Terra da Neve escrita por ACunha


Capítulo 15
Capítulo 14




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/637582/chapter/15

–Por que você não foi atrás dele? – perguntei enquanto voltávamos para a cidade. Darren tinha arranjado dois cavalos enquanto eu estava desacordada, era bem mais rápido que ir correndo. – Por que o deixou sozinho com Bryan?!

–Eu não podia deixar você sozinha! E assim que eu fiquei sabendo, pedi para Hayden encontrá-los e tirar Alex de perto dele. Só espero que ela tenha conseguido...

–Hayden?! O que ela tem a ver com isso?

–Ela apareceu na cabana logo depois de eu tirar você do lago, e me contou que tinha visto Alex e Bryan dobrando a esquina da sua casa. Ficou preocupada porque não o reconhecia de lugar nenhum, e foi procurar você na minha casa.

–Ela não me viu...?

–Não teve tempo de ver. Na mesma hora eu a mandei buscar Alex.

–Darren... – suspirei agradecida, mas ainda preocupada. – Será que ele sabe?

Paramos nos estábulos e deixamos os cavalos lá.

–Se Bryan ainda não sabe sobre seu irmão, está prestes a descobrir.

Corremos para a casa de Hayden, mas ela não estava lá. Passamos pela loja, trancada, e enfim resolvemos procurar na minha casa. Alex estava sentado no sofá, contando algo apressadamente para Hayden, ao seu lado.

–Alex! – corri até ele e quase o sufoquei com um abraço. – O que aconteceu?

Ele parou e me fitou, assustado.

–O que aconteceu com você? – Hayden verbalizou a pergunta que ele queria fazer. – Está parecendo um cadáver, Alice.

–Eu... Não importa. O que Bryan queria com você? – voltei para meu irmão. Ele olhou para baixo franzindo a testa.

–Ele me fez algumas perguntas sobre... Algumas coisas. – Deu um olhar cheio de significados para Darren, e nós entendemos. – Eu me recusei a responder a maioria, mas ele não ficou irritado nem nada.

–Foi só isso?

–Sim.

–E onde está mamãe? – perguntei exasperada. – Ela não viu problema em deixá-lo sozinho com um estranho?

–Ele disse que íamos encontrar você na loja de Hayden – Alex sussurrou. – Ela não desconfiou. Parece gostar dele.

–Quem é esse cara, afinal? – Hayden se intrometeu. – E por que tanta preocupação com ele?

–Hayden, eu realmente acho que você devia ir para casa.

Ela ia responder algo que eu não ia gostar nada, mas eu me levantei e a encarei. Estava cansada, congelando, estressada. As janelas tinham começado a bater, e não era por causa do vento.

Hayden olhou para Darren e soltou o ar, exasperada.

–Essa cidade está enlouquecendo! – disse, então saiu pela porta aberta.

×××

Levei Alex pra cama, e ele adormeceu assim que deitou. Não sei se tinha mesmo contado tudo que Bryan havia falado. Mas isso teria de esperar. Ele precisava descansar.

Desci e vi que Darren ainda estava lá. Ele tinha colocado um pouco de café em uma caneca, e me entregou.

–Obrigada – sorri, cansada. Sentamos lado a lado no sofá, e suspiramos ao mesmo tempo.

–Alex é um garotinho forte – ele sussurrou baixinho. – Nem mesmo Bryan vai conseguir arrancar alguma coisa dele.

Dei de ombros, pensativa. E pensar que tudo isso tinha acontecido logo depois de eu me despedir de Bryan. Onde mamãe estava com a cabeça? Ela tinha visto meu incômodo com Bryan. E onde ela estava, afinal? Eu precisava alertá-la sobre ele, mas não fazia ideia de como fazer isso sem expor o segredo. Amaldiçoei Bryan, ele estava chegando perto demais. E pensar que por um segundo eu tinha confiado nele.

–Ele me contou – soltei sem pensar.

Darren olhou para mim, mas eu não desviei o olhar da lareira à minha frente.

–Tudo – continuei. – Sobre a cidade, sobre Turner... Sobre sua família.

–Quando...?

–Antes de eu ir ao lago.

–Alice, não percebe que ele pode ter compelido você a atravessar...

Balancei a cabeça, impaciente.

–Não mude de assunto, Darren. Ninguém me hipnotizou nem coisa parecida. Algo estava me puxando para aquela parte do lago. Mas não é sobre isso que vamos falar agora. – Olhei no fundo dos seus olhos azuis. Ele estava mais perto do que eu esperava. Lembrei-me das ruínas, de como estávamos próximos a ponto de eu sentir sua energia se misturando à minha. Imaginei que a magia atrapalhava - ou então confundia - meus sentimentos por ele.

–Tudo bem – ele relaxou. Seus olhos brilhavam. – Sobre o que vamos falar?

Mordi o lábio, hesitante.

–Cedric Rider... Ele era seu tio. Era o melhor amigo de Turner.

–Sim.

–E quando o rei descobriu o que ele era... O que podia fazer... Ele...

–Sim.

Meus olhos se encheram de lágrimas sem avisos. Darren se virou no sofá e ficou de frente para mim. Tocou meu rosto suavemente.

–Eu nem o conheci, Alice. Não conheci ninguém da minha família. Doeu mais quando meus pais morreram, mas eles foram em paz. Está tudo bem.

–Não. – Pisquei e limpei os olhos. – É que... Eu não consigo imaginar... Tantas pessoas, tantos Druidas... Mortos. Porque um deles cometeu um erro!

Darren deu de ombros, mas parecia sombrio.

–Humanos. Quem os entende, não é? – e deu um meio sorriso com tristeza.

Levantei. Não conseguia ficar parada. Meu coração estava acelerado, minha respiração irregular. As janelas voltaram a bater sem vento algum.

–Não é justo! – eu dizia. – Estamos aqui, presos nessa cidade, porque um rei estúpido condenou uma raça inteira cegamente, e agora outro rei estúpido vai fazer a mesma coisa conosco se descobrir... – olhei para cima. – Não posso deixar isso acontecer com meu irmão, Darren! Com a minha família, com você...

Enquanto eu falava, ele se levantou lentamente e parou na minha frente. Segurou meus ombros, me fazendo parar de andar, e então pegou meu rosto entre as mãos.

–Alice – ele sussurrou calmamente. – Foi por isso que eu voltei. Por vocês. Para proteger o que resta do nosso povo. Eu achei que faria isso tudo sozinho, mas então eu volto e encontro você – ele deu um sorriso rápido. – Nós vamos encontrar um jeito de sair daqui com seu irmão, de ficarmos seguros, de não deixar a história se repetir. Vamos conseguir. Bryan é só uma pedra no meio do caminho, nada que não possamos chutar para longe.

Respirei fundo, tentando absorver suas palavras, acreditar nelas, encontrar algum sentido naquilo tudo. Mas então olhei para baixo, para seus lábios a apenas centímetros dos meus, e senti um instinto indomável me dizendo para beijá-lo.

–Alice? – ele notou a direção do meu olhar. Meu rosto ferveu. Sentia que meu coração ia sair pela boca.

–Desculpe – tentei me afastar, mas ele continuou segurando meu rosto.

–No que está pensando? – perguntou curioso. Havia alguma coisa nos seus olhos, tão azuis quanto um céu de primavera. Segurei suas mãos, mas não as afastei.

–Não iria gostar de saber – fechei os olhos, tentando pensar com clareza.

Mas então Darren subitamente me puxou e colou seus lábios nos meus. Foi como respirar depois de muito tempo prendendo o ar. Senti que tudo se encaixava no mundo, tudo era como deveria ser, nada precisava ser questionado. As janelas batiam loucamente, agora havia uma rajada forte de vento sacudindo tudo, o fogo da lareira aumentou, as chamas brilhantes crepitando, mas eu só percebi isso tudo em segundo plano. Meus braços se fecharam ao redor do seu pescoço, e ele me apertava contra seu corpo como se ainda não estivesse perto o suficiente.

Não sei quanto tempo durou – podiam ter sido dez segundos ou uma década inteira, então uma batida na porta nos assustou e nos afastamos, com os rostos queimando. E começamos a rir baixinho. Tentei controlar a risada para abrir a porta.

–Mãe! – o sorriso desapareceu. – E... Henrique.

Ele sorria para mim, e era quase doloroso de ver. Senti como se eu fosse a pior pessoa do mundo.

–O que... Por que...? – olhei dele para minha mãe confusa, constrangida, temendo que os dois vissem Darren na sala bem atrás de mim.

–Querida, deixe-nos entrar, está uma ventania aqui fora – mamãe passou por mim e entrou em casa. Olhei por cima do ombro, mas não via nem sinal de Darren. Talvez ele tivesse desaparecido. Henrique continuou lá fora, ainda sorrindo. Ele se inclinou e beijou minha testa.

–Vim acompanhar sua mãe do castelo até aqui. A cidade anda muito deserta desde que aquele outro... O ruivo... Apareceu – ele explicou. – Só espero que ele não vá ao baile no sábado.

–O baile... – lembrei-me subitamente da existência inútil da princesa Lily. – É verdade. Talvez você devesse colocar alguns guardas nas portas. Ou talvez eu pudesse fazer alguma coisa... – fiquei pensativa.

–Tipo... Com... Você sabe. A palavra com M.

Eu ri e então me senti pior ainda.

–É... A palavra com M. Nada demais, só alguma coisa que proteja o castelo... – dei de ombros. – Vou ver se consigo.

–Fale com Darren – ele sugeriu e eu fiz uma careta. – Talvez ele possa ajudar. Ah, e ele podia ir ao baile também. Não lembro se o convidei. Você fala isso pra ele?

Na minha lápide estaria escrito: “Alice Luminatte, morreu por não aguentar o peso da culpa”.

–Claro – sussurrei duramente.

–Fiquei sabendo que Hayden tem uma queda por ele, e agora que ela e Leo terminaram... Quem sabe, no baile, não é? – Henrique parecia até animado. Meu estômago revirou. Eu queria me dar um soco.

–Claro! – tentei disfarçar. – Bem, eu vou dormir. Foi um dia longo. Até sábado.

–Até – ele se inclinou e dessa vez me beijou rapidamente nos lábios. Então, finalmente, foi embora, e eu entrei em casa pensando em voltar ao lago e me afogar de propósito dessa vez.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Terra da Neve" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.