e precisava pegar um avião o mais rápido possível para Irlanda. - Fury começou, mesmo sem autorização. Loki fingiu que não estava escutando. - O táxi que ela tinha pego para chegar ao aeroporto perdeu o controle, eles invadiram uma via expressa e perigosa. Ela chegou a ser socorrida e levada ao hospital, mas não resistiu.

Ele agora encarava o chão, tentando não chorar e manter o mínimo de dignidade. Talvez Thor e Odin não tivessem nada a ver com a história. Talvez seu pai tivesse razão quando bradava o quanto a vida humana era passageira e frágil. Tinha consciência disso. Helena era frágil. Lembrava-se de como era o coração dela batendo embaixo dos seus dedos e de como era tão fácil fazê-lo acelerar, de como era fácil deixar uma marca roxa na pele dela se não tomasse cuidado com a força que a abraçava, de como ela ficava mal quando estava doente. A vida humana era para ser assim. Para se esvaziar a cada dia, e podendo ser o último suspiro a qualquer momento.

–Vamos para Asgard amanhã de manhã. - Thor avisou, mais perto. Só então percebeu que ele havia entrado e estava com os dois papéis estendidos para o irmão mais novo, tremendo. - A culpa não foi minha, Loki. Você não sabe como era horrível conviver achando que eu tinha tirado Helena de você.

–Sim, péssimo, deve ter perdido noites de sono por causa disso. - Retrucou, irônico, puxando o bilhete e a foto como se ele não tivesse interessado no que estava escrito.

Esperou que todos tivessem saído do corredor e que o lugar estivesse o mais silencioso possível para poder, finalmente, ver mais uma vez a caligrafia de Sigyn, as últimas palavras que ela tinha deixado para ele.

Me desculpa, sai com pressa. Não se meta em confusões por minha causa. A gente se vê quando?”

Ela não precisava falar que o amava para que ele percebesse isso. A letra dela era garranchada, normalmente, a rotina no hospital exigia que ela demorasse o mínimo possível em cada anotação. Nessa, ela parecia ter perdido alguns minutos para desenhar toda a frase, com a caligrafia bem-feita. Ela perdera minutos – os últimos dela – para encontrar um papel, uma caneta e desenhar letra por letra para deixá-lo um recado. Era o último contato que teria com Helena, então deixou os papéis escorregarem para o bolso mais perto do coração e fechou os olhos, como se ele pudesse materializá-la na sua frente.


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Notas finais do capítulo

Mas... por que atualizando tão rápido assim?
Simples. Esse capítulo já estava pronto há muito tempo. MUITO tempo. Faltavam alguns ajustes e só. Então, eu ainda enrolei pra postar ele, opsie. HAHA.

As outras atualizações vão sair tão rápido assim?
Só Deus sabe HAHA. Do capítulo 10 em diante, tudo já ta mais ou menos encaminhado, faltam partes do meio, faltam ligações e etc. MAS o que posso garantir é que JÁ sei o que vai acontecer no final da fanfic.

Isso quer dizer que o final da fanfic está chegando?
NÃO! Tem muita água pra rolar ainda. Tem muita coisa pra acontecer. AGUARDEM!

E pra ter o prox capítulo o que a gente faz?
Comenta EHEHHEHEHEHE