Flourish escrita por Moon writer
Notas iniciais do capítulo
Dizem o mal de um autor é se apegar a um de seus personagens. Bem... Estou indo no caminho errado então. :v
Boa leitura!
– Karen? Karen! Mas onde será que essa inútil está?
– Oh, desculpe. Estava no... - Sou interrompida por ele.
– Não me interessa onde estava, só venha até mim quando eu lhe chamar. Você sabe quantas pessoas gostariam de estar no mesmo emprego que você? Mocinha, eu não desperdiçaria... - Esse velho adora me atormentar com seus discursos longos e sua voz irritante, ele acha que o barulho da espelunca que insiste em chamar de restaurante fosse pouco. Se a mixaria que eu recebo não estivesse me ajudando, ele não estaria vendo meu rosto. - Você me entendeu?
– Claro, senhor Tavares...
– Ótimo. Agora tenho essa encomenda para você entregar. - Ele coloca sua mão sobre uma pilha de caixas de pizza que estavam em cima do balcão da cozinha. - Você irá levar neste endereço e irá entregar diretamente ao pessoal de uma peça que acabou de chegar na cidade. Seja rápida! - Seguro o papel com o endereço e o número do quarto onde essas pessoas estão, logo em seguida pego as oito caixas de pizza e saio pelas portas do fundos.
– Mocinha? Ele não deve saber que tenho vinte e sete anos, não é? Claro que não! To uma velha acabada, aparento uns quarenta anos e ele ainda me chama de mocinha.
– Você e seu costume de pensar alto demais.
– Você tava ouvindo? - Percebo tarde demais que Ulisses estava me acompanhando em silêncio.
– Desculpe, mas também tenho entregas a fazer, e bem... Só temos esse beco por onde passar.
– Não se desculpe, cara... Eu só ando um pouco estressada. - Ele sorri. Passamos pelo beco e atravessamos a rua em direção às motos velhas que pertenciam ao restaurante. Guardo as caixas que eu levava no compartimento que havia preso ao veículo. Coloco o capacete e ligo a moto, pronta para sair.
– Ei! - Ulisses me chama a atenção. - Você não aparenta ter quarenta anos... Seu rosto está igual a quando tinha dezessete.
– Ah, com certeza. - Ironizo e saio dirigindo rumo ao local de entrega.
***
O hotel era enorme e luxuoso, o mais conceituado da cidade. Não nego que sinto vergonha por estar vestida com aquelas roupas sujas e com cheiro de gordura, mas aquele era o meu emprego. Tinha que fazer. Chego à recepção e digo para que vim, a moça logo me encaminha para um elevador e lá estou eu, subindo para o quarto onde o pessoal da tal peça estava.
Olho-me no espelho e confirmo o estado deplorável em que me encontrava: meu cabelo estava num emaranhado difícil de desfazer, o suor do meu rosto fez prender alguns fios na minha testa; minha camisa havia uma mancha enorme de gordura, bem em cima da logomarca da espelunca, minha calça de tactel estava remendada nos lados e meu tênis... Bom, uma porcaria. Coloco as caixas no chão e tento, pelo menos, arrumar o cabelo que mesmo curto, ainda me causava problemas.
Quando retiro o último fio da minha testa suada, a porta atrás de mim se abre e alguém me olhava pelo espelho. Sinto meu rosto arder e tento me recompor o mais rápido possível.
– Vai subir? - A moça que me olhava pergunta.
– Sim... - Respondo baixo. Ela entra e para ao meu lado, a olho disfarçadamente e percebo que aparenta minha idade, mas que com certeza se diferenciava muito de mim: estava vestida casualmente, porém com um toque de elegância, seu cabelo era um pouco maior que o meu, na altura dos seios, com cachos em tom dourado que de muito longe podia se notar que não era natural. Sua maquiagem era deslumbrante, ressaltando o azul claro de seus olhos, tudo formidavelmente bonito.
O elevador abre novamente sua porta e era ali que eu tinha que seguir. Apanho as caixas do chão e timidamente peço licença.
– Ah, claro. Também fico nesse andar. - Ela me diz. Sorrio e começo a andar, inevitavelmente ela me acompanha, até pararmos na mesma porta. - Espere, são para este quarto?
– É... Sim. Aqui é onde o pessoal que irá fazer uma peça está hospedado. Certo?
– Isso mesmo. - Ela leva sua mão a testa. - Eles nem me consultaram, sabem que não posso comer pizza e fazem isso apenas para me torturar. Está vendo como sofro?
– Nossa, um absurdo isso. - Tento conter o riso, mas não dispenso a ironia. Sofrer... Ela não parece saber o real sentido desta palavra.
– Está zombando de mim? - Abro minha boca para respondê-la, mas um rapaz surge abrindo a porta do apartamento.
– Ah, finalmente a pizza! - Ele pega com pressa as caixas das minhas mãos. - Caio, as pizzas chegaram, faz o pagamento! - Ele grita.
Fico de cabeça baixa, esperando o tal do Caio e aquela mulher insistia em ficar me observando, mal deu valor ao rapaz que tinha nos recebido. Não demora muito para um homem alto, sem camisa, com seus músculos bem definido a mostra aparecer na porta, ele acaricia o ombro da mulher e fala baixo, para que aparentemente só nós três ouvíssemos:
– Querida, poderia pagar a ela desta vez? Veja, meu dinheiro acabou na última parada.
– Nem pense nisso. - Diz ela decidida, ainda com seus olhos presos em mim.
– Ah, Bella... Por favor!
– Bella? - Digo surpresa.
– Sim. Isabella Maldonado, já ouviu falar de mim antes?
Meu coração acelera, sinto meu corpo formigar. Uma sequência de calafrios passeiam em minha espinha. Queria esconder, mas a surpresa se estampa em meu rosto. Era ela.
– Com licença, eu preciso ir. - Passo por ela e acelero meus passos até o elevador, sinto minha visão ficar turva.
– Ei, garota! Você está esquecendo do dinheiro. - O rapaz tenta me alertar, mas eu não me importava com o dinheiro. Precisava sair dali. Entro no elevador, que por sorte estava livre e aperto o botão que indicava para a recepção desesperadamente. Antes que a porta pudesse se fechar a vejo chegando perto, mas já era tarde. Felizmente.
Quando chego à recepção, ando em passos rápidos até a saída, ela não iria me alcançar. Meu passado não iria me assombrar novamente! Finalmente saio, mas continuo andando apressada.
– Ei, por favor espere! - Sua voz chega a meus ouvidos novamente. - Por favor, seu dinheiro! - Não estava interessada no dinheiro, precisava ir embora. Consigo alcançar minha moto e subo nela. - Será que pelo menos uma vez na vida, você poderia não fugir... Karen.
Paro de me mover e sinto ela se aproximar de mim. Não era possível que a Isabella lembrasse de mim... Não era.
– Eu bem que estava achando algo familiar em você, só não sabia o que exatamente. Bem... Você mudou.
– Obrigado por me lembrar. - Evito contato visual. Decidida, dou ignição na moto.
– Por favor, espere. Precisamos conversar. - Ela insiste.
– Desculpe, não temos nada para falar.
– Por favor! - Ela segura meu braço e pela primeira vez olho diretamente em seus olhos. - Por favor, fique...
Não poderia imaginar que depois de todo esse tempo a veria novamente e muito menos que eu iria reagir de tal forma. Parece que a Karen... A real Karen havia ressurgido e tomado conta do meu novo ser. Agora não tinha mais nada o que fazer.
– Tudo bem, eu fico.
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Espero que estejam gostando. Comentários são sempre bem vindos. XD