Encontros escrita por Alexandra Eagle


Capítulo 12
Capítulo 12 - Reviravolta




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— O que está dizendo, Diana? Explique direito o que acabou de me dizer... AGORA!

— Gritar comigo não vai mudar a verdade, John. Já que a conhece tão bem, então sabe que ela é uma criminosa.

— Isso tudo é um grande engano, vou resolver quando voltarmos. Marguerite não é uma criminosa.

Mas ele sabia que por mais que a bela morena tivesse mudado, era um fato que, no passado, ela se envolveu em muitas coisas nada bem vistas pela sociedade londrina e, principalmente, pela justiça. Sem contar que havia muitos segredos que o caçador ainda desconhecia. "Marguerite, em que você se meteu...".

— Me diga, Diana, como sabe disso? E do que estão acusando Marguerite? - agora com um tom de voz cheio de pura preocupação por sua amada.

— A sua mãe nunca desistiu de você e sempre mandava expedições para tentar te encontrar, mas nunca com sucesso já que ninguém tinha coragem de atravessar o rio Amazonas com os caçadores de cabeça espalhados por todos os lados. E, claro, a imprensa sempre fazia um alvoroço. Algumas manchetes com os títulos “Marguerite Smith” ou a “bela viúva Marguerite Krux” vieram à tona alguns meses depois que vocês partiram. Ela é acusada de  contrabando de ouro e de desviar recursos para financiar os projetos de guerra, envolvimento com a máfia chinesa e mais uma lista de coisas horríveis. Para você ter uma ideia da gravidade da situação, ela também é acusada até da morte de todos vocês.  Há uma teoria de que ela usou essa expedição como um disfarce para fugir para a América Latina e que teria matado todos.

— ISSO É UM ABSURDO! Meu deus, e agora... Mas que INFERNO!

— Agora você entende como eu fiquei? O que queria que eu tivesse feito?

— Eu... Eu entendo de certa forma, Diana. Afinal, você não a conhece, mas Marguerite não é esse mostro que estão dizendo, eu lhe garanto. Isso tudo pode ser explicado, ela não vai ser presa e muito menos condenada. Eu não vou deixar!

— John, você está sendo ingênuo... Os anos aqui no platô sem lei alguma fizeram você esquecer como é o mundo civilizado. Você não vai poder ajudá-la. Assim que você contar isso pra ela, Marguerite não vai pensar duas vezes em te deixar, ela vai fugir e você nunca mais a verá.

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Na casa da árvore:

George havia encontrado Verônica no quarto descansado um pouco.

— Verônica, minha querida, Roxton pediu para você ajudar Marguerite com o banho.

— Oh sim, eu vou agora mesmo.

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No primeiro andar a conversa seguia cada vez mais tensa.

John ficou calado pensando no que acabara de ouvir e infelizmente tinha suas dúvidas se Diana não estava certa no que disse. "Marguerite me deixaria? Ela seria capaz disso? Isso parece um pesadelo sem fim!".

— John, eu juro que não queria causar o acidente, mas eu sei que eu não tive culpa e nem você. As coisas aconteceram tão depressa, eu sinto muito.

Diana o abraçou em prantos e John despertou do transe dos pensamentos turbulentos. Como poderia ele culpar Diana quando ela só estava pensando na criança que não poderia ter? E ela sabia da gravidade da situação da herdeira. A dúvida sobre a saída do platô ainda estava no ar, mas essa questão se resolveria com Harrison, pensava o nobre caçador ao retribuir o abraço tentando acalmar a pequena mulher em seus braços.

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Verônica ajudava Marguerite a se despir e a herdeira não pôde deixar de perguntar:

— Verônica? E... Roxton o que ele está fazendo agora?

— Eu não sei, foi Challenger quem me chamou. Eu não vi o Roxton na sala ou na cozinha, ele deve estar no quarto.

— Hum... É, deve estar. - "Ele está é com a noivinha", pensava.

Jacob saiu do banho renovado e encontrou Harrison debruçado na varanda. O aventureiro foi se aproximando devagar, sem fazer barulho e tocou no ombro do homem distraído.

— Harrison?

Ele levou um susto ao ver o aventureiro.

— Não se assuste, meu amigo. O que está acontecendo lá embaixo deve ser bem interessante. Você nem sequer piscava...

— Oh, não era nada.

Mas Harrison não foi nada convincente e Jacob se debruçou para ver o que estava acontecendo. Viu o caçador com Diana nos braços em um abraço muito íntimo. Logo o sangue do aventureiro esquentou, tamanha a sua revolta. "Marguerite de cama e esse desgraçado se agarrando com outra, ele não a merece!".

Verônica subiu e viu os dois homens na varanda, mas Jacob saiu furioso. Antes fitou a garota da selva:

— Verônica, eu posso ver Marguerite?

— Bem, eu vim chamar o Roxton, ele deve ficar com ela. Você entende? - disse ela sem graça por ter que da um chega pra lá no homem.

— Acho que ele não vai se importar, afinal, está com a noiva nos braços lá embaixo. Veja você mesma se quiser.

E ele saiu sem dar mais explicações, indo direto para o quarto da herdeira.

— Marguerite? Eu vou entrar... – anunciou da entrada.

— Tudo bem.

Ele entrou e viu a bela morena deitada na cama vestida com uma camisola branca e os cabelos soltos caindo sobre os ombros.

— Como você está se sentindo?

— Ai, eu acho que vou enlouquecer se eu ouvir essa pergunta outra vez!

— Você escuta isso mais vezes porque todos se preocupam com você, minha cara.

— Ah claro, até demais... Você viu o John?

Jacob se calou; não queria magoá-la num momento tão difícil, mas também não queria enganá-la. "Ah Marguerite, minha linda, você não merece passar por tanto sofrimento".

— Então, Jacob? Vai ficar aí pensando ou vai me responder? Fale logo que ele está com aquela fingida da Diana! É isso, não é?

Jacob ficou surpreso com o que a bela morena acabara de falar, então resolveu contar a verdade de uma vez.

— Sim. Sim, eu vi os dois lá embaixo.

— Se beijando? – perguntou a herdeira quase engasgando de ódio.

— Bem, não... Estavam abraçados.

"Miseráveis"! Pensou a herdeira, com raiva e morrendo de vontade de atirar no coração dos dois.

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Diana se acalmou e parou de chorar. A bela dissimulada aproveitou o momento de fragilidade do caçador comovido pela situação. Levou a mão frágil sobre o rosto de John e acariciou devagar, segurando o forte desejo de levar a mão até os botões da camisa branca para poder sentir – mesmo que só por alguns momentos de luxuria – o calor do corpo do homem que um dia foi seu. ‘’Eu poderia ser sua agora mesmo se você quisesse’’. Ela olhou diretamente nos olhos profundos do caçador enquanto ainda lhe acariciava o rosto. John  não sabia direito como reagir,  Diana se aproximou e antes mesmo que ele pudesse fazer algo ela o beijou.

Roxton segurou o pulso da mulher e se afastou do beijo. Diana ficou por um breve instante de olhos fechados sentindo o sabor dos lábios do belo Lorde, mas logo saiu do transe e fitou-o com um olhar furioso.

— O que pensa que está fazendo, Diana? O que eu tenho que te dizer para que você possa entender de uma vez por todas que entre nós nunca haverá nada? Nada!

Ela ficou em silêncio, os lábios tremiam de tanto ódio e uma lágrima amarga escorreu rapidamente pelo rosto pálido da jovem desprezada. "Desgraçado! Você vai me pagar, todo vocês vão me pagar".

— Desculpe. Me deixei levar... Nos seus braços me senti como antes, quando eu era feliz ao seu lado... Desculpe, foi a nostalgia. Você não precisa se irritar, não vai acontecer novamente.

— Tudo bem. É melhor assim, Diana.

— Bem, Lorde Roxton, acho que é melhor subirmos, pois você precisa ficar com a Marguerite. Agora ela precisa de você mais do que nunca – disse Diana tentando convencer John de que estava finalmente conformada.

John, é claro, ficou satisfeito em ouvir tais palavras da mulher; querendo ou não o caçador tinha certo carinho especial por Diana e não estava feliz em magoar uma amiga íntima de tantos anos.

— Você tem toda razão. Vamos.

E assim, juntos seguiram para o elevador.

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No quarto:

Marguerite apertava os pulsos tentando não transparecer todo o ódio e o ciúme que sentia pelo caçador.

Jacob tentava inutilmente animá-la conversando sobre a aldeia e como a vida era tão diferente em um platô perdido e repleto de criaturas, civilizações, mitos e lendas.

— Marguerite, eu sei que é um momento difícil para você e eu a conheço há pouco tempo, mesmo assim não é segredo pra ninguém que a senhorita Krux pode estar destruída por dentro, mas por fora vai sempre querer aparentar que está tudo bem. Eu sei que não está. Confie em mim, vou cuidar de você. Podemos passar por isso juntos! - disse o aventureiro enquanto acariciava o cabelo e o resto da herdeira.

Ela queria desabafar, tentar aliviar um pouco da angústia que a consumia. Tudo estava desmoronando assim como em seu sonho, mas o importante é que o bebê continuava vivo e crescendo; o medo de perder o seu bem mais precioso era mais forte até mesmo do que o próprio amor pelo caçador.

— Eu já ouvi isso antes, Jacob, e são apenas palavras. Não se preocupe, eu sei muito bem cuidar de mim mesma e, como você disse bem, me conhece há muito pouco tempo. Então, por favor, pare de tentar me decifrar e, principalmente, pare de tentar ser uma cópia do John! Eu já estou cansada disso, apenas me deixe em paz!

Ele se sentiu mal. Era certo que a bela morena não estava bem, mas o aventureiro errou ao tentar pressioná-la.

— Não estou tentando te decifrar; para dizer a verdade eu não sei nem o que estou fazendo aqui. Desde que te conheci não consigo parar de pensar em você e a vontade de te proteger é mais forte do que eu. Sou o que sou e não uma cópia de ninguém, Marg...

— Por favor, me deixa sozinha, eu quero descansar.

— Está bem... Como você quiser. - ele saiu sem olhar para trás.

O aventureiro se sentiu como se tivesse sido pisoteado por um T-Rex.

Marguerite se virou para um lado da cama e voltou a derramar lágrimas silenciosas. Perdida em seus tenebrosos pensamentos, a bela não se deu conta da presença de John adentrando no quarto. O caçador ficou em silêncio observando a sua amada chorar. Com calma e sorrateiramente ele deitou ao lado dela e acariciou seu cabelo macio; a herdeira acreditava até o momento que se tratava de um sonho, fruto do intenso desejo de seu coração de que John estivesse ao seu lado.

Então ela se virou e ambos ficaram frente a frente, se olhando em silêncio. Os olhos da herdeira brilhavam como duas esmeraldas. O caçador quebrou o silêncio e despertou Marguerite, que agora sabia que não era um sonho.

— Eu te amo! - disse o caçador com a mais pura emoção.

— Me deixe sozinha, por favor...

"Eu... Eu também te amo, para minha desgraça”, pensou a herdeira na mais profunda tristeza.

John levou a mão sobre o braço da morena. Marguerite se arrepiou ao sentir o toque do caçador percorrendo vagarosamente até a sua mão. Ele segurou firme, mas não a machucou. Marguerite quase que imediatamente se soltou e tentou se afastar. John se levantou e se sentou enquanto ela continuou deitada morrendo de vontade de sair correndo dali, mas as dores ainda presentes em seu corpo a obrigavam a permanecer ali mesmo à mercê do caçador. John a ajudou a se sentar, a contragosto da herdeira.

— John, não me toque, eu já pedi pra você sair daqui.

— E eu já disse que vou ficar com você...

— Eu não quero!

— Não me afaste de você, Marguerite. Acha que não estou sofrendo? Você não sabe o quanto eu estava feliz por você estar grávida, formaríamos uma família.

John se apoiou na cama com cabeça baixa, a tristeza pesava em seus ombros. Por um breve momento a morena pensou em contar a verdade.

 - John, eu...

Mas a lembrança das palavras de Diana a fez mudar de ideia e subitamente a herdeira foi tomada pelo sentimento de revolta.

— Eu... Eu não posso acreditar... Família? Você disse “uma família”? De qual família você está falando? Ah, claro, a respeitada família Roxton e os Connelly... Juntos em uma união perfeita, não é mesmo!? Me diga, onde eu fico nessa família?

A voz embargada e cheia de ressentimento desesperou o nobre caçador.

— Marguerite, eu juro que...

— Eu ouvi tudo, John... Tudo! - disse a herdeira em um fio de voz - Você não disse nada!

— Porque eu não esperava ouvir isso da Diana! Fiquei sem reação, MAS EU JURO, MEU AMOR, POR TUDO O QUE É MAIS SAGRADO, QUE EU NÃO CONSIDEREI NEM POR UM INSTANTE...

— É MENTIRA!!! VOCÊ ESTÁ MENTINDO PRA MIM! Como você pôde de ser tão... tão...

— MARGUERITE, EU JÁ FIZ DE TUDO PRA TE PROVAR O QUANTO EU A AMO E O QUANTO EU PRECISO DE VOCÊ. Por favor, não duvide de mim, não duvide do meu amor! Escute bem... Acho que Diana está mentindo sobre a saída do platô. Ainda há uma saída!

Marguerite ficou o encarando sem reação, esperando para ouvir o que mais o caçador tinha a dizer. A morena notou o semblante do nobre mudar rapidamente, algo ruim estava para ouvir e o coração dela parecia querer sair pela boca.

— Minha mãe, minha casa, minha glória, minha fama, tudo isso ficou para trás...

John se aproximou e segurou o rosto delicado da bela com as duas mãos obrigando-a encará-lo no fundo dos olhos. O caçador respirou fundo e...

— Vamos ficar aqui no platô. Eu vou abrir mão de tudo, tudo, porque pra mim não há nada mais importante do que você. Eu te amo e aqui estará segura.

Marguerite suspirou pesadamente, as lágrimas caíam e percorriam sobre as mãos do nobre que ainda a segurava. Ela podia ver e sentir todo o amor que John buscou desesperadamente transmitir através daquelas palavras. O que acabara de ouvir era lindo, sincero e verdadeiro, mas ao mesmo tempo preocupante.

— John, eu sei muito bem que aquela cobra está mentindo, isso é óbvio. Mas porque está dizendo que vamos ficar aqui nesse maldito platô? O que você sabe que eu ainda não sei?

Roxton ficou em silêncio, eram tantas dúvidas e medos surgindo ao mesmo tempo. "Eu não vou deixar que nada de mal te aconteça, meu amor".

— John, diga alguma coisa?

— Marguerite, eu... Eu estive conversando com a Diana agora pouco...

— Conversando? hum... Sei... Por acaso estavam acertando os detalhes da festa de casamento?

— Marguerite, por favor, me deixe continuar e não tire conclusões precipitadas.

A herdeira cruzou os braços e bufou de raiva. O caçador estava receoso em continuar a conversa.

— Eu quis deixar bem claro de uma vez por todas que é você que eu amo e também pressioná-la para falar a verdade sobre a saída do platô.

A herdeira estava se sentindo cada vez mais encurralada pelos próprios sentimentos. As palavras do caçador surtiam um misto de emoções: felicidade, medo, arrependimento...

— E o que ela disse?

— Negou que estivesse mentindo e, sinceramente, eu não sei o que pensar. Vou conversar com Harrison e descobrir de vez se a passagem se fechou ou não.

— Você tem dúvidas?

A herdeira estampou uma expressão de indignação e com um leve sorriso de deboche.

— Ela te manipula mesmo, não é?

— Marguerite... Por favor... De qualquer jeito com saída aberta ou não é aqui que vamos ficar. Pelo menos até que tudo esteja resolvido.

— MAS QUE INFERNO, JOHN! VOCÊ QUER ME DIZER DE UMA VEZ TUDO O QUE AQUELA MISERÁVEL DISSE PRA TE DEIXAR ASSIM TÃO ABALADO? - disse a herdeira já completamente sem paciência, o ciúme e a desconfiança a corroíam por dentro.

John ficou entre a cruz e a espada. O nobre não queria contar de imediato a real situação da bela herdeira, pois já bastava a dor da perda do bebê. "Como eu queria poder voltar no tempo, isso tudo parece um pesadelo sem fim! Eu... não quero que você sofra ainda mais, meu amor. Você não merece tanta desgraça! Não merece!", pensava o caçador olhando diretamente nos olhos de sua amada. O tempo parecia ter parado. Mas a herdeira quebrou o silêncio e insistiu novamente, quando, de repente, ela sentiu uma forte dor na cabeça; John ficou assustado e a deitou imediatamente.

— Vou chamar o Challenger, você vai ficar bem.

— Não! Não precisa. Pegue o remédio que o Xamã deixou para mim, está ali em cima da penteadeira. Rápido! Aaai minha cabeça!

Ele apanhou a moringa com o elixir de ervas e ajudou a morena a tomar alguns goles da bebida.

Marguerite ficou em silêncio, de olhos fechados repousando.  John estava de joelhos ao lado da cama segurando a mão da bela e a observado com muita apreensão.

Cinco minutos vagarosamente se passaram.

— Já está se sentindo melhor?

— Sim. Foi só um mal estar, provavelmente por que não tenho paciência para os seus rodeios infernais.

— Shhhhh! Fique calma, não fale nada, mas apenas descanse.

— Não... Eu preciso saber. Por favor, John, me diga?

— Quando você estiver melhor. Agora, confie em mim e durma.

Ela estava tão exausta e o feito do remédio estava lhe causando sonolência.

— Durma, meu amor, vou ficar aqui e nunca vou te deixar.

As pálpebras pesadas foram se fechando lentamente. Marguerite sorriu para o caçador e caiu no sono profundo. John se deitou novamente ao lado dela e ficaram assim até anoitecer.

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Enquanto isso no andar de cima:

Diana se certificou de que não havia ninguém por perto: Jacob estava repousando no quarto do caçador e Verônica estava com Challenger no laboratório. A dissimulada foi caminhando com cautela, direto para encontrar Harrison no quarto. Adentrou rapidamente e foi direto ao ponto.

— Harrison, me escute e preste bem atenção no que vou dizer...

— O que foi, Diana? O que aconteceu?

— John está muito desconfiado, ele acredita que a passagem não se fechou!

— O quê? Então está tudo perdido, irmã. Vamos ter que sair daqui e sem nada!

Harrison sentou na cama com as mãos na cabeça, desolado, já pensando em todos os credores e na miséria. Diana se ajoelhou na frente dele e tocou seu rosto abatido pela angústia.

— Ainda não acabou. - disse a mulher quase sussurrando.

— Mas, Diana, o que vamos fazer? Ele descobriu tudo e certamente vai nos obrigar a revelar a saíd...

— Não, não... Ele ainda não descobriu, só está desconfiado. Eu neguei tudo e tive que contar que a cabeça daquela vadia está a prêmio em Londres.

— Você contou? Pensei que iria deixar ela ser presa quando saíssemos daqui.

— Ah eu não tive escolha, precisei usar esse trunfo como argumento e consegui sensibilizar aquele imbecil. Agora, mais cedo ou mais tarde ele virá falar com você, então seja muito convincente e negue que há uma saída. Precisamos ganhar tempo, eu tenho um novo plano e preciso que você esteja do meu lado mais do que nunca!

— Sim, irmã. Estamos juntos, eu vou fazer tudo como você quiser.

— Ótimo. Então escute e preste muita atenção.

Harrison ouvia atentamente a cada palavra, nenhum detalhe podia passar despercebido. O novo plano era audacioso e nada podia dar errado. Agora era tudo ou nada.

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Nuvens carregadas cobriram a maior parte do platô e por vários dias a chuva caiu sem trégua.

John contou suas suspeitas ao cientista e à garota da selva, que, aliás, não ficou surpresa, ela esperava isso e muito mais da dissimulada Diana. Challenger ficou incrédulo, mas não descartou a possibilidade, então designou a Verônica e ao aventureiro a expedição até a região onde os Connelly haviam indicado para fazer uma varredura. Porém, por conta da constante tempestade que castigava o platô todos foram obrigados a permanecer na casa da árvore.

Challenger, Verônica, John e Jacob se revezavam nos cuidados com Marguerite. Ela já estava praticamente recuperada e se mantinha afastada de todos, principalmente de Lorde Roxton, reclusa dentro do quarto.

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Os irmãos Connelly entraram na rotina de tarefas da casa da árvore: Diana lavava e costurava no lugar da herdeira e Harrison ajudava John com a manutenção da casa, que sofria com a forte chuva.

Por vezes o caçador tentou pressionar o homem a contar sobre a saída, mas Harrison era sempre muito convincente ao negar. Enquanto a herdeira não estivesse recuperada esse assunto deveria ficar em segundo plano.

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— Bom dia, Marguerite. Eu trouxe o seu café.

— Obrigada, John. Pode sair agora. A não ser que hoje você tenha a boa vontade de, finalmente, me contar o que está escondendo.

"É muita hipocrisia da minha parte, mas eu preciso saber o que aquela cobra disse", pensava a herdeira.

— Marguerite, você já está pronta para sair desse quarto. Podemos ir até o lago, é o seu lugar favorito.

Ela ficou pensativa por uns instantes; já não aguentava mais o fardo do segredo, mas enquanto o caçador não lhe contasse tudo sobre a conversa com ex-noiva a herdeira não estava disposta a contar a verdade.

— Hoje não, John. Eu ainda não...

— Tudo bem. Só gostaria que estivéssemos em um lugar calmo e sereno. Vou contar o que a Diana me disse, agora que você não corre mais nenhum risco.

— Então diga logo! – “Finalmente”, pensava.

— Você não tem paciência mesmo...

— Paciência? Estou há dias esperando você me dar uma explicação e agora você vem me falar de paciência?!

— Está bem, Marguerite. Você e seu mau humor matinal... Parece até uma fera.

— O quê?! Ah saia já daqui!

— Você quer me ouvir ou não?

                Marguerite fechou os olhos e suspirou, procurando se acalmar.

— Está bem. Fale. - disse ao tomar um gole quente do café que John havia trazido.

— Eu não queria te preocupar naquele momento, meu amor.

— Não me chame assim, John. Já conversamos sobre isso.

— E eu disse que não estou disposto a aceitar que tudo se acabe. Então me deixe continuar.

— Você é mesmo um presunçoso.

                Sem mais delongas, John foi curto e reto antes que a herdeira pudesse interrompê-lo novamente:

— Você está sendo acusada de vários crimes. Diana me contou que recentemente várias manchetes expondo a sua identidade na guerra vieram à tona. Você está sendo procurada, acham que a expedição foi apenas um meio de fuga e que você planejou a morte de todos nós, entre outros crimes.

"Não, não pode ser", pensou a herdeira com o baque da notícia.

— John, eu...

— Você não precisa me explicar nada.

— John, por favor, agora é você que tem que escutar. Não é possível ficarmos juntos. Não entende? Você não pode sacrificar a sua vida, a saída do platô está mais perto do que nunca, ela não se fechou!

— O que está dizendo? Acha mesmo que vou ser feliz longe de você?!

— Eu não vou ficar no platô, John. Vou sair e sumir para ficar longe de represálias, a prisão não é o pior que pode me acontecer.

"Será que você não compreende que te amo mais que tudo e que não vou suportar se algo de ruim te acontecer por estar ao meu lado? John, eu te amo”, pensava a herdeira tentando suprimir ao máximo o medo e a vontade de cair nos braços do caçador.

— Você vai me deixar? Eu estou disposto a largar tudo por você, se for preciso, e tudo o que tem a me dizer é que vai sumir sem a menor consideração pelo meu amor, como se não fosse importante, como se não valesse nada?!

John podia claramente expressar a sua total decepção através de seus olhos tristes. A herdeira não sabia o que dizer. Agora tudo havia se complicado ainda mais. "O que estou fazendo? John me ama, ele tem que saber sobre o bebê. Eu não posso mais esconder, eu não aguento mais. Eu preciso de você!"

— John, eu... Preciso que você me entenda, toda essa situação com a Diana... Eu fiquei desesperada!

— Chega, Marguerite. Eu não quero ouvir mais nada, já está tudo bem claro. Diana me disse que você não pensaria duas vezes em me deixar quando soubesse de tudo, mas eu não quis acreditar. Sou apenas um homem apaixonado por uma mulher de fogo e aço, cabeça dura, que me afasta de todas as maneiras. Eu devo ser louco.

Roxton ficou transtornado de raiva e a decepção o cegou. No calor da emoção ele atirou longe a bandeja que havia trazido com café da manhã, tudo ficou espalhado pelo chão do quarto. A herdeira se levantou da cama e tentou se aproximar do caçador para encará-lo e poder contar-lhe a verdade de uma vez por todas, mas John estava decepcionado demais.

— O destino é cruel, mas sábio.  Se o meu filho estivesse vivo eu nunca permitiria que o levassem para longe de mim. Você só se importa consigo mesma.

Uma punhalada no coração teria doído menos que as palavras que acabara de ouvir. A herdeira se calou e virou de costas para o caçador, que saiu a passos largos do quarto.

O caçador pegou o chapéu e o rifle e entrou no elevador. Jacob viu o nobre saindo. Pouco antes ele havia escutado o barulho vindo do quarto da herdeira, mas preferiu não ir se meter; depois da última conversa como Marguerite, o aventureiro se afastou para que ela não se sentisse ainda mais confusa e pressionada. Porém, um pressentimento forte o fez ir lá ver como a morena estava.

Jacob ficou parado de frente para a cortina que cobria a entrada do quarto, era possível ouvir choro descontrolado acompanhado de soluços. Ele entrou e viu Marguerite ajoelhada no chão recolhendo os cacos da xícara e a bandeja que John havia jogado no chão. Ao ver o aventureiro ela se levantou e rapidamente limpou as lágrimas sobre o rosto.

— Marguerite, o que houve aqui?

A bela não tinha forças para falar, seu rosto estava vermelho e os olhos inchados. Jacob se aproximou para limpar uma lágrima que desceu pesadamente. Marguerite deu um passo para trás e uma súbita tontura a fez perder o equilíbrio, mas mais do que depressa o aventureiro apanhou-a nos braços e a deitou na cama.

— Marguerite, me diga o que está sentindo?

— Não é nada.  Vá embora! – respondeu ela, ainda atordoada e sentido um forte enjôo.

— Eu vou chamar o professor,  ele precisa te examinar.

— Não! Eu est...

Marguerite segurou o estômago e vomitou no chão ao lado da cama.

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Diana terminou de lavar as camisas do Lorde. Para ela era um verdadeiro sacrifício ter que se submeter aos serviços domésticos, mas era preciso para manter as aparências e não alimentar ainda mais a desconfiança de todos. Ela também viu o a caçador sair como uma fera selva adentro, era  óbvio que algo tinha acontecido.

Marguerite, depois do mal-estar, foi até o banheiro tomar um banho para se limpar. Jacob fez a gentileza de limpar o quarto da herdeira; o aventureiro estava com a cabeça fervilhando de dúvidas e pretendia cobrar explicações.

Após um tempo a herdeira voltou para o quarto vestindo apenas um hobby de seda. A bela ficou surpresa ao ver que Jacob ainda estava no quarto e havia organizado tudo.

— Jacob, obrigada por limpar tudo. Você é mesmo único.

Ela se sentou na cama e Jacob reparou no olhar triste e distante da morena.

Ele ficou ao lado dela, segurou uma de suas mãos e a levou até os lábios depositando um leve beijo. Marguerite retribuiu o gesto de carinho com um pequeno sorriso, a tristeza era tanta que não permitia mais do que isso.

— Está se sentindo melhor?

— Sim, não se preocupe. Apenas a minha enxaqueca foi forte demais. Depois vou pedir para a Verônica uma receita de um dos chás milagrosos da mãe dela.

— Ah claro... Enxaqueca...

— Bem, e onde ela está que ainda não veio me ver hoje?

— A chuva deu uma trégua e ela foi caçar junto com o Harrison. E o Challenger foi ver o moinho de vento.

— Ok. É... Bem... Eu não sou muito boa com isso e... Já faz algum tempo que você não vem conversar comigo. Eu queria... Digo, eu quero me desculpar por tudo o que eu disse, fui muito injusta.

— Está tudo bem. Eu só não vim antes porque achei melhor respeitar o seu espaço e te dar um tempo para se recompor.

— Obrigada.

— Então, vai me dizer o que aconteceu aqui ou vai me expulsar como de costume?

— Jacob, eu não quero falar sobre isso e, sim, eu gostaria muito de ficar sozinha agora, mas...

Jacob entendeu o que os olhos belos olhos reluzentes como duas pedras preciosas lhe suplicaram. Silenciosamente, o aventureiro a puxou pela cintura e a abraçou forte entrelaçando uma das mãos no cabelo da morena. Jacob podia sentir o perfume inebriante de flores do campo. Por sua vez, Marguerite se permitiu retribuir o abraço, ela precisava tanto daquele carinho sincero. E ali ficaram por um tempo, abraçados, até que Jacob se afastou um pouco e encarou a morena.

— Você pode confiar em mim.

A herdeira arqueou uma das sobrancelhas.

— Ah Jacob, confiar está longe de ser algo que costumo praticar. Não leve para o pessoal.

Sorriu brevemente a herdeira. Tinha sempre uma resposta ríspida na ponta da língua seja qual fosse o seu estado de espírito.

— Marguerite, eu vou ser bem franco com você: já sei que você continua grávida. Eu só ainda não sei por que está mentindo e o que pretende, pois é óbvio que não vai poder sustentar essa farsa por muito tempo.

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Diana, ao chegar na casa, logo percebeu que o aventureiro estava no quarto de sua rival. A mulher ardilosa desceu as escadas com muita cautela para não fazer nenhum barulho e acabar sendo descoberta. Posicionou-se ao lado da entrada do quarto e ficou atenta a conversa; até que para sua surpresa:

"Grávida?! Não pode ser. Maldita seja Marguerite, mil vezes maldita!”


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