Terra da Neve escrita por ACunha


Capítulo 6
Capítulo 5




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O lugar caiu em um silêncio mortal. Não sei ao certo se todos viram o que realmente havia acontecido, mas sei que todos ficaram perplexos demais para fazer alguma coisa. Henrique parecia desacordado, o que só servia para provar minha teoria de que príncipes eram mais fracos do que pareciam. Mas na hora eu nem me importei em soltar uma risada; estava encarando Darren, ainda de costas, com assombro.

–Peguem eles.

Não sei quem disse aquilo, mas tenho certeza de que foi um dos guardas. Minha primeira reação, é claro, foi puxar a bolsa de cima da mesa e pular sobre cadeiras para cair fora dali. Se eu fosse presa novamente, não ganharia um cavalo de aniversário. Dois guardas enormes barraram minha passagem já na porta da cafeteria, e eu me abaixei para passar por baixo dos braços deles. Empurrei a porta com o ombro e continuei correndo.

Um pouco tarde demais, me lembrei que tinha deixado Darren e Hayden lá dentro. Mas quando parei para olhar para trás, vi os dois correndo na minha direção, seguidos por quatro guardas furiosos. Voltei a me virar para correr, e então Joe apareceu na minha frente como se fosse uma assombração. Os cavalos de Hayden e Darren apareceram instantes depois, como se tivessem sido chamados. Subimos em nossos cavalos e então foi fácil despistar os guardas, que ainda corriam para nos alcançar. Não precisamos nos comunicar para saber aonde íamos. Com Darren na liderança, fomos direto para o lago.

Uma vez seguros, começamos a rir.

–Aposto que Henrique nem acordou ainda! – soltei.

–E os guardas? Estavam mais confusos do que ele! – Hayden riu. – Darren, você é um gênio. E ainda é lutador.

Darren, rindo, nos fez uma mesura debochada. Seus olhos verdes pareciam elétricos.

–Bom, se não se importam, eu vou entrar na sua casa, Darren. – Hayden se abraçou. – Estou morrendo de frio e tenho a impressão de que tem bebidas quentes lá dentro. Acertei?

Ele riu novamente.

–Primeiro armário à direita. Fique a vontade.

Hayden se foi para dentro da cabana. Por mais que não quisesse admitir, eu conhecia bem demais minha melhor amiga, e sabia que ele tinha saído de lá para me deixar a sós com Darren. E ela ia me pagar por isso mais tarde. Acho que Darren percebeu aquilo também, e me olhou sugestivamente. Uma risada nervosa escapou dos meus lábios.

Para disfarçar, olhei para o céu. As nuvens espessas cobriam tudo e mais um pouco. Pelo menos tinha parado de nevar.

–Como você fez aquilo? – perguntei.

–Aquilo o quê? – ele parecia inocente demais. – Eu só dei um belo soco na cara dele.

–Não. – Balancei a cabeça. – Você... Nem tocou nele. Como...

Algo na expressão de Darren me fez parar. Ficamos nos encarando por um tempo imensurável, até que senti novamente aquela sensação estranha de que meu rosto estava queimando. Desviei os olhos.

–Não tente disfarçar – sussurrei firme. – Aconteceu alguma coisa. O tempo parou.

Depois dessa, Darren começou a rir.

–Parou, é? – debochou.

Empurrei seu braço com raiva.

–Sim! – exclamei. – Você sabe que sim; não tente me fazer de idiota.

Ele parou de rir e me encarou sério. Comecei a me perguntar se Hayden estava nos observando de uma das janelas, mas ela não era tão bisbilhoteira assim.

–Você realmente sabe como persuadir um rapaz, Srta. Luminatte. – Os olhos de Darren voltaram a ficar azuis, e de alguma forma isso me causou um frio na barriga.

A coisa mais estranha aconteceu em seguida. Darren fechou os olhos por um momento, sussurrou palavras muito baixas para eu entender e, quando voltou a me olhar, seus olhos estavam completamente dourados. Ele me deixava desorientada. Suas mãos se elevaram e desenharam círculos e formas no ar. O tempo começou a mudar. A neve começou a cair, e depois se transformou em granizo, depois em chuva; o clima ficou mais quente, a névoa onipresente perto do lago se afastou, as nuvens se moveram para longe. Centenas de milhões de estrelas brilharam para nós no céu noturno, e eu arfei com a beleza de tudo aquilo.

Antes que eu pudesse me recuperar, vários pontinhos de luz flutuaram para perto de mim, e ao meu redor. O vento levantou meus cabelos, e eu quase senti que podia flutuar também. Os pontinhos de luz chegaram mais perto e vi que eram apenas vagalumes, mas era tão raro vê-los por aqui que sorri feito uma boba. Eles se moviam de forma sincronizada, e pareciam estrelas na terra, brilhando no meio da escuridão da noite. Pareciam saber exatamente o que eu queria que eles formassem; pareciam ler meus pensamentos. Era tão lindo que só podia ser...

–Mágica – Darren sussurrou.

Nossos olhares se encontraram. Nunca me senti tão bem em toda minha vida quanto naquele momento. A chuva e o frio haviam parado e os vagalumes ainda nos cercavam, as estrelas formavam constelações acima das nossas cabeças, e só o que eu podia ouvir era... Nada. Absolutamente nada. O silêncio foi como uma benção. Eu estava cansada de ouvir coisas que não queria, cansada de ter que ouvir sempre as mesmas coisas.

–Então – murmurei depois de um tempo imensurável. – Você é um mágico.

A risada de Darren ecoou na floresta. Tinha absoluta certeza de que ele tinha parado o tempo novamente.

–Prefiro ser chamado de feiticeiro, obrigada.

Feiticeiro...

–Faz sentido. – Soltei uma risada fraca e incrédula. – Aqueles truques...

–Ah, aquilo não foi nada! – ele estava animado. – Precisa ver o que posso fazer com folhas secas de carvalho e duas gotas de um lago.

Eu ri mais alto, mas ainda estava em choque.

–Como... – eu ia perguntar como uma coisa dessas poderia sequer existir, quando ouvimos o barulho de passos na neve.

–O tempo enlouqueceu ou o que? – Hayden perguntou a alguns metros de nós. – Cadê a neve que estava aqui?

Não me aguentei e comecei a rir como louca da impossibilidade de um momento daqueles. Darren balançou a cabeça para mim, me repreendendo, mas também deu um sorrisinho. Hayden suspirou.

–Perdi alguma piada? – perguntou com as mãos na cintura.

–Não, nenhuma – respondi rapidamente me recuperando. – Vamos entrar? Vai ficar mais frio aqui fora. – Olhei significativamente para Darren. Ele entendeu.

Depois de alguns segundos, começou a nevar novamente. Suspirei desanimada, mas era necessário; as pessoas poderiam comentar. Começamos a andar de volta para dentro da cabana, mas só então olhei para o horizonte pela primeira vez. Estava de uma cor arroxeada muito escura, e uma sugestão de lua começava a aparecer.

–Na verdade... – falei sem olhar para eles. – Tenho que ir para casa. Minha mãe vai me matar se eu demorar mais. E você, Hayden? – me virei para ela.

Hayden olhou de Darren para mim, e de volta para Darren. Ele deu de ombros.

–Vou ficar mais um pouco, se estiver tudo bem – ela disse calmamente.

Não liguei. Peguei minhas coisas que estavam dentro da cabana e subi nas costas de Joe novamente. O cavalo se balançou suavemente para me acomodar.

–Vejo vocês amanhã? – sorri para eles. Hayden estava na porta da cabana com uma xícara de café nas mãos. Darren estava mais perto de Joe, de forma que só eu vi quando ele deu uma piscadela para mim e sorriu.

Parti antes que a neve se transformasse em uma tempestade. Darren bem que podia dar uma controlada no frio, por mais que não fosse o normal da época. Quem liga para padrões? Se a questão era de sobrevivência, e se eu fosse uma feiticeira...

A ideia me pegou de surpresa, quase como se eu nunca tivesse a considerado. O que não estava longe da verdade. Eu, uma feiticeira? Não. Impossível demais. Mamãe vivia reclamando o quanto eu era preguiçosa e desatenta; como eu teria capacidade para fazer uma daquelas coisas que Darren fez? Até mais?

Eu estava tão distraída com esses pensamentos que quase não notei quando um segundo cavalo apareceu atrás de mim.


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Notas finais do capítulo

Eu vi que tem mais gente lendo a história do que comentando, então, por favor... Me incentivem a continuar :/



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