Precisamos Conversar escrita por Rodrigo Caetano


Capítulo 6
3.


Notas iniciais do capítulo

Hey! Mais um capítulo saindo fresquinho! xD

Este é o penultimo domingo de Precisamos Conversar! Semana que vem eu postarei o ultimo capítulo, o ultimo interlúdio E um epilogo xD

Espero que curtam esse capítulo aqui! Ele tem um foco maior nos dialogos, então o ritmo deve ser rápido. Mas prestem atenção no que é dito ;D

Espero que curtam!
Boa leitura!



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Samanta tentava não tremer de ansiedade enquanto ouvia as quatro chamadas da ligação, antes que alguém atendesse do outro lado da linha.

—Hey, eu sei que você está com o David então não diz meu nome, por favor.

—Claro... É você mesmo...? O que houve? Está tudo bem?

— Está sim... eu acho que, finalmente, está tudo bem. E você, como vai?

—Tudo tranquilo. Você ainda não me disse o que houve. Por que está ligando agora, do nada? Tem um ano que eu não ouço de você. Acho que mais, até.

Samanta sentiu o coração apertar, em parte por culpa, mas principalmente por saudade.

— Eu sei, Dan. Desculpa. Essa vida aqui em São Paulo é corrida. Não tenho o tempo que eu gostaria de ter...

— Eu acredito. Mas você sempre foi boa em fazer malabarismo com o tempo corrido, se eu me lembro bem.

Samanta riu, sentindo-se reconfortada por ouvir uma voz familiar no meio do turbilhão que rodava na sua cabeça. E de saber que, apesar do tempo, nada havia mudado. Não se sentia confusa, apenas acha que tudo estava acontecendo muito, muito rápido. Podia ouvir o próprio coração batendo, com a mesma clareza que escutava a voz de Daniel do outro lado da linha

— Sabe, eu ia te ligar ontem à noite...

— E por que não ligou?

— Eu tentei, mas não importa. Era de madrugada, na verdade. Você deveria agradecer por eu não ter conseguido.

— Ótimo, então eu deveria me sentir grato por você estar me acordando às sete e meia da manhã, em vez de às três...

Ela riu novamente, dessa vez mais alto e por mais tempo. E quando a risada acabou, o sorriso permaneceu no rosto. Sentia saudades daquilo. Daquele sentimento de leveza. Sentia saudades de Dan. Ele era um bom amigo.

— Você ainda não me disse o que houve, Sampa...

— Shh! Não diz o meu nome! O David vai ouvir!

— Querida, eu ainda estou na cama, são sete e meia da manhã. Não apenas seu ex-namorado ainda está dormindo, como ele não está dormindo do meu lado. Não estou com disposição para ser chamado de veado a essa hora. Você quer, por favor, me dizer por que me acordou?

—Na verdade, ainda não – Samanta sorriu, levando um dedo a boca e fingindo morder a unha, se divertindo ao imaginar o amigo carioca rolar os olhos e bufar. Ele sempre reagia assim quando ela começava a provocá-lo. Ela conseguia até ouvir o som dele bufando, no outro lado da linha. — Como está a Adventure?

— Adventure Inc. está uma maravilha – ele disse. Queria dizer com um grande tom de orgulho, mas o sono lhe impedia. Quase bocejou.

— Adventure Inc. Limitada... Esse nome é horrível, sabia?

— Sabia. Você me disse isso dez vezes antes de registrar a empresa para mim...

— E mais umas cem vezes depois... – ela completou.

— Exatamente... Nós estamos muito bem por lá. Começamos a pegar uns musicais que estavam aí em São Paulo e trazê-los para o Rio. E achamos uns caras em uma companhia de teatro que são espetaculares.

— Jura?! Que legal, meu! De verdade, parabéns! E quem está cuidando dos contratos dessa galera toda? Não vai me dizer que você arrumou uma estagiariazinha para me substituir, né?

—Não, Sampa. Você sabe que é insubstituível... – Ela podia imaginá-lo girando novamente os olhos. Seu coração continuava a mil por hora. Não acreditava que estava fazendo mesmo aquilo. Conteve uma risada de nervosismo e ansiedade.

— Então, se não tem ninguém no meu lugar, quem cuida?

— Nós estamos desembolsando um pouquinho para um escritório de advocacia pequeno. Mas os trabalhos internos sou eu mesmo que tento fazer, olhando um pouco do que você fazia para gente enquanto estava aqui. Mas, se tudo der certo e esses musicais vingarem, eu estou pensando em contratar alguém. Esse trabalho não é para mim...

Samanta respirou fundo. Aquilo era perfeito. Agora ela só precisava de coragem. Muita coragem. Precisou respirar fundo novamente, sentindo o amigo inquieto do outro lado.

— Então, Dan. Eu tenho uma proposta para fazer para você. — Ela nem percebeu que estava roendo as unhas. Roendo mesmo. Sem fingir, dessa vez.

—Sampa, eu já disse que não tenho dinheiro para pagar o escritório do seu pai. Vocês são caros...

— Eu não estou falando do escritório do meu pai. Estou falando de mim. Que tal se eu trabalhar para você?

— Sampa, qual a parte de eu não tenho dinheiro para pagar o escritório do seu pai você não entendeu? Suas horas são caras, menina. Eu lembro muito bem de você se gabando disso quando saiu daqui.

— Pois é, mas eu não quero receber por hora, Dan...

— Ainda assim, Sampa. Nem com desconto. Nem com preço fixo... Não dá... – ele a interrompeu, parecendo ficar aborrecido. O sorriso começou a esmorecer no rosto de Samanta, mas ela respirou fundo. Sabia que ele não estava entendendo o que ela estava tentando dizer. Era só explicar direito.

—Dan, me deixa falar, por favor.

Ela sentiu a resistência na voz do amigo, mas ele concordou e a deixou se explicar.

— O que você diria se eu mandasse você dispensar esse escritoriozinho pequeno, não dar um centavo para o meu pai, e contratar a sua ex-estagiária, atualmente desempregada?

— Desempregada?! Como assim?! O que aconteceu?!

— Bom, nada ainda – disse Samanta, voltando a sorrir. – Eu apenas mandei um e-mail hoje falando que estava doente. Mas não quero voltar para o escritório, Dan. Nunca mais. Até as coisas que eu deixei lá eu não quero.

— Você está falando sério, Sampa?! Não acredito... Você tem certeza do que você está fazendo?

Ela precisou de alguns segundos para responder. Sua cabeça não conseguia acreditar no que ela estava prestes a dizer. E ela nunca se sentiu mais sincera na vida.

— Absoluta. Tenho a mais absoluta certeza. Isso não está em questão. A questão é se você vai me ouvir e fazer o que eu falei para você fazer...

— Sampa, eu não posso te pagar o que você ganha. Você sabe disso. Está maluca?

— Dan, eu já sei. E você vai me pagar o que eu te disser para você pagar. Convenhamos, você sabe que em uma semana aí eu vou saber o quanto você pode e deve gastar comigo, né?

Daniel riu do outro lado da linha.

— Não sei se eu estou tentado a ter você aqui, mandando em mim e na minha empresa de novo...

—Mas Dan, isso foi o que eu estudei para fazer. Eu sei como as coisas devem ser feitas. Você não...

Ele riu ainda mais alto do outro lado da linha. A garota que ele conheceu na faculdade podia ter crescido um pouco, mas continuava com a mesma língua de sempre.

— Quer dizer então que você pretende voltar para o Rio e para a Adventure? Eu juro que não esperava por essa...

— É, eu juro que eu também não. E aí, o que diz?

— Cara, se você quiser vir, vem. Só isso que eu posso dizer... Eu acho que é loucura, mas não vou bater as portas na sua cara. Se você quer mesmo isso, o resto a gente se vira por aqui.

Samanta abriu o maior sorriso que abrira no último ano. Ano? Não, em toda sua vida adulta. Não podia acreditar. Há muito tempo que ela não sentia aquela sensação de alivio, de pertencimento. E, ao mesmo tempo, sentia ainda a adrenalina pulsando. Nem sabia que podia sentir adrenalina sentada no chão de casa, falando ao telefone.

—Ótimo! Te ligo quando chegar aí! Nem acredito que estou indo para casa...

—O David nem me falou nada... Filho da mãe...

— Ele não sabe.

— Ele não sabe? Como assim?

— Não sabe, ué. Eu não falei com ele. E não vou falar agora, antes que você tente alguma coisa...

— Então você não vai voltar com ele? Não acredito que você saiu daquele jeito, vai voltar e não vai falar com ele. Ele está sempre dizendo que queria falar com você, sabia?

Ela respirou fundo. Tinha muita certeza de tudo o que estava fazendo, menos em relação a David. Há um dia Samanta tinha a mais absoluta certeza de tê-lo esquecido. Há algumas horas, foram as palavras e as ideias dele que serviram de estopim para a maior decisão que ela tomou na vida. E ela tinha a mais absoluta certeza de que, apesar de tudo isso, ele não era o motivo por trás de suas escolhas. Ela não queria falar com ele. Ela não precisava falar com ele. Ainda não.

— Pois é, eu sabia...

— Como?

— Não importa. – Samanta riu. – Não conta nada para ele, ok? Por enquanto, não.

— Tudo bem – respondeu Dan, concordando. Ela podia imaginá-lo dando de ombros, sem entender. – Mas por quê?

— Porque ele não tem nada a ver com isso, Dan. Não estou fazendo isso para ficar perto dele...

— Ok...

Daniel respirou fundo, tentando absorver aquela onda de novidades e informações inesperadas, antes mesmo que sua cabeça estivesse devidamente acordada.

—Onde você vai morar? – ele perguntou.

—Bem... eu iria para o Rio quer você topasse me contratar ou não. Não foi só para falar de trabalho que eu te liguei, sabe? – Samanta mudou o tom de voz, como se preparando o terreno para dizer o que realmente queria. Dan já conhecia a menina. Ele já sabia que não ia gostar do que vinha a seguir.

—Ai meu Deus... por que você faz isso comigo, garota?

*-*-*-*-*-*-*-*-*

— Você está indo para o Rio? Meu, o que deu em você?!

Samanta olhou surpresa para Mandy, que entrara no seu apartamento sem convite. Ela precisaria ter uma conversa com Maurice antes de ir embora, para pedir explicações. Ou não. Talvez ela não precisasse. Sentiu-se bem ao constatar isso.

— Quando foi mesmo que eu te dei uma chave do meu apartamento?

— Quando eu te trouxe bêbada para casa, no meio da madrugada, mês passado...

— Ah, sim... verdade – Samanta corou, mas não disse mais nada, e continuou a arrumar as malas.

— Meu, isso é por causa do que eu fiz ontem? Olha, me desculpa, ok? Mas você está exagerando, não acha?

— Não tem nada a ver com o que aconteceu ontem, Mandy.

Ela mentiu, mas, na hora, não sentiu como se fosse mentira. Tinha um pouco a ver, mas muito pouco. Era mais o tipo de atitude da amiga do que o acontecido. Na verdade, em situações normais, Samanta até consideraria pedir desculpas pela maneira como conduziu a situação. Mas ela não sentia estar errada, e tinha mais com o que se preocupar.

— Então o que é? Pelo amor de Deus, me ajuda a te entender, porque desde que você voltou do Rio, isso é praticamente impossível. E agora lá vai você para lá de novo, do nada...

Sampa riu, sem saber exatamente por quê. Ela entendia a amiga, até se sentia culpada por fazer com que ela se sentisse daquela maneira. Mas não se sentia mal. Nem um pouquinho.

—Olha, eu sei que é difícil. Mas, meu, acho que você nunca realmente me entendeu, sabe?

—Como assim?! Pirou?! Meu, eu sou sua melhor amiga desde criança, ok? Não se esqueça disso. Antes de você ir queimar a cabeça nas praias em vez de trabalhar, eu entendia cada pedacinho de você e você sabe disso.

— Pois é. Eu acho que não... Sabe, eu achava que sim naquela época, mas isso era porque nem eu mesma me entendia.

— E agora você se entende perfeitamente? Me explica então, por favor.

Samanta respirou fundo e decidiu que Amanda merecia mesmo uma explicação. A noite anterior começou a voltar a sua mente com mais detalhes, junto a uma mistura de irritação e culpa, mas Mandy vinha sido uma amiga leal há muitos anos, e isso era mais do que muita gente podia se gabar de ter.

— Olha, eu não diria que eu me entendo por inteira. Mas ontem eu entendi algo realmente importante.

— A-há! Então isso tem a ver com ontem!

— Sim, claro, mas não foi pelo que você fez. Eu estava pensando ontem, sem conseguir dormir, e entendi algumas coisas. Não sei explicar muito bem como.

— Meu, você fica por aí sem conseguir dormir, pensando besteira. Estaria muito melhor se tivesse saído para beber comigo e com o João. Sério, meu. Essas suas crises todas poderiam ser resolvidas com uma boa noite de sexo.

Samanta não se conteve em rir.

— Olha, a questão é que já está tudo resolvido, ok? Eu já marquei até um caminhão de mudança. Avisei no escritório que não ia mais aparecer essa semana e mandei um e-mail para o meu pai avisando da minha decisão.

— Ele levou numa boa?

— Não sei, ainda não atendi a ligação dele. Mas já disse que amanhã mesmo ele vai receber um documento explicando tudo o que eu estava fazendo no escritório, e várias das minhas recomendações. Tenho certeza de que a Vivi e a Joana vão cuidar muito bem de tudo por lá. Eu, por minha vez, tenho que cuidar da minha vida.

— Eu ainda não entendi como que largar uma vida perfeita, um emprego ótimo, um super apartamento e ir de mochila nas costas para o Rio de Janeiro é cuidar bem da sua vida. Onde você vai morar por lá? Como vai ganhar dinheiro? Duvido que o seu pai aceite pagar depois disso tudo.

Ela tentava fingir que não estava jogando todos os planos que seus pais tinham para ela pelo ralo. Na verdade, ela até se sentiria melhor se eles houvessem imposto aqueles planos, mas a verdade é que ela sempre aceitou, e, mesmo quando não se sentia cem por cento confortável com eles, não se permitiu expressar o que pensava. Ela deu a ideia de que os planos deles eram dela também, e seria culpada, no mínimo, pelo choque com que eles receberiam a notícia.

— E eu não aceitaria que ele pagasse. Não se preocupe comigo. Já arrumei um emprego por lá e vou ficar na casa do meu chefe até encontrar um apartamento pequeno para alugar. Já falei com ele e deixei tudo combinado. Essa vida aqui é ótima, eu sei. Provavelmente é muito mais fácil do que a vida que eu vou ter por lá. Mas isso não significa que seja melhor, entende? Essa vida aqui não é minha...

— Não, Sam. Eu não entendi.

— Por favor, não me chama de Sam.

— Como assim?! Meu, você sempre gostou desse apelido!

— Talvez eu tenha achado isso, mas há um tempo ele vem me incomodando...

Mandy riu, incrédula. Nada mais fazia sentido. Ela não reconhecia a amiga. Não sabia mais com quem estava falando.

— Sabe que eu sempre te falei que Sam era nome de homem, não é? Eu sempre fui contra o apelido. Você que gostava de usar.

— E eu sempre te falei que não era de homem e mantenho a minha opinião – disse Samanta, pensativa, enquanto tentava encontrar um jeito de se explicar. — Mas não é isso. Sam é uma abreviatura do meu nome. Eu cansei. Não posso ser abreviada.

Dessa vez Amanda gargalhou alto. Não acreditava no que estava ouvindo. Tinha a mais absoluta certeza de que sua amiga não estava batendo bem. Olhou em volta, procurando por garrafas vazias, ou então algum sinal de que aquilo era algum tipo de sonho ou pegadinha.

— Meu, você andou bebendo? Não é possível...

Foi a vez de Samanta compartilhar das risadas da amiga. Ela viu nos olhos da outra quando a compreensão de que não havia nada a fazer para impedir a mudança a atingiu. Viu as lágrimas surgirem e serem controladas nos olhos de Amanda, ao mesmo tempo que sentia um aperto no coração. Ela sempre odiou despedidas. Mas dessa vez, teria de ter coragem para explicar os motivos de suas decisões. Não se permitiria cometer o mesmo erro duas vezes.

— Desculpe, meu. De verdade. Eu sei que isso não é fácil para você.

— Não é questão de ser fácil. É que não dá nem para entender, Sam. Ops, desculpe. Samanta...

— Meu, é uma coisa que eu preciso fazer. Simples assim.

— É por causa daquele cara lá?

— Não. Não é por causa de nenhum cara.

— Você não é do tipo que faz doideira por um cara, eu sei – falou Amanda, tentando não permitir que a voz quebrasse em choro. – Mas se fosse por ele, seria mais fácil de entender.

— Mas não é – respondeu Samanta, convicta. Ela se aproximou e abraçou a amiga, fechando os olhos e sentindo ela começar a chorar. – Se eu tivesse fazendo isso por ele, não tinha tanta certeza de que iria dar certo. Ele nunca foi suficiente para me fazer largar isso tudo. Por isso que eu voltei.

— Então o que é suficiente, Samanta? É isso que não está fazendo sentido para mim. Se nem ele tem essa força toda, quem tem?

— Ora, Mandy, eu mesma. Quem mais?

*-*-*-*-*-*-*-*

Quando sábado chegou, o apartamento de Samanta já estava vazio. Seu pai havia jurado que nunca mais lhe daria um centavo, e estava com raiva demais para dizer qualquer coisa que valesse a pena ouvir. Ela o mandara para casa na sexta à noite e sabia que iria demorar algum tempo até que as coisas entre eles se acalmassem. Voltar ao normal, contudo, nunca mais. Tudo bem por ela. Não estava muito satisfeita com o normal.

Samanta aceitava aquilo. Na verdade, achava injusto esperar dele outra coisa. Ela conhecia seu pai, sabia com que olhos ele via o mundo, e não tinha a menor pretensão de obrigá-lo a mudar de ideia. Ele precisava ficar enfurecido com ela, se quisesse manter a sanidade, e ela não negava sua parcela de culpa naquela complicação toda. Aquele sempre fora o preço que seria necessário pagar, caso ela largasse tudo que ele havia lhe dado, e que ela havia aceitado de bom grado.

Não seria fácil, e tem coisas que mesmo pais e filhos precisam digerir separados, aprendendo a lidar cada um com os seus problemas. Afinal, pais e filhos não são nada além de pessoas normais que se amam. E isso, por si só, já gera problemas o suficiente.

Já a mãe, por sua vez, queria ficar com ela até o último momento em São Paulo. Compartilhava da visão do marido e achava que a filha estava fazendo uma grande besteira, mas queria ficar ali, ao seu lado, repetindo aquilo no seu ouvido até quando pudesse. Achava que se continuasse tentando lembrar a filha de todas as conversas que tiveram sobre o futuro, todos os planos que fizeram juntas, ela se lembraria. Não conseguia aceitar que a filha se lembrasse e ainda assim estivesse fazendo o que estava fazendo.

Era irritante, mas era coisa de mãe. Tem alguma coisa nelas que as impede de desistir. Não porque amam mais os filhos do que os pais. Apenas porque são incapazes de perder as esperanças.

Samanta é quem não queria sua mãe por perto. Ela sabia que o pai precisaria mais da esposa do que ela de sua mãe, e estava cansada das inúteis tentativas da mulher em dissuadi-la a voltar a ser quem ela sempre achou que era. Ela amava a mãe e não queria perder a paciência, e o único jeito de fazer isso era mandá-la para casa junto com o pai.

Os móveis já estavam em um caminhão a caminho do Rio. Iriam ficar em um depósito que uma família de uma antiga amiga de faculdade tinha, na periferia, até que ela encontrasse um apartamento. Depois, ela pegaria o que coubesse na sua nova casa, e venderia o resto para pagar o depósito. Os móveis eram caros, e, se tudo desse certo, sobraria alguma coisa para ela. O dinheiro iria lhe cair bem.

Parada na soleira da porta, ela se virou mais uma vez para olhar o apartamento vazio. Quase não conseguia reconhecê-lo. De algum modo, ela o achou melhor assim. Antes vazio do que preenchido com coisas que não lhe cabiam. Agora, sem nada ali, alguém poderia vir e pintar uma nova cara no lugar. Dar-lhe um pouco de autenticidade.

Olhou para a janela onde esteve parada alguns dias atrás, olhando para o céu e se lembrou de Kiwi. Sua gaiola ainda estava pendurada ali, vazia, de portas abertas. Por algum motivo, a única coisa que ela estava deixando para trás.

Ela sorriu e saiu sem fechar a porta.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Alguém se identificou com a louca que deu na Samanta? ahahahhaha

Espero vocês nos comentários!



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