O Espelho do Tempo escrita por Beatriz Delfino
Quando Thomas entrou no quarto viu que a situação estava séria.
–Precisamos levá-la a um hospital.
–Impossível! -Disse Edward com a mão direita sobre a testa. - Estamos ha dois dias de Havana, não posso navegar mais rápido do que eu já estou agora.
–Não posso curá-la, digo... Sou um cientista e não um médico.
–Mas chamam-lhe de doutor.
–E eu sou doutor, mas não sou médico, Edward.
–Como um doutor não é um médico?
–Nem todo médico é doutor!
–Então... Ah deixe para lá! Por que estamos discutindo sobre isso? O que tu podes fazer por Ellie?
Thomas olhou fixamente a garota que tentava em vão prestar atenção às palavras de seus companheiros.
–Posso estancar o sangramento e cuidar para que não infeccione enquanto tentamos chegar em Havana o mais rápido possível.
–Certo, vou começar a navegar agora mesmo!
Edward parecia estar suando quando deixou a sala as pressas.
Thomas retirou-se da sala e voltou logo em seguida segurando um balde de água com alguns panos. Sentou-se na beirada da cama para cuidar de Ellie
–Aqui, quero que pressione estes panos contra os teus ferimentos.
– I-Isso não vai estancá-los. -Gaguejou a menina.
–Mas pode dar certo, quero que pressione o máximo possível vou procurar algo que te ajude, por favor, não se mexa.
Thomas saiu da sala novamente deixando Ellie sozinha, a jovem sentia o corpo todo pesar, "será isto a morte?" pensou ela. Tentando sentar-se na cama para amenizar a dor, Elizabeth viu seu mundo todo rodar e ficar escuro.
Quando acordou, ela estava em um lugar totalmente estranho.
O chão era formado de nuvens e o céu era composto por estrelas e uma lua minguante maior do que o normal. Elizabeth tateou o corpo ao notar que sua dor havia passado e quando percebeu suas roupas também eram diferentes, agora ela possuía um lindo vestido branco que se assemelhava muito à uma camisola.
–Onde eu estou?
De repente imagens começaram a se formar ao seu redor.
A primeira imagem a se formar era uma memória que Ellie tinha da mãe, quando esta setava-se na beirada de sua cama para lhe contar histórias de dormir, a segunda imagem era sobre sua escola, seus amigos, sobre Sara e o parque de diversões. Outras memórias começaram a surgir ao redor de Elizabeth.
Todos os momentos que apareciam mexiam a garota, ver sua mãe ali como se estivesse viva era de alguma forma especial para ela, até que repentinamente todas as imagens começaram a trincar como se fossem feitas de vidro, e junto com elas, o chão também começou a desmoronar.
Elizabeth tentou correr, mas foi em vão, ela acabou caindo junto com alguns pedaços do chão e foi parar em cima de um arbusto, naquele lugar desta vez não tinham imagens e memórias pairando sobre sua cabeça, mas sim um lugar cheio de ruínas, algumas estátuas de anjos e lindas árvores e flores espalhadas por todos os lugares.
Quando ia seguir por um caminho de terra por entre as ruínas, a garota foi atraída por algo que pairou ao seu redor e que ela reconhecera imediatamente, era a borboleta de outrora!
As ruínas desapareceram e foram tomadas por escuridão, de repente, Ellie sentiu seu corpo fraquejar e curvou-se de dor, quando observou bem, suas mãos estavam sujas de sangue novamente. Não vendo outro modo de resistir à dor, a menina ajoelhou-se no chão, e foi quando tudo mudou.
A borboleta que antes pairava ao redor da menina foi se aproximando. Elizabeth entendeu o recado e estendeu sua mão para que o inseto pousasse sobre ela, e quando isto aconteceu, gramas começaram a nascer ao seu redor, junto com lindos lírios brancos espalhados por todas as partes.Os ferimentos de Ellie cicatrizaram e ela sentiu a energia revigorar-lhe o espírito.
Mas quando ela menos esperava, o inseto pareceu se conectar com a menina, fazendo com que ela realmente entendesse...
Naquele momento, Ellie entendeu que ela não mais pertencia ao século XXI e, mesmo que tentasse voltar ao seu tempo ninguém mais a reconheceria, o fato de suas memórias terem se trincado significava que seu passado em seu "século natal" não existia mais.
Elizabeth sentiu-se confusa e frustrada... "por que ela? Por que não qualquer outra menina? Por que justo ela tinha de ser apagada de sua origem e ser forçada a viver como um fantasma perdido em outro século?"
Lágrimas escorreram-lhe dos olhos, o inseto voltou a pairar ao redor de da menina, enquanto ela delicadamente limpava seu rosto.
–Por que você esta chorando querida?
Ellie levantou os olhos assustada, ela não podia acreditar... Aquela voz...
–Mamãe?
A imagem de sua mãe formava-se em sua frente. A imagem da mulher que Ellie mais desejava ver novamente estava ali com ela, estendendo-lhe os braços.El
Sua mãe estava radiante, mais linda do que nunca com vestimentas também brancas e com seus olhos verdes vividos e longos cabelos castanhos soltos.
–Mamãe... Não posso acreditar, eu senti tanto a sua falta! A senhora não faz ideia de tudo que aconteceu no tempo em que estava fora.
–Estava fora? -A mãe limpava-lhe as lágrimas sorrindo gentilmente. - Minha querida, você não passou um dia sequer sozinha desde a minha partida, todos os dias tenho estado contigo, observando sua luta e bravura... Estou tão orgulhosa, minha doce e pequena Ellie.
A garotinha abraçava a mãe fortemente. Ela não podia entender. Se era um sonho queria nunca acordar.
–Ellie, escute com atenção. -Afastando o corpo da filha de perto do seu, a mãe de Elizabeth lhe olhou fixamente. - Sei que deve estar se sentindo injustiçada por ter um futuro como este, mas me escute, você precisa destruir o espelho, esta é a sua missão aqui nesta época, impedir que o espelho caia em mãos erradas futuramente.
–Isto significa que eu vou ficar presa aqui para sempre?
–Não minha querida, claro que não. Você pode escolher a que tempo pertencer, porém devo alertá-la que quanto mais tempo você passa aqui, mais sua existência no século XXI é apagada.
Ellie ouvia as palavras de sua mãe com atenção.
–Mas me diga minha filha, se você pudesse voltar agora para o nosso tempo, você voltaria?
–Mamãe...
A garota segurou as mãos da mãe.
–Eu sinto falta dos meus amigos, da minha escola e até mesmo do que restou da nossa família, mas agora eu entendo que não pertenço a nossa época,
–Não entendo você estava se sentindo injustiçada.
–Não mamãe, eu estava triste por que não conseguia enxergar a verdade. Eu não fui castigada nem injustiçada, eu apenas escolhi indiretamente o meu futuro quando entrei naquele brinquedo no parque de diversões... Eu tracei o meu destino naquele momento e minhas escolhas tiveram consequências, assim como qualquer outra escolha que as pessoas fazem no dia a dia, mas isto não significa que eu não aceite quem eu sou ou quem eu me tornei.
A mãe de Ellie estava sorrindo.
–Como você cresceu minha querida filha.
–Você não faz ideia mamãe.
–Mas minha querida, você não se sentirá sozinha?
Elizabeth olhou para o lado onde uma nova imagem se formava, era a imagem de Thomas e Ed.
–Eu não estou sozinha mamãe... Tenho a minha nova família agora, meus novos amigos.
–Muito bem então.
Quando a mulher se levantou, Ellie ficou confusa, mas logo entendera que agora seria à hora de dizer adeus mais uma vez.
A menina se levantou também e, depois de dar um último abraço em sua mãe deu-lhe também um beijo no rosto.
–Sentirei sua falta, mamãe.
–Estarei sempre contigo minha amada filha, mesmo que não possa me ver eu estarei aqui, no seu coração.
Mãe e filha se soltaram e apos trocarem rápidos olhares Ellie observou sua mãe ser envolta por uma luz e ter seu aspecto físico mudado.
Quando Ellie se deu conta não podia acreditar, sua mãe era a borboleta que a guiara até ali, a borboleta que sempre aparecia para lhe mostrar o caminho certo, que de certa forma estava sempre zelando por sua confiança.
Sua mãe nunca havia lhe deixado, Elizabeth nunca estava sozinha, pois a mãe permanecera sempre a seu lado, protegendo-a e amando-a mesmo após a morte.
–Mamãe...
Ellie abriu os braços sentindo-se tomada por uma luz e uma paz imensa, deixando que a borboleta voltasse a pairar ao seu redor.
Olhando para a imagem onde Edward e Thomas estavam abraçados Ellie sorriu.
–Estou indo para a casa, pessoal.
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