O Espelho do Tempo escrita por Beatriz Delfino


Capítulo 14
Ventura, seja ela qual for.




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Quando Elizabeth acordou, ela notou um tumulto ao lado da cama. Depois de algum tempo retomando os sentidos, a menina percebeu que se tratava de uma discussão.

–ISTO É TOTALMENTE TUA CULPA!- Esbravejava Thomas.

–MINHA CULPA? AH CLARO! EU REALMENTE CONSIGO PREVER O FUTURO E QUIS QUE A ELLIE FOSSE FERIDA POR AQUELE CÃO SARNENTO!

Edward estava sendo irônico, o que aumentava mais ainda a raiva de Thomas.

–Por que está preocupado tanto assim com ela Thomas?

Thomas deu de ombros.

–Por que você NÃO está tão preocupado?

Naquele momento o sorriso sarcástico de Edward simplesmente desapareceu, seus punhos se cerraram e por um instante ele parecia querer desferir um soco em Thomas, mas se conteve.

–Por que eu sou o capitão desta porcaria, se eu perder a minha pose minha tripulação não me levara a sério. Cuide de Ellie, vou continuar navegando até encontrar um doutor que seja mais eficiente que ti.

Quando Ed se retirou, Thomas sentou na borda da cama de Ellie, ele estava exausto.

–Sei que ele pode ser difícil, mas você o conhece... Ele se preocupa.

Thomas se assustou ao ver Ellie tentando levantar.

–E-Ellie!

O jovem cientista abraçou forte a garota.

–Esta me sufocando...

–Desculpe Ellie -Disse Thomas soltando a garota calmamente.- Como você pode se mexer? E seus ferimentos?

Ellie lembrou-se do golpe de John.Olhando calmamente para sua barriga levantou um pouco a camiseta, e embora a camisa estivesse ensopada de sangue, o corte tinha encolhido de tamanho.

–O corte... Regenerou-se? Como? Não lhe demos nenhum remédio...

A garota fixou seu olhar nos olhos azuis cristalinos de Thomas, e sorrindo disse:

–Acredita em milagres, Thomas?

O jovem entendeu de forma bem sutil o que ela queria dizer, e embora fosse mais velho que Ellie, Thomas possuía uma inocência pura quase infantil.

–Não, mas acredito em destino.

–Então esse é o meu destino.

–Ficar confinada em um navio sujo com um capitão problemático? -Thomas gargalhou.

–Não, ficar confinada em um navio sujo com os meus dois melhores amigos.

Naquele momento a gargalhada de Thomas desapareceu no ar, ele ficou corado e levou uma das mãos à cabeça de Ellie, e sem dizer nada, apenas sorriu.

–Tu és especial, Ellie.

–Só por que sou de outra época?

–Claro que não, tu és especial simplesmente por ter conseguido dar ao Edward um sentimento que nem mesmo ele conhecia.

–Felicidade?

Thomas se levantou e foi até a mala de medicamentos que ele carregava consigo para emergências, a qual ele trouxe ao quarto de Ellie assim que a menina apagou.Ele retirou algumas bandagens e alguns remédios e se dirigiu novamente até a cama.

–É quase isto. É um sentimento, que quando é verdadeiro, chega a ser mais puro e duradouro que a felicidade.

A garota se sentiu constrangida quando Thomas levantou parte de sua camiseta para cuidar dos ferimentos, mas depois de ver que o garoto não demonstrava nenhum sinal de malícia, ela relaxou.

Naquele momento, ela percebeu quem era o verdadeiro Thomas, aquele "doutor-não-médico" que mesmo não tendo tantos conhecimentos de medicina, não pensava duas vezes ao curá-la.

–Eu andei pensando neste assunto do espelho e, tu sabes que, se usá-lo para voltar à sua época, não poderá nunca mais me ver ou ver Edward, certo?Já que tu só podes usar o espelho uma única vez.

–Thomas, eu já resolvi sobre isso, meu lugar não é mais na minha época. - Os olhos de Thomas brilharam- porém não posso ficar aqui.

O garoto abaixou o olhar e depois de ficar um tempo olhar para a janela, se levantou e foi em sua direção.

Ellie observou-o enquanto ele puxava uma cadeira e sentava-se observando o reflexo da lua no mar, assim como ela fizera dias depois de conhecer Edward.

–Sabe Ellie, eu e Edward nos conhecemos em um orfanato, éramos crianças de rua que vagavam pelo mundo afora.O pai de Edward era um pirata que e abandonou a família quando ele ainda era bem pequeno, a mãe faleceu tempos depois, dizem que ela tinha cólera, eu nunca soube se isso era verdade.

A menina se aproximou do jovem, que após fazer uma longa pausa, continuou:

–Eu nunca conheci meus pais, mas diferente de Edward eu fui adotado cedo, minha nova "família" era um senhor de idade a quem chamava carinhosamente de "tio". Ed não se dava bem em nenhuma família que era adotado, seu temperamento forte o atrapalhava muito, quando ele não fugia de sua nova casa a família o levava de volta. Ele acabou seguindo os passos do pai e servindo aos mares, e eu... Bom, eu segui os passos do meu tio e me tornei um cientista, herdando toda a fortuna dele assim que morreu.

O mar estava calmo, as ondas batiam calmamente no navio refletindo com lucidez toda a tranquilidade do luar. Uma brisa soprou leve, fazendo com que os cabelos ruivos de Ellie se movimentassem com uma beleza natural.

–Esta me contando essa história por que quer que eu o conheça melhor?

Thomas desviou o olhar das ondas e o direcionou para Elizabeth, lançando-lhe o mais puro dos sorrisos.

–Estou te contando esta história para que tu entendas que, nós humanos não temos um lugar certo, nós nascemos com um destino Ellie, mas cabe somente a nós cumpri-lo ou ignorá-lo.Não estou dizendo que tu deves ficar e sim que tu deves escolher o que o teu coração mandar, deves escolher aquilo que acha certo... E acima de tudo, deves ser feliz com a tua escolha.

O jovem se levantou e virando-se para a garota, abraçou-lhe apertadamente.

–Quero que saiba, que qual for tua escola, seja ela permanecer aqui ou voltar para a casa, que tu vai sempre ter o meu apoio e a minha amizade à sua disposição, sempre estarei aqui contigo Ellie.

Thomas soltou vagarosamente a garota e lhe deu um beijo na testa.

Novamente Ellie percebeu a inocência nos atos de Thomas. Ele não a beijara com malícia, e sim com pureza e carinho.

–Obrigada Thomas, por tudo.

O garoto sorriu mais uma vez gentilmente antes de se afastar e ir em direção a porta do quarto.

–Vou voltar e conversar com o Edward antes que ele comece a gritar. -Thomas sorriu e virou-se para Elizabeth mais uma última vez antes de ir embora. -Boa noite Ellie.

–Boa noite, Thomas.

Sozinha novamente no escuro de seu quarto, a menina observou as ondas mais uma vez.

"Não importa onde eu esteja, se estiver com as pessoas certas, transformarei deste lugar, minha casa" - pensou.

Agora, sentada observando o luar, a menina sentiu outra brisa soprar-lhe o rosto e por um momento ela pensou ter ouvido sussurros. Mas ela não ligou, era apenas o vento. Novamente as estrelas pareciam estar vigiando-a, e por mais estranho que parecesse, mesmo depois de tudo o que aconteceu, ela se sentia protegida, ela se sentia feliz.

Observando ainda o mar, Elizabeth fechou a janela, caminhou até a cama, deitou-se e fechou os olhos.

"Transformarei deste lugar, minha casa..."


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Notas finais do capítulo

"Será mesmo que o sussurrar do vento, fora apenas uma impressão?"



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