Precisamos Conversar escrita por Rodrigo Caetano


Capítulo 3
Interlúdio - Mandy


Notas iniciais do capítulo

Galera, como eu falei, depois de todo capítulo teremos um interlúdio. Esse é o primeiro. Espero que curtam!

Boa leitura =)



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Para deixar uma coisa bem clara para vocês, eu adoro o meu nome, ok? Nada de apelidos. Amanda está ótimo para mim.

A Sam é a única pessoa que eu deixo me chamar de Mandy. Ela é como família, sabe? Eu odeio esse apelido, mas eu deixo ela usar, principalmente porque ela nunca pediu permissão. Mais do que isso, ela nunca nem sequer ligou para minhas tentativas de negar a permissão que ela nunca pediu. Ela me chamaria de Mandy de qualquer maneira. Se eu não gostasse, não precisava ser amiga dela. O problema é que eu precisava, então aceitei o apelido.

Eu nunca entendi direito a Sam. Ela gosta que as pessoas a chamem por um apelido que, em inglês, é um nome de homem. Ela diz que é unissex no estrangeiro, mas eu sei que isso é papo. Eu ficaria maluca. Vai entender...

Depois que ela voltou do Rio, então, é impossível mesmo entendê-la. Veja o passarinho, por exemplo. Ela o chamou de Kiwi! O nome de uma fruta! Ela disse lá que o nome era por causa do passarinho da Nova Zelândia, o lugar que ela mais curtia no mundo e tudo o mais, mas, meu, o nome do passarinho é o mesmo de uma fruta. Da primeira vez que eu ouvi, perguntei se ela pretendia comê-lo. Da segunda vez, passei a chamar o passarinho dela de gay. Nada contra, claro, longe de mim. É só para irritar ela mesmo. Isso, pelo menos, eu ainda sei fazer.

Nós costumávamos saber tudo uma da outra quando nos formamos no colegial, sabe? Era incrível. Sempre passávamos a semana do saco cheio juntas, vinte e quatro horas por dia, sem parar. Namorávamos e terminávamos juntas, e normalmente tomávamos esporros dos nossos país ao mesmo tempo, pelos mesmos motivos. Mas ela voltou diferente daquela cidade onde ninguém trabalha.

Na verdade, acho que é isso. Aquela cidade onde ninguém trabalha a afetou. Apesar de tudo, a Sam sempre foi uma menina muito ligada ao trabalho. O pai dela sempre fez questão que fosse assim, e, à medida que ela crescia, mais parecia concordar com ele. Foi ela que me forçou a passar uma semana sendo caixa de uma cafeteria durante o verão — para ganhar experiência e algum dinheiro, ela disse. Eu pedi demissão na primeira semana, mas fazia questão de ser cliente da cafeteria no intervalo de tempo em que ela tinha de trabalhar.

Nós eramos inseparáveis. Acho que isso não era muito normal. Quando tínhamos uns quatorze anos, ninguém falava nada, mas quando isso continuou até o final do colegial, alguns já consideravam um problema. E daí, meu? Foda-se...

Mas acho que eu fui um dos motivos para o pai dela achar uma boa ideia ela não ficar em São Paulo durante a faculdade. Lembro de ter ficado muito tempo remoendo isso quando ela me deu a notícia da viagem.

O ponto é que depois que ela voltou do Rio essa proximidade toda já não existia mais. Obviamente porque eu não trabalho no mesmo ramo que ela, mas também porque ela não parece mais gostar das coisas que nos mantinham juntas. Ela ficou presa à moda da advocacia, enquanto eu estudo todas as outras modas, para tentar ganhar a vida com isso. É um pouco frustrante, devo dizer.

E isso vale até em relação aos meninos. Ela se recusa a me contar muito sobre como terminou as coisas com o David, e sempre muda de assunto quando eu tento descobrir. E parece não ligar mais para o João, o gostoso que ela pegava no colégio. Pelo que eu me lembre, ela era gamada nele, mesmo ele não tratando ela tão bem assim. Já hoje em dia, nada. Não sei, é estranho...

Mas eu não desisto. Uma melhor amiga não desiste da outra, e, querendo ela ou não, nós sempre seremos melhores amigas. Ela tem que entender isso e, quanto mais tempo ela passa em São Paulo, mais ela parece entender. Sei lá, às vezes eu acho que ela está voltando, gradativamente, a ser aquela pessoa que era antes de se mudar e ir fazer faculdade em outro estado. Pouco a pouco, ela vai deixando a Samanta do Rio para trás. Só acho que ela não está gostando muito desse suposto retrocesso. Por mais que me doa, acho que ela não gosta mais da pessoa que ela era quando morava aqui, pelo menos não do mesmo jeito.

Sei lá, meu, talvez ela nunca tenha gostado muito.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Semana que vem tem mais!

Enquanto isso, espero todo mundo nos comentários! xD



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