A Jornada do Príncipe escrita por Andy


Capítulo 29
Capítulo 29


Notas iniciais do capítulo

Feliz Páscoa, leitores amados!! ♥♥
Decidi postar mais cedo hoje para compensar pela semana passada. ^3^'
Espero que o feriado de vocês seja maravilhoso, cheio de coisas boas. E com "coisas boas" eu me refiro principalmente àquelas feitas de chocolate, é claro. Hahaha!
Quanto à minha saúde... Agora eu estou bem. Acabei indo para o hospital de novo na terça-feira, e depois de alguns exames, os médicos não encontraram nada de errado comigo. Então, seja lá o que aconteceu comigo final de semana passado, acho que foi um mal passageiro. Eu ainda passei mal algumas vezes depois daquilo, mas hoje (sexta-feira, porque eu estou agendando o capítulo, hehe) eu passei o dia todo bem. Então, acho que já passou. Obrigada por se preocuparem comigo! ♥
Sem mais blábláblá, aproveitem o capítulo!



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— E aonde o senhor pensa que vai...?

Legolas parou no meio do pavilhão principal de Greenwood, praguejando baixinho. Quando ele se virou, Syndel sorria levemente, como se se divertisse. Ele tratou de se empertigar, erguendo a cabeça:

— Estou indo almoçar com a Tauriel.

— Com a Tauriel, é? — O tom de voz dela era bem sugestivo. — Quer dizer que sua própria mãe não consegue fazer você almoçar com ela, mas a Tauriel consegue?

A pose de Legolas desmoronou enquanto ele corava.

— Mamãe, por favor...

— Eu não vi você chegando em casa ontem. E nem vi você a manhã toda, porque você estava desmaiado no seu quarto.

— Mamãe, eu não sou um adolescente!

Syndel riu alto, deixando o filho ainda mais embaraçado.

— Eu sei. Mas eu não estava lá quando você começou a sair e voltar tarde para casa. Estou tentando compensar o tempo perdido.

— Eu nunca fiz isso! Você estava lá quando eu era adolescente. E eu nunca fiz isso depois, também. Pode perguntar ao meu pai.

Syndel franziu a testa.

— Tem razão. Você é muito certinho. Tem certeza que é nosso filho?

— O quê?

Ela sorriu de novo e se aproximou.

— Eu confio em você, Legolas. E estou feliz que tenha decidido finalmente sair.

Ele ficou olhando para ela.

— Só... Vá devagar, está bem? Não se machuque.

— Que quer dizer?

Ela o olhou com carinho.

— Nada. Acho que você já sabe. Eu me esqueço de que você não é mais o jovenzinho que eu deixei para trás.

Legolas atirou os braços para o alto, num gesto de frustração.

— Será que alguém alguma vez dá respostas diretas neste lugar? Estou cansado disso!

Syndel riu de leve:

— Eu soube que Mithrandir andou te dando conselhos. Você devia ouvi-lo. Ele é muito sábio. A não ser naquela vez em que ele tentou discutir sobre vinho com o seu pai.

Legolas ergueu as sobrancelhas, confuso. Ela sorriu:

— Tauriel também é muito inteligente. Acho bom que vocês conversem. — Sem aviso, Syndel se adiantou e abraçou o filho. Ele demorou a retribuir, mas quando ele o fez, ela aproveitou para se aproximar mais e sussurrar em seu ouvido: — Abra seu coração para ela.

Legolas arregalou os olhos, e Syndel piscou levemente para ele ao se afastar.

— Só não chegue em casa tão tarde de novo! Agora que meu filho decidiu sair da toca, eu quero passar algum tempo com ele também. — Dizendo isso, ela se afastou graciosamente e desapareceu num dos corredores que levavam ao interior do pavilhão.

Legolas ficou parado por algum tempo encarando o ponto em que ela havia desaparecido. Depois, balançando levemente a cabeça para clarear sua mente, ele se virou e voltou a andar em direção ao pavilhão principal.

Tauriel estava esperando por ele próximo à estátua de Manwë. Ela carregava uma cesta de piquenique. Quando ele se aproximou, ela sorriu:

— Bom dia! Pensei que não vinha mais.

— Bom dia! Desculpe o atraso. Minha mãe quis falar comigo. — Ele estendeu a mão para pegar a cesta dela. Ela a entregou sem objeções.

— Tudo bem. Não se desculpe comigo, Alteza.

— Por favor, não me chame assim. Esse é um título que eu já abandonei há muito tempo.

— Como quiser. Mas por mais que abandone o título, não pode se livrar de sua identidade. Sabe disso, não é? Vamos indo? — Ela começou a andar lentamente.

— Sei, é claro. E nem desejo, acho. — Ele a seguiu.

— Então por que a repulsa pelo título?

— Eu não sei... Eu nunca quis ser rei, e nem acho que serei algum dia.

— Poderia ser, se quisesse. Meu senhor Thranduil parece disposto a passar o trono a você. E o reino certamente estaria disposto a recebê-lo.

— Eu sei. E posso sentir a pressão para que eu assuma o trono. — Ele franziu as sobrancelhas. — Mas não quero. Realmente não quero. Que meu senhor Thranduil reine eternamente em sua glória. É o que eu repetirei indefinidamente.

Tauriel balançou a cabeça levemente.

— Eu acho que você seria um ótimo rei.

— Obrigado. Mas eu garanto que meu pai é um rei melhor. Ele nasceu para isso.

— Não posso deixar de concordar com a segunda parte. Todos os antigos achavam que Oropher era o melhor rei do mundo, mas pelo que conversei com eles, todos concordam que Thranduil se mostrou um rei muito melhor. Mas dizem que é por causa de sua mãe.

Legolas sorriu, lembrando-se da história.

— Acho que sim.

Tauriel sorriu de volta. Eles estavam agora andando por uma grande área gramada, já fora da cidade. O sol, apesar de alto, não era forte demais e batia agradavelmente em seus rostos. Uma leve brisa agitava seus cabelos e pássaros cantarolavam sobre suas cabeças. Legolas olhou em volta, fascinado. Eles estavam subindo o que parecia uma colina. Quando ele olhou para trás, viu o Mar, que se estendia num tom esverdeado até perder de vista. Era lindo.

— Bem-vindo a Valinor. — Tauriel disse, num tom de quem se diverte.

Ele olhou para ela, surpreso, e sorriu levemente ao ver sua expressão.

— Obrigado.

A meio caminho da subida, eles se sentaram à sombra de uma árvore que cresceu ali. Ela tinha uma estrutura curiosa: era inclinada como o terreno em que fincava suas raízes. Por causa disso, sua sombra se estendia por vários metros, ao passo que as outras árvores quase não projetavam sombra alguma, sob o sol da metade do dia.

Os dois começaram a comer em silêncio, admirando a beleza do vale que se estendia lá embaixo. Aqui e ali, eles podiam ver o colorido de arbustos floridos.

— Dizem que esta árvore foi colocada aqui por Yavanna para proteger uma elfa que estava dando a luz, sabia? — Tauriel disse de repente, rompendo o silêncio.

Legolas olhou para cima, para as folhas da árvore. Eram várias folhinhas pequenas e delicadas, mas eram tão abundantes que conseguiam filtrar bem o sol.

— Isso explicaria o que ela está fazendo aqui, neste lugar tão improvável.

Tauriel assentiu.

— Os Valar... São gentis, não são? — Legolas perguntou, virando o rosto para a grama. Ele correu os dedos pelas folhas compridas e muito verdes. Eram macias.

— Quase todos eles, sim.

— “Quase”?

— Morgoth também é um Vala. E os demais, bem, eles são como nós. Cada um tem a sua personalidade. Alguns têm gênios mais fortes, outros são mais gentis... Mas independente disso, todos nos amam, os Primogênitos de Eru.

— Até Morgoth?

Tauriel franziu a testa.

— Acho que Morgoth é diferente. Sempre foi.

— Você fala dele no presente.

— Não poderia falar no passado, poderia? A maioria das pessoas evita falar o nome dele aqui, dizem que é uma heresia. Mas eu acho que temer o nome pode ser perigoso. Nós não devíamos nos esquecer do passado. Ou corremos o risco de repeti-lo.

— Acha que Morgoth pode voltar?

— Não foi o que eu quis dizer.

— O que, então, você quis dizer?

Ela suspirou.

— Acho que ele nunca se foi completamente. Acho que ele está por aí, nos corações das pessoas, na forma de ressentimento e ódio.

Legolas ia responder, mas sua atenção foi atraída pelo som de passos apressados. Tauriel também ouviu. Os dois se viraram para olhar. Airetauri vinha subindo a colina correndo.

— Meu senhor! — Ele fez uma pausa para respirar. — Luindos manda chamá-lo, senhor! O julgamento de Gimli... Os Valar já têm uma resposta! Meu senhor deve ir ao palácio de Mandos imediatamente!

Legolas se levantou de uma vez, bem a tempo de se lembrar, desnorteado, que não sabia onde ficava o tal palácio. Tauriel foi mais rápida e começou a correr colina abaixo.

— Vamos, Legolas! Eu mostro o caminho!

Aliviado, ele a seguiu.

~~ ♣ ~~

Eles chegaram ao palácio de Mandos alguns minutos depois e pararam à porta para se recompor. Enquanto ajeitava as vestes e o cabelo, ofegando muito, Legolas tentava se forçar a manter a calma. Mas pensar na mera possibilidade de Gimli ter sido rejeitado já o deixava nervoso. Se isso acontecesse, estaria tudo acabado. Ele não ia voltar atrás em sua palavra. Teria de se despedir dos pais, de Gandalf, dos hobbits... Ele olhou para Tauriel. Ela assentiu, tentando lhe transmitir confiança. Ele conhecia aquela expressão das muitas missões que haviam cumprido juntos, décadas antes, em Greenwood.

Legolas se empertigou e empurrou as duas folhas da grande porta que dava acesso ao salão de entrada do palácio. Era uma sala relativamente pequena, apesar do pé-direito alto. No chão, um tapete azul se estendia em direção a uma porta aberta do outro lado. Nas laterais, havia um conjunto de estátuas, três de cada lado, mas Legolas não parou para avaliar o que representavam.

Ao entrar na outra sala, que era um salão muito mais amplo, repleto de bancos de madeira, ele parou bruscamente. De costas para ele, com as mãos cruzadas atrás do corpo, estava uma figura vestida inteiramente de preto. Ela tinha cabelos curtos e estava parada em pé em uma postura distraída, parecendo avaliar o painel ao fundo da sala, em que uma série de desenhos representavam os julgamentos de Mandos.

O que você está fazendo aqui?! — Legolas se adiantou para ela, furioso.

Madlyn se virou de uma vez, parecendo assustada com o tom dele, mas logo recuperou a compostura:

— Gimli é meu amigo também.

— Você não tem nenhum amigo aqui! Saia!

Madlyn o encarou.

— Legolas! — Tauriel se aproximou a passos rápidos e olhou dele para Madlyn, tentando decidir que atitude tomar.

Madlyn olhou para a ruiva com desprezo, depois tornou a olhar para Legolas, que desta vez reconheceu a raiva nos olhos dela. Eles pareceram se tornar subitamente mais frios, como se gelo tomasse conta da alma dela.

— Eu não vou sair. Tenho tanto direito de estar aqui quanto você.

— Não, não tem! Duvido que tenha sido convocada!

Madlyn deu um leve passo para trás, hesitando apenas brevemente. De fato, ela não havia sido convocada. Tinha ouvido falar do julgamento, e por isso tinha vindo. Mas ela não ia deixar que Legolas a intimidasse.

— Isso não importa.

— “Não importa”? É claro que importa! Aqui é o palácio de um Vala! Se tivesse um pingo de dignidade, você sairia daqui imediatamente!

— Não vou sair. Os julgamentos de Mandos são a portas fechadas, mas seus vereditos são públicos. Eu tenho permissão para estar aqui.

Foi a vez de Legolas recuar. Ele não sabia daquilo. Tauriel pôs a mão no ombro dele gentilmente:

— Ela tem razão, Legolas.

Madlyn se empertigou, fuzilando os dois com os olhos.

— Gimli não ia querer vê-la. Ele a despreza quase tanto quanto eu. — Legolas falou, num tom mais baixo, subitamente muito consciente do ambiente em que estavam. Mesmo assim, sua voz ainda reverberava nas paredes do amplo salão.

As palavras dele atingiram em cheio o coração de Madlyn, ferindo-o como uma adaga. Ela sentiu as lágrimas lhe fechando a garganta de novo, e a escuridão se aproximando à sua volta. Ela respirou fundo duas vezes antes de falar, baixinho:

— Eu sei. Mas não faz diferença. Eu ainda me importo com o que acontece a ele.

Legolas sentia o coração batendo forte, e não sabia se era de raiva, pela adrenalina da discussão, ou se era simplesmente uma reação contra a dor. Ele via a raiva nos olhos de Madlyn, mas também a mágoa. E a dor dela doía nele também. Ele sabia que não devia se sentir assim, mas não conseguia evitar.

— Legolas!

Todos se viraram para olhar. Thranduil e Syndel vinham correndo pelo tapete azul. A mãe se adiantou para abraçar o filho, enquanto Thranduil se voltava contra Madlyn.

— Viemos assim que soubemos! — Syndel correu os dedos pelos cabelos dele, mas Legolas mantinha os olhos em Thranduil e Madlyn.

— O que você está fazendo aqui? — O rei de Greenwood perguntou, num tom autoritário.

— Vim para saber o veredito. Gimli é meu amigo também.

Thranduil estreitou os olhos. Atrás de Madlyn, Airetauri e Alassëa levaram as mãos aos cabos de suas espadas, mas o rei ergueu a mão para impedi-los.

— Nada de armas na casa do Vala. — Ele inclinou levemente a cabeça, olhando fundo nos olhos de Madlyn. Era intimidador. — Você não concorda que sua presença aqui é absolutamente inadequada, Madlyn?

Ela hesitou. Tinha a impressão de que Thranduil podia ver através dela. Toda a fragilidade por trás da escuridão. Tudo o que havia por trás de sua insistência. Todos os reais motivos para ela estar ali, muito mais fortes que a afeição que sentia por Gimli. Tudo o que ela estava tentando provar para si mesma e para Legolas. Tudo.

— Talvez. — respondeu, por fim. — Mas permaneço mesmo assim.

Thranduil assentiu.

— Que assim seja.

— Meu senhor!

Ele não dispensou um olhar sequer para Legolas, que se indignava e era sutilmente contido pela mãe e por Tauriel.

— Mas tenha pelo menos a decência e a delicadeza de se colocar ao fundo da sala e permanecer em silêncio, para que sua presença não seja tão... evidente.

Madlyn o encarou por um momento, certa de que Thranduil já sabia de tudo. Por isso mesmo, ficou surpresa ao encontrar gentileza no rosto dele, justo a pessoa de quem menos esperaria compaixão. Por fim, ela fez uma breve reverência.

— Obrigada. — sussurrou, antes de se afastar em direção ao último banco do lado direito da sala.

Somente Airetauri notou o breve sorriso que perpassou o rosto de Thranduil, antes de ele se virar para o filho, que o olhava furioso:

— Por que fez isso?

— Eu não tenho direito algum de expulsar uma eldar da casa do juiz dos Valar, Legolas. E nem tenho inclinação para tentar. Ela não fará mal algum, permanecendo à distância em que está agora.

— Mas não é certo, ela não pode...

— Seu pai sabe o que faz, Legolas. — Syndel tentou apaziguá-lo. Ela olhava com curiosidade para o marido, tentando compreender suas razões.

— Não, não sabe! Gimli não gostaria de vê-la aqui! Vocês vão ver, quando ele... — Legolas parou, subitamente percebendo algo. — Onde ele está?

— Quem?

— Gimli!

— Eu deixei guardas vigiando-o e prontos para trazê-lo. Creio que meu senhor Luindos já deve ter mandado buscá-lo, a essa altura.

— E está muito certo, Thranduil, filho de Oropher!

A voz clara e alegre veio da parte da frente da sala. Todos se voltaram para lá. Luindos vinha de uma porta lateral que só agora Legolas notava, localizada abaixo do painel colorido. Atrás dele, dois criados de Mandos vinham carregando Gimli em uma maca. Legolas fez menção de correr para lá, mas Syndel o conteve.

— Sejam bem-vindos à casa de Mandos! — O Maia sorria. Ele se colocou atrás de uma grande mesa que havia ali. Os criados pousaram a maca sobre ela, mais perto da ponta.

Legolas podia sentir seu coração martelando no peito. Ele sentiu apenas vagamente quando Syndel o empurrou em direção a um dos bancos de madeira. Todos se sentaram. Enquanto Luindos falava sobre quem o pai de Gimli havia sido, dando início à exposição do veredito de Mandos, a sensação que Legolas tinha era a de que estava tendo uma espécie de sonho ou pesadelo. Nada daquilo parecia real. Ele sentia as palmas das mãos frias e percebeu, estupefato, que tinha vontade de chorar por puro nervosismo. Ele sempre se considerara um elfo muito equilibrado e a sensação era desconhecida para ele.

Tauriel o observava atentamente. Tinha ouvido falar do afeto que Legolas tinha por aquele anão, mas até então, ela não tinha noção da dimensão dos sentimentos dele. Só naquele momento, percebendo o quanto o rosto dele estava perturbado e como suas mãos tremiam, foi que ela se deu conta do quanto o Legolas que ela conhecia havia mudado.

Legolas se sobressaltou ao sentir os dedos de Tauriel envolvendo os seus gentilmente. Ele olhou para ela, surpreso, e ela sorriu, apertando a mão dele para lhe transmitir confiança. Ele olhou para suas mãos unidas e entrelaçou os dedos aos dela, grato pelo apoio.

— Gimli, bravo filho de Glóin, provou, ao longo de toda a sua vida, ser um anão muito honrado. Um amigo fiel, um guerreiro valente e, acima de tudo, portador de um coração muito mais valoroso que o ouro... — Luindos continuava falando.

De seu lugar no fundo da sala, Madlyn mantinha os olhos fixos em Legolas. Ela sentiu o frio em seu interior aumentando ao ver Tauriel segurando a mão dele, e ele retribuindo. Não era apenas raiva que ela sentia agora, embora a raiva permanecesse. Acima de tudo, ela estava triste. Porque ela sabia que, se tudo fosse como deveria ser, seria ela ali segurando a mão de Legolas. Ou talvez...

— Quando Ilúvatar* pensou Arda**... — Luindos prosseguia. —..., ele já sabia que um dia o sol se poria com o tempo dos elfos no Leste e renasceria com o início da Era dos Homens. Quando esse dia chegasse, previu Ilúvatar, os Primogênitos se dirigiriam ao Oeste e tomariam suas embarcações em direção ao Reino Protegido de Aman para se juntar aos Valar nas Terras Imortais. E assim, conforme a vontade de Ilúvatar, as terras a Oeste pertenceriam aos elfos, e as terras a Leste, aos homens e a seus parentes, para o resto da eternidade, ou tão longe quanto do pensamento de Ilúvatar nos foi revelado.

Thranduil observava Madlyn pelo canto dos olhos, discretamente. Syndel, a seu lado, se preocupava com Legolas. Ele estava muito inquieto e parecia pálido. Syndel torcia para que Luindos não demorasse muito mais.

— Quanto aos anões, todos sabemos que eles não faziam parte do pensamento original de Ilúvatar. São criações de Aulë, o Vala. Por isso, jamais esteve claro para qualquer um de nós qual deveria ser seu destino final. É verdade que Ilúvatar, em sua bondade, ao perdoar Aulë, lhes deu vida e os adotou como seus filhos. Mas qual deveria ser seu destino? Onde, no Leste ou no Oeste, eles se encaixam na criação? Os eldar creem que os naugrim, como os chamam, deveriam permanecer no Leste e retornar às rochas de que foram feitos no princípio dos tempos. E os anões passam a vida crendo que têm sua morada eterna no palácio de Aulë. Qual é a verdade?

Tauriel prendeu a respiração audivelmente ao ouvir a última parte. Seus pensamentos imediatamente correram para Kili. Se aquilo fosse verdade, era possível que ele, ou seu espírito, ao menos, estivesse bem perto dali. O palácio de Aulë... Se saísse lá fora, olhando do alto da colina em que se encontravam, ela poderia vê-lo, a pouca distância. Muitas vezes, tinha se perdido em pensamentos, observando a morada daquele que era o pai de todos os anões. Agora, o coração dela batia acelerado com a hipótese, a simples e doce esperança de que seu amado, talvez, pudesse ser recuperado.

Legolas apertou a mão dela sutilmente.

— Infelizmente, não cabe a mim lhes dizer neste momento. — Luindos olhou diretamente para Tauriel ao falar, adivinhando seus pensamentos. O rosto dele se inundou de compaixão ao ver como a expressão dela desmoronou ao ouvir aquelas palavras. — Há assuntos que os Valar acham mais apropriado manter em segredo das mentes de elfos, homens e anões.

— E hobbits! — Uma voz afobada exclamou, do fundo do salão.

Todas as cabeças se voltaram para lá. Luindos abriu um grande sorriso:

— Gandalf!

— Hobbits e seus almoços demorados! — O mago empurrava Frodo e Sam para um dos bancos, usando a ponta de seu cajado. — Perdão, Luindos. — Ele fez uma leve reverência, antes de se sentar também. — Continue, sim?

Legolas sorriu levemente quando Gandalf piscou para ele. Ele tinha ficado decepcionado ao perceber que o mago e os hobbits não estavam ali, mas no fundo, sabia que eles não deixariam Gimli na mão.

Luindos dispensou a reverência de Gandalf com a mão e pigarreou baixinho para retomar a linha de raciocínio:

— De todo modo, a questão aqui é diferente. O que eu discutia se refere aos destinos dos seres após a morte ou o fim de uma era... Mas um anão chegou a Valinor através de outra via. Chegou acompanhado de um Primogênito, por via marítima. Nenhum de nós jamais esperou ver um anão chegando aqui em uma embarcação, conhecedores que somos da aversão desses seres pelo Mar.

Madlyn assentiu levemente quando Luindos olhou para ela, surpresa e um tanto ansiosa por ter sido notada. Antes disso, ela observava Gandalf e os companheiros com curiosidade. Havia muito tempo que não os via.

— Até hoje, apenas cinco exceções foram concedidas à regra de Ilúvatar que determinava que apenas Primogênitos, Valar e Maiar deveriam viver em Aman... Temos aqui nesta sala duas delas... Os honoráveis Frodo Bolseiro e Samwise Gamgi, aos quais foi concedida a honra de viver nas Terras Imortais devido ao fato de que eles foram, ambos, portadores do Um Anel, um fardo tão grande que nenhum outro ousaria carregar. O mesmo aconteceu com Bilbo Bolseiro, tio de Frodo, que foi o primeiro portador do Um Anel depois da criatura Sméagol, que, todos sabemos, não foi capaz de resistir e sucumbiu às trevas, assim como outros que tiveram contato com o artefato maldito.

Todos olharam para Frodo e Sam, que se encolheram diante de toda essa atenção inesperada. Frodo corou levemente, enquanto Sam olhava para baixo, com modéstia. Legolas sorriu para Frodo quando seus olhares se encontraram, e o hobbit retribuiu automaticamente. Gandalf olhou discretamente de um para outro, satisfeito.

— As outras duas exceções... — Luindos prosseguiu, depois de certo tempo. — Foram concedidas a Lúthien Tinúviel e a Arwen Undómiel, às quais foi permitido morrer como mulheres mortais, ao lado de seus amados.

Tauriel baixou os olhos para esconder sua tristeza. Em seu coração, ela já havia implorado milhares de vezes a Eru por aquele mesmo destino, mas suas preces nunca receberam resposta. Legolas afagou as costas da mão dela com o polegar quase imperceptivelmente. Quando ela ergueu a cabeça para olhar para ele, ele tinha os olhos fixos em Luindos.

— Agora que Gimli chegou a Aman, na companhia de Legolas Verdefolha, mais uma exceção nos foi requisitada. — O arauto fez uma pausa. — Legolas nos pede que aceitemos Gimli em Valinor, para que possa viver para sempre aqui, nas Terras Imortais... Ou que deixemos que ele abdique de seu lugar de direito entre os imortais e retorne para o Oeste com Gimli, para lá morrer como um homem mortal após a morte do amigo. Isso está correto, Legolas Verdefolha, filho de Thranduil?

Tauriel olhou para Legolas em choque e Syndel pôs a mão no ombro dele, desejando ardentemente que ele retirasse a última parte do pedido.

— Sim, senhor. — Legolas respondeu numa voz clara e forte. Ele não olhou para nenhuma das elfas que o ladeavam.

Em seu lugar, Madlyn empalideceu, sentindo parte da escuridão se anuviar enquanto o coração dela começava a bater mais rápido. Ela encarava as costas de Legolas sem poder acreditar no que havia acabado de ouvir. Sua mente foi completamente tomada por uma palavra: Não!

— Muito bem. — Luindos assentiu, indiferente ao desespero das três elfas ali presentes e à incredulidade de Sam, de Frodo e dos guardas. Ao falar, ele se concentrou em Thranduil e em Gandalf, que permaneciam, ambos, muito serenos. — Esses dois pedidos foram apresentados à corte dos Valar. Durante os últimos dias, nós ponderamos e julgamos cuidadosamente todos os aspectos de cada um deles, tentando na medida do que nos era possível compreender a vontade de Ilúvatar em relação a eles. — Ele fez uma breve pausa, correndo os olhos por todos os presentes. — Eu vos trago agora o veredito de Mandos.


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Notas finais do capítulo

* Ilúvatar é o nome original do ser que os elfos chamam de “Eru”, o “Pai de Todos”, aquele que criou o universo, os Valar, os elfos e tudo o que existe.

** “Arda” é como os elfos chamam a Terra, vista como reino de Manwë. “Arda” significa literalmente “Reino”.