Justiceira escrita por Clarisse Arantes


Capítulo 3
Parte dois.


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/638344/chapter/3

Quando levantei da cama na manhã seguinte, olhei para o relógio ao lado da cama e percebi que — como sempre —, eu estava atrasada para o trabalho. Levantei-me com rapidez e corri para o banheiro. Vesti as roupas usuais da empresa e guardei meu uniforme de heroína dentro da bolsa.

Ajeitei o cabelo na frente do espelho, parando para notar o intacto colar com uma simples pedra que carregava uma grande responsabilidade. Apertei-o contra minha pele por instinto e respirei fundo. O colar representava algo importante para mim. Porque fora quando ganhara o colar, que percebera na adolescência, que possuía poderes, e que tinha perdido as coisas mais preciosas de minha vida.

Meus pais.

O único inimigo definitivo que eu tinha, havia tirado a vida de meus pais a sangue frio. Em minha frente. Nossa luta durava dois anos já. Ele não se cansava. Já havia o posto na cadeia milhares de vezes e ele sempre saia e voltava e nós sempre lutávamos novamente. A raiva que possuía dele era tamanha que não sabia explicar. Não sei explicar o quanto o odeio, ainda.

Quando achá-lo novamente, quando ele voltar para uma próxima luta, espero que saiba que será sua última.

Meus olhos começaram a ficar vermelhos. Soltei o colar e peguei minha bolsa em cima da cama. Fechei a casa e sai do apartamento, dirigindo-me para o trabalho.

Para minha sorte, o trabalho não era longe, andar um pouco reto e atravessar a rua. Pronto. Estava lá. Porém, como expert em chegar atrasada, eu sempre consigo dar um jeito de ser a última a chegar.

Eu estava atrasada cinco minutos e assim que adentrei o local, corri para o elevador. Antes das portas se fecharem, gritei para a pessoa que estava do lado de dentro para que esperasse. Assim ela o fez.

E percebi que não era ela, mas sim, ele. E ele fora o cara que eu havia salvado na tarde anterior. Meu queixo caiu.

— Tem algo errado? — ele perguntou constrangido.

— Não — respondi rapidamente, ficando tão constrangida quanto. — Não é nada, claro.

Ele assentiu, aliviado.

A porta do elevador, por fim, fechou-se e começamos a subir.

O silêncio no elevador corroeu-me por dentro. Ele quase havia me visto na tarde anterior. E se realmente tivesse? Como iria encará-lo hoje? Ele saberia, além dos traços do meu rosto, meu nome e isso poderia ser perigoso.

Algo dentro de mim está aliviado, porque ele não reconheceu. Porém, algo também queria que ele me reconhecesse e agradecesse novamente com um abraço.

— Tá calor aqui, não? — joguei no ar, abanando-me com minhas próprias mãos.

Ele assentiu, inclinou-se para mim e sorriu.

Eu poderia morrer de tão lindo que ele era.

E estava realmente começando a ficar calor.

A porta do elevador abriu-se, e como um cavalheiro, deixou-me passar primeiro. Minha bolsa nunca parecera tão pesada. Comecei a caminhar em direção do meu escritório.

— Raquel — ouvi a voz de minha diretora soar atrás de mim, me chamando. Virei-me para ela. — Preciso daquela redação publicitária para hoje. Na minha mesa. E hoje mesmo, após a reunião, você fará a cobertura de um evento que está ocorrendo na zona leste de São Paulo.

Assenti.

— É um evento sobre o quê?

Minha diretora rolou os olhos esverdeados e jogou os cabelos para as costas.

— O material já está posto em sua mesa, sugiro que comece a ler por já. Mas não antes daquela redação estar em minha mesa.

— Tudo bem.

Ela sorriu falsa e continuou a caminhar. E fiz o mesmo, na direção contrária. Adentrei o meu escritório e fechei a porta. Liguei a luz e fechei as cortinas. Enquanto os computadores ligavam, chequei a caixa de mensagens do telefone.

Não havia mensagens importantes. Ouvi uma batida em minha porta e logo depois, um rosto estava entre a batente. Sorri e deixei-o entrar.

— O que aconteceu, menino das cartas?

Ele aproximou-se, com um papel em mãos.

— Carta de um fã! — ele falou animado. Sentei-me ereta na cadeira.

— Sério? Repórteres têm fãs?

— Eu acho que sim! — Ele abanou a carta em seu rosto e entregou-me depois. — Depois quero saber de que forma, você, uma musa inspiradora, vem ajudando outras pessoas. — Sorriu e foi embora, fechando a porta e deixando-me sozinha com aquele papel.

Abri a carta. E para minha surpresa havia somente um número de telefone. Eu não ligaria para esse fã. Se bem que eu não estava fazendo nada muito importante no momento. Peguei o telefone fixo da empresa e disquei os números. Claro que ligaria.

Em poucos segundos, comecei a ouvir uma respiração do outro lado da linha.

— Alô?

— Olá, Raquel. — Uma voz grossa disse-me e eu fiquei alerta. Os pelos de meus braços arrepiaram-se por completo.

— Como você descobriu?

— Eu sei das coisas, querida. — Ouvi-o rir. Sua voz estava como quando lutávamos. Modificada. Computadorizada. — Quero que saiba que venho te observando. E quero um reencontro. Tão caloroso quanto o de antes.

Meu sangue estava fervendo. Eu iria matá-lo.

Eu vou matá-lo.

A porta do meu escritório foi aberta no mesmo momento que a ligação cortou. Respirei fundo e girei com a cadeira, para que meu chefe não reparasse em meu rosto avermelhado.

— A reunião foi adiantada. É melhor ir para lá.

Assenti e mexi em uma gaveta cheia de papelada, para disfarçar. Depois de ouvir a porta ser fechada, me virei novamente para o computador. Revisei minha redação mais duas vezes, se houvesse algum tipo de erro, minha diretora me enxeria o saco até dizer chega. Depois, imprimi e deixei o escritório.

No caminho para a sala de reunião, deixei a redação em sua mesa e continuei meu caminho. Não demorei a achar a sala e como era uma reunião de apresentação, não demoraria muito. Então teria que tomar rumo para a zona leste.

Sentei-me na cadeira destinada. Duas garotas pegavam meus dois lados e a minha frente estava um repórter bem competitivo na área de esportes. Ele virou o rosto quando nossos olhares se cruzaram. Bufei baixinho. Como conseguia ser tão ridículo?

Após aguardar cinco minutos, meus chefes e a diretora chegaram à mesa.

— Obrigado pela presença — começou meu chefe mais velho, Bruno. — E sem atrasos — dessa vez ele olhou para mim, corei. — Essa reunião será breve porque não precisamos gastar muito tempo com apresentações. E posteriormente, trataremos da concorrência e o quão importante é termos que ser melhor. Passá-las e estar sempre dois passos à frente.

A diretora tomou à frente, dessa vez.

— Primeiramente, gostaríamos de apresentar a vocês, nosso novo repórter Pedro Beckmann.

Ele levantou-se de sua cadeira e foi então que percebi sua presença na mesa. O rapaz que eu havia salvado na tarde anterior. Era um repórter. Isso explicava um pouco o porquê dele ter tentado tirar minha máscara. Repórteres e suas curiosidades, que nos instigam a fazer coisas impossíveis para sabermos a verdade.

Pedro. Ele estava de terno preto, como um homem de negócios. Talvez porque fosse o seu primeiro dia na empresa, a maioria costumava vestir-se muito bem no começo. Depois as roupas começaram a repetir-se muito. O seu cabelo escuro estava ajeitado para cima, o que lhe dava um ar mais juvenil. Ele aparentava ter vinte e dois a vinte e cinco anos. Não mais, no máximo.

— Obrigado, será um prazer trabalhar com vocês — disse ele, e sentou-se. A diretora sorriu em sua direção. Falsa.

— Bom, temos começando hoje conosco também, Ricardo Abreu.

O próximo levantou-se e disse belas palavras. Porém, não prestei muita atenção porque meus olhos sempre se voltavam para o rapaz de terno. E seus olhos marinhos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

É isso, obrigada!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Justiceira" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.