Terra da Neve escrita por ACunha


Capítulo 14
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

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Quando Bryan terminou sua história perturbadora, eu me sentia atordoada. Meu pai me contara sobre como meu avô havia morrido – torcera o pescoço caindo do cavalo muito antes de eu nascer. Nunca imaginei que houvesse outra história por trás. Meu peito doía com a lembrança do meu pai. Quantas coisas ele nunca havia nos contado? Contado à minha mãe? E pior, o quanto Stephen realmente sabia sobre minha família?

E isso nem era tudo. A história não era sobre mim, era sobre uma cidade inteira. Imaginei que terríveis ameaças Turner deve ter feito, quantas horríveis mortes tiveram que acontecer para que ele tivesse aquele efeito sobre Nixland. E tudo porque uma pessoa cometeu um erro. Ele era mesmo tão poderoso a ponto de fazer com que se esquecessem do mundo lá fora?

Impossível. Tinha que haver algo mais nessa história.

–Tem certeza de tudo isso? – perguntei depois de um tempo.

–Foi o que Darren me contou quando nos conhecemos, e foi o que ele ouviu dos pais que fugiram daqui. – Bryan apenas deu de ombros. – Se tem alguma dúvida, pergunte a ele.

Assenti. Não gostava de estar tendo esta conversa com Bryan, mas pelo menos ele tinha esclarecido algumas coisas.

Olhei para o céu. Já começava a escurecer, e eu deveria voltar para casa. Mas me sentia cheia de energia, e não iria descansar tão cedo. Minha mente estava insuportavelmente clara. Eu sabia exatamente o que ia fazer.

–Obrigada, sr. Redtorn – sussurrei me levantando. – Pela história maravilhosa. Ajudou bastante.

–O prazer foi meu, Alice – ele se levantou em seguida e parou bem na minha frente. – Sempre que quiser ouvir algumas verdades, não hesite em me procurar.

Encarei seus olhos verdes com frieza, pensando seriamente em falar sobre seus planos de expor a magia ao mundo, mas decidi que nosso tempo tinha acabado. Dei as costas para ele e sem dizer outra palavra e fui em direção às montanhas.

A caminhada até a cabana de Darren pareceu levar uma eternidade, mas ainda assim não me senti cansada quando cheguei lá. Bati na porta três vezes, com impaciência, e quando não fui atendida imediatamente, fui logo entrando. A sala estava uma bagunça – papéis espalhados pelo chão, roupas penduradas aleatoriamente em diversos lugares, livros abertos em cima da mesa, alguma comida esquecida em uma panela na cozinha, e o mais interessante, diversos vidros com diferentes líquidos destampados e exalando um cheiro que me deixava meio entorpecida.

Balancei a cabeça para limpar a mente. Seu sobretudo marrom escuro estava jogado em um sofá velho no canto da sala. Caminhei até a porta que devia dar para o único quarto da cabana; estava entreaberta. Espiei apenas o suficiente para ver um Darren profundamente adormecido, esparramado de qualquer jeito em uma cama casal tão velha quanto o resto do lugar.

O que ele andava fazendo para estar tão cansado?

Voltei a sala e dei uma olhada nos livros. Basicamente todos eram em outra língua, e os que não eram tinham palavras e símbolos complexos demais para eu decifrar. Tentei virar algumas páginas aleatórias, procurar algo de útil, mas a página voltava para o mesmo lugar. Fiz a mesma experiência em todos os livros, as páginas sempre voltavam para o lugar onde estavam antes de eu mexer. Chutei alguns papéis que estavam pelo chão, e enquanto eles caíam de volta, se moviam para os lugares iniciais. Tirei o sobretudo de cima do sofá e o atirei do outro lado da sala, e segundos depois, como se o vento o carregasse, ele voltou para a mesma posição no sofá.

–Sério? – murmurei para ninguém. Revirei os olhos. Darren era tão paranoico assim com suas coisas?

Saí pisando fundo da cabana, deixando a porta escancarada, e fui até o lago. Parei no mesmo lugar onde Darren havia me contado sobre a magia, sobre ser um feiticeiro. Parecia ter sido décadas atrás.

O céu estava de um azul escuro acinzentado. Não havia som algum. A água congelada do lago parecia espessa como concreto. Hesitante, dei um passo para frente, pisando no gelo. Não sabia o que me levava a fazer aquilo, eu simplesmente não conseguia ficar parada. Dei mais alguns passos, certa de que o gelo não cederia com meu peso, sem sentir frio algum. Minha agitação era forte demais para prestar atenção no frio. Só parei de andar quando já estava quase na metade do lago, e parei apenas para perceber algo que sempre estivera ali, mas que só agora tinha despertado minha curiosidade: o outro lado estava coberto por uma neblina densa que não me permitia ver nada. Ela sempre esteve presente naquela parte do lago, e isso sempre pareceu normal ou simplesmente sempre foi ignorado. Agora, depois de ter descoberto tantas coisas surreais sobre a realidade, eu me perguntava o que poderia haver ali, e porque estava escondido.

Enquanto ponderava sobre isso, eu ouvia um barulho estranho de fundo, irritante, me distraindo. Girei para ver o que era e o barulho ficou mais alto, e agora eu sabia exatamente o que era, e meu coração deu um salto. Olhei para baixo e vi as ramificações no gelo. Ele estava quebrando.

–Alice! – ouvi Darren gritar. Levantei o rosto e o vi parado na borda do lago, parecendo apavorado.

–Darren... – sussurrei, me sentindo gelada. Dei um passo na direção dele, mas o gelo recomeçou a quebrar, e eu parei, aterrorizada. Olhei novamente para as rachaduras, então de volta para ele.

–Não!

O gelo se quebrou completamente, então eu caí na água.

×××

Sonhei com um homem. Estava cada vez mais frio e escuro, e ele me aguardava no fundo do lago. Apesar da escuridão, seus olhos brilhavam de uma forma estranha. Ele não parecia ter mais de quarenta anos, apesar das roupas serem muito antiquadas. Tinha uma expressão determinada, de puro ódio, quando fixou o olhar em mim. Eu tentava me afastar, nadar para a superfície, mas estava congelada. Quando cheguei a apenas centímetros das mãos do homem terrível, e ele tentou me puxar com dedos que mais pareciam garras, algo explodiu, e ele foi arremessado para longe de mim. Perdi os sentidos enquanto ele se afastava, me amaldiçoando com palavras sem som.

Quando acordei, estava bem mais quente. Encolhi-me debaixo de um cobertor macio que mantinha meu corpo aquecido, e franzi a testa para uma luz incômoda. Era o fogo de uma lareira, percebi. Eu estava deitada em algum tapete, e ao meu lado havia pilhas de livros velhos. Estava de volta à cabana.

–Alice! Pensei que nunca fosse acordar – ouvi Darren dizer.

Bastou olhar para cima para vê-lo. Ele estava bem ao meu lado, apoiando minha cabeça no colo. Seus olhos brilhavam, de um azul celeste, enquanto ele me puxava e me apertava mais contra o peito, parecendo aliviado. Mal tive tempo para ficar surpresa, e ele me soltou logo em seguida.

–O que estava pensando?! O que deu em você para tentar atravessar o lago? Por que veio aqui, afinal?

–Calma, por favor, não sei qual pergunta responder primeiro – sussurrei ironicamente enquanto me sentava. – O que são todos esses livros?

–Negativo. Você vai me dizer primeiro o que estava fazendo aqui, e porque atravessou o lago.

Abri a boca para falar alguma desculpa, mas encontrei seus olhos e suspirei.

–Eu precisava... De alguma coisa... – olhei ao redor pensativa. Não me lembrava de muita coisa, a não ser da certeza de que havia alguma coisa ali da qual eu precisava. Então me lembrei do sonho, do homem no fundo do lago, e da neblina na outra margem. – Por que tem tanta neblina naquela parte?

–O quê?

–Quase não dá pra ver a outra margem do lago por causa da neblina. Por quê?

Ele parecia extremamente confuso com minha pergunta.

–Foi por isso que você atravessou? Para saber o que tinha do outro lado?

–Não! – me levantei, impaciente, e comecei a andar de um lado para o outro na sala. – Só acho estranho que aquela parte esteja sempre escondida, como se houvesse algo lá... E eu tive um sonho muito estranho, com um homem no fundo do lago...

–Alice – ele se posicionou na minha frente e me fez parar. – Prometa que nunca mais vai fazer isso. E que vai ficar longe desse lago. Por favor.

–Não posso! – disse exasperada. – Tem alguma coisa que eu preciso...

–Não tem nada lá, Alice. Você só vai morrer congelada se fizer isso de novo. Estou falando sério, e já temos problemas demais por aqui... – ele olhou para o lado, indeciso, e por fim resolveu falar. – Enquanto você estava inconsciente... Algo... Aconteceu.

Meu coração deu outro salto gigante.

–O que foi agora?

Mas pela expressão de Darren, eu me perguntei se queria realmente saber.

–Bryan está com Alex.


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