A Bijuu esquecida escrita por Nanahoshi


Capítulo 16
Capítulo 15 - Alguém para preencher o vazio


Notas iniciais do capítulo

OLÁ MEUS LEITORES LINDJOOOOS! Tudo bem com vocês?
Desculpem a demora novamente para atualizar t.t Minhas idéias andam péssimas para essa fanfic 3 E eu fico naquela dúvida mortal se a OC está agradando ou se a história está muito entediante. Mas fiquem tranquilos que eu não vou abandonar essa fanfic de jeito nenhum!! É meu bebê *-*
Bom esse capítulo consolida de uma vez por todas a relação entre Naruto e Kailina (esse foi o intuito desses últimos capítulos que postei) e espero que vocês gostem do laço que se forma entre os dois que vai ser muito importante no desenrolar da história. No p´roximo capítulo já entraremos com a formação dos times!!! O que será que vai sobrar pra Kailina? UASUASUHAH Ah e o capítulo está com uma formatação nova que passarei para os anteriores quando tiver ânimo UAHSUHSHU.
Uma ótima leitura para vocês meu linjuuuss!



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Kailina balançou a cabeça com força.

“Não, não, não e não. Impossível! O Naruto jamais faria uma coisa dessas.”

Ela continuou ali agachada, olhando o Hokage suspirar, dar uma boa sugada em seu cachimbo e soltar uma nuvem cinzenta pela boca.

“Eu preciso fazer alguma coisa!”, pensou a menina desesperada. “Deve ter um motivo por trás desse suposto ‘roubo’ do pergaminho pelo Naruto. Ele é um idiota que gosta aprontar, mas nunca aprontaria uma dessa, ainda mais pra cima do Hokage-sama!”.

Ela olhou para os lados, vendo vultos minúsculos saltando sobre os telhados das casas.

“Se os ninjas da Vila o pegarem e ele realmente estiver com o pergaminho, ele está perdido!”, Kailina se levantou e checou sua bolsa de ferramentas ninja. “Acho que isso dá. Vou procura-lo e achá-lo antes dos jounins que o Hokage mandou atrás dele.”

A genin abaixou-se e saltou o mais alto que pôde, alcançando um telhado próximo dali. Se seus cálculos estivessem certos, só havia um lugar no qual Naruto poderia ter ido depois de roubar o pergaminho...

***

Já fazia dez minutos que procurava pelo amigo na floresta que cercava a Vila da Folha. Ela pulava de galho em galho tentando ser o mais silenciosa possível. Aos poucos, a menina foi se embrenhando na mata, e a noite impedia que ela visse com a clareza que ela desejava. Então, decidiu apostar em sua audição, olfato e sensibilidade à chakra.

Alguns minutos depois, ela finalmente captou focos de energia próximos dali, à esquerda. Agradecendo silenciosamente por ter herdado a sensibilidade à energia de seu clã, ela seguiu em direção aos três núcleos azuis que pulsavam adiante. Quanto mais se aproximava, mais devagar ela saltava, e quando estava bem próxima, apagou sua presença e esgueirou-se por trás dos troncos até um ponto onde as árvores estavam mais espaçadas, formando um círculo irregular ao redor de um casebre abandonado.

Ela escolheu uma árvore com um tronco generosamente grosso e espiou a cena que se desenrolava.

—Naruto, não entregue o pergaminho, mesmo que isso custe a sua vida! – uma voz berrou num tom autoritário.

Iruka estava apoiado contra a parede da casinha de madeira, e trazia vários machucados e kunais cravadas em suas pernas e braços. Um filete de sangue escorria pelo canto de sua boca.

Sem entender o que estava acontecendo, Kailina sentiu seu coração disparar em aviso. Ela correu os olhos pela clareira, focalizando um vulto caído no chão.

Era Naruto.

—É um pergaminho perigoso que foi selado por conter ninjutsus proibidos! – Iruka continuou explicando com a voz mais alta que o normal – O Mizuki te usou... para se apoderar dele!!!

A Uzumaki arregalou os olhos. Girando-os ao redor, ela procurou por um terceiro vulto. Do lado oposto ao que ela estava, o professor da Academia Ninja de cabelos brancos encarava Iruka com um olhar de desprezo.

“Então foi ele!?”, Kailina sentiu seu sangue ferver e subir até seu rosto. “Eu sabia que tinha alguma coisa errada por trás dessa história!”.

Naruto se levantou bruscamente, e encarou Mizuki ferozmente. Kailina agachou-se atrás do tronco, levando a mão até sua bolsa de ferramentas ninjas e pegando três kunais.

—Naruto... – a voz de Mizuki estava carregada de deboche – Não faz o menor sentido você ficar com isso. Quer saber de uma coisa? Vou te contar a verdade!

“Verdade!?”, perguntou-se a pequena Uzumaki franzindo a testa.

Lá embaixo, Iruka se agitou onde estava.

—Não!! – o jounin berrou – Idiota! Você não pode contar! Pare!!

O último grito estava carregado de desespero e raiva. Kailina começou a sentir sua barriga arder por dentro.

“Agora não!”, ela implorou mentalmente.

Mizuki soltou uma risadinha e, ignorando completamente seu colega de trabalho, continuou:

—Você deve conhecer o caso da Kyuubi no Youko, a Raposa de Nove Caudas, que foi capturada e selada doze anos atrás, não é mesmo?

Naruto olhou com uma interrogação estampada em seu rosto para seu professor de cabelos claros. Kailina sentiu um nó formar-se em sua garganta.

“Eu me lembro dessa história. Ouvi várias pessoas lá da Vila dos Uzumaki contando essa história... E foram muitas vezes. Além disso, a Kaomi-sense-“.

—Desde aquele incidente foi criada uma regra aqui, em Konoha. – a voz de Mizuki cortou o raciocínio da menina – No entanto Naruto... Nós estamos proibidos de falar sobre essa regra pra você.

O menino de olhos azuis estava com uma expressão cada vez mais confusa.

—Só pra mim!? – indignou-se ele – Se liga! Que regra é essa? E porque não podem me contar!?

A risadinha de Mizuki fez os cabelos da nuca de Kailina se arrepiarem.

—A regra nos proíbe de tocar no assunto. Ninguém pode falar que você é o hospedeiro da Kyuubi.

—Hã? – o corpo de Naruto tremia.

A genin congelou onde estava.

“O Naruto... Ele... Ele é...”, o pensamento era tão terrível que a garota se negava a completá-lo. Sua barriga ardia parecendo estar em combustão.

—C-Como assim!? – em meio à sua batalha mental, Kailina ouviu o grito do amigo.

—Pare!! – Iruka tentou avançar, mas as kunais fincadas em sua carne impediam que ele se movesse.

Com um sorriso cruel no rosto, Mizuki deu o golpe de misericórdia:

—Em outras palavras, você é a Raposa de Nove Caudas que matou os pais do Iruka e destruiu a Vila!!

Kailina sentiu um baque no peito, como se algo o tivesse penetrado com força e agora apertasse seu coração e seus pulmões. As palavras de Mizuki cavaram fundo em sua mente, trazendo à tona lembranças antigas de uma aula que tivera com Kaomi anos atrás...

Flashback on

Eram quase dez horas da noite, Kailina estava lendo deitada em sua cama.

De repente, um ruído atraiu sua atenção para a janela. Ela viu uma mão surgir diante do vidro e puxar a moldura de madeira rapidamente, fazendo a janela correr. A silhueta de uma mulher recortou-se contra o céu estrelado, ocultando momentaneamente o sorriso crescente da lua.

—Está tudo bem, sensei? – perguntou a menina levantando-se da cama.

—Sim, ninguém me seguiu ou viu. – ela tirou um pergaminho enorme que carregava nas costas e depositou-o no chão com cuidado.

A menina correu para acender a luz do quarto, pois só estivera lendo com a ajuda de sua luminária, mas Kaomi a impediu com um sinal da mão.

—Vamos tentar chamar o mínimo de atenção. Acenda o mínimo de luzes, o suficiente para que possamos ler alguns livros.

A pequenina assentiu e voltou para perto de sua mestra. Enquanto isso, a Uzumaki mais velha dedicava-se a desenrolar o pergaminho enorme, revelando uma sequência infindável de selos complexos.

—O que é isso? – perguntou Kailina.

—É um pergaminho da sessão reservada da nossa biblioteca. Nele estão selados inúmeros livros e registros sobre o assunto de nossa aula. – dizendo isso, Kaomi virou o rolo do pergaminho o suficiente para que Kailina lesse a palavra escrita num retângulo branco na parte externa do objeto.

—Bijuu?

A mulher ruiva assentiu e se agachou levando seu polegar à boca.

—Kuchiyose no jutsu! – ao correr o dedo ensanguentado pelo pergaminho, uma pilha de livros e pergaminhos apareceu envoltos numa nuvem de fumaça.

Imediatamente, a menina começou a colocá-los sobre a cama, mas sem deixar de observar sua mestra separando os livros a serem usados. Quando ela finalmente terminou, enrolou novamente o pergaminho e encostou-o contra o criado mudo da menina.

—Não tente ir atrás desse pergaminho quando eu o devolver na biblioteca, entendeu!? – Kaomi olhou severa para sua aluna.

A menina arregalou os olhos e engoliu.

—Mas...

—Nada de “mas”! Eu sei que você vive invadindo a sessão reservada. A sua sorte é ser uma criança! Senão já teriam te punido há muito tempo!

Envergonhada, Kailina abaixou a cabeça.

—Até agora você não mexeu em nada muito grave. É em coisas desse tipo – ela apontou para o pergaminho – que você não deve mexer. Assuntos que envolvam poderes grandes demais ou informações cruciais demais estão selados de forma especial, e podem até amaldiçoar quem tentar forçar os selos. Esse aqui, por exemplo, caso alguém que não tenha assinado o contrato para abrí-lo tente forçar sua abertura, ele não só não revela seu conteúdo como sela todo o chakra do indivíduo dentro dele.

Um arrepio correu a espinha da pequena Uzumaki, Sabia o que aquilo significava.

—Em outras palavras, a pessoa morre. – Kaomi sentou-se pesadamente na cama de sua pupila e pegou o livro que estava por cima da pilha – Vamos começar a aula agora?

Kailina jamais admitira para sua mestra, mas em alguns momentos sentia medo dela. Sua oscilação de humor era assustadora... Porém, esta era Uzumaki Kaomi, e a menina gostava dela dessa forma.

A pequena subiu na cama e se sentou ao lado da mulher ruiva.

—Muito bem, o assunto de hoje trata das Bijuus. Já ouviu esse nome alguma vez?

Kailina negou com a cabeça. Kaomi prosseguiu.

—Esse assunto se transformou numa espécie de tabu com o passar dos anos. Milhares de pessoas já morreram em guerras pelo domínio das bijuus, e por isso, evita-se que hoje se fale muito sobre isso. Existem pessoas que até acham que elas não passam de uma lenda.

Os olhinhos azuis da pequenina se arregalavam à medida que sua mestra falava.

—As bijuus são massas de chakra compactado na forma de uma besta. Como o próprio nome diz, essas bestas têm caudas, e o número delas indica o nível de poder da bijuu. Existem no total nove feras de cauda.

—Nove? – espantou-se a menina.

—Sim. Para te explicar como elas surgiram, eu preciso voltar no tempo e te contar sobre um ninja, não, o pai de todos os ninjas: Hagoromo Ootsusuki.

Kailina escutava a história do lendário Sábio dos Seis Caminhos com os olhos brilhando de admiração e assombro. Em sua cabeça, o Jyuubi, o Dez Caudas, tomou a forma de seus piores pesadelos.

—Eu sei que é muita informação para uma criança – Kaomi pegou um outro livro e começou a folheá-lo até encontrar a figura de um homem – Mas você precisa saber sobre isso.

—Por quê? – Kailina olhou assustada para sua mestra.

A ruiva olhou-a nos olhos, suas íris cinzentas trêmulas e pesarosas. Depois de alguns segundos fitando-a, Kaomi deu tapinhas no topo da cabeça da garota.

—Você vai entender já, já. Agora concentre-se na história, está bem?

Meio incomodada, a menina apenas concordou com a cabeça.

—Bom, esse homem – ela colocou o livro aberto sobre as coxas infantis da menina – Foi o único capaz de controlar as bijuus além do Rikudou Sennin.

Admirada, a garota correu os dedinhos pelo desenho. Era um homem jovem, o rosto bem marcado, queixo forte, cabelos negros, lisos e longos, olhos da mesma cor que carregavam um ar muito gentil.

—Quem é ele?

—O primeiro Hokage, Hashirama Senjuu. – Kaomi olhou para a parede do lado oposto ao que elas estavam. – Ele foi o primeiro líder da Vila Oculta da Folha, e um de seus fundadores.

Kailina olhou ainda mais fascinada para o retrato. Já ouvira falar bastante de Konoha. Muitos ninjas de seu clã já haviam ido viver lá, e a aliança entre a Folha e os Uzumaki era muito forte e muito antiga.

Kaomi estendeu as mãos e pegou o livro, virou algumas páginas e devolveu-o para a aluna.

—Essa é Uzumaki Mito, a esposa de Hashirama.

—Uzumaki!? – espantou-se a menina.

—Sim. Como você deve ter ouvido falar, os Senjuu e os Uzumaki são clãs que compartilham da mesma descendência. Para manter a pureza e o poder de ambas as linhagens, casamentos eram arranjados entre os clãs. Mas Mito e Hashirama realmente se amavam.

—E o que ela tem a ver com as bijuus?

Kaomi suspirou pesadamente e se levantou, caminhando até a janela.

—Essa é a parte mais importante da aula, Kailina. Preste atenção. Hashirama Senjuu lutou uma vez contra um homem terrível que atacou a Vila da Folha inúmeras vezes: Uchiha Madara.

O nome causou um arrepio na pequena Uzumaki.

—Naquela época, a Kyuubi, a Raposa de Nove Caudas, estava sob o domínio de Madara graças ao seu sharingan. – ela fez uma pausa e olhou para a menina – Explicarei numa outra ocasião sobre os Uchihas e sua Kekkei Genkai, o sharingan. Continuando, nessa luta, Hashirama conseguiu tirar o controle de Madara sobre a bijuu, mas ele precisava selá-la em algum lugar de forma que a Kyuubi não caísse em mãos erradas novamente. Sabendo disso, sua esposa se ofereceu para ser o receptáculo da besta de nove caudas.

Os olhos azul-celeste da garota se arregalaram.

—Uzumaki Mito se tornou a hospedeira da Kyuubi, alguém que chamamos de jinchuuriki.

—Jinchuuriki?

—Sim. E depois disso, a Kyuubi se tornou o maior fardo carregado pelos Uzumaki, pois depois da morte de Mito, outra Uzumaki foi oferecida como jinchuuriki da raposa-demônio.

Tanto as íris quanto as mãos da pequena tremiam diante da história que sua mestra lhe contava.

—Kailina – o tom da voz de Kaomi era sombrio – você sabe por que nós, os Uzumaki, somos tão perseguidos no mundo ninja?

Ela balançou negativamente a cabeça. A jounin voltou-se para a aula e seus olhos cinzentos nunca pareceram tão escuros para a menina.

—Não existe uma linhagem no mundo que produza ninjas mais perfeitos para serem jinchuuriki do que a linhagem dos Uzumaki.  Somos adaptados a lidar com grandes quantidades de chakra, somos resistentes e a natureza primordial da nossa energia é selamento. Por isso a especialidade do clã são os selos.  

A menina se encolheu na cama, pressionando o livro contra seu peito. As peças finalmente haviam se encaixado em sua mente infantil.

—É exatamente isso que você está pensando. – Kaomi olhou triste para suas mãos – Tanto eu quanto você, ou qualquer pessoa que tenha o sangue Uzumaki correndo nas veias, corre o risco de ser usado como um jinchuuriki. E essa, na minha opinião, é a pior maldição que pode recair sobre uma pessoa.

Kailina baixou seu olhar para seu colo, e voltou a deitar sobre o ele o livro. O rosto de Uzumaki Mito fitou-a de forma firme e maternal.

—Então a Mito-sama deve ter sido uma mulher muito corajosa.

Pega de surpresa pelo comentário da aluna, Kaomi arregalou os olhos. Depois, soltou uma risadinha.

—É verdade...

—Por que ser um jinchuuriki é tão terrível, sensei? – quis saber a pequena.

A jounin ruiva suspirou novamente.

—Os jinchuurikis sofrem muito no decorrer de sua vida. As pessoas acreditam que a pessoas que contém uma besta selada em sua alma passam a ser a criatura. E por isso, ser o receptáculo desses demônios de chakra é a sentença de uma vida solitária com laços duvidosos. Os outros sempre a olharão como um monstro, um assassino, uma aberração. Muitos acabam enlouquecendo e cedendo ao terror psicológico infringido pela bijuu selada.

—Então, além de ser odiado pelos outros, um jinchuuriki tem que resistir ao bijuu?

—Sim – Kaomi franziu a testa de forma tensa – O terror e o ódio que povoam a mente de um jinchuuriki não chegam nem perto de nossos piores pesadelos...

Flashback off

O peso da lembrança fez com que a genin se sentisse zonza. Ela firmou a cabeça entre as mãos e tentou focar a madeira sob seus pés.

“Agora tudo faz sentido. Os olhares, as perseguições, os xingamentos, os cochichos... Era por isso. As pessoas sabiam que o Naruto era o jinchuuriki da Kyuubi.”, a verdade sobre seu melhor amigo fazia os ouvidos da menina zumbirem. “É por isso que o Naruto é tão sozinho... É por isso que ele sofreu tanto...”.

Lágrimas pesadas brotaram dos olhos da menina, escorrendo por sua face.

“Isso é tão... Tão injusto!”, ela berrou dentro de sua cabeça. “O Naruto nem sabe de nada sobre o clã, não sabe nem quem são seus pais, e mesmo assim foi condenado a carregar o fardo dos Uzumaki... o nosso fardo.”

De repente, uma voz cruel cortou o ar da noite.

—Ninguém nunca irá aceitar você!!

Kailina se virou bruscamente para trás, e seu coração quase saiu pela boca. Mizuki avançara sobre Naruto e atirara uma shuriken gigante na direção do menino. Antes que ela pudesse cogitar a ideia de interferir, alguém barrou a trajetória da enorme estrela de metal.

A genin sentiu suas pernas fraquejarem, e seu estômago se revirou ao ver uma das pontas da shuriken cravada impiedosamente nas costas de seu professor.

—Sensei... – ela engasgou num sussurro.

Naruto estava encolhido no chão, e olhava estarrecido para o homem que salvara sua vida.

—Por quê? – ela ouviu a voz quase inaudível do garoto loiro carregada de confusão.

Um momento de silêncio gelado se seguiu. Iruka arfou e disse com voz chorosa:

—Sim Naruto... Deve ter sido duro e sofrido para você também.

Ele continuou falando, mas a menina não conseguiu ouvir. Segundos depois, ela viu Naruto se arrastar para fora do alcance de Iruka, o rosto retorcido pelo medo e o desespero. Ao se levantar, o pequeno folha disparou para a floresta com o pergaminho nas costas, desaparecendo de vista.

—Naruto! – chamou Iruka, mas em vão.

Mizuki começou a rir.

—Mas que pena. O Naruto não é do tipo que muda de opinião tão fácil. Ele pretende usar o pergaminho para se vingar da Vila. Você viu os olhos dele há pouco, não? Era o olhar da Kyuubi!

O sangue de Kailina ferveu novamente, e ela quase não conseguiu refrear o impulso de pular sobre o ninja traidor.

—Não importa – Mizuki respondeu a um comentário de Iruka que a menina não ouviu – É só matá-lo e pegar o pergaminho. Depois cuidarei de você.

O ninja saltou para uma árvore próxima, seguindo na mesma direção que Naruto, e desapareceu. Quando teve certeza que o professor havia sumido, ela saiu de seu esconderijo e saltou ao lado de Iruka. O ninja pulou de lado, sobressaltado.

—Kailina! O que é que você está fazendo aqui!? – esbravejou ele tentando soar autoritário mesmo no estado deplorável em que estava.

—Desculpe, professor. Eu acabei ouvindo a comoção sobre o roubo do pergaminho. Quando disseram que havia sido o Naruto, eu não consegui acreditar. Então decidi vir atrás dele e alcança-lo antes que os jounins que o Hokage mobilizou o alcançassem.

Iruka arrancou uma kunai de sua perna e fitou sua aluna. Ele expirou pesadamente e se endireitou.

—Não acreditou em nenhum momento que o Naruto o tivesse roubado de propósito, não é?

A menina concordou com a cabeça. Eles não tinham muito tempo para discutir.

—Muito bem, já que está aqui, podemos nos ajudar. Vamos atrás dos dois. Se encontrar o Mizuki primeiro, recue e use um sinalizador. Você tem um?

A menina tornou a assentir.

—Se encontrar o Naruto, arraste-o para o mais longe que conseguir, fora do alcance do Mizuki.

—Hai.

Ela verificou suas ferramentas ninjas e se posicionou para saltar.

—Kailina. – chamou Iruka.

A menina se virou.

—Tome cuidado, está bem?

Ela sorriu de um modo doce e acenou com a cabeça. Virando-se para a árvore mais próxima e concentrando-se em sua sensibilidade de chakra, a menina saltou e embrenhou-se na floresta.

***

Poucos minutos depois de ter deixado a clareira com a cabana abandonada, Kailina sentiu um foco de chakra entrar em seu raio de alcance. Aquele chakra abundante, quente e confortante era inconfundível para a menina.

Ela aumentou a velocidade, e em poucos segundos avistou o vulto de Naruto adiante. As lembranças de Iruka protegendo o menino, a manipulação de Mizuki surtindo efeito pelo fato de ele estar tão desesperado para ser aprovado na Academia embaçaram a visão da menina. Ele tinha que entender que existiam pessoas que se importavam com ele, e que elas estavam ali para fazer apenas o bem para ele. Ela impulsionou seu corpo com tanta força que com apenas dois pulos alcançou o garoto loiro.

—Naruto! – ela chamou com a voz firme.

Ele se virou repentinamente com um olhar assustado. Ao reconhece-la, virou o rosto e continuou saltando de árvore em árvore.

—Sai daqui. – disse ele num tom ríspido.

—Naruto, dá pra parar com isso? Eu e o professor Iruka estamos tentando te ajudar!

Ele acelerou.

—Não quero saber de nada sobre você ou o professor Iruka. Me deixem em paz!

A raiva cerrou os punhos da menina e ela avançou bruscamente sobre o amigo. Naruto voltou seu rosto para a Uzumaki ao perceber sua aproximação, e quase instantaneamente sentiu uma dor aguda no queixo. Kailina socou-o com força atirando-o no chão da floresta.

—Imbecil! – ela gritou – Pare com essa manha toda e abra seus olhos!

Ela saltou no chão e jogou-se sobre o menino, prendendo-o contra a terra salpicada de tufos de grama.

—Cala a boca! – ele devolveu o grito espirrando saliva na cara da menina – Você não sabe de nada!

Ele lutou contra o aperto da genin, mas ela o havia imobilizado completamente.

—Eu sei sim! – lágrimas brotaram dos olhos da menina – Eu sei muito bem... É por isso... Que eu tô aqui!

Naruto parou de se debater e olhou para a amiga. Lágrimas escorriam por seu rosto assim como acontecera com Iruka momentos antes. A cabeça do pequeno girou.

Flashes rápidos passaram diante dos olhos do folha, nos quais ele viu por vários momentos Kailina sozinha. Sempre, sempre sozinha.

Como ele.

Lembrou-se então do dia que ele a conhecera. Ela estava com o Hokage, e em momento nenhum Naruto viu sinal de parentes ou responsáveis por ela. Lembrou-se de quando chegara com fome em casa e havia acabado o rámen instantâneo e ela preparara uma tigela enorme pra ele. Lembrou-se das inúmeras vezes que ela livrou-o de perseguições dos aldeões, escondendo-o nos becos escuros da Vila.

E o que ele fizera? Parara de falar com ela por pura inveja quando a menina passou de primeira no teste de graduação da Academia Ninja.   

Talvez fosse a falta de presença dela, ou o fato de ela fazer tudo tão silenciosamente, sem chamar atenção para si. O fato era que Naruto jamais percebera que Kailina estivera ao lado dele desde o primeiro dia que ela chegara na Vila.

Entretanto, como um veneno traiçoeiro, as palavras de Mizuki se derramaram sobre as conclusões de Naruto.

“Você é a Raposa de Nove Caudas que matou os pais do Iruka e destruiu a Vila!!”

Não importava se Kailina ou Iruka o haviam aceitado. Ele era um monstro, isso era um fato irrefutável. Era por isso que as pessoas o odiavam, o excluíam e o evitavam. Porque elas sabiam que ele podia destruir tudo de uma hora para outra. E essa maldição... Kailina jamais entenderia o peso de carrega-la.

Engolfado pela solidão, ódio e desespero dessa lembrança, Naruto voltou a lutar contra os braços da amiga.

—Não! Você não sabe de nada! Sai de perto de mim! Eu sou um monstro! Eu... e-

—Não. – a voz da Kailina soou diferente, firme como jamais soara na sua vida – Você, Naruto, não é...

Eles ouviram um baque alto próximo dali e se colocaram em alerta. Vozes soavam não muito longe dali. Os dois se entreolharam e a menina entendeu imediatamente. Kailina libertou Naruto e os dois se esgueiraram até uma árvore próxima de onde era possível ver dois vultos humanos. O menino trazia junto o pergaminho com os ninjutsus proibidos.

—He, he, he... até se transformou em quem matou os seus pais. – era a voz debochada de Mizuki –  Por que protege aquele moleque?

—Não vou deixar que um imbecil como você coloque as mãos no pergaminho. – a voz de Iruka soou autoritária vinda do vulto que estava caído contra o tronco de uma árvore.

—Você que é imbecil. Eu e o Naruto somos iguais.

Esta última afirmação do professor de cabelos claros fez os dois folhas escondidos franzirem a testa. Kailina trincou os dentes.

—Iguais? – Iruka questionou sem entender.

—Se usar as técnicas daquele pergaminho – explicou Mizuki – é possível conseguir tudo o que quiser! É claro que aquela raposa vai usá-lo. Ele não é como você pensa.

—É... de fato é isso mesmo. – concordo Iruka pegando Naruto e Kailina de surpresa.

O garoto loiro estreitou os olhos com raiva e sua amiga o fitou com um olhar triste.

—Naruto... – ela sussurrou quase sem emitir som.

“Ah, então é assim... No fundo, o professor Iruka também... Não me aceita.”, pensou o garoto sentindo a solidão abrir um buraco mais fundo em seu peito.

—Ou melhor, seria se ele fosse a Kyuubi. – Iruka continuou sua fala. Os dois Uzumaki ergueram seus rostos carregados de surpresa – Mas o Naruto é diferente. Ele... ele conquistou o meu respeito, e é um dos meus melhores alunos.

A menina olhou para o amigo e viu seus olhos azuis se arregalarem gradualmente à medida que Iruka falava.

—É esforçado e sincero... Mas apesar disso, é desajeitado e excluído por todo. Ele já conhece bem o que é sofrer. Ele não é a Kyuubi.

Naruto encolheu-se, abraçando com força o pergaminho e soltando um gemido. A mão de Kailina subiu involuntariamente para seu ombro.

—Ele é um integrante da Vila da Folha... Ele é...

O menino levantou a cabeça devagar, e o que sua companheira viu deixou-a completamente sem reação ou fala. Os olhos azulados do menino cintilavam entrecerrados enquanto grossas lágrimas escorriam abundantemente por seu rosto distorcido.

—Uzumaki Naruto!

Kailina ergueu o rosto e virou-o na direção de seu professor.

—Tsc! Que diferença isso faz? – Mizuki levou a mão às costas pegando uma segunda shuriken gigante – eu ia acabar com você depois, mas mudei de ideia...

Ele girou a estrela de metal e avançou com um olhar psicótico sobre o outro jounin. A menina que assistia à tudo colocou-se involuntariamente de pé e preparou-se para impedir Mizuki.

—MORRA DE UMA VEZ!!! – com esse berro terrível, o ninja traidor avançou sobre Iruka.

O movimento foi tão rápido que a menina Uzumaki ficou novamente sem reação. Um vulto saltou diante dela e avançou numa investida feroz sobre o shinobi que atacava. Quando caiu em si, percebeu que Naruto acabara de desferir um chute certeiro no maxilar de seu professor da Academia.

—Naruto!! – ela berrou correndo até onde ele estava.

Caído no chão, Mizuki se ergueu apoiado nos braços e cuspiu sangue.

—Até que você não é tão inútil... – ele zombou rangendo os dentes.

Iruka estava paralisado, sem acreditar que dois de seus alunos estavam ali, diante dele, para salvar a vida dele.

—Não toque no professor Iruka, ou eu vou matar você!! – a voz de Naruto saiu tão ameaçadora que Kailina mal a reconheceu.

—I-Idiotas! – bradou Iruka – Por que apareceram? Fujam!

O jounin de cabelos esbranquiçados se levantou. A genin olhou ferozmente para ele, colocando-se entre seu amigo e seu professor.

—Você não vai tocar em ninguém! – ela ameaçou.

Mizuki gargalhou.

—É muita valentia, mas lamento informar que apagarei os dois com um único golpe! ! – e dizendo isso, o traidor avançou com um olhar assassino girando a shuriken.

Atrás de Kailina, Naruto ergueu as mãos e fez um selo.

—Pode vir, seu trouxa! Vou te devolver mil vezes pior!

—Naruto, não! – Kailina tentou tirá-lo do caminho, mas era tarde. Mizuki estava perto demais.

—Se acha que pode, tente, Raposa de Nove Caudas!

Instintivamente, Kailina estendeu os braços para proteger o amigo e se preparou para o impacto fechando os olhos, mas a única que sentiu foram inúmeras baforadas de vento agitando seus cabelos. O barulho de bombas de fumaça se espalhou de cima a baixo na floresta.

—KAGE BUSHIN NO JUTSU!

—Mas o quê... – ao abrir suas pálpebras, a pequena Uzumaki não conseguiu acreditar no que via.

Dezenas, talvez centenas, de Narutos preenchiam a paisagem, cercando Mizuki de forma que ele não pudesse escapar.

“Isso é... O Kage Bushin no Jutsu, o Jutsu dos Clones das Sombras!”, espantou-se a garota mentalmente. “Pensei que o Naruto fosse horrível nos jutsus de bushin...”

Completamente estarrecida, a garota caiu de joelhos contra a terra fofa da floresta e observou a multidão de clones do garoto loiro.

—Naruto... Você... – as palavras pareciam entaladas em sua garganta. A admiração pelo garoto inchou e preencheu seu peito.

Novamente, lembranças nublaram sua visão e embaralharam sua audição, transportando-a novamente para do dia que Kaomi lhe ensinara sobre os bijuus e os jinchuurikis...

Flashback on

—Kaomi-sensei. – ela perguntara depois de ler os registros sobre os jinchuurikis mais famosos – Os jinchuurikis estão mesmo fadados a enlouquecerem?

A jounin soltou um risinho e olhou para a janela.

—Não necessariamente. Nem todos os jinchuurikis sucumbiram à suas bijuus, Kailina.

—Como? Como eles conseguiram vencer as feras de cauda? – a menina perguntou esperançosa.

Kaomi voltou seus olhos cinzentos para a aluna e sorriu.

—Determinação. Aqueles que tinham a determinação necessária como shinobis de verdade venceram as bijuus e se tornaram ninjas poderosíssimos.

—Sério!? – a menina bateu palmas e seus olhos azuis brilharam.

—Sim. – Kaomi riu diante da animação da aluna. – Mas não é nada fácil A existência de um jinchuuriki é muito solitária e sofrida.

A tristeza voltou a dominar o rostinho redondo da Uzumaki.

—Não tem uma solução pra isso? – sua voz infantil soou arrasada.

Kaomi fitou novamente a aluna, imaginando-a com os cabelos completamente ruivos. Seriam idênticos ao de sua mãe... que fora uma das jinchuurikis mais incríveis que já se ouvira falar.

—Tem sim.

Kailina ergueu o rosto, os olhos brilhando novamente cheios de esperança.

—O jinchuuriki só precisa preencher o buraco deixado pela besta de caudas em seu peito.

—Com o quê? – a menina levou a mão ao peito involuntariamente.

—Amor, Kailina.

Os olhos da pequenina se arregalaram.

—Amor?

—Sim. Se ele encontrar uma única pessoa que seja que lhe dê amor, com certeza, o jinchuuriki jamais será vencido pelo ódio de sua bijuu.

—Ah... – a garota massageou o peito. – Então eu posso ser uma jinchuuriki, não é?

—Kailina! – protestou Kaomi engasgando com a afirmação da garota – Por que diz isso?

—Porque eu tenho determinação pra ser uma grande shinobi... E tenho você, o Goro-senpai, o Michi-senpai, o Hideo-senpai, o Hiashi-sama...

Kaomi lhe deu um belo cascudo na cabeça.

—Ai!

—Não se deseja uma coisa dessas, sua idiota...

Flashback off

Ainda ajoelhada no chão vendo Naruto fazer um ótimo uso de seus clones, Kailina sentiu seus olhos se encherem novamente d’água.

—Naruto...

A voz do menino berrou em sua mente.

“Eu vou ser o melhor Hokage de todos os tempos dattebayo!!”

Limpando as lágrimas, a menina riu.

Naquele momento, Uzumaki Kailina teve certeza de duas coisas

Naruto seria sim o melhor Hokage de todos os tempos. E se ele precisasse de alguém para preencher o vazio cavado pela Kyuubi em seu peito, ela estaria ao lado dele até o fim.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Estão gostando? Tá chato? Gostaram da relação estabelecida entre os dois? Critiquem, opinem, sugiram!
Ah, é! Tem mais uma novidade pra vocês!
Eu irei começar uma sessão em TODAS as minhas fanfictions chamada PAN!
PAN? Mas que diabo é isso?
É a minha novíssima sessão de perguntas: Pergunte À Nana-chan!
Vocês poderão deixar qualquer tipo de pergunta nos comentários, desde curiosidades sobre a fanfic até a cor da calcinha que estou usando! (brincadeira gente AUHSAUHSUAH) Caso a pergunta tenha relação com algum spoiler da história, eu responderei avisando que aquilo será esclarecido posteriormente.
As perguntas e suas respectivas respostas aparecerão nas notas finais do próximo capítulo, e serão respondidas no Tumblr também!
Muito obrigada meus leitores divososs e LEAMDOS!
Caso vocês queiram saber mais sobre o meu trabalho, curta minha página no facebook que abri recentemente com uma amiga que é uma artista maravilhosa: https://www.facebook.com/sayuuienanahoshi/
Ou siga-nos no twitter: @sayuuinanahoshi ou Tumblr: http://sayuuiandnanahoshi.tumblr.com/
Beijinhos da Nana-chan e até o próximo capítulo!



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