Terra da Neve escrita por ACunha


Capítulo 11
Capítulo 10




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Bryan Redtorn.

O cabelo ruivo desalinhado caía nos olhos. Ele olhou ao redor por um momento, ainda de pé diante da porta, e eu desejei que mudasse de ideia e fosse embora antes de me enxergar. Infelizmente, ele me viu. E sorriu.

E eu senti vontade de vomitar.

–Alice? Você tá bem? – Alex apertou seus olhinhos com preocupação.

–Sim...

–Seu rosto tá meio verde.

–Alex!

Bryan estava caminhando na nossa direção. Segurei a mão de Alex, como se ele pudesse me proteger do que estava por vir, e respirei fundo.

–Olá, Srta. Luminatte – Bryan me cumprimentou. – Que ótima hora para nos encontrarmos novamente.

–Bryan – respondi com frieza. – O que faz aqui?

Ele abriu a boca para responder, mas então olhou para Alex com interesse, como se fosse a primeira vez que o notasse ali. Meu irmão, por sua vez, encarava o estranho de boca aberta, olhos arregalados, e apertou minha mão com urgência.

–Alex? O que foi? – sussurrei.

Mas ele não respondeu.

Em vez disso, Alex soltou minha mão e empurrou Bryan com toda a força que um garoto de onze anos podia ter. Então saiu correndo até estar do lado de fora do restaurante.

Imediatamente me levantei, mas estava em choque.

–O que você fez?! – puxei Bryan pela manga do casaco. Ele se esquivou.

–Absolutamente nada. Seu irmão deve ter algum tipo de...

Mas eu não fiquei para escutar o resto. Peguei meu casaco e o de Alex, pensando que ele provavelmente estaria congelando, e segui meu irmão porta afora.

Alex estava sentado na neve, abraçando os joelhos, e parecia muito assustado. Quando toquei seu ombro, ele pulou meio metro para longe e me encarou com os olhos meios vermelhos.

–Ele já foi? – perguntou com um sussurro.

–Alex... – me sentei ao seu lado e envolvi seus ombros com o casaco. Ele tremia. – O que aconteceu? Por que saiu correndo?

Ele balançou a cabeça, agitado, olhando fixamente para frente.

–Deixa pra lá. Você não acreditaria. Mamãe não acredita, por que você acreditaria?

–Acreditar em quê? Alex, me diga.

Nessa hora a porta se abriu novamente, e Bryan saiu do restaurante. Ele parou um momento e olhou na nossa direção. Alex ficou rígido, e eu segurei sua mão.

–Vá embora, Bryan – pedi.

–Queria ter um bom motivo para fazer isso – ele estava se aproximando novamente, e dessa vez Alex não só apertou minha mão, como também enviou uma corrente elétrica paralisante através do seu toque, que percorreu meu corpo inteiro. Arregalei os olhos.

–Vá embora! – Alex gritou.

Bryan recuou como se tivesse sido atingido por algum objeto pesado, e por um momento perdeu completamente sua expressão fria e calculada. Por apenas um segundo, ele pareceu assustado. De verdade.

Então passou, e ele ajeitou o casaco, recompondo sua frieza. Passou por nós, sem olhar para trás, e observei até ele dobrar a esquina.

Sozinhos novamente, eu e Alex ficamos em silêncio por alguns minutos. Quando recuperei a coragem para dizer alguma coisa, ele já estava mais calmo.

–Diga, Alex – sussurrei com delicadeza.

Ele respirou fundo. Parecia muito mais velho.

–Às vezes acontecem umas coisas estranhas comigo... E com outras pessoas, quando eu estou por perto. – Ele hesitou antes de continuar. – Consigo mover as coisas. Sem encostar nelas. E... Tem vezes... Que eu consigo saber o que as pessoas pensam, sabe? Por exemplo, eu sempre sei quando a mamãe vai sair. E quando temos visitas. – Alex parou e me espiou pelo canto do olho. – Você acha que eu sou louco?

–Não – disse imediatamente. – Você não é louco, Alex. Só... Por que nunca disse isso antes?

–Eu disse, uma vez. Para mamãe. Mas ela gritou comigo e disse para nunca repetir essas coisas de novo, ou o rei me prenderia pra sempre.

Passei meu braço ao redor dos seus ombros, puxando-o para perto de mim. Senti um tremor ao pensar na possibilidade do rei descobrir algo assim. Diferente de Darren, Alex não podia se defender, nem controlar isso. Ele era mais vulnerável que todos nós.

–Vai ficar tudo bem – sussurrei sem convicção.

–Isso não é tudo – ele continuou rapidamente, com a voz assustada, mais baixa que um sussurro. – Eu também... Vejo... Coisas. Quando olho para as pessoas. Como aquele homem do restaurante.

Tentei absorver aquilo. Então meu irmão tinha poderes adicionais. Tudo bem. Eu podia lidar com isso.

–O que você viu quando olhou para ele? – perguntei cautelosamente.

Ele hesitou.

–Vi tudo vermelho – admitiu. – E queimado. Nixland estava destruída, e haviam... Pessoas... Correndo... – ele fechou os olhos para se lembrar. – O castelo estava em chamas. Havia gritos, e ele... Aquele homem... Estava no meio de tudo isso. Controlando o fogo.

Respirei fundo e o abracei mais forte. De alguma forma, aquilo não me surpreendia tanto. Sabia que nada de bom poderia acontecer com Bryan ali, mesmo que fosse apenas uma intuição sem fundamentos.

Então subitamente, senti uma determinação crescer dentro de mim, fora de controle. Bryan não ia destruir minha cidade. Eu não permitiria isso. Todas as pessoas que eu conhecia e amava estavam lá, e mesmo que o rei fosse estúpido e ignorante, ele não merecia aquele destino que Alex tinha visto.

Ninguém merecia.

–Alex, vamos. – Peguei sua mão e o ajudei a se levantar. Limpamos a neve das nossas roupas e olhei fixamente seu rosto corado de frio. Ele tinha crescido bastante nos últimos anos, e agora eu era mais alta por apenas uma cabeça. Seria alto como nosso pai, teria os olhos verdes escuros que ele tinha, assim como os cabelos claros ondulados, e o queixo forte. Mas, por enquanto, era apenas um garotinho assustado com os poderes que possuía.

–Tá olhando o quê? – perguntou de mal humor. Eu sorri e baguncei seu cabelo.

–Nada. Venha. Vamos comer, e depois visitar um amigo meu. E se você disser qualquer coisa sobre isso para mamãe, vai realmente se arrepender.

×××

A cabana na base das montanhas parecia abandonada com todas aquelas camadas de neve cobrindo o telhado inclinado. Mas depois de bater três vezes na porta, ela imediatamente se abriu, revelando a última pessoa que esperava encontrar ali.

–Leo?! – praticamente gritei.

Ele resmungou algo que não entendi e abaixou o rosto. Tinha uma marca avermelhada em uma das bochechas. Vi um movimento acima do seu ombro e me estiquei para ver. Darren olhava para mim lá de dentro, e parecia meio constrangido.

–Darren – disse com a voz fria e cruzei os braços. Ainda estava com um pouco de raiva por ele ter ficado com raiva, mas não era isso que ocupava minha mente agora. – Por favor, não me diga que vocês brigaram.

–Não – Leo respondeu rapidamente e apontou para o próprio rosto. – Quem fez isso foi Hayden.

Arregalei os olhos e não consegui contar uma risada.

–Hayden? Ela bateu em você? – ri mais um pouco, e Leo começou a ficar mais vermelho. – Por que ela faria isso?

Ele abriu a boca para responder, mas então a própria Hayden saiu da cabana e parou na minha frente, me encarando com frieza.

–Porque ele estava tendo um ataque. Um ataque desnecessário. – Ela olhou sugestivamente para Leo, como se já tivessem tido aquela conversa antes. – Leonard acha que existe algo entre Darren e eu, o que é bobagem.

Arqueei uma sobrancelha, mas Hayden fingiu não notar.

–Quer dizer, só porque eu vim fazer uma visita e trouxe algumas bebidas quentes, não significa que eu queira algo mais que amizade, certo? – ela apertou os olhos, nos desafiando a contradizê-la. Ficava bem assustadora com esse humor.

–Absolutamente certo – concordei tentando segurar o sarcasmo. – Não se preocupe, Leo, ela é toda sua. Aliás, o casamento é daqui a poucas semanas...

Hayden empalideceu visivelmente quando mencionei o casamento. Leo não percebeu, já que sorriu, concordando comigo com alegria. Darren estava indiferente, mas me encarava de uma forma estranha. Então seus olhos caíram sobre Alex, que permanecia calado ao meu lado, observando a cena.

–Por que o trouxe aqui? – Darren falou pela primeira vez, referindo-se a Alex.

Pisquei, surpresa pelo interesse súbito dele, e me lembrei da missão original.

–Preciso falar com você – disse rapidamente. – Sobre...

–Sobre...? – ele arqueou as sobrancelhas.

–Você sabe... – tentei mover as mãos, gesticulando loucamente, para que ele entendesse que se tratava de magia. Hayden e Leo olharam para mim como se eu tivesse enlouquecido, mas Darren entendeu.

–Ah, sim. – Deixou escapar um suspiro.

–O quê? Sobre o que é? – Hayden se intrometeu.

–Alex está doente, e eu tenho um remédio que pode ajudá-lo – ele disse, sem alterar sua expressão.

–Ah... – ela olhou desconfiada para nós dois, mas deu de ombros, pegando a mão de Leo de forma possessiva. – Vamos, Leonard. Temos que decidir algumas coisas para... A cerimônia.

Então eles se foram, montados no mesmo cavalo, desaparecendo nas árvores. Uma pequena parte de mim ficou preocupada por Hayden mal conseguir pronunciar a palavra “casamento”. O que se passava pela cabeça dela? Queria que nossa amizade ainda fosse a mesma de uma semana atrás, para que eu pudesse decifrá-la com mais facilidade.

–Alice.

Voltei-me para Darren, percebendo que estava encarando o mesmo ponto por tempo demais. Entrei na cabana com Alex, e trancamos a tempestade do lado de fora.

–Temos um problema – fui logo dizendo.

–Mais um? Ou algum que tenha se intensificado? – ele soou sarcástico e amargo, e eu odiei ver que seus olhos ainda estavam escuros. Olhei com pesar para Alex.

–Meu irmão – sussurrei. – Ele tem magia.

Darren não estava preparado para aquilo. Ele arregalou os olhos enquanto eu explicava a história inteira, como se enxergasse aquela possibilidade pela primeira vez, e encarou Alex novamente, analisando-o. Alex se encolheu para perto de mim, mas eu disse que estava tudo bem.

–Eu deveria saber – Darren murmurou depois de um tempo.

–Não é culpa sua... – tentei dizer, mas ele me interrompeu.

–Ele é um caso especial, Alice. Seu pai não via o tipo de coisas que ele pode ver, e você também não vê. Eu mesmo não vejo. Seu irmão... – ele tinha um novo brilho nos olhos. – Ele é o único a nascer com esse poder em três gerações inteiras.

–E o que isso significa?

–Significa que ele precisa tomar cuidado. Esse poder não é para os fracos. Se Bryan souber disso, ele vai tentar se aproveitar das visões de Alex, e...

Ele quis continuar, mas eu levantei uma mão, pedindo que parasse. A cor tinha deixado o rosto de Alex, e suas mãos tremiam. Era demais para ele aguentar de uma vez só.

–Desculpe – Darren sussurrou, notando o estado do meu irmão.

–Tudo bem, vamos falar sobre isso outra hora... Sozinhos.

–Não – Alex balançou a cabeça, ainda pálido, mas parecia firme. – Eu quero saber. Isso tem a ver comigo também.

–Alex, há coisas que são perigosas demais para você entender... – tentei explicar.

Você entende, por que eu não posso? – ele voltou o olhar para Darren. – Continue.

Darren olhou uma vez para mim, pedindo permissão para continuar. Eu dei de ombros, e ele voltou a falar.

–Bryan vai tentar manipular você, Alex. Ele passou anos estudando e praticando o controle mental, e domina essa arte melhor do que muitos anciãos. Você precisa aprender a bloquear seus pensamentos, e a se proteger das armadilhas dele... Ou a sua visão se tornará real em menos tempo do que imagina.

Alex assentiu, aceitando aquilo quase melhor do que eu mesma. Então se levantou, respirando fundo.

–Então, quando começamos?

Quase sorri. Em duas semanas ele faria doze anos, mas parecia muito mais velho naquele momento. Havia algo de extremamente melancólico nisso, o fato de ele precisar crescer mais rápido do que devia. Mas que escolha nós tínhamos?

Darren parecia animado também. Os dois exalavam coragem e determinação, enquanto eu continuava tremendo de frio, pensando na visão de Alex.

–O mais rápido possível – Darren respondeu, e finalmente, olhou para mim. – Acho que precisaremos das ruínas novamente.

Dei de ombros novamente, me juntando ao jogo.

–Ah, e talvez ele tente se aproximar da realeza para controlar as coisas por aqui. – A expressão dele endureceu só um pouquinho, o suficiente para eu notar. – Acha que pode falar com Henrique? Alertá-lo?

Senti meu rosto esquentar, e me odiei por isso. Mas assenti.

–Vou fazer o melhor que puder.


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