O Espelho do Tempo escrita por Beatriz Delfino


Capítulo 10
O livro de couro




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Thomas continuava tentando fazer com que Elizabeth se sentisse confortável, mas estar sozinho com a amiga misteriosa de Edward, não era algo habitual para o rapaz.

–Então Elizabeth, Edward disse que tu fazes parte do navio agora, isto é verdade?

–Sim, é sim. Edward foi muito gentil fazendo um quarto para mim no navio.

Elizabeth começou a observar e percebeu que realmente, o jovem cientista era muito diferente de seu amigo capitão. Thomas possuía olhos e cabelos castanhos e seu cabelo, diferente de Edward, parecia estar sempre bem penteado.

–Edward construirá um quarto para ti?

–Diz ele que sim, mas o quarto não parece ser novo, apenas não é usado.

Thomas pareceu se distrair por alguns segundos, mergulhado em seus próprios pensamentos.

–Entendo... bom, talvez seja melhor procurarmos Edward.

–Por mim tudo bem.

Os dois se levantaram e saíram na rua, observando cada pessoa que passasse por eles e Ellie pensou em conversar sobre algo para quebrar o silêncio, mas foi em vão já que Edward apareceu repentinamente.

–Thomas, precisamos viajar amanhã mesmo!

–Já lhe disse sobre minhas...

–Tu não podes continuar tuas pesquisas, apenas confie em mim.

Edward parecia nervoso. Seus olhos percorriam o ambiente em busca de um alvo ou um movimento suspeito. Elizabeth reconhecia aquele olhar. Ela sabia. John estava por ali.

–Talvez seja melhor vocês conversarem no navio. -Sugeriu a menina.

–Boa ideia, Ellie. Venha Thomas, te levarei até meu navio.

Os três seguiram até o porto e quando chegaram, Edward virou-se para Ellie.

–Elizabeth, encontrei este livro pelo caminho. - Edward estendeu um livro de capa de couro para a menina. - Que talvez tu gostes de ler.

O pirata sorriu e a menina entendeu que aquele era o momento que ela deveria deixar ele e Thomas conversarem.

–Claro, parece interessante. Vou estar nos meus aposentos, se precisar pode me chamar.

–Se precisar, chame.

Edward e Thomas seguiram até a cabine do capitão enquanto Elizabeth foi para seus aposentos.

–Muito bem. - Edward fechou a porta da cabine enquanto Thomas se sentou em uma cadeira do canto direito do quarto.

–Não acredito que foi capaz de fazer isso.

–Isto o que?

Edward se sentou em outra cadeira do cômodo de frente para Thomas.

–Construiu um quarto para ela.

–Eu não construí um quarto para ela, eu apenas reformei um dos quartos onde guardávamos o rum do navio.

–Edward admita para mim que tu gostas desta menina e a situação parecerá menos assustadora.

–Deuses, por que todos acham que estou apaixonado por Elizabeth? O que queria que eu fizesse? Que deixasse a moça dormir em meio aos marujos deste navio?

–Não, claro que não! Tu me conheces, sabe que eu nunca te aconselharia algo assim, é só que... Tu zelas por ela e a conheceste há tão pouco tempo.

–Elizabeth tem algo de diferente Thomas, eu sinto isto.

–Estas apaixonado, admita!

–Nunca admitirei sentir tais coisas tão absurdas!

–O amor não é absurdo, meu caro amigo.

Thomas se levantou e se virou para a porta.

–Tu não entendes "meu caro amigo", sou um pirata, o amor é algo que não devemos sentir.

–Edward, além de um pirata tu és humano, o amor é um sentimento do qual não pode fugir.

Thomas abriu a porta, mas Edward se levantou e a fechou novamente.

–Não quero ser indelicado, mas não estou te chamando aqui para discutirmos sobre meus sentimentos inexistentes. Chamei-te aqui para conversar sobre tuas pesquisas.

–O que minhas pesquisas têm a ver com o seu amor pela menina?

–Nada. É esta a questão.

–Ahá! Então não negas que a ama.

O cientista sorria e Edward retribuiu-lhe o sorriso, mas só por alguns segundos, depois ele ficou sério novamente.

–Este assunto é sério Thomas, tu estavas trabalhando para um pilantra.

O cientista voltou a se sentar na cadeira e o pirata fez o mesmo.

– Do que estás falando?

–Vou lhe contar uma história Thomas, sobre um velho capitão chamado John Avey.

Thomas pareceu atordoado novamente, mas ouvia atentamente cada palavra dita pelo amigo.

Enquanto isto em seu quarto, Elizabeth começou a leitura do livro e percebeu que se tratava de uma história, ela se sentou na escrivaninha de seu quarto e começou a leitura.

"Reza a lenda que há muito tempo atrás, dois jovens eram loucamente apaixonados, havia, no entanto um grande obstáculo para que os dois pudessem ficar juntos; a donzela era filha de um casal de nobres ingleses e o rapaz, filho de camponeses. Mesmo com esse obstáculo, o jovem não deixou de lutar um segundo sequer pelo amor de sua amada.

Cansado de tentar em vão provar seu valor aos pais da donzela, o jovem viu uma única possibilidade de conseguir uma grande quantidade de dinheiro; trabalhar como um corsário e depois, futuramente, construir uma vida digna ao lado de sua amada. Porém, assim que partiu em sua missão, o rapaz não imaginava que não apenas abandonava sua donzela como também o fruto do amor proibido de ambos.

Uma criança veio ao mundo sem conhecer seu pai e logicamente, não foi bem acolhida no lar dos avós, já que não fora planejada.

Abalada por ver sua filha sendo rejeitada pelos pais e pela sociedade, a prematura mãe adoeceu, e veio a falecer anos depois.

A menininha de nome Juliet, só viria a conhecer seu pai anos mais tarde, quando este retornasse em busca de sua amada para construírem juntos a vida que tanto planejaram. Devastado pela morte da amada, o ex-corsário acolheu a menininha e decidiu construir uma vida longe o suficiente de sua terra natal, para que pudesse esquecer os problemas do passado e viver feliz ao lado do seu verdadeiro tesouro; sua filha.

Com o passar dos anos a menina tornava-se mais parecida com a mãe, conquistando ainda mais o amor de seu pai."

Elizabeth teve de parar a leitura quando Edward entrou em seu quarto.

–Será que posso entrar?

–Claro. -Ellie guardou o livro em uma das gavetas da cômoda.- Sente-se.

Edward se sentou sobre a cama da garota enquanto ela permanecia na cadeira.

–Eu sei que tem sido difícil para ti, passar todo esse tempo conosco navegando, então eu tomei uma decisão. Thomas me contou sobre uma passagem, um espelho que pode levá-la de volta. Quando ele me contou supus que foi o mesmo espelho que te trouxe até aqui. Então eu o caçarei Ellie, encontrarei o espelho para que tu possa voltar para casa.

Elizabeth não podia acreditar no que ouvia. Ela voltaria para casa?

–Não precisa me agradecer princesa de calças. Nós somos amigos, então te ajudar é um dever meu. Não que eu me importe em te ajudar, já que, só vou te ajudar, pois parece ser uma caçada ao tesouro interessante.

Edward se assustou quando a menina se levantou rapidamente.

–O que foi? Por que esta parada me encarando?

Duas lagrimas escorreram do rosto de Ellie.

–Por que diabos estas chorando?Eu disse que te levarei para casa, por um acaso ficou maluca?

Elizabeth se aproximou ainda mais de Edward que ficou paralisado olhando para a menina. Ela então abriu os braços e se jogou em cima do pirata.

–Obrigada! Obrigada! Obrigada Ed!

Ela o apertava mais forte cada vez que pronunciava um "obrigado".

–Saia de cima de mim sua maluca!

Edward tentava se soltar, mas parou de se debater quando a menina pareceu sorrir e chorar ao mesmo tempo. Naquele momento ele percebeu que ela não era maluca e nem estava triste.

Ela apenas estava-o agradecendo do jeito dela. Ele então colocou sua mão direita sobre a cabeça da menina enquanto seu braço esquerdo retribuía o abraço.

Elizabeth começou a notar a proximidade dos dois e foi o suficiente para fazer com que ela corasse.

–Elizabeth...

–Sim?

–Me sinto muito feliz...

–Pelo o que?

Edward sorriu e agora seus braços envolviam cada vez mais a menina.

–Por ter chego à cabine antes que John fizesse algo contigo, antes que ele... a machucasse.

A menina não respondeu. O capitão também não esperava uma resposta.

Eles apenas ficaram ali sentados juntos até que Ed se levantou.

–Aonde vai? - Disse Elizabeth encarando-o.

Edward virou-se para ela sorrindo. Seus olhos estavam mais vividos do quando ele navegava, seus cabelos loiros desgrenhados pareciam, pela primeira vez, abandonar o jeito "aventureiro destemido do rapaz" e dar-lhe um ar angelical.

–Vou buscar Thomas para começarmos a procura pelo seu tesouro. Vamos à caça ao tesouro!


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