Encontros escrita por Alexandra Eagle


Capítulo 11
Capítulo 11- A dor da perda




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Diana andava de um lado para o outro. A megera estava apreensiva com a situação; em sua mente perversa repetia o tempo todo "Marguerite sangrar até a morte" e assim ela se ver finalmente livre para poder sair do platô de mãos dadas com Lorde Roxton rumo à fortuna do nobre.

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Verônica correu para o quarto com uma xícara do remédio que havia preparado; ela estava com as mãos trêmulas pensando no pior, já que o xamã foi embora sem dizer sequer uma palavra, apenas lançando um olhar enigmático e tomando seu rumo de volta a aldeia.

Ao entrar no quarto, a garota da selva logo sentiu o clima tenso no ar: fitou o caçador de joelhos e cabeça baixa ao lado da cama, o semblante no rosto dele era extremamente triste. "Oh meu Deus, não" – pensou a jovem. Ela se aproximou, lentamente, para ver o estado de Marguerite, que continuava de rosto virado, com os olhos abertos tentando a todo custo não demonstrar sua dor.

— Roxton?

Ele apenas gesticulou negativamente com a cabeça e Verônica teve a triste certeza sobre o que se passava. Os belos olhos azuis da jovem brilhavam com as lágrimas que brotavam em desgosto e tristeza pelo desfecho trágico do acidente.

Marguerite, até então quieta, respirou fundo e pediu para que a deixassem sozinha:

— Eu quero ficar sozinha. Por favor, me deixem. – a herdeira precisava de um tempo para pensar em tudo e, principalmente, quais seriam os próximos passos.

John estava dilacerado por dentro; a dor era igual ou pior à que sentiu com a morte do irmão. E o sentimento de culpa o consumia como uma chama intensa, mas o amor pela herdeira falava mais alto que qualquer sentimento de culpa e logo ele retomou a compostura e tentou novamente retomar o seu lugar como um alicerce para manter Marguerite longe de suas paredes de auto-proteção após mais essa perda em sua vida.

— Eu não vou sair daqui, Marguerite, vou cuidar de você. Eu também estou sofrendo, Deus sabe o quanto eu queria o nosso bebê; mas você está aqui comigo, meu amor, viva. Vamos superar isso juntos, não me afaste de voc...

— John, vá embora, por favor. Eu preciso de um tempo em paz... Por favor, vá embora. Você não tem o que fazer aqui. – ela o interrompeu com um tom seco na voz.

"O que eu estou fazendo?... Estou com tanta raiva. Eu não sei o que pensar; será que você diz a verdade, John? Não adianta mais eu ficar me lamentando. O que está feito, está feito."

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John ficou rígido como uma pedra. A morte do primogênito e o desprezo de Marguerite eram demais para ele. A bela e implacável herdeira virou o rosto e o encarou, afinal, ela nunca foi de se acovardar diante de uma situação difícil; mas ao ver os olhos amêndoa marejados do caçador ela sentiu uma ponta de arrependimento e seu coração, que no passado se fechou completamente para o amor, hoje se contrai em dor pela vontade de estar nos braços de John e contar-lhe a verdade.

O amor e a razão duelavam a ferro e fogo no coração e na mente de Marguerite: "Como eu o Amo...”

“Não seja ingênua, Marguerite. Seja forte, fria e calculista e não uma boba apaixonada".

Verônica parada ali de pé não sabia o que fazer ou o que dizer, ela queria consolar seus amigos e principalmente Marguerite, mas o que dizer? Então, ela respirou fundo, pôs a xícara sobre a penteadeira e limpou as lágrimas que caíam  involuntariamente sobre o rosto.

— Marguerite, eu sinto muito. Vamos cuidar de você, eu posso ficar aqu...

— Não precisa! Eu estou bem. Verônica, obrigada, mas se você puder sair e levar o Roxton com você já seria de grande ajuda.

— Mas, Marguerite...

— Já disse que quero ficar sozinha, porque não podem respeitar a minha decisão?

A jovem sabia que Marguerite não queria demonstrar fraqueza e sentiu pena da amiga; achou melhor fazer o que ela estava pedindo, o momento trágico exigia toda a compreensão e cuidados. John se inclinou para dar um beijo na testa da herdeira, mas ela virou o rosto sem se quer mostrar um sentimento por ele. A respiração do caçador ficou presa e ele se pôs de pé, apertou os punhos e, respirando fundo, caminhou para fora do quarto.

Verônica olhou para herdeira, que tremia os lábios segurando o choro.

— Marguerite, eu venho mais tarde ver como você está.

Ela nada respondeu e Verônica saiu.

Em fim só, Marguerite se virou de lado com um pouco de dificuldade, pois sentia dores pelo corpo, e agarrou o travesseiro abraçando-o com força, tentando buscar o consolo que não pôde ter no calor do peito largo e forte do homem que amava. Por fim, deixou-se levar pelo momento de fraqueza e chorou. Chorou lágrimas frias vindas do fundo da alma. "Por que? Por que eu não posso ser feliz!?"

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Harrison estava na varanda olhando para o horizonte e tentando imaginar um meio de convencer Diana a desistir dos planos de continuar no platô, até mesmo de conquistar o Lorde – temia que nesse meio tempo a passagem realmente se fechasse. "Diana nunca vai me ouvir... Ela é orgulhosa demais e está disposta a tudo pra conseguir o que quer, assim como era nosso pai; por isso ela sempre foi a favorita e eu sempre fui considerado o fraco, o inútil. O que eu faço?... Eu não sei... Por um lado, se voltarmos sem nada teremos uma vida miserável e posso ser morto a qualquer momento; por outro, essa situação está saindo dos limites, a passagem pode se fechar a qualquer momento e eu não quero ficar para sempre nesse mundo esquecido por Deus e cheio de aberrações pré-históricas e sei lá mais o quê.". Os pensamentos em conflito entre tantas dúvidas de Harrison foram interrompidos pela chegada repentina de John e Verônica.

Harrison se virou e viu Roxton ir direto para o elevador.

— Verônica, como está Marguerite?

— Está mal... Ela perdeu o bebê.

— Mas ela corre risco de vida?

— Não; graças a Deus não, mas ela precisa de cuidados, está muito abalada.

— Oh sim, deve estar sendo muito difícil para ela e para o John. À propósito, ele não deveria estar com ela nesse momento?

— Bem, sim; mas Marguerite tem o seu jeito de lidar com a dor e precisamos respeitá-la, ela quer ficar sozinha... Está muito triste. Vou fazer uma sopa. Ela precisa comer nem que seja à força.

— Sim, ela precisa ficar forte e se recuperar. Bem, me chame se precisar de ajuda.

— Tudo bem.

— Com licença.

Harrison saiu e foi direto para quarto onde Diana estava.

— Diana? Posso entrar?

— ENTRA. O que esse Judas quer agora?

Ele abriu a porta e foi entrando devagar como se estivesse prestes a dar de cara com uma fera.

— O que você quer? Já cansou de bancar o prestativo?

— Só achei que gostaria de saber que Marguerite perdeu o bebê.

— Sério? Mas que ótimo! Enfim, uma boa notícia!

Diana não se conteve de felicidade e pulou de alegria. Harrison a observava boquiaberto e em silêncio.

Após comemorar a morte do inocente, Diana respirou fundo se sentindo aliviada, afinal, era menos um obstáculo para ela até o coração do caçador. Mas então veio à dúvida...

— Hum... Intrigante. Você corre para ajudar nossa principal inimiga e agora vem correndo fazer fofoca. Afinal de contas, irmãozinho, de que lado você está?

— Eu não estou aqui para fazer fofocas, Diana, você não me respeita assim como nosso pai também não me respeitava, ele sempre preferiu você!

— Você me traiu, me apunhalou pelas costas, por um ciúme ridículo. Já se esqueceu que nosso pai está morto? Então pare de ser tão idiota. Você acha mesmo que bancando o bom samaritano aquela selvagem vai olhar para você? Como é tolo, meu irmão, por acaso não percebeu?! Verônica é completamente apaixonada pelo tal repórter, Ned Malone, que com certeza deve ser mais homem que você!

Harrison queimava de raiva por dentro e tentava ao máximo se conter, mas Diana continuou a destilar veneno.

— Então? Diga alguma coisa, seu inútil!

Ser chamado de inútil foi a última gota para Sir Harrison, que devolveu a ofensa com uma bofetada certeira no rosto da irmã. Diana pôs a mão sobre o rosto vermelho queimando de dor e caiu de joelhos aos prantos. Harrison ainda podia sentir a palma da mão ardendo e após o choque do momento veio a culpa que caiu sobre ele como uma rocha. Ele se ajoelhou junto à Diana, abraçou-a forte tentando conter o choro dela e pediu perdão sem parar.

— Diana, por favor, me perdoe. Eu não queria... Perdoe, irmã, você é tudo que eu tenho, por favor, me perdoa.

— Eu te perdôo, irmão. Só temos um ao outro, eu preciso que você esteja do meu lado. Tudo o que estou fazendo é para garantir o nosso futuro. - "Você vai me pagar muito caro por essa bofetada, eu juro!"

— Sim. Sim, eu sei. Juro que eu vou estar do seu lado, Diana. Não serei mais um inútil, eu prometo; voltaremos para Londres o mais rápido possível e com a proteção de Lorde Roxton.

— Sim. E eu serei a Lady Roxton custe o que custar!

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(Na selva)

Os raptors famintos não demonstravam o menor cansaço ali logo abaixo de uma grande árvore, esperando e esperando qualquer passo em falso dos aventureiros. Já havia se passado 4 horas, logo o sol iria se pôr e seria impossível viajar a noite rumo à casa da árvore.

Jacob não aguentava mais ficar parado enquanto Marguerite precisava de socorro, então, tudo o que o homem pôde fazer naquele momento foi orar a Deus por um milagre.

Challenger não era um homem de fé e sim da lógica e da razão, porém os anos no platô e as mais diversas experiências fizeram o brilhante cientista rever alguns conceitos, mesmo que ainda relutante em acreditar que certas coisas simplesmente não têm explicação. George imaginava as inúmeras possibilidades do que poderia ter acontecido com Marguerite e logo lhe ocorreu... “A escada! A escada que dá acesso ao quarto! Marguerite, minha querida, você deve ter passado mal e caído...”.

De repente, um barulho de galhos se chocando não muito longe dali. Era possível sentir a árvore tremer com o impacto dos passos pesados chegando perto e cada vez mais perto.

— Challenger, é o que estou pensando?

— Creio que sim... E em boa hora!

— O que? - "Esse homem é brilhante, mas é louco também".

O rugido grandioso do imponente T-Rex ecoou por quilômetros selva adentro, chamando atenção imediatamente do grupo de raptors que logo partiram antes que se tornassem presas do maior de todos os predadores.

— É a nossa chance, vamos Jacob!

Eles desceram da árvore rapidamente. Se o T-Rex aparecesse antes que eles pudessem achar um esconderijo seguro, seria o fim dos exploradores.

Challenger e Jacob correram o máximo que podiam, o T-Rex estava se aproximando. Por sorte, o atento aventureiro avistou uma caverna e os dois correram para dentro dela. O enorme dinossauro passou por ali segundos depois.

— Essa foi por pouco, meu velho!

— Nem me diga. Não sinto os meu pés e os meus joelhos estão me matando!

— É sinal de que está vivo e isso é bom – ria Jacob.

— De certa forma sim. Vamos fazer uma fogueira e passar a noite aqui; na primeira hora do dia vamos direto para a casa da árvore.

— Malditos dinossauros. Deveríamos estar lá já há muito tempo cuidando da Marguerite. A culpa é minha, eu não deveria ter te convidado. Se ela perder o bebê eu não vou me perdoar.

— Meu jovem, não se culpe, tenho certeza de que ela e o bebê estão bem. Roxton e Verônica devem ter tomado os devidos cuidados, provavelmente chamaram o xamã da aldeia Zanga e acredito que ele saiba o que fazer nessa situação. Marguerite é uma mulher forte.

— Eu espero que esteja certo. E sim, ela é muito forte, mas ao mesmo tempo é tão frágil...

Challenger ficou em silêncio; tentava não demonstrar a sua real preocupação, pois temia o pior. "Eu fui um imprudente, um tolo. Eu deveria ter ficado na casa da árvore. É claro que no começo da gestação minha presença era imprescindível, eu tinha que estar lá para qualquer emergência, mas mais uma vez eu só pensei na ciência, em novas descobertas, em mim mesmo, e olha as consequências de minha vaidade".

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A noite finalmente chegou...

John retornou à casa da árvore, estava exausto, com olhos vermelhos e os dedos feridos por aliviar sua dor, raiva e angústia dando socos em uma árvore.

Ao chegar no cômodo principal não avistou  ninguém e foi direto para o quarto de Marguerite ver como ela estava; desceu as escadas abriu a cortina e viu Verônica sentada em uma cadeira ao lado da cama zelando pelo sono da herdeira.

Verônica viu Roxton entrando e fez sinal para que ele não fizesse barulho, então ela levantou da cadeira e puxou-o para fora do quarto em silêncio.

— Como ela está, Verônica? Por favor, me diga? – perguntou o caçador com uma voz rouca.

— Shhh! Fale baixo, não quero que ela acorde. Não se preocupe, ela está melhorando, se alimentou, tomou toda a sopa que eu preparei. Estava com dores na cabeça, mas melhorou com bolsa de gelo e acabou dormindo.

— Menos mal. Ainda bem que ela comeu alguma coisa. Eu vou ficar aqui, pode ir dormir.

— Tem certeza, John? Você também precisa descansar... Eu posso ficar com ela essa noite.

— Não, não. Vá descansar, Verônica, eu ficarei. Preciso que ela sinta que eu estou do lado dela, me entende?

— Sim, John, eu entendo. Se precisar de mim é só me chamar.

Verônica saiu com o coração na mão, mas sabia que John tinha razão já que Marguerite deu a entender que as coisas entre o casal daqui pra frente seriam bem diferentes.

Roxton ficou de pé olhando a bela morena dormir; ela estava tão serena, tão calma. Por um instante o caçador fechou os olhos e imaginou que tudo o que aconteceu foi apenas um pesadelo, o pior de sua vida. Ao abrir os olhos a dor da realidade veio à tona. "Marguerite, por favor, não me afaste de você ". Ele se sentou na cadeira ao lado da cama, pegou uma das delicadas mãos da herdeira e acariciou segurando com cuidado para não acordá-la.

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O dia finalmente chegou e os primeiros raios invadiram a casa no alto da grande árvore.

A garota da selva se levantou antes mesmo do sol surgir e foi logo preparando um belo café da manhã bem reforçado para repor as forças da morena. Ela também imaginou que logo Challenger chegaria e, com certeza, faminto pelo esforço da longa caminhada. Mais tarde a loira tinha planos de ir recolher os lençóis sujos de sangue do quarto da herdeira e organizar a casa, enquanto Roxton fazia companhia a Marguerite.

Eram quase 8h da manhã, Verônica estava terminando de preparar os ovos mexidos para o café quando ouviu o barulho do elevador subindo. "Challenger, você está de volta... Ah... como eu vou te contar?".

Challenger e Jacob saíram do elevador, exaustos, cobertos de suor e muito sujos. Foram direto para a cozinha beber água. Verônica se espantou ao ver o estado dos aventureiros.

— O que aconteceu com vocês?

Challenger bebeu água com o desespero de um perdido no deserto. Jacob fez o mesmo. Após o último gole e passada a sede, se deram conta da presença da garota da selva.

— Oh Verônica, minha cara, foi uma viagem bem conturbada, mas depois eu lhe conto os detalhes, pois preciso mesmo é ir ver Marguerite. Me diga, como ela está? – disse o professor com muita preocupação e seguindo imediatamente para o  quarto.

— Challenger, espere...

Jacob parou de beber água, ansioso para ouvir o que a loira tinha a dizer, mas pela cara que ela fez o coração do aventureiro se apertou instantaneamente.

— Challenger, Marguerite caiu da escada. Ela passou mal e desmaiou bem no topo.

— Foi o que eu havia imaginado. Vocês chamaram o xamã? Uma queda dessas é de extremo risco no estado em que ela se encontra. Me diga o que houve com o bebê?

Verônica respirou fundo e encarou Challenger com tristeza.

— Roxton trouxe o xamã. Ele cuidou dela, mas infelizmente Marguerite perdeu o bebê.

Jacob ficou arrasado ao ouvir a triste notícia, pois queria muito ver Marguerite com o filho nos braços. O aventureiro sabia o quanto ela queria essa criança, apesar do medo de talvez ter que lidar com a situação sozinha. "Não... Pobre Marguerite, deve estar sofrendo tanto...".

O cientista ficou sem chão. Ele sabia que o bebê era fruto de um amor forte e verdadeiro e se sentiu culpado por não estar presente quando a herdeira mais precisava.

Challenger se sentou e ficou em silêncio com os cotovelos sobre a mesa. Verônica pôs a mão no ombro do cientista tentando lhe confortar.

— Eu não deveria ter ido. Fui um tolo, imbecil!

— Challenger, foi um acidente, não se culpe. Não acho que poderia ter feito alguma coisa para impedir o aborto.

— Eu teria feito tudo ao meu alcance. E quanto a John?

— Está lá embaixo cuidado dela. Vou levar o café para eles. É melhor que vocês comam alguma coisa e mais tarde, quando Marguerite acordar, você pode ir vê-la, Challenger.

— Você está certa, minha cara.

— Jacob, é bom que esteja aqui. Marguerite vai precisar do apoio de todos nós.

Ele apenas assentiu com a cabeça.

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Marguerite despertou aos poucos e sentiu as mãos fortes do caçador segurando a dela. A morena abriu os olhos vagarosamente e viu Roxton dormindo na cadeira, ela ficou um tempo olhando e admirando cada traço do homem.

Ela soltou a mão dele e John acordou imediatamente, assustado.

— Marguerite, você está bem? Está sentindo alguma dor?

— O que faz aqui?

— Mas que pergunta! Eu estou cuidado de você, droga!

Marguerite sentiu que John ficou irritado e, perspicaz, reparou também nas feridas nos punhos do Lorde e não pode conter a preocupação.

— John, o que houve com as suas mãos? Estão feridas...

Só então Roxton reparou nas consequências de sua fúria. Mas, acima de tudo, ele adorou ver que a herdeira se importou com ele. O belo caçador abriu um leve sorriso maroto, o que irritou Marguerite, pois ela sabia o que ele estava pensando.

— Não foi nada, minha querida. E você como está se sentindo?

— Minha cabeça está doendo um pouco e estou faminta. - "Eu quero tanto um café, maldita hora que eu me viciei nessa bebida!", pensava.

— Eu vou pegar uma bolsa de gelo e vou preparar um café. Acho que Verônica já deve estar acordada, ela vai te fazer companhia.

— Não é necessário. Só me traga a bolsa de gelo... e o café, se não for um incômodo.

— É claro que não é um incômodo. E Verônica virá sim, você não vai ficar sozinha, Marguerite, quer queira ou quer não.

E ele saiu do quarto antes mesmo de esperar por uma resposta.

— Mas o que ele está pensando? Arrogante!

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— Deixe-me ajudá-la com as bandejas, Verônica, e aproveito e vou examinar Marguerite. Não vou conseguir comer nada sem antes me certificar de que ela realmente está fora de perigo.

— Está bem.

Roxton chegou até a cozinha e ficou surpreso ao ver Challenger e Jacob, um num estado pior que o outro.

— Bom dia, Roxton. Eu já estava levando algo para ela comer. Como ela está?

— Obrigada, Verônica. Vou pegar uma bolsa de gelo para aliviar a dor de cabeça da Marguerite. Você pode levar enquanto eu preparo um café.

— É claro.

Challenger não sabia como encarar o amigo.

— Roxton, eu sinto muito, meu amigo. Cheguei há cinco minutos, fomos cercados por raptors....

— Dá pra ver de longe que tiveram problemas. Infelizmente...

John respira fundo e caminha em direção à pia para encher o bule com água e ficou de costas para todos. Era possível ver como os ombros do caçador estavam rígidos pela tensão. Challenger fica apreensivo esperando John concluir o que estava dizendo.

De repente, ele falou.

— Infelizmente... Meu filho morreu. Mas Marguerite está viva e vai se recuperar. Eu agradeço a Deus por isso. Cuide dela, meu velho, cuide dela.

O caçador tentava ser forte diante da tragédia, mas era nítida a sua dor transmitida através dos olhos triste e sem brilho.

Jacob chegou perto do nobre e apertou de leve o ombro dele.

— Lorde Roxton, eu sinto muito. Vou ajudar a cuidar dela o tempo que for preciso.

O nobre apenas assentiu com a cabeça, preparou a bolsa com gelo e entregou para Verônica. Em seguida, pôs o bule com água para ferver para preparar o café da herdeira.

Challenger, Jacob e Verônica desceram as escadas para o quarto da herdeira.

— Marguerite?

— Entre, Verônica...

Os três entraram no quarto. Marguerite arregalou os olhos em espanto ao ver Challenger e Jacob entrando juntos com a garota da selva, ambos poderiam descobrir a farsa e tudo estaria perdido! "Esse dia não poderia ficar melhor... E agora? Pense, Marguerite, pense...”.

— Jacob, você voltou! Vocês dois estão péssimos. George, você está coberto de lama! Deve ter entrado em algum buraco procurando insetos. - disse a herdeira com aquela cara de deboche e revirando os olhos.

Os três se olharam sem entender o comportamento de Marguerite. Todos sabiam que ela tinha o seu jeito particular de lidar com a dor e não demonstrar fraqueza.

— Bem, minha querida, tivemos problemas na viagem e nem sequer chegamos na aldeia.  Eu vim ver como você está. Eu... Eu sinto... Eu sinto muito mesmo e...

Marguerite mudou o semblante; ficou séria e triste ao mesmo tempo e logo tratou de interromper o cientista:

— Ora, George, não precisa dizer mais nada. Eu acho que já comentei com você que estou acostumada a lidar com perdas na minha vida, essa é só mais uma. E duvido muito que seja a última.

Verônica ficou boquiaberta com o que acabara de ouvir. A loira não sabia se admirava a amiga por ser tão forte ou se ficava chocada com tal frieza das palavras dela.

Jacob se aproximou, deu um beijo na testa da herdeira e se sentou ao lado da cama envolvendo-a em um abraço. Challenger, com o rosto vermelho e sem saber o que dizer para confortar a herdeira, achou mais prudente no momento avaliar sua saúde física.

— Marguerite, deixe me ver esse corte. Você está sentindo dores? Será que não quebrou algum osso...

Marguerite pensou rápido no que dizer para se livrar da situação.

— Challenger, eu estou... Relativamente bem. Não precisa me examinar. Verônica já trocou o meu curativo, ontem o xamã me deixou um remédio para as dores no corpo. Você pode ficar tranqüilo. Agora eu só quero tomar o meu café e dormir mais um pouco. E, por acaso, já se olhou no espelho? Precisa urgente de um banho. Aliás, vocês dois!

O aventureiro acariciou o cabelo da herdeira e a olhou nos olhos com muita ternura.

— Tome o seu café e mais tarde eu volto.

Marguerite sorriu de leve para Jacob, que se levantava da cama.

— Bem, vamos, professor, comer alguma coisa. Estou faminto.

Chellenger também estava morto de fome, mas antes de sair do quarto queria saber se realmente a herdeira não precisava dele.

— Marguerite, você tem certeza?

— Sim, George, eu estou bem, pode ir.

Eles se retiram do quarto. Verônica pôs a bandeja ao lado da herdeira e a ajudou a se sentar para ficar mais confortável para se alimentar.

— John já está trazendo o seu café.

— Obrigada, Verônica. Hum... Parece estarem deliciosos esses ovos mexidos. Coma tudo, você precisa se alimentar bem.

Marguerite se deliciava com o belo café da manhã, afinal, ela ainda estava comendo por dois!

Verônica saiu do quarto por uns instantes e voltou rapidamente com um jogo de lençóis limpos. Marguerite olhou apreensiva para a garota da selva, já imaginando o que ela iria fazer. “E agora mais essa. Definitivamente as coisas não serão nada fáceis daqui para frente. Ah Verônica, eu queria poder te contar, mas você não me entenderia...", pensava.

— Verônica, o que está fazendo?

— Oh apenas separando alguns lençóis para pôr na sua cama.

— Não é necessário, Verônica. Eu já cuidei disso antes de você chegar, não foi como você está imaginando...

— Você não deve se levantar, Marguerite. Eu sei que você não gosta da idéia de ser ajudada, mas é para o seu bem!

— Eu sei disso, mas não queria que você ou Roxton, aaah... bom,  você sabe...

— Eu entendo, me desculpe. Só estou preocupada com você.

— Você não precisa se desculpar, Verônica. Eu sei que não sou muito boa em expressar emoções, mas obrigada por estar aqui comigo. E onde está o Roxton com o meu café?

— Ele já deve estar vindo. Eu vou buscar água para você poder fazer a sua higiene pessoal, não se levante, eu já venho.

— Ok, ok. Vou ficar aqui, não tenho nenhum compromisso mesmo. – disse a herdeira com o sarcasmo de sempre.

Verônica sorriu e rapidamente saiu.

— Já estou ficando sentimental. Hum... Mas isso está uma delícia... Desse jeito eu vou engordar antes dos quatro meses...

— Marguerite.

John entrou no exato momento, em que herdeira falava sozinha. Ela se engasgou com o susto e começou a tossir; o caçador correu para ajudar a bela.

— Vamos beba um pouco d'água.

— Não! Não em meio a tosse. – disse a herdeira – Eu já estou bem; me dá logo esse café porque eu já esperei demais!

— Você e esse vício... Está bem, tome o seu café. Mas antes, me diga, por que se assustou tanto quando eu entrei?

— Lorde John Richard Roxton, para o seu bem me entregue essa xícara de café agora! É um absurdo que fique me...

— Tudo bem! Não se altere, vai te fazer mal. Só achei estranho.

— O que queria? Você invadiu o meu quarto! Onde estão os seus modos?

— Desculpe! Satisfeita?

John entregou a xícara para a herdeira, que brilhou os olhos em tamanha vontade de se deliciar com o café. Mas antes de degustar a bebida quente, ela sentiu o aroma delicioso de café fresco. E o primeiro gole foi um verdadeiro alívio ao seu desejo.

Verônica chegou com um jarro cheio de água e olhou para os dois; a loira havia ouvido a pequena discussão e revirou os olhos.

— Vocês não têm jeito, sempre brigando...

A loira derramou a água com cuidado em uma bacia de porcelana que a herdeira usava para se limpar.

— Vou deixá-los. Roxton, quando terminar me avise para que eu possa voltar para ajudar a Marguerite com o banho.

— Sim, claro.

Roxton pensou que ele mesmo podia fazer isso, mas achou melhor não arriscar receber o desprezo da herdeira novamente, ele queria ir com calma. O caçador ficou olhando a bela morena se deliciando com o café e ficou feliz por pelo menos poder lhe proporcionar essa pequena alegria. Em seguida, sentou ao lado dela e tomaram café juntos em silêncio; ambos olhavam rapidamente um para o outro, mas logo desviavam o olhar quando acabavam se fitando juntos.

— Como você está se sentindo?

— Do mesmo jeito de quando você me perguntou há 5 minutos...

Sem graça pela resposta ríspida, ele recolheu as bandejas e saiu.

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Diana e Harrison vieram juntos e se depararam com Challenger e Verônica conversando e tomando café na cozinha.

—Professor, que bom que está de volta.

— Obrigado, minha cara, queria ter chegando antes. – disse o professor ainda inconformado.

— Harrison me contou que Marguerite perdeu o bebê. É mesmo uma tragédia, John deve estar arrasado.

— Sim, ele está e Marguerite também, apesar de tentar demonstrar o contrário.

Harrison se sentou à mesa calado, observando o teatro da irmã, mas logo perdeu o interesse assim que fitou a beleza da garota da selva. Verônica o ignorou; não tinha estômago para digerir tanta falsidade e saiu da cozinha sem nem dar bom dia aos novos moradores.

John chegou e procurou avistar Verônica, mas Diana logo procurou atrair sua atenção.

— John, como você está? Eu sinto muito... Tem algo que possa fazer para ajudar?

Ele a ignorou e se dirigiu ao cientista.

— Challenger, você pode pedir para Verônica descer e ajudar a Marguerite com o banho?

— Oh claro que sim, farei isso agora mesmo.

O cientista saiu e deixou Roxton sozinho com os irmãos Connely.

— Harrison. – cumprimentou o caçador.

— Bom dia, Lorde Roxton. Marguerite está bem?

— Sim, obrigada por se preocupar.

John lançou um olhar frio e cheio de ódio para a mulher à sua frente.

— Diana, venha comigo, precisamos conversar.

Ela o seguiu para o elevador sem entender nada, porém já imaginava do que se tratava a conversa.

A descida foi silenciosa e parecia demorar ainda mais do que o normal, ambos estavam tensos. Finalmente, chegaram até a clareira protegida pela cerca elétrica e saíram do elevador.

Diana cruzou os braços e olhou para o caçador que mantinha um semblante frio e impiedoso. Ele ficou parado olhando para ela por alguns instantes e logo iniciou a conversa:

— Diana, o que você quer de mim?

— Eu não estou entendendo, John.

— Você só pode estar brincando comigo. ACHA QUE SOU UM TOLO!? – disse John com a voz alterada e apontando o dedo na cara da ex-noiva.

— John, eu entendo que esteja alterado, mas não pode me culpar pelo que aconteceu!

— Marguerite perdeu o bebê e não me diga que não está feliz com isso. Chega de joguinhos, Diana.

— Mas como pode pensar isso de mim? Eu jamais desejaria a morte do seu filho! Muito pelo contrário, eu queria criar essa criança com todo o meu amor, Joh...

— NÃO DIGA ABSURDOS, DIANA!! A ÚNICA PESSOA QUE CRIARIA O MEU FILHO SERIA A MÃE DELE, MARGUERITE!!!

— E VOCÊ DIZ ISSO PORQUE NAO A CONHECE DE VERDADE!

— QUEM NÃO A CONHECE  É VOCE. COM QUE DIREITO ME DIZ ISSO?

— Você não tem idéia do que os jornais dizem sobre essa mulher. E você aparecer com ela e... E COM UM FILHO BASTARDO!!!

John não se contém de ódio e agarra os braços de Diana quase na altura dos ombros com tanta força que a mulher solta um gemido de dor.

— John, você está me machucando. ME SOLTA!

A voz sai ofegante em meio à raiva e a vontade de destroçar aquela mulher.

— O meu filho está morto e se você chamá-lo de bastardo outra vez eu juro, Diana, que não respondo por mim.

Ao soltá-la, Diana segurava os braços tentando abafar a dor que estava sentido devido a brutalidade do aperto do caçador. "Droga! Eu não deveria ter dito isso. Maldito seja, Lorde Roxton, você e aquela vadia vão me pagar".

Hoje não era mesmo o dia da bela mulher de olhos azuis; e para sua surpresa John ainda tinha uma carta na manga.

— Vou ser bem claro com você, Diana: é com Marguerite que vou me casar independente de qualquer coisa. Jornais, escândalos... que venha o mundo contra nós, eu vou lutar com tudo e com todos, mas vou ficar com ela!

Diana ficou calada ouvindo e deixando as lágrimas de puro ódio escorrerem pelo rosto na tentativa inútil de causar pena.

— Eu já entendi, John, que você a ama e que está disposto a tudo por ela. Você já havia me dito quando terminou o nosso noivado. Eu só não entendo esse ódio e essa raiva que você está jogando em cima de mim, você foi capaz até de me machucar. Eu não tive culpa. Eu te amei muito antes dela e quantas vezes você me ouviu abrir o meu coração logo depois de me entregar a você de corpo e alma?

Diana soluçava e chorava desesperadamente:

— Eu vim até aqui nesse platô INFERNAL, enfrentei perigos, passei por situações que jamais pensei que seria capaz de conseguir sobreviver.

O jogo virou e John novamente estava se sentindo um crápula ingrato. As palavras da ex-noiva o fizeram se lembrar do passado quando o nobre caçador era apenas um casanova que só se importava com a fama e em conquistar o maior número de belas mulheres dispostas a lhe dar prazer sem compromisso; e Diana era uma delas.

— DIGA ALGUMA COISA, LORDE ROXTON, DIGA!!

— Eu era um tolo imaturo que só pensava em mim mesmo, eu não queria te magoar e jamais pensei que você viria até aqui me procurar; mas Marguerite é a razão por eu ter mudado e eu não posso te prometer um amor que não me pertence. Me desculpe. E se é por isso que você está escondendo a saída do platô, por favor, Diana, chega de mentiras. Eu sei que a passagem não se fechou e você só está tentando ganhar tempo para nós, mas não existe “nós”, eu sinto muito. Agora vou cuidar de Marguerite e vamos todos sair daqui e seguir nossas vidas, assim que ela estiver melhor. Vou conversar com seu irmão e você sabe que ele vai dizer a verdade.

Os olhos arregalados da mulher dissimulada brilhavam como fogo; por essa ela não esperava e agora precisava de todo seu talento para mentir, para tentar enganar o caçador novamente. "O que?! Não, não, não! Preciso dar um jeito nisso".

— Do que está falando? Você só pode estar LOUCO! Acha que se eu soubesse a saída do platô eu estaria aqui sofrendo com esses animais pré-históricos e, principalmente, sofrendo o seu desprezo e toda essa humilhação?

Mais uma vez o nobre perde a paciência.

— CHEGA, DIANA, CHEGA! Acha mesmo que vou acreditar no que está me dizendo? Você se entregou quando disse que queria criar o meu filho. Só faria tal proposta se soubesse que logo estaríamos fora daqui; ou vai me dizer que Marguerite entregaria o bebê de bom grado aqui na casa da árvore? Não me faça rir.

— Como você está enganado e como me dói, depois de tudo o que fiz por você... Quando eu te disse que queria criar o bebê eu estava pensando em você e na criança.

— Aaah Diana, você vai continuar...

—Me escute, John, por favor... E depois você pode procurar o meu irmão se quiser pra confirmar tudo o que vou dizer.

— Pois bem, então, diga logo o que você tem a dizer.

— A passagem pela qual meu irmão e eu chegamos até aqui se fechou sim, mas quando o Professor Challenger disse que poderia haver outros túneis e logo estaríamos organizando uma expedição até lá, eu me enchi de esperanças de que em breve estaríamos em Londres e me agarrei a essa esperança para não enlouquecer aqui. Se ao menos eu tivesse o seu amor até que poderia ser mais fácil...

— Diana...

— Não, deixa eu continuar já que você quer ouvir a verdade.

— Está bem.

— Então a gravidez da Marguerite caiu como uma bomba, não nego, me dói muito por que...

Ela começou a chorar novamente e se apoiou no tronco da árvore. John se aproximou sem entender a reação desesperada da jovem e a puxou devagar para olhar nos olhos dela e buscar verdade neles.

— Diana, o que foi? Por que está chorando?

— Você não se importa com o que eu sinto ou com a minha dor, então não finja compaixão.

— Não é bem assim. Eu preciso saber a verdade...

Ela empurrou a mão dele para longe e foi direta.

— A verdade é que não posso ter filhos e vi a oportunidade de ter uma criança que eu amaria mais do que tudo na minha vida e que teria o seu sangue para continuar sua linhagem. Porque, Lorde Roxton, assim que Marguerite Krux chegasse a Londres, sua esposa ou não, ela seria presa e condenada, e o seu filho não teria uma mãe!

John ficou petrificado com a notícia que acabara de ouvir. "O que? Condenada?". Marguerite seria presa e isso mudaria tudo, e agora voltar para casa custaria a liberdade ou até mesmo a vida da herdeira.


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Notas finais do capítulo

Nota da beta:
Caros leitores, usem o espaço dos comentários para cobrar uma continuação pra essa fic porque tá difícil... A autora tá molengando demais. Obrigada. :)



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