A Bijuu esquecida escrita por Nanahoshi


Capítulo 17
Capítulo 16 - Irregularidade no time 7


Notas iniciais do capítulo

BOA NOITE PESSOINHAS!
Tudo bem com vocês? Sentiram minha falta? - sqn
Bom, eu realmente devo uma explicação para meus leitores divos e maravilhosos que não me abandonaram ♥ ♥
É com tristeza que venho dizer que essa fanfic vai ficar por tempo indeterminado num semi-hiatus. Não tenho a menor ideia de quanto tempo irei demorar para atualizar t.t
Eis os motivos: o primeiro e o mais importante é a faculdade. Estava num período muito complicado e cheio, então meus bloqueios criativos estavam muito sérios. Somado a isso eu estou bem por fora do clima de Naruto, por estar me dedicando mais a outros fandoms.
Infelizmente acabei desanimando com ao fanfic por ser extremamente trabalhosa de escrever, estar fora do clima e não ter tido um retorno tão animador quanto gostaria. Não estou acusando nenhum de vocês, mas tenho certeza que quem escreve sabe do que estou falando. Eu sempre pesquiso, releio muita coisa para escrever cada capítulo dessa fic, que é uma das mais trabalhosas de escrever... E querendo ou não, não ter o esforço reconhecido, o famoso 'feedback' desanima bastante.
Sou extremamente grata aos que me acompanharam até aqui ♥ Como eu havia prometido, não abandonarei a fic, mas também não prometerei atualizá-la com frequência pelos motivos que já falei.
Muuuuito obrigado de verdade aos meus leitores lindos! Eu tenho leitores muito especiais, e saibam que foram vocês (sim vocês vão saber se for com vocês) que me fizeram criar vergonha na cara e atualizar a fic ♥ Muito obrigada pelo apoio de vocês e pelo carinho! confesso que é mais por vocês do que por mim mesma que não estendi ainda mais esse hiatus 3 Vocês arrasam!
Beijos e boa leitura!



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—Kailina-chan, está tudo bem?

Hinata fitou a amiga com os olhos esbranquiçados cheios de preocupação. A Uzumaki ergueu levemente o rosto e sorriu de forma doce para a outra.

—Está sim, Hinata. É que estou um pouco nervosa. Não sei como vai ser a seleção dos times...

A pequena genin de cabelos negros azulados assentiu e voltou a fitar suas mãos pousadas sobre a bancada. Enquanto ela brincava em silêncio com seus dedos, a Uzumaki baixou os olhos para suas coxas e puxou a barra de seu short que usava como uniforme ninja. Por cima do padrão redes cinzas e negras, Kailina usava uma canga azul escura aberta nas laterais e com duas faixas de tecido descendo até a altura dos joelhos. Usava um top simples da mesma cor que a canga, que ia até a metade de sua barriga. Dali pra baixo, o mesmo tecido do shorts cobria sua pele. Seu cabelo estava prendido no seu costumeiro rabo-de-cavalo alto, a mecha ruiva jogada para o lado esquerdo.

Hinata virou o rosto timidamente para observar os movimentos repetitivos que a amiga fazia puxando a barra do shorts. Apertando os lábios numa linha tensa, ela respirou fundo tomando coragem para compartilhar seu nervosismo com Kailina:

—Eu também estou. – a menina desceu as mãos para o colo sem parar de fita-las com um olhar tenso e tímido. – Eu queria muito... Poder ficar... no seu time... e no...

Neste instante ouviu-se um grito estridente na sala, e depois um burburinho seguido de gargalhadas encheu a sala. As duas garotas se viraram para o centro da sala para ver o que tinha acontecido.

Naruto estava em cima da bancada tossindo como se tivesse se engasgado. Um pouco afastado, Sasuke cuspia com as mãos em torno do pescoço.

—O que aconteceu? – Kailina perguntou mais para si mesma do que para Hinata ou qualquer outro que estivesse em volta.

O garoto que se sentava à sua frente interrompeu seu ataque de risos e, limpando uma lágrima, explicou:

—Os dois ali estavam se estranham e acabaram resolvendo num beijo. – e ao fim da fala, tornou a desatar a rir.

—Beijo? – Hinata perguntou corando.

Kailina tornou a olhar para Naruto, depois para Sasuke. Um menino que estava logo atrás do genin vestido de laranja alternava-se em abafar risadas e pedir desculpas. Estava explicado.

Balançando a cabeça em desaprovação, Kailina tornou a se sentar em sua cadeira e fez um gesto com a mão para que Hinata a imitasse.

—Besteira de garotos. Ignore isso, Hinata.

Nesse instante, o nítido som de socos encheu a sala e a Uzumaki virou-se bruscamente para ver o que era. Sakura preenchia a cabeça de Naruto de socos.

“Ai, ai...”, ela suspirou mentalmente com uma expressão de cansaço. Já desistira de fazer Sakura pegar leve nas surras que dava no ninja loiro quando ele aprontava para cima dela ou de Sasuke.

—Naruto-kun... – murmurou Hinata ao seu lado se encolhendo. Ela sabia que a amiga queria interceder por ele, mas não estava em posição de fazer muita coisa.

Neste instante, a porta foi aberta num movimento curto e firme, e Iruka adentrou a sala pisando firme. A sala silenciou instantaneamente, e os que estavam fora de seus lugares encolheram-se e retornaram tentando fazer o mínimo de barulho.

—Ohayo! – cumprimentou Iruka perscrutando seus alunos com um olhar altivo e orgulhoso.

—Ohayo. – respondeu a turma em uníssono.

Iruka sacou a prancheta que trouxera debaixo do braço e voltou a fitar um por um dos presentes com um leve sorriso nos lábios.

—Os que estão aqui nesta sala foram aprovados na Academia Ninja. Isso significa que, a partir de hoje, todos vocês são ninjas de verdade.

Um burburinho correu a sala e vários sorrisos brilharam aqui e ali seguidos por rubores e toques de mão. Iruka acompanhou os movimentos discretos e assentiu abaixando a cabeça, e ao levantá-la, seu olhar adquirira um ar sério:

—No entando, vocês são apenas iniciantes, são apenas genins. As dificuldades começam agora.

Ao terminar a fala, todo e qualquer resquício de sorriso havia desaparecido. Os olhares infantis estavam arregalados, tensos e apreensivos. Kailina se encolheu na cadeira e se lembrou do dia que ouvira esse mesmo discurso na Vila dos Uzumaki sobreviventes. Realmente, dali em diante, tudo iria de mal a pior.

—A partir de hoje, – Iruka prosseguiu explicando. – vocês receberam missões da Vila. A seguir, formaremos equipes de três integrantes, e cada equipe terá um professor jonin que os acompanhará nessas missões.

Dessa vez o burburinho reiniciou com energia, todos murmurando entre si sobre a escolha das equipes e os possíveis professores que teriam. Hinata apertou as mãos sobre o colo e fechou os olhos. O medo do desconhecido e de tudo que ela teria que enfrentar como ninja assolaram seu coração e ela estremeceu. Seria tão mais fácil se ela estivesse ao lado de seus amigos...

Enquanto isso, ao lado da pequena Hyuuga, Kailina observava a prece silenciosa que ela fazia com os olhos tristonhos. Ficara imensamente feliz quando Naruto conseguira sua bandana, e o receio da seleção das equipes diminuíra em seu peito. Havia uma chance de ela ficar no mesmo time que o Uzumaki, mas sabia que eram baixas. Porém, felizmente, não havia apenas ele. Ficaria muito agradecida se formasse time com Hinata. Até com Sakura ou Ino seria bom.

Ela só não queria ficar sozinha. Sentir aquela sensação outra vez de não existir, de não marcar presença na vida das pessoas...

Ela não queria conviver com pessoas que a esqueceriam.

—Bom. – disse Iruka cortando o zum-zum das vozes dos alunos. – Estou conferindo aqui na lista de alunos e me lembrei de dar um aviso. Esse ano temos um número irregular de genins, então uma das equipes terá cinco integrantes ao invés de quatro. Felizmente, ainda está dentro do limite de ninjas por time.

Os alunos assentiram e se entreolharam nervosos. O professor colocou as mãos na cintura e fitou a turma mais uma vez com um olhar carinhoso, como um pai que observa seus filhos ao perceber que estavam crescendo rápido.

—Não se esqueçam. – ele acrescentou aumentando a voz. – Obedeçam às ordens de seus professores para cumprir as tarefas.

Muitos piscaram de forma nervosa diante da fala de Iruka e engoliram em seco. A hora tinha chegado.

—Antes de começarmos, quero que saibam que definimos as equipes de modo a manter o equilíbrio de forças em cada grupo.

—HEEEEEIN!? – berrou a turma em conjunto.

Kailina franziu o cenho e fixou a prancheta nas mãos de seu professor. Como ela previra, os times não haviam sido planejados aleatoriamente. Goro sempre havia enfatizado a importância das habilidades de cada membro do time, e como a escolha da formação era decisiva para o melhor aproveitamento de cada shinobi. Como haviam poucos ninjas na antiga Vila de Kailina, isso era levado muito a sério.

A garota meneou a cabeça enquanto selecionava mentalmente as informações que tinha sobre as habilidades de cada um de seus colegas. Selecionou o perfil de Naruto, Hinata, Sakura e Ino, comparando os níveis de habilidade. Um leve sorriso brincou em seus lábios quando pareou seu perfil com o de Naruto e Hinata. A Hyuuga tinha naturalmente um bom controle de chakra, e traria um aspecto singular ao time com seu Byakugan. Era boa em taijutsu e demonstrara talento contra genjutsus. Entretanto, era impossível negar que Hinata era uma genin regular, o que a colocava num nível mediano dentro do time. Naruto era o mais problemático. Tinha sérios problemas com genjutsu e satisfazia minimamente em taijutsu. Entretanto, depois do episódio do roubo do pergaminho, Kailina desconfiava que o talento oculto de Naruto com ninjutsus era muito maior que qualquer um poderia imaginar. Mas, infelizmente, mesmo com aquele dado animador, a conclusão final de Kailina é que Naruto seria o membro mais fraco do time.

As bochechas da Uzumaki ferveram quando percebeu que sua análise havia gerado um resultado um tanto egocêntrico. Porém, ela sabia que havia feito tudo da forma mais imparcial possível, e não havia dúvidas de que ela era a mais habilidosa dentro de seu time idealizado. O Hokage só colocara Kailina na Academia Ninja de Konoha para que ela se misturasse com as crianças de sua idade e recebesse o título legítimo de uma genin da Folha. Fora isso, não havia serventia nenhuma para a menina frequentar as aulas, já que seus conhecimentos e habilidades com relação aos três tipos básicos de técnicas ninjas já estavam acima da média há muito tempo. Na Vila dos Uzumakis sobreviventes, não havia idade para se tornar um ninja. As crianças eram submetidas a um treinamento árduo desde a mais tenra idade, pois se não fossem, estavam à mercê da sorte e dos perseguidores do clã.

Juntando todas essas informações, Kailina deduziu, com um sorriso, que sua formação idealizada era possível. Seu talento contrabalancearia com o de Naruto, estando Hinata no meio dos dois. E ainda havia Sakura e Ino, que possuíam o mesmo nível de habilidades que a pequena Hyuuga. Qualquer uma delas caberia no lugar de Hinata e até de Naruto, o que gerava ainda mais possibilidades para formações.

Uma onda de alívio abateu a garota, e ela finalmente despertou de seus devaneios para prestar atenção no anúncio dos times.

—Próximo, time sete. – anunciou Iruka com os olhos grudados na prancheta. – Haruno Sakura, Uzumaki Naruto...

O coração de Kailina pulou dentro do peito e Naruto se levantou teatralmente comemorando sua inserção no mesmo time que a garota de cabelos róseos. Sakura, por sua vez, estava nitidamente deprimida com a combinação.

“Sakura e Naruto no mesmo time... Seria tão bom se eu fosse a terceira...”, ela pensou apertando os olhinhos e fazendo uma prece silenciosa.

Seu coração pulsou alto em seus ouvidos enquanto Iruka puxava o ar para dizer o nome do terceiro integrante do time sete.

—... Uchiha Sasuke...

Dessa vez, o berro que encheu a sala foi a comemoração de Sakura, enquanto Naruto se encolhera na bancada espelhando o estado deprimido anterior da genin de cabelos rosa. Kailina abrira os olhos e fitava o professor com um ar distante e triste.

“Não foi dessa vez...”, ela pensou baixando os olhos. “Pelo menos eu ainda posso ficar com a Hinata ou com a Ino...”

—Iruka-sensei! – o berro de Naruto arrancou Kailina de seus pensamentos melancólicos. – Por que um excelente ninja como eu tem que estar no mesmo time que esse idiota!?

O ninja loiro apontou acusadoramente para Sasuke, que estava sentado ao lado de Sakura. A garota de cabelos róseos fuzilava Naruto com o olhar e Iruka encarou-o com impaciência.

Baka, Naruto..., Kailina estalou a mão na testa e balançou a cabeça negativamente.

Hinata o observava, apreensiva.

—As notas do Sasuke foram uma das melhores entre os 27 graduados – Iruka olhou severamente para o genin escandaloso colocando as mãos na cintura –, e você foi o último dos últimos. Nós fazemos isso para equilibrar os times, entendeu?

Risadas encheram a sala. Sasuke intensificou sua expressão de tédio e cuspiu:

—Hunf... Vê se não fica no meu caminho... Último dos últimos.

Naruto trincou os dentes e seu corpo estremeceu de raiva.

—Do que você chamou!? – o loiro berrou subindo em cima da bancada novamente.

—Relaxa Naruto! – repreendeu Sakura puxando-o de volta para seu assento.

Iruka suspirou pesadamente, gesto que foi inconscientemente imitado por Kailina.

—Ok, vamos lá! Fiquem quietos que vou seguir com o anúncio dos times. – Iruka voltou a conferir sua prancheta.

Kailina voltou sua atenção para o professor e encolheu-se no banco. Ainda poderia ficar no time de Hinata, o que encheu seu coração aflito de uma nova dose de alívio.

—Repetindo: time sete. Haruno Sakura, Uzumaki Naruto, Uchiha Sasuke...e Jyuu no Kailina. – reforçou Iruka virando a primeira folha da prancheta e olhando para os alunos que acabara de chamar. – Como eu havia avisado, um dos times ficaria com cinco integrantes ao invés de quatro, e o time sete foi o escolhido.

Kailina piscava atônita para o nada perguntando-se se havia realmente escutado seu nome. Porém a voz de Iruka ressoava clara em sua mente pronunciando os quatro nomes dos integrantes do novo time sete de Konoha.

Implorara tanto, rezara tanto, mas seu pedido sempre soava ambicioso e egoísta demais. Estar no mesmo time que Naruto, Hinata, Sakura ou Ino era algo que Kailina conseguia ver apenas em sonhos, porque parecia bom demais para se tornar verdade. E agora, lá estava ela, congelada em seu assento na sala de aula da Academia enquanto digeria a realidade: não só ficaria com um, mas dois daqueles que ela considerava como amigos.

—Kailina! Kailina! – ela ouviu em algum lugar distante de sua mente.

O chamado se repetiu mais três vezes, até que ela finalmente percebesse que alguém realmente a chamava. A genin piscou e olhou para a direita. Naruto a olhava com um enorme sorriso no rosto, o polegar voltado para cima em sua direção. Sakura também a fitava com um sorriso genuíno e até um tanto aliviado no rosto. Quando os olhos azuis de Kailina encontraram o verde-água dos de Sakura, ambos os sorrisos se alargaram.

Era real. Ela estava realmente no mesmo time que Sakura e Naruto.

Porém, seus olhos não conseguiram evitar contato com o terceiro vulto sentado na bancada do meio.

Uchiha Sasuke.

Kailina franziu a testa quando se lembrou de suas tentativas de ser educada e minimamente simpática com o garoto. Por mais que tivesse tentado com toda a boa vontade do mundo, o resultado era sempre o mesmo: um olhar frio e silencioso. Queria muito se aproximar de Sasuke, já que sua existência, assim como a de Naruto, trouxera um alívio para a menina de forma que ela não se sentia tão sozinha. A tragédia que o menino carregava em seu passado fazia com que Kailina se sentisse um pouco mais próxima dele, já que as pessoas mais queridas também haviam ‘morrido’ de certa forma.

Depois que se mudara para Konoha, raramente recebia notícias da Vila dos Uzumaki, e quando as recebia, eram poucas e superficiais. Porém, por mais que tivesse aspectos em comum com o Uchiha, não sabia exatamente como seria sua convivência com Sasuke. Enquanto Kailina combatia sua solidão de forma energética e destemida, o garoto parecia apreciar o isolamento e não se esforçava para fazer amigos. No fundo, Kailina esperava que a companhia dos outros dois ajudasse a amenizar um pouco a atmosfera pesada que o Uchiha arrastava consigo para onde quer que ele fosse. Talvez assim Sasuke se abrisse mais e desse espaço para que os três entrassem em sua vida.  

Três...

Os olhos de Kailina se arregalaram ao constatar algo que ignorara quando Iruka havia anunciado os integrantes do time. Sakura, Naruto e Sasuke foram os três primeiros nomes, e ela havia sido o quarto.

Ela era o membro irregular. Ela era o anexo do time. Fora ela que bagunçara o número de genins graduados daquele ano, já que ela chegara por último.

Seu estômago se revirou com o mal-estar que preencheu suas entranhas, fazendo até seus dedos formigarem de um jeito desconfortável. Mesmo depois de quase quatro anos em Konoha, ela sempre tivera aquela sensação enterrada no fundo de sua mente, a sensação de sempre ser vista como uma estrangeira. Ela batalhara duro para conquistar a confiança dos moradores da Vila e amizade de muito poucos, mas eles continuavam se esquecendo dela e olhando-a de forma distante ou acusadora. Com o tempo, ela decidiu se conformar que nunca seria uma digna Folha, já que não pertencia àquele lugar. Lutaria por Konoha e serviria como shinobi, mas nunca passaria de um laço de serviço. A Vila Oculta da Folha não era sua casa, e muitos faziam com que ela se lembrasse daquilo constantemente.

E agora, a pior prova de todas se materializara em sua frente: ela fora o anexo do time sete. A genin encaixada fora do planejamento.

Baixando os olhos para suas mãos, Kailina finalmente se tocou da abrangência de sua exclusão dentro da Vila. Aquela exclusão não se aplicava apenas à aceitação dos moradores. Aplicava-se a absolutamente tudo, incluindo os futuros times aos quais poderia pertencer. No papel, ela estaria como último nome, nas missões provavelmente realizaria as partes mais arriscadas, e com certeza seria a primeira vida ser sacrificada em prol da missão.

Não havia como negar. Ela era a intrusa. A estrangeira.

Kailina jamais pertenceria ao time sete da Vila Oculta da Folha.

***

—Então, essa é a casa do Naruto?

—Sim. – respondeu o Hokage observando a caixa de leite que Kakashi segurava diante dos olhos.

“Esse leite venceu faz tempo...”, pensou Kakashi conferindo a validade na base da embalagem.

—Ele é um atrapalhado, mas a Kailina ando ensinando algumas para que ele entre nos eixos. – observou o Sandaime se levantando e andando pelo quarto do genin loiro. - Acho que vai ser interessante para você ter esses dois no mesmo time.

—Você fala da outra Uzumaki?

—Sim. – o velho tornou a confirmar. – Pensei que você seria o melhor para a tutela desses dois. E ainda há o Uchiha e a menina Haruno...

“Então eu realmente fiquei com o time irregular...”, suspirou Kakashi mentalmente enquanto pousava a caixa de leite na única mesa existente no cômodo. “Isso pode ser problemático.”

—Bom, antes de ir, quero lhe mostrar o quarto de Kailina também. Talvez seja útil ver o contraste entre ela e o Naruto.

Kakashi abriu a boca para dispensar a sugestão, mas algo o fez tornar a fechá-la. A história da pequena shinobi o intrigava, e fazia muito tempo que algo não aguçava sua curiosidade como aquela forasteira. O Hokage havia contado a história da menina e o verdadeiro segredo por trás de sua vinda para Konoha, mas o jounin sentia que havia muitas peças faltando, e ele supunha que nem mesmo o Hokage poderia preencher essas lacunas.

Kakashi assentiu para o Terceiro e seguiu-o para o quarto ao lado. Era impossível negar que a casa de Kailina era completamente o quadro inverso do de Naruto, o que tornava o laço que surgira entre os dois algo ainda mais curioso.

“De todas as pessoas da Vila... Ela foi se aproximar justo do ninja mais problemático...”, o jounin de cabelos cinzentos lamentou pela garota enquanto caminhava pelo cômodo.

Havia uma quantidade anormal de livros para uma criança de treze anos, e a forma como estavam organizados demonstrava um nível de maturidade acima do da média de sua idade. Além disso, a grande maioria era sobre os mais diversos tipos de jutsus, selos e histórias esquecidas que remontavam mitologias e lendas sobre poderes antigos e inimagináveis.

Era como se a menina estivesse pesquisando alguma coisa.

O Sandaime percebeu o olhar de Kakashi para os livros e tirou o cachimbo da boca.

—Desde que Kailina chegou em Konoha, não houve uma única semana que ela não pegasse no mínimo três livros na biblioteca. Provavelmente ela deve estar quase esgotando o acervo disponível para o público.

—Que tipos de livro ela alugava? – perguntou Kakashi virando-se para o velho Hokage.

—De todos os tipos imagináveis. Mas a grande maioria era sobre selos e jutsus incomuns.

As sobrancelhas do jounin se arquearam, uma delas oculta sob sua bandana.

“Ela está realmente pesquisando algo. E parece que sua pesquisa está servindo para vários propósitos pelo que o Sandaime contou...”

O resto do quarto não era muito diferente das estantes abarrotadas de livros organizados impecavelmente. Tudo era extremamente limpo e harmonioso.

—Bom, é isso que queria mostrar a você. – disse, por fim, o Terceiro. – Boa sorte com o novo time.

Vários receios e questionamentos pipocaram na mente de Kakashi, mas ele apenas limitou-se a suspirar pesadamente e responder:

—Sim, senhor.

O jounin desapareceu segundos depois numa nuvem de fumaça, deixando o Hokage sozinho no quarto da menina.

O Sandaime caminhou calmamente até a estante de livros da menina e observou-os atentamente. Dentre eles, um em especial lhe chamou a atenção. O velho shinobi esticou o braço e o pegou, examinando atentamente a capa.

—Jutsus de teletransporte. – ele leu em voz alta.

Depois de alguns segundos examinando a capa azul escura, o Terceiro devolveu o livro ao seu respectivo lugar e tragou seu cigarro com vontade.

“Será que ela conseguiu descobrir algo sobre a kunai de Minato?”

Expelindo a fumaça lentamente, o Hokage dirigiu-se até a janela e observou sua Vila com um olhar preocupado.

“Melhor esconder o parentesco entre Kailina e Naruto o máximo possível. Afinal, quanto menos pessoas souberem, menor o risco de descobrirem sobre aquilo também...”

***

—Ei, o que você está fazendo, Naruto!?

O genin de roupas laranjas havia arrastado uma cadeira para perto da entrada da sala e agora tentava prender o apagador no vão entre as duas portas de correr que selavam o cômodo. Sakura se aproximou para avaliar a armadilha pitoresca de mal gosto.

—É isso que ele ganha por estar atrasado! – disse Naruto saltando da cadeira para o chão.

Sasuke encarou o colega de time pelo canto do olho com um ar de reprovação. Kailina estava sentada sobre a bancada de pernas cruzadas e estava bastante cabisbaixa, sem sequer prestar atenção na pegadinha armada pelo amigo. Sakura afastou-se da porta e colocou as mãos na cintura.

—Não estou envolvida. – ela anunciou com um olhar que denunciava estar adorando a ideia de Naruto.

A garota de cabelos róseos girou o pescoço para olhar para a colega de time sentada sobre a bancada. Esperou uma repreenda por parte de Kailina, mas a menina parecia absorta demais em suas sandálias para notar o que quer que estivesse acontecendo ao se redor.

“Ela está muito quieta desde que Iruka anunciou nossos nomes...”, Sakura pensou fitando a outra. “O que será que aconteceu? Será que ela não queria ficar no nosso time?”

—Pff! – bufou Sasuke arrancando Sakura de suas especulações mentais. – Como se um jounin fosse cair numa armadilha tão simples...

Poucos segundos depois, duas mãos surgiram no vão deixado por Naruto, e ambas empurraram as portas o suficiente para que o recém-chegado colocasse o busto para dentro da sala. E, como esperado, o jounin foi recepcionado por uma nuvem de pó de giz provinda do apagador que Naruto prendera no alto da porta.

Uma gargalha estridente fez vibrar o ar da sala, e Naruto apontou o dedo para o professor de forma debochada:

—Gyahahaha! Você caiu!

Sakura, por sua vez, ensaiou sua melhor expressão de inocente e disse:

—Sinto muito sensei. Eu tentei impedi-lo, mas...

Sasuke limitou-se a encarar, desconfiado, o jounin de cabelos cinzentos parado sob o umbral da porta.

“Ele é realmente um jounin?”, pensou o Uchiha. “Não me parece muito confiável”.

Kailina havia sido arrancada de suas reflexões pela gargalhada de Naruto. Agora, revezava o olhar entre seus colegas de time e o recém-chegado, tentando entender o que havia acontecido.

O professor deu dois passos para dentro da sala e observou demoradamente um por um de seus novos subordinados. Por fim, levou a mão ao queixo e fez uma expressão pensativa.

—Hm... Como poderia dizer...? – ele fez esfregando o queixo coberto pela máscara. – A minha primeira impressão é que... eu não gosto de vocês.

Uma atmosfera pesada baixou sobre a sala. Naruto, Sakura e Sasuke encararam seu professor com um ar impaciente, enquanto Kailina se encolheu ainda mais onde estava. Mal haviam se apresentado e era essa a impressão que ele tivera deles? Os receios da pequena Uzumaki pareciam ficar cada vez mais concretos, o que não a ajudava a relaxar.

Novamente mergulhando em seus pensamentos, Kailina não percebeu o olhar de seu novo professor sobre si, um olhar que misturava curiosidade e desconfiança.

***

Kakashi encarou seus novos alunos e meneou a cabeça. Da direita para a esquerda estavam: Naruto, Sasuke, Sakura e Kailina.

—Deixe-me ver... Vamos começar nos conhecendo um pouco.

Ele havia levado o novo time para um telhado adornado com arcos que cobriam duas fileiras de árvores frondosas. Era ali que os alunos da Academia Ninja costumavam passar os intervalos entre as aulas comendo ou conversando.

—O que quer saber? – perguntou Sakura.

Kakashi abriu os braços num gesto despreocupado e respondeu:

—Ah, o básico. Digam o que gostam, o que não gostam... Seus sonhos e passatempos... Coisas assim.

—Então por que você não se apresenta primeiro, sensei? – perguntou Naruto entortando as sobrancelhas diante do pedido de Kakashi.

Kailina olhou para o amigo e depois para o professor. Ainda não tinha tido coragem de dizer um ‘a’ perto dele, e só de pensar em se apresentar fazia seu estômago dar voltas de nervosismo.

—É mesmo. – concordou Sakura. – Você me parece meio suspeito...

O jounin revirou os olhos, nitidamente entediado, e disse:

—Ah... eu? Me chamo Hatake Kakashi. Não tenho a menor intenção de dizer para vocês do que gosto e do que não gosto. De que adianta dizer quais são os meus sonhos? E, bom, tenho vários passatempos...

Sakura olhou irritada e entediada para Naruto, e sussurrou para o colega de time:

—No final, só o que deu pra saber foi o nome dele...

Naruto balançou a cabeça, concordando igualmente irritado.

—Agora é a vez de vocês. Da direita para a esquerda. – instruiu Kakashi abrindo os braços.

Naruto empertigou-se onde estava. Era o primeiro. Levando a mão até a bandana para ajeitá-la, o genin começou:

—Eu! Eu! Sou Uzumaki Naruto e gosto de rámen. O meu preferido é o que o Iruka-sensei me pagou no Ichiraku. Eu não gosto de ter que esperar três minutos para o rámen instantâneo ficar pronto e o meu sonho... – Naruto ergueu a outra mão para firmar a bandana da folha entre os dedos enquanto um largo sorriso determinado marcava seu rosto. – Eu quero superar o Hokage! E depois... farei com que todos na Vila me aceitem!

O pronunciamento enérgico de Naruto refletiu-se no rosto de Kailina na forma de um sorriso. Os flashes da luta de Naruto contra Mizuki passaram rapidamente diante de seus olhos e ela se lembrou da promessa que fizera a ela mesma.

Ela protegeria a determinação e o sonho de Naruto. Daria tudo de si para ajudá-lo a se tornar um Hokage... Porque ele merecia. Era de pessoas como ele que o mundo shinobi precisava.

Depois disso, os ombros de Kailina finalmente relaxaram um pouco e ela respirou fundo.

“Até que é interessante. Esse aí cresceu.”, pensou Kakashi fitando Naruto de forma apreensiva.

—Ah, e meu passatempo... é zoar, eu acho. – acrescentou Naruto com uma risadinha.

Kakashi suspirou e voltou seu olhar para Sasuke.

—Próximo.

O Uchiha encarou seu professor com uma ferocidade incomum para uma criança e começou:

—Meu nome é Uchiha Sasuke. Tem muitas de que não gosto e nenhuma em especial que goste. Prefiro não usar a palavra sonho, mas tenho uma ambição.

O olhar frio e calculista do menino causou arrepios na espinha de Naruto e Kailina. A pequena Uzumaki sentiu a empatia que sentira por Sasuke se evaporar instantaneamente, e ela percebeu que ela e Naruto estavam longe de serem como ele. Os motivos que moviam dos dois Uzumaki eram calorosos e brilhantes, enquanto os de Sasuke pareciam estar mergulhados na mais gélida escuridão.

—Restaurar o meu clã e matar um certo homem... – ele anunciou num tom solene e frio.

Kakashi encarou o garoto com apreensão redobrada, e um estranho pressentimento tomou conta de seus pensamentos.

“Já esperava por isso...”, pensou o jounin.

—Certo. Próxima. – Kakashi fez um gesto com a cabeça indicando Sakura.

—Eu sou Haruno Sakura. – mal a garota havia começado sua apresentação, um rubor forte tomou conta de suas bochechas. – O que eu gosto é, na verdade...Er, a pessoa de quem eu gosto é...

Ela se encolheu com as mãos fechadas quase tampando sua boca.

—Ai, será que falo também o meu sonho...? Kyaah!

Kailina observava Sakura sentindo vergonha pela amiga. Eram realmente necessários esses gritinhos por um cara como o Sasuke?

—Ah! – Sakura pareceu cair em si. – O que eu mais odeio é o Naruto.

—Hã!? – o ninja de cabelos loiros encarou a colega de time incrédulo e deprimido.

Sakura voltou a olhar para Sasuke e corou novamente, lembrando-se que ainda não falara de seu passatempo.

—O meu passatempo é...

Kakashi expirou pesadamente enquanto a menina decidia se iria terminar de falar ou não.

“Puxa vida, as garotas dessa idade estão mais interessadas no amor do que na arte ninja...”, à medida que pensava, o olho exposto de Kakashi vagou lentamente para a esquerda até repousar sobre a quarta integrante do time. “Bom, nem todas.”

Com um sorrisinho, Kakashi virou-se para Kailina e disse:

—E, por último, a outra garota.

Kailina olhou receosa para Kakashi e depois buscou Naruto. O ninja loiro estava de cabeça baixa com o rosto retorcido de tristeza. Provavelmente ainda não se conformara de ser o alvo do desgosto de Sakura.

“Naruto, você é realmente um idiota”, pensou Kailina ao se lembrar do olhar tímido e brilhante que Hinata dirigia a ele toda vez que o via. “Existe uma garota bem melhor para você”.

Aprumando-se, a menina tentou espantar o nervosismo e encarou o professor.

—Sou Jyuu no Kailina. Eu gosto de ler, cozinhar e praticar jutsus, que acabam sendo meus passatempos também. Não gosto que esqueçam de mim. E o meu sonho... – ela hesitou ao escolher as palavras. Não podia se denunciar falando dos Uzumaki abertamente. – É me tornar uma grande kunoichi para poder voltar para minha Vila  e ajudá-la a crescer.

O olho visível de Kakashi se arregalou quando uma estranha sensação nostálgica tomou conta de sua mente. Enquanto Kailina falava, ele fixara longamente seus olhos azuis com a impressão crescente que eles lhe lembravam alguém. E agora, depois do pronunciamento tímido e baixo, mas firme, da garota, a sensação se materializara numa lembrança. Os olhos, a forma de falar... Não podia ser.

Kakashi balançou a cabeça de forma discreta, tentando por tudo afastar aquelas deduções.

“Se isso fosse verdade, o Hokage com certeza teria mencionado.”, ele pensou tentando tranquilizar-se.

Enquanto isso, Kailina remoía dentro de si a última frase que dissera, comparando-a com o sonho de Naruto. O garoto dizia com tanta convicção que queria ser Hokage... E ela tivera que pensar a respeito para verbalizar seu sonho. Ninguém nunca havia perguntado a ela se tinha um sonho ou um objetivo na vida. Os anciões da Vila sempre haviam deixado bem claro para ela: era seu dever crescer como uma poderosa kunoichi e se tornar a maior protetora dos Uzumaki, ajudando o clã a se reerguer.

Mas nunca haviam perguntado para ela se realmente era aquilo que queria.

“Eu quero superar o Hokage! E depois... farei com que todos na Vila me aceitem!”

“Meu sonho é me tornar uma grande kunoichi para poder voltar para minha Vila  e ajudá-la a crescer.”

Quando as duas frases ressoaram em sua mente, Kailina arregalou os olhos e sua boca abriu num pequeno “o” de espanto ao perceber o contraste.

O seu sonho... não era seu.

Haviam forjado aquele sonho para ela desde que se entendia por gente.

Kailina não tinha sonho nenhum.


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Notas finais do capítulo

O que acharam meus amores? Gostaram?
O que vocês estão achando da Kailina? Gostaram do encaixe dela na história??
A opinião de vocês me ajuda taaaanto ♥ Sintam-se mega bem-vindos para sugerir, criticar e comentar!
Muitos beijos pra voc^s seus lindos!



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