Precisamos Conversar escrita por Rodrigo Caetano


Capítulo 7
Interlúdio - Dan


Notas iniciais do capítulo

Gente, agora chegou a vez de apresentar vocês ao Dan! Ele é um cara legal e, sinceramente, de todos os personagens que eu criei, ele é um dos que eu mais gostaria de conhecer pessoalmente...heheheheh

Espero que curtam! Boa leitura!



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Cara, a Sampa é uma das melhores pessoas que eu conheci na vida, sério. Por isso que quando ela me pediu para esconder do meu melhor amigo que ela estava voltando por Rio, eu topei sem pestanejar, e ainda lhe dei emprego e abrigo.

Eu conheci a Sampa quando ela tinha seus vinte anos. Talvez dezenove, ou vinte um. Ela era uma estagiária de Direito e namorada do meu melhor amigo. A menina trabalhava que nem uma condenada, tenho que te dizer. Cara, ela matava aula para chegar no escritório mais cedo, ficava lá até tarde da noite, e levava trabalho para fazer em casa. Como ela ainda namorava o David eu nunca vou entender.

O ponto é que quando ela ficou sabendo que eu iria abrir uma empresa para produzir os talentos que eu encontro na rua, ela quase pulou de felicidade. Disse que ia me ajudar a fazer tudo direitinho, porque ela entendia dessas coisas. Eu recusei a ajuda, óbvio. A menina mal tinha tempo para respirar, que dirá me ajudar. Mas ela era insistente e fez com que o David me perturbasse.

Acabei cedendo. Ela disse que ia tirar as tardes de sábado para ir até a minha casa e me ajudar com os contratos e com as questões legais. Depois de duas semanas eu já me pegava ligando para ela e pedindo conselho. Na boa, a menina sabia muito do que ela fazia, e estava sempre com um sorriso na cara.

Quando eu comecei a ganhar uma graninha, ofereci para ela uma ajuda de custo, mas a Sampa recusou. A família dela tinha dinheiro e ela ganhava bem no escritório lá. Disse que não precisava. Aí me mandou contratar uma secretária e eu obedeci. De lá para cá foi assim. Eu aluguei uma sala comercial quando ela falou para eu alugar, e mandei minhas contas para o contador que ela indicou. Quando eu vi, ela já estava fazendo um pouco de tudo, além de cuidar dos contratos.

— Faz o seu trabalho, Dan – ela dizia. – Vai para rua, conversa com seus contatos, vai achar gente que você julgue interessante e que possa vender por aí. É isso que é a sua empresa. Deixa que eu cuido do resto.

Eu nunca vou entender como ela cuidava de tudo isso apenas nas tardes de sábado, mas o fato é que ela continuava a se recusar a receber pelo trabalho. Eu tinha certeza que o David ajudava quando podia – e o tanto que a cabeça de arquiteto dele permitia. Como ele tinha parte da empresa, uma vez que me ajudou com a grana para abrir, eu me sentia menos culpado por abusar da garota. Era uma coisa dele também, do namorado dela.

Quando eu comentei isso com ela, quando ela voltou de São Paulo, ela ficou uma fera. Disse que sim, o David até ajudava um pouco, mas não ligava. Ele realmente só tinha entrado com o dinheiro. Até entendia um pouco mais do que eu e ela sobre o que fazer com o dinheiro, então ela dizia que, muitas vezes, se aproveitava. Mas ele só participava mesmo quando ela insistia um pouco. Parando para pensar, o que ela falava lá atrás até que faz algum sentido com o que veio a acontecer depois.

— Eu fazia aquilo tudo para te ajudar, Dan, mas porque eu gostava também. Lá no escritório eu ajudava várias empresas, era quase uma babá delas, mas não as conhecia direito. Não ligava muito para o trabalho delas sabe? Metade delas eram empresas criadas só para fazerem parte de outras empresas.

Quando a Sampa foi embora, eu fiquei triste, mas aceitei numa boa. Ela precisava mesmo cuidar da própria vida, fazer um pé de meia. Por isso que eu demorei a entender quando ela resolveu voltar, pouco mais de um ano depois, pedindo para ganhar pouco dinheiro. Antes de ela chegar eu achei que era por causa do David, mas tomei um tapa quando eu disse isso. Literalmente.

— Dan, o mundo inteiro está achando isso, mas você não pode, está entendendo? Você é o único que pode falar que me entende um pouquinho, e, por isso, é o único que não pode pensar uma merda dessa, ok? Chega a ser um insulto!

Ela me explicou que não existia nada no mundo mais reconfortante do que ver o seu trabalho e o seu suor dando fruto. Ver o cara de rua ganhando dinheiro com o contrato que ela escreveu. Ver o show acontecendo por que ela ajudou a montar.

Mais tarde, ela disse que aquilo tinha sido uma das primeiras coisas que ela entendeu sobre si mesma, ainda quando era estagiária e trabalhava comigo de graça. Que, para ela, não bastava escrever um contrato, ela queria conhecer o cara que estava assinando. Queria ver para que aquele contrato ia servir. Queria fazer algo que gerasse um resultado com que ela pudesse se relacionar. Ela só tinha demorado um pouco para se aceitar.

Isso eu conseguia compreender. É quase uma alma de artista, e eu vivo justamente disso. Da vontade de criar alguma coisa e se sentir responsável, se sentir parte. Ver aquilo dar resultado e se sentir orgulhoso. Ou ver tudo dar errado e compartilhar da dor.

Tem muita gente que se contenta em ser mais uma engrenagem na máquina, que gira quando tem que girar, enquanto almeja evoluir para uma engrenagem maior. Ela queria construir algo com as próprias mãos. Queria sentir o resultado do seu trabalho. Mesmo que o resultado da manufatura fosse bem menos expressivo que o do produto industrializado. No fim do dia, valia a pena criar aquele laço pessoal com o seu trabalho. Ela não estava disposta a viver sem aquilo.

Ela era um pouco como eu, nesse caso. Aventureira. Tinha a cara da Adventure Inc.

Quando ela me disse isso, eu não pensei duas vezes. Ofereci uma posição de sócia, para dividir tudo comigo. A garota merecia, mas, para variar, negou. Disse que eu era a empresa e não ela. Disse que ia ser mais uma trabalhadora, que iria ganhar pouco e se virar. Falou umas coisas de lei lá, que não podia ser sócia só trabalhando. Eu não entendi nada.

Mas confesso que não acreditei quando ela disse que um dia iria juntar dinheiro o suficiente para comprar a parte do David da empresa. Eu sabia o quanto ela ganhava e quanto o David tinha colocado para abrir. Não era pouca coisa, bem ao contrário do salário da Sampa. Ela ia ter que fazer milagre.

E não é que ela comprou mesmo? E sem desconto. Levou uns anos, e eu nunca entendi direito como, mas ela cumpriu a promessa. Danada, essa menina...


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Notas finais do capítulo

E ai? O que acharam desse nosso produtor carioca? A Samanta ta bem de amigos, né? hehehehe

Espero vocês nos comentários! xD