Chasing a Starlight escrita por ladywriterx


Capítulo 11
Iddun




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/638437/chapter/11

Capítulo 11 -

Iddun

Sentiu um empurrão em seu ombro, seguido de um aperto no seu braço, obrigando-a ficar com os braços para frente. Os guardas prenderam uma algema gelada em seu pulso e, naquela hora, tivera a certeza que não estava ali para uma reconciliação com Odin. Levantou o rosto, erguendo o queixo apesar de sua situação, engoliu um seco e mordeu o lábio inferior. Perdeu o fôlego com o esplendor de Asgard quando deu o primeiro passo para fora da cúpula dourada da Bifrost. A ponte brilhava em muito mais cores que imaginava, o dourado das construções reais refletia aquelas cores e fazia seus sentidos ficarem anestesiados de tantos estímulos. O cheiro da água salgada do mar misturava com um cheiro surpreendentemente doce da cidade. Se as condições fossem outras, podia passar horas descrevendo todas aquelas sensações, como se finalmente seu corpo tivesse encontrado o lugar que pertencia.

Helena foi levada até uma sala ao lado da sala do trono. Paredes de vidro davam a impressão que ela estava numa jaula, o que a deixava desconfortável com toda aquela situação, mais do que já estava. Rodou no próprio eixo, tentando entender o que estava acontecendo, procurando alguma saída – o castelo era gigante, como acharia Loki? - ou qualquer coisa que a ajudasse a pelo menos tirar as algemas.

–Desista. - Seu corpo inteiro travou onde estava, a voz imponente a fazia parecer pequena, queria poder se encolher e sumir. Respirou fundo, virou-se devagar para encontrar quem acreditava ser Odin, encarando-o com seu olho azul como se pudesse perfurar a sua alma, engoliu um seco e notou o pequeno sorriso que surgiu no canto da boca do deus. Teve vontade de pular em seu pescoço. - Essas algemas são feitas para asgardianos, e não… mortais como você. - Um gosto azedo de bile chegou em sua boca.

–Onde está Loki?

–Loki. - Ele riu, negou com a cabeça e começou a se aproximar, passos lentos e perigosos. - Loki está onde deveria estar, em seus compromissos aqui em Asgard, não na casa de uma qualquer em Midgard.

–Ok, escuta aqui. - Helena não aguentaria muito mais daqueles insultos, preferiu não guardar por muito tempo, talvez aquela fosse sua única chance de descarregar todas as suas frustrações em Odin. - Se você não fosse tão idiota, tão… - Tentou achar a palavra certa, mas a única coisa que conseguiu fazer foi soltar o ar pesada e lentamente. - Você saberia desde de o começo, desde o primeiro dia. Não teria que montar esse circo. Não teria que torturar o seu filho...

–Basta! – Ela endireitou a postura, sabendo que tinha pisado em um território que talvez fosse perigoso demais para ela. - Eu bani sua família, eu não queria nem que você tivesse nascido! - Odin gritou com ela. Sentiu um seco preso na garganta.

–Eu não...

–Não dirija a palavra a mim. - Rosnou, batendo o cajado no chão. Segurou as lágrimas nos olhos, sentindo o coração bater cada vez mais forte. - Não pense que saíra dessa, oh, não, Sigyn. O castigo que dei a sua família não foi suficiente para fazê-la parar, não é mesmo? Eu ainda tive compaixão. Mas aqui você está, na minha frente. - Mordeu os lábios por dentro, travou a mandíbula, ainda tentando manter alguma postura, mesmo que por dentro estivesse com vontade de se jogar na cama e nunca mais sair. Estava se sentindo rejeitada. Algo em Odin se acendeu de uma hora para outra, como se tivesse se lembrado de algo que já havia planejado. - Você ainda é filha de Asgard. Ainda há tempo.

Odin levantou a mão e fez sinal para uma criada entrar com uma cesta com as maçãs mais bonitas que Helena já tinha visto na sua vida. O dourado refletia todas as luzes e ela se sentia tão hipnotizada por aqueles frutos que tinha vontade de alcançá-los e prová-los. Maçãs de Iddun. O fruto que concedia a quase vida eterna. Era a única razão de envelhecer na Terra: ela nunca tinha dado nem uma mordida num daqueles frutos, mesmo que seus pais, avós, bisavós e todas as suas gerações passadas fossem de Asgard. Seus olhos seguiram a criada até que ela colocasse a bandeja na mesa a frente deles. Demorou-se um pouco nos frutos, salivando de vontade, e então olhou para Odin. O cheiro já estava deixando seus sentidos um pouco desnorteados.

–Maçãs de Iddun. São lindas, não? - O rei deu um passo a frente, pegando uma delas em sua mão, virando-a para analisar e sorriu para ela. - Para um mortal, uma mordida já é suficiente para matá-lo. Para uma filha de Asgard, porém, uma mordida concede uma vida longa. Igual seus pais e avós tem em Midgard. Igual nós temos aqui. Apesar disso, não são todos que tem o direito de chegar perto delas, sabia? - Ele chegou mais perto, batendo o cajado no chão conforme andava, se aproximando dela. Tentou se livrar das algemas que a prendiam pelo pulso, mas era apertado demais, e só conseguiu deixar a pele ali vermelha e irritada. - Seus antepassados só morderam uma dessa como castigo. Para sempre, numa terra onde as pessoas nascem, envelhecem e morrem. Midgard. - Parou de encará-lo e abaixou os olhos para a cesta a sua frente. Sentia os dentes rangerem de raiva, as lágrimas que agora escorriam mostravam todo o ódio que sentia por Odin. - Algum palpite do porquê essa cesta, cheia de frutos? - Ficou quieta. - Agora eu estou falando com você.

–Não me interessa. - Respondeu, ainda sem olhá-lo. - Me solta.

–Ainda não decidi para qual reino vou te mandar dessa vez. Midgard, apesar de ser previsível demais, talvez seja o mais indicado. Depois de uma mordida, é claro.

Fechou os olhos, percebendo que não conseguiria mais impedir as lágrimas que agora escorriam livremente pelas suas bochechas. Respirou profundamente, buscando por ar. As únicas imagens que passavam em sua mente eram da última noite que havia passado com Loki. Oh, ele estava tão machucado e na sua frente estava o carrasco. Odin havia descoberto, ele disse, descoberto que passava seu tempo livre com ela. Então soube que não tinha mais como escapar. Seus pais haviam avisado-a. Seus avós. E ainda assim seguiu em frente, porque o amor que sentia por Loki era muito maior que qualquer insegurança. Mas ela estava ali agora, pronta para receber o mesmo castigo que seus pais – se não até pior, já que passaria a eternidade sem Loki.

–Ele não vai desistir, você sabe?

–Seria uma pena que, sendo tão frágil e mortal quanto você é ainda, algo terrível acontecesse com você e Heimdall viesse me avisar que Sigyn está morta. Loki ficará devastado, com certeza, mas sobreviverá e seguirá em frente. - Odin segurou seu rosto por suas bochechas, e Helena teve certeza que podia vomitar a qualquer momento.

–Você é um monstro. - Quase cuspiu aquelas palavras no rosto de Odin, que manteve o rosto impassível. Soltou-a com violência.

–Ah não, só penso no bem de Asgard. Vai comer por espontânea vontade, ou vou ter que obrigá-la? - Helena abaixou os olhos castanhos para a maçã dourada que lhe era estendida, sem saber como responder. Seu corpo inteiro perdia a sensibilidade só de pensar no que aconteceria com Loki, e uma sensação desagradavel gelada percorreu seu corpo inteiro, a impedindo de respirar por alguns segundos. - Podemos fazer isso do modo difícil, Sigyn. - Hesitante, as mãos tremendo, alcançou a maçã com as duas mãos e a apertou com força.

Sentia as coisas em câmera lenta, a sua respiração, seu cérebro trabalhava devagar demais – estava acostumada a tudo acontecer de uma só vez – e a única coisa que pensava era em Loki. Odin a encarava com raiva, impaciente, e sabia que não teria escapatória. Levou a maçã até os lábios e mordeu. O gosto era maravilhoso e a sensação era reconfortante: um calor gostoso que passava por toda a sua corrente sanguínea e a deixava leve. Apesar disso, as lágrimas não tinha parado de escorrer.

–Ótimo, agora quer me ver dar as boas notícias? - Apontou a parede de vidro da cela que dava para a sala do trono. - Assim que eu terminar, guardas vão vir te buscar e então Heimdall vai te mandar de volta. Não quero mais ouvir de você, não quero mais ver você.

–O que vai fazer, me matar? - Sustentou o olhar do deus, que sorriu se lado como se tudo aquilo fosse uma piada.

–Não. Posso começar pela sua família, um por um, deixar você descobrir com quem isso terminaria.. - Sua expressão fechou com o peso das palavras e seu coração parou de bater. - Estamos entendidos? - Assentiu com a cabeça, devagar, calma, como se ainda estivesse assimilando a informação. - Ótimo, agora preciso ir. Veja quem já está na sala do trono. - E sorriu mais uma vez para Helena, antes de sair da sala, deixando-a sozinha ali.

Correu até a parede que a permitia vê-lo. Colocou a mão na imagem dele, chorando, o soluço já preso na garganta. Seus pensamentos viraram uma bagunça novamente. Era a última vez que o veria? Como ele reagiria a tudo aquilo? Acreditaria em Odin? Desistiria dela?

–Mandou me chamar, pai? - Loki fez uma reverência, o rosto em dúvida enquanto seguia o deus mais velho com os olhos. Helena socou o vidro, querendo que ele a visse, que prestasse atenção no que estava atrás do espelho. Precisava que ele a percebesse. Odin deu a volta, sentando-se no trono, segurando o cajado. Colocou a mão no queixo.

–Heimdall vem observando a mortal desde que descobrimos. - A expressão de Loki não mudou, o único detalhe que ela percebeu foi que ele piscou duas vezes antes de voltar a prestar atenção nele. - Mas então, hoje, quando ele foi procurar por ela, não encontrou. - Ele trocou o peso nas pernas, já preocupado.

–Loki, não. - Sussurrou, batendo mais uma vez no vidro. - Eu estou aqui, amor, aqui. Olha para mim. - Começou a aumentar o volume, socando o vidro o quanto podia. Queria poder ter força o suficiente para quebrar o vidro, ou talvez a magia tão conveniente de Loki para se materializar ao seu lado e abraçá-lo.

–O que isso quer dizer? - Loki não queria acreditar no que estava ouvindo.

–Pelo que pudemos descobrir, ela sofreu um acidente hoje de manhã e não resistiu. - Percebeu o passo que ele deu para trás, recuando, os olhos que começaram a piscar rápido demais, tentando impedir as lágrimas. O jeito como a mandíbula dele travou.

–Loki. - Aumentou o tom de voz ainda mais. Já estava quase gritando entre os soluços. - Aqui, Loki. Sua Sigyn, aqui. - Franziu o cenho, as lágrimas deixando a visão embaçada, os soluços tornando a ação de respirar difícil. Começou a chutar a parede também, com raiva, sentindo toda a raiva de Odin transbordar por todos os poros.

–Sinto muito, filho. - A mente de Loki rodava. Não. Ele tinha deixado-a tão bem, tão sorridente naquela manhã. Ela reclamou de não ter escovado os dentes e, mesmo assim, ele a achava a criatura mais linda de todos os Nove Reinos. Ela podia não ter ido trabalhar, e então ficaria a manhã inteira em seus braços e nada daquilo teria acontecido. Ela ainda estaria ao seu lado.

–Por favor, amor, olha para cá. - Gritou. - Sua fidelidade, lembra? Loki. - Estava tão desesperada, precisava que ele a enxergasse, precisava dizer que não, não tinha o abandonado, nunca iria. Se todas as profecias fossem verdade, ela ficaria com um cesto embaixo das presas da cobra para que ele não se machucasse. - Loki. - Deixou os joelhos cederem quando a primeira lágrima escorreu pelo rosto dele.

Rapidamente limpou, não podia mostrar fraqueza na frente de Odin. Guardaria as lágrimas para quando estivesse sozinho. Precisava ver com os próprios olhos. Não esperou que Odin falasse mais nada, virou-se e, com pressa, começou a sair da sala. Helena gritou quando seu rosto passou pela parede onde ela estava. Nenhuma mudança de expressão. Ele não podia vê-la, nem escutá-la. Loki parou no meio do caminho e voltou a encarar Odin, ainda sentado no trono, com o rosto impassível e a mão no queixo.

–O senhor não tem nada a ver com esse acidente, não é, pai? - Odin negou com a cabeça, soltando um sorriso incrédulo. Ele devia ter treinado todas essas mentiras por milênios para que Loki não desconfiasse.

–Justificável que pense assim, Loki. Mas não. Um infeliz destino e acidente, apenas isso. - Loki acenou com a cabeça, mordendo o lábio inferior. Helena encostou a testa no vidro, desistindo de chamar atenção dele e fechou os olhos. Um grito de ódio escapou, queria que toda Asgard pudesse escutar e perceber como Odin era um rei idiota, egoísta, filho da puta.

Ele não acreditou quando Odin negou ter envolvimento. Não acreditou. Então, a passos largos, com uma fúria que não cabia em si, se viu tomando o caminho dos aposentos de Thor. Se ele tivesse mantido aquela boca fechada, se ele tivesse guardado um segredo, pelo menos uma vez na vida, Sigyn ainda estaria ali, Helena ainda estaria ali. Ele não estaria passando por aquela dor, aquele luto que fazia seu estômago se contorcer, o peito apertar, a cabeça doer. Aquilo tinha um gosto metálico horrível. Ele estava sozinho de novo. Parou no meio do caminho para se encostar em uma parede, apertar os olhos e passar a mão no rosto.

Nunca mais ouviria a voz dela, nunca mais veria os olhos castanhos, ou o sorriso que ela abria quando o via. Não ouviria mais ela contar sobre suas paixões, não sentiria mais os dedos dela, que se enterravam em seus cabelos quando se beijavam. Nunca mais. Nunca mais. O jeito como o nariz dela tocava o seu quando se beijavam, o jeito que ela andava, sempre tão delicada como se estivesse pisando em nuvens. O cheiro floral, a risada gostosa. Nunca mais. Respirou fundo e ruidosamente, obrigando as lágrimas a voltarem. Sonhava em trazê-la algum dia para Asgard e mostrar o céu, já que ela era tão apaixonada por estrelas. Mostrar o quarto dele, sanar sua curiosidade. Mostrá-la a biblioteca, cheio de livros de medicina que tinha certeza que ela passaria algumas semanas lendo e esqueceria dele. Então, carente, ele deitaria em seu colo, ela abaixaria os olhos e sorriria, para depois começar um carinho gostoso em seus cabelos e só pararia rapidamente para mudar a página, e logo voltaria. Ele dormiria daquele jeito. Um grito de ódio ficou preso no peito. Olhou para o corredor. Já estava perto.

–Irmão. - Thor o saudou. Negou com a cabeça. Avançou com passos apressados, tirando força de onde não tinha para segurá-lo pelo pescoço e jogá-lo contra a parede.

–A culpa é toda sua, Thor! Você não consegue ver a felicidade de ninguém mais, não é mesmo? Não sabe manter a merda da boca fechada.- Empurrou-o de novo, fazendo com que suas costas atingissem pela segunda vez a parede dura de pedra.

–Do que você está falando? Está louco?

–Estou, muito louco. Eu podia te matar agora e então você podia perguntar para Sigyn como é estar morta. - O fez encontrar a parede mais uma vez antes de soltá-lo, respirando fundo e passando a mão pelo cabelo.

–Morta? - A boca de Loki formou uma linha fina. - Eu não...

–Você abriu essa sua boca gigante para Odin. - Acusou-o. - E não venha tentar me enganar que você sabe que nunca funcionaria, até porque ontem eu passei a noite inteira naquela merda da sala de trono, levando um açoite atrás do outro quando eu tentava negar e papai fazia questão de lembrar-me do filho do ouro que não escondia segredo dele. E hoje eu não tenho nem Sigyn mais. Então, muito obrigado.

Eu não imaginava que... - Thor deu um passo para frente, tentando se defender. Percebeu que seria impossível. Os olhos verdes brilhavam de raiva, desejavam vingança.

–Que o que? - Rosnou. - Eu não sei se você percebeu, mas você é o favorito. Se fosse você escapando para dar uma volta em Midgard, papai daria tapinhas nas suas costas e falaria “meu garoto”. Daria uma festa para que você apresentasse a namorada para ele e mamãe. Enquanto isso, eu tenho que esconder, porque é isso que acontecesse com as minhas coisas. São tiradas de mim. Igual Helena foi. Cruelmente. - Gritou. - Que merda, Thor!

–Eu não sabia...

–Você não sabe de nada! - Voltou a gritar. - NADA! - O choro ficou preso na garganta, ocupando o lugar do grito de ódio que ele soltou mais na forma de um grunhido. - Eu não tenho mais nada agora, Thor.

–Não seja ridículo.

–Não... ser... ridículo? - Perguntou, pausadamente. - Eu perdi Sigyn. Eu perdi Sigyn. Sabe quantos anos eu fiquei a procura dela? Sabe quantos anos? - Gritou. Levantou a mão, fazendo uma magia que empurrou Thor na parede de novo. Dessa vez ele gemeu de dor e passou a mão na cabeça onde tinha sido atingido. - Tantos anos esperando por ela.

–O que está acontecendo aqui? - Loki não tinha percebido os passos se aproximarem, mas abaixou a mão quando ouviu a voz severa de sua mãe atrás dele. - Vocês estão brigando? - Thor encarou Loki, esperando que ele se explicasse. Levantou a sobrancelha e cruzou os braços.

–Thor contou para o pai sobre Sigyn.

–E isso é motivo para esmagar seu irmão na parede?

–Ela está morta agora. - Frigga hesitou por alguns instantes. Loki virou-se para ela, os olhos deixando transparecer toda a dor que sentia. - Ela se foi porque seu filho de ouro não sabe manter a porcaria da boca fechada.

Frigga não soube muito bem como reagir àquela notícia. Abriu a boca para falar algo, mas logo fechou. O luto tomou conta do ambiente. Já considerava Helena quase como uma filha e era tão grata por tudo o que ela fazia por seu filho. A conexão entre os dois era tão pura que era difícil não se sentir bem quando os dois estavam juntos na mesma sala. Não conseguia se lembrar a última vez que vira Loki chorar, e ali estava ele, com os olhos brilhando de lágrimas, que ele tentava a todo custo segurar. Fez sinal para Thor sair do quarto, recebendo alguns resmungos de volta. Quando a porta se fechou, a passos lentos e sem saber muito se Loki permitiria, chegou perto do filho mais novo e abriu os braços. Também não se lembrava da última vez que ele tinha corrido para seus braços do jeito que fez daquela vez. Seu coração quebrou em milhares de pedaços.

–Loki. - Sua voz saiu baixa, enquanto passava a mão por seus cabelos. - Oh, Loki.

Helena já tinha desistido de lutar quando viu toda a dor nos olhos de Loki. Tinha se deixado deitar no chão, quase em posição fetal, chorando como nunca tinha chorado na vida, soluçando o mais alto que podia e de algumas vezes tendo acessos de raiva que lhe renderam alguns machucados nos pulsos onde as algemas estavam. Mas parecia que a maçã tinha feito efeito, em poucos minutos, os mínimos machucados já nem existiam mais, então ela voltava a socar o chão, a parede e tudo o que via pela frente, além de tentar se soltar das algemas. Ela odiava Odin desde que sua avó se sentou com ela a mesa, um ano atrás, o livro de mitologia a sua frente, e explicou quem ela era, o porquê dela estar na Terra e todas as profecias. Odiava Odin cada dia mais quando escutava o que ele fazia com Loki. O mesmo tanto que ela amava Loki, ela odiava o deus mais velho. Não soube quanto tempo se passou, mas ela já beirava a exaustão quando a porta se abriu e dois guardas entraram, puxaram-na pelas correntes e ela se obrigou a colocar de pé.

Ela teria a eternidade toda para descansar, se conseguisse desfazer todo aquele ódio dentro dela.

Loki se apressou para fora do quarto. Andar demoraria demais, então levantou os dedos antes que pudesse ouvir alguém atrás dele e estralou, mentalizando o lugar onde deixava seu barco escondido. Estralou os dedos de novo, e logo estava a velocidade máxima em direção a caverna que escondia o desvio da Bifrost e, pela primeira vez, não ligou caso o barco errasse o caminho.

O bairro todo parecia mais silencioso sem Helena. Londres, que já era cinza, parecia pior ainda. A noite estava gelada e o vento parecia cortar seu rosto. Sem perceber, estava no apartamento de Helena.

–Helena? - Gritou. A resposta que obteve foi o silêncio. Respirou fundo e olhou para o aparador onde a foto que tinha tirada na formatura dela repousava. Tirou-a do porta-retrato, colocando-a no bolso interno do sobretudo.

Sorriu triste para sua mãe, que colocou uma xícara de chá a sua frente. Apertou o cobertor em volta do ombro e suspirou. Estava doendo tanto.

–Quer conversar, filha? - Negou com a cabeça e abaixou-a, olhando para os pés cruzados no banco. - Ele ainda pode te encontrar. - Helena inspirou, o cheiro do chá quentinho a confortando, ficou alguns minutos tentando encontrar o que falar, até sussurrar uma resposta para a sua mãe.

–Não sei, mãe. Dizem que o mesmo raio não cai duas vezes no mesmo lugar.

–Você não está no mesmo lugar, Sigyn. - Sentiu a mão dela em seu ombro, um aperto reconfortante. - Ele te achou uma vez.

Levantou a cabeça, olhando para frente. Estava na casa dos seus avós paternos dessa vez. Moravam num vilarejo escondido na Islândia. Se olhasse para frente, a única coisa que via era neve, talvez alguns pinheiros, uma estrada que levava a lugar nenhum. Acordou alguns quilômetros dali, desorientada. E ainda estaria, se um vizinho não tivesse a encontrado e a reconhecido. Não fez perguntas, só deixou que ela entrasse na caminhonete quentinha. Ainda estava abalada demais para se lembrar como falava o islandês. Estava abalada demais para conseguir formular qualquer frase em qualquer língua. Ela só queria que aquele pesadelo acabasse, queria deitar, dormir e, quando acordasse, ainda estaria na Inglaterra, ainda poderia seguir com a sua vida. Odin tinha tirado tudo dela: os objetivos, as conquistas, Loki. Quando ele parou a caminhonete na frente da propriedade do seu avó, olhou para o lado e sorriu. Disse um “muito obrigada” e foi retribuída com um aceno de cabeça. Quando seu avô a viu ali, já sabia o que tinha acontecido. Ou pelo menos desconfiava. Não exigiu que ela falasse nada. Suspirou. Molhou os lábios quando sentiu a mão de sua mãe escorregar e parar de tocá-la.

Seus pais chegaram dois dias depois, de malas feitas. Eles tinham feito como se ela realmente tivesse morrido, recolheram suas roupas, seus livros, deixaram o apartamento como se ninguém morasse ali. Quando chegaram, sabiam que o deus das mentiras já tinha passado por ali. A foto de Loki e Helena tinha sumido do hall de entrada. Ela deu de ombros quando soube disso, preferia que ela ficasse com Loki de qualquer jeito.

–Como vocês lidam? Com esse lance de imortalidade? - Perguntou baixinho.

–Antes, tínhamos medo, porque uma hora ou outra perderíamos você, Sigyn. Odiávamos, queríamos nos livrar dessa maldição, envelhecer com você. - Sorriu um pouco mais e tentou segurar as lágrimas no olho. - Mas agora estamos juntos nessa, não? - Assentiu rapidamente e deixou uma lágrima solitária rolar. Passou a mão com força pelo rosto, não deixando que fosse muito longe. - Estamos lá dentro se precisar.

–Obrigada, mãe. - Seus olhos foram para o céu, onde as incontáveis estrelas brilhavam. Seus olhos foram para uma formação de L. Molhou os lábios de novo e se estendeu para pegar a xícara de chá, bebericando devagar para não se queimar. Loki estava sozinho. Era o mito se concretizando. Agora ele estava amarrado em Asgard. Ele tinha a cobra mais venenosa dos Nove Reinos em sua cabeça, pingando uma gota de veneno de cada vez, e ela não estava lá para recolher. - Me perdoa. - Sussurrou para sua constelação.

E não recebeu nenhuma palavra de volta.

–Ela está bem? - Elli suspirou e colocou sua própria xícara na mesa, recebendo olhares preocupados de seu marido e seus sogros.

–Ela pelo menos falou hoje.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Okay, vamos com calma. Haha. Postei 5 capítulos num dia só pra gente poder igualar ao FF e pronto. Igualado. Não fazia muitas notas no final do capítulo porque não via necessidade, uso normalmente pra justificar a demora nas atualizações, haha.
Deixa eu situar vocês do Nyah! um pouquinho: no começo do ano passei em Medicina para começar agora no segundo semestre, porém to de greve. Ou seja, as atualizações estão em ritmo de ok a rápidas (no FF demorei menos de 2 semanas pra ir do 10 ao 11) porque tenho eterno tempo livre. Quando começar a faculdade, não vai ser bem assim. Me mudei para outra cidade, outro estado pra estudar, e além das milhares de matérias da faculdade integral, vou ter a casa pra cuidar. Então, peço compreensão, okay?

Outra coisa, vejo vocês lendo. Ta lindo. Tem mais leitores aqui que no FF e me deixa muito feliz, sério. Mas eu quero - e vou ser chata meeesmo - comentários. Quero saber o que vocês gostariam que acontecesse, ou o que estão achando. Quero críticas, quero que vocês me apontem erros que cometi pra não cometer mais. Por favor! Interajam comigo, não mordo, juro! (só falo demais quando me permitem como vocês podem ver por essa nota final).

Mas é isso gente, bjokinhas no coração de vocês e até mais.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Chasing a Starlight" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.