O Espelho do Tempo escrita por Beatriz Delfino


Capítulo 15
Em busca do acaso ou do destino




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Durante a noite, Ellie acordou diversas vezes devido às dores que ela sentia pois, mesmo que pequenos, seus ferimentos causavam grande desconforto.

Desistindo de tentar dormir, a garota decidiu ir ao convés do navio onde encontrou Edward sentado em um barril observando o amanhecer.

–Não está muito frio para ficar aqui fora?

O jovem capitão pareceu repreendido, mas tentou não demonstrar sua surpresa.

–Pensei que feridos não pudessem levantar.

Edward abaixou os olhos e os fixou no mar novamente. Ellie percebeu um ar de desânimo do rapaz e querendo ajudá-lo, sentou-se a seu lado em cima de um caixote.

–Ed... O que houve?

O pirata levantou o olhar do mar e o fixou no horizonte. A leve brisa que sempre revigorava o espírito aventureiro do rapaz soprou novamente, porém, desta vez Edward continuava sério e desanimado.

Ele soltou um leve sorriso, porém sem qualquer sinal de humor.

–Não é interessante como a vida nos prega peças?Quero dizer... Todos têm um motivo para fazer algo, certo? Eu tive meus motivos para virar pirata e o Thomas teve os dele para virar um cientista, isto é o que chamam destino?

–E o que isso tem a ver com a vida?

Edward desviou os olhos do mar e os fixou nos de Elizabeth por alguns breves segundos antes de retomar sua atenção na paisagem.

–Por que eu não tive a chance de Thomas? De poder escolher um futuro melhor para mim?Quando éramos pequenos, morávamos em um orfanato, prometemos que ficaríamos juntos sendo melhores amigos para sempre, mas sempre nos separavam quando eu era adotado, por algum motivo as pessoas nunca escolhiam o Thomas quando iam nos adotar.

Ellie tentava se aproximar de Edward ou dizer alguma coisa, mas ela não sabia o que fazer ou como agir.

–Eu sempre fugia das casas que era adotado simplesmente para não abandonar o Thomas, eu me sentia como um irmão mais velho. Até que um dia, um senhor veio e levou Thomas embora, eu fui visitá-lo algumas vezes na nova casa mas não era mais como antes... Ele não era mais, minha família... E hoje, depois de ter arrumado as coisas eu quase perdi a pessoas mais importante pra mim, de novo.

–Thomas não correu perigo hoje,Edward. Ele luta bem, você não deve se preocupar.

Ellie sorriu gentilmente para Ed e desta vez, ele não ignorou a garota, em vez disto ele retribuiu o sorriso mas de forma mais serena.

–Não estou falando do Thomas especificamente, existem outras pessoas neste navio, que são mais importantes para mim, além dele. Posso até dizer que nossa "família" aumentou.

O pirata agia normalmente, as palavras que ele acabara de proferir não abalaram em nada sua confiança, diferente da garota que simplesmente corou, porém ela não desviou o olhar, observando cada traço de Edward, Elizabeth segurou a mão do rapaz firmemente deixando-o sério.

–Eu acho que nada na nossa vida acontece por acaso Edward, não é um acaso eu estar aqui, não foi o acaso que me trouxe até você... O acaso só nos fez ficar mais próximos.

A brisa soprava cada vez mais forte, harmonizando o ambiente. O sol começava a surgir no horizonte. As águas batiam calmamente no casco do navio.

E aquela cena permaneceu por alguns segundos.Uma troca de olhares.Um jovem pirata. Uma jovem garota. Dois corações acelerados.

Edward pressionou a mão de Ellie contra seu peito até que a menina fosse capaz de sentir os batimentos do rapaz.

–Sente isto Elizabeth? Isto é a prova de que não existe o acaso, você é a prova de que não existe acaso.

Os dois ficaram mais próximos.

–Então como você chama isto, Edward?

Mesmo que parecesse confiante, o ar faltava aos pulmões de Elizabeth. Ela se aproximou ainda mais do pirata sendo capaz de sentir até mesmo sua respiração. A diferença de tamanho dos dois era tanta, que Ed teve de se curvar para poder ficar frente a frente com Ellie.

–Eu chamaria de destino, princesa de calças.

Edward segurou o queixo de Elizabeth com sua mão direita, acariciando-lhe gentilmente com o polegar.

–Eu com certeza, chamaria isto de destino.

–Pessoal? O que exatamente estão fazendo?

Ellie e Ed viraram-se e encontraram Thomas parado estaticamente em frente aos dois.

O pirata ficou com um ar totalmente desolado.

–Pelo amor dos deuses Thomas, o que estas fazendo aqui? Justo agora!

–Como assim o que estou fazendo aqui?! Eu moro aqui agora, Edwad! Que raio de pergunta é essa? E por que vocês estão tão próximos?

Thomas continuou confuso por alguns segundos até que quando certo ar de lucidez atingiu-lhe o rosto ele corou.

–Não creio... Vocês estavam...

Quando Elizabeth percebeu o que o jovem cientista iria dizer foi sua vez de corar.

–O que?! Claro que não Thomas, nós não estávamos... Digo... Nós não íamos...

–Nos beijar? -Disse Edward com um tom sarcástico, ele parecia ser o único que estava se divertindo com a situação "constrangedora"- Se não íamos nos beijar, diga-me, Sra. Elizabeth, por que estas tão perto de mim assim?

O tom zombeteiro na voz de Edward irritou Elizabeth que empurrou o pirata para longe de si. Acontece que o empurrão foi tão forte, que o barril onde o pirata estava se desequilibrou, arremessando-o para o mar.

Quando a menina se deu conta do que fez, certo ar de culpa desceu sobre sua consciência.

–Edward, meu Deus! Desculpe-me!

Thomas gargalhava ao ver a cena de seu amigo totalmente ensopado tentando subir novamente no navio.

–Mas que droga, Thomas!Ajude-me, estou escorregando.

O cientista limpou as lágrimas que lhe escorriam dos olhos de tanto rir e estendeu as mãos ao amigo.

–Toma, pegue minhas mãos Rapunzel dos mares!

–Ora seu desgraçado! Tu me pagas por estar zombando de mim!

Depois de se recompor e ajudar o amigo a subir de volta ao navio, Thomas disse:

–Pegarei algumas toalhas para que você se enxugue antes de molhar todo o convés.

O cientista saiu dando risadas deixando a garota e o pirata a sós.

–Sinto muito, não queria te empurrar no mar...

–Tudo bem princesa de calças -Edward dizia isso enquanto tirava o excesso de água dos cabelos loiros. -Sei que o fato de quase ter me beijado a deixou nervosa.

O capitão que mais agia como um garoto voltou a ter o velho ar zombeteiro de sempre.

–Ora, feche essa matraca!

–Ou o quê, garotinha? Vai me abraçar? Ou quem sabe me dar um beijo?

–Edward, se não calar a boca agora, juro que te jogarei no mar novamente!

O pirata começou a gargalhar e se divertir com a frustração da garota, mas se recompôs quando Thomas retornou com as toalhas.

–Tome Rapunzel, trouxe-te minhas toalhas para que limpes os teus fios loiros, já que pelo visto tu não possuis uma toalha sequer neste navio.

Edward pegou as toalhas das mãos de Thomas ignorando o comentário sobre os cabelos.

–Obrigada.

–Aliás, eu aproveitei que a neblina passou e para olhar através da luneta e ver se encontrava algum sinal de onde estamos, e acabei acidentalmente avistando uma ilha logo em frente.

Edward lançou seu sorriso sarcástico de sempre.

–O que foi Ed?

–O que te faz pensar que foi acidentalmente que tu avistaste a ilha?

–Pelo simples fato de que eu não estava esperando encontrá-la?

Edward colocou a toalha em volta do pescoço e fixou seus olhos em Ellie que parecia querer entender aonde o pirata queria chegar.

–Não existe acaso Thomas, existe destino.

Elizabeth entendeu a indireta e sorriu.Thomas observou os dois e percebeu que se tratava de algum "código secreto" para melhores amigos.

Edward se dirigiu ao leme do navio.

–Onde está indo? -Perguntou Thomas.

–Estou indo atrás do meu destino, venham vocês dois, temos uma longa viagem pela frente.

Elizabeth admirou novamente o ar jovial de Edward quando ele finalmente se posicionou atrás do leme.A brisa sobrou novamente e desta vez tudo estava normal. Edward estava animado, Thomas confuso, e ela? Bom... Ela estava feliz.


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Notas finais do capítulo

Eae pessoal, espero que estejam gostando do caminhar da história!



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