Justiceira escrita por Clarisse Arantes
Notas iniciais do capítulo
Espero que gostem.
As chaves da casa estavam em cima da mesa do centro. E eu teimava em olhá-las como se algo estivesse errado, mesmo que sabia que nada estava errado. Ou tudo o que olhava tinha a sensação de que estava de alguma forma indireta, errado. Eu tinha que fazer alguma coisa.
Meu uniforme estava jogado no canto inferior da sala. A televisão berrava um seriado qualquer que eu tentava compreender. Isso requeria tempo. E tempo era algo que eu não possuía em minha vida.
Quando me emburrei por não estar fazendo nada, levantei-me do sofá rapidamente e puxei meu uniforme. Corri para o banheiro e me troquei. Quando terminei de vesti-lo, procurei por minha máscara vermelha, ajustando-a em meu rosto, deixando somente minhas partes vitais do rosto amostra. Deixei a casa pela janela e voei para os lados.
No meio de meu caminho, impedi quatro assaltos e um homicídio, levando os caras maus para a prisão, tão cheias quanto o lado de fora. Nosso país precisava urgentemente de uma reforma.
O que mais me chamou atenção no meio de meu caminho, fora um garoto, aparentemente, perdido. Ele virava-se de um lado para o outro. Aflito. Preocupado. Aturdido. Nervoso. Prestes a chorar. Aproximei-me, com calma, para não assustá-lo ainda mais. Ao tocá-lo, mesmo com cautela, ele pulou para o lado e pude notar seu rosto avermelhado e os rastros que as lágrimas haviam deixado.
— Eu quero a minha mãe — ele choramingou. E soluçou alto. Eu assenti e abaixei-me para ficar no seu tamanho.
— Tudo bem — concordei. — Só me conte como ela é, e então poderei ajudá-lo a encontrá-la.
E ele deu-me uma descrição vaga de como sua mãe era. A situação em si, deixava-me até mesmo nervosa por ele.
Segurei em sua mão e juntos, andamos no meio daquele tanto de pessoas, procurando pela mãe do garoto. Meu olhar virava-se para milhares de direções, tentando captar qualquer mulher que se encontrava em uma situação parecida com a do garoto.
Praticamente meia hora de anseio foi preciso para que eu finalmente achasse uma mulher desesperada que se encontrasse no padrão que o garoto descrevera-me. Aproximei-me dela, que olhava para todos os lados — assim como nós. Quando avistou-nos, ela respirou aliviada e abraçou o garoto com força.
— Onde você estava?!
— Eu me perdi — ele choramingou em resposta, voltando a soluçar. Comecei a me afastar dos dois. — Ela me ajudou... — O garoto apontou em minha direção, pegando-me surpresa. Sorri para a mãe.
Ela agarrou minha mão e olhou-me sincera.
— Muito obrigada!
— Por nada.
E eu voei.
Já no céu, consegui observar uma sombra cinza pular de um prédio para o outro. Ele acenou em minha direção. Voei para ele, parando ao seu lado.
— Como anda o dia de domingo? — perguntei-o, curiosa e contendo um riso. — Muito agitado?
— Demais — ele respondeu em sua voz grossa. — Você não imagina o quanto, Justiceira.
Sorri em sua direção. Um pouco abaixo do prédio em que estávamos, ouvi reclamações e ameaças. Alguém correndo rapidamente e o disparo de um tiro. Olhei para o rapaz de uniforme cinza e ele assentiu, confirmando que o barulho de tiro não fora só eu quem ouvira.
— Dois. — Ele caminhou até o beiral. — Dois tiros. Eu pego o da direita, e você pega o da esquerda.
Concordei. Voei em direção do som que ouvira. Em instantes, fiquei um pouco perdida. Tentando lembrar-me do lugar que o tiro viera. Concentrando-me em minha audição aguçada, consegui captar, não muito longe dali, a voz de um homem dizer:
— Se você não sair da porra desse carro agora, serei obrigado a dar o próximo tiro nos seus miolos.
E foi pra lá que corri/voei.
Ao me aproximar do caso, cheguei cautelosamente. Mas não pude ficar esperando por muito tempo. Voei na direção do homem com o revolver e tirei o objeto de suas mãos. Apontando-o para ele.
— Ei — ele gritou — me devolva isso! Você não sabe no que está se metendo!
Abaixei o revolver, ajustando-o em meu uniforme, sem machucar-me.
— Não posso saber qual é a história, ou histórico de seus problemas, mas sei que a violência não é a resposta para conflitos.
— EU NÃO ME IMPORTO! DEVOLVA-ME ISSO!
Agarrei-o pelo braço e juntos nós voamos. Ele ficou desesperado, como o esperado e começou a gritar, pedindo para que o colocasse no chão. Levei-o direto para a delegacia, onde os policiais de confiança, que me conheciam — como Justiceira, claro —, e deixei o sujeito por lá.
Com a maior rapidez com que consegui, voltei para o local para checar se estava tudo bem com o indivíduo que estava com um revolver apontado para a cara.
Ele ainda estava no carro, atônito. Conseguia ouvir seu coração palpitar muito rápido. Aproximei-me e apoiei minhas mãos no capo do carro, chamando sua atenção.
— Está tudo bem? — perguntei-lhe e afastei-me, dando-lhe espaço para sair do carro.
— Sim — respondeu o homem. Ele possuía traços masculinos fortes. E seu rosto lembrava-me o de alguém. Porém não sabia quem. Seus cabelos eram castanho-escuros e os olhos bem claros. Um azul marinho. Entretanto, seu rosto estava com uma coloração um pouco estranha. Ele estava um pouco esverdeado. Um verde bem claro. Talvez por seu nervosismo. — Só estou um pouco confuso, ainda. O que aconteceu... Quem é você?
Afastei-me mais um pouco, sorrindo.
— Pode me chamar de Justiceira. — Dei de ombros. Seu olhar ergueu-se e bateu-se com o meu. Eu o conhecia de algum lugar. Os seus olhos. Eram lindos de memoráveis.
— Justiceira. — Ele assentiu e sorriu grato. — O mundo deve te conhecer, Justiceira.
— Não por enquanto — respondi-o com simplicidade.
Ele aproximou-se.
— Posso dá-la um abraço? Não vejo como posso retribuir com isso. Você me salvou!
— Claro que sim!
Ele aproximou-se ainda mais, então. Seus braços me enlaçaram e senti-me com calor, com o calor que seu corpo transmitia. O toque de sua pele contra a minha fez-me arrepiar de uma forma que somente Ash tinha conseguido fazer antes.
Ele apertou-me um pouco mais forte, como se eu estivesse prestes a fugir. Ao separar do abraço, suas mãos foram parar em meus cabelos e ao afastar-se ele acabou por puxar minha máscara do rosto.
Meu instinto normal fez-me virar a cabeça do lado contrário rapidamente. Não sei se ele conseguiu captar qualquer parte de meu rosto, e fiz o possível para que não.
— Ter um nome de heroína e um uniforme, serve para que as pessoas não te conheçam na vida real. Você não pode me conhecer — disse, um pouco nervosa. — Preciso que me devolva.
Ele tocou em minha mão e colocou a máscara por cima dela.
— Me desculpe, minha curiosidade me instigou a fazer isso — desculpou-se ele e assenti, ainda de costas. Ajeitei minha máscara em meu rosto e me virei para sua direção.
— Espero não te encontrar novamente. — Ele riu.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
É isso, obrigada.