A Jornada do Príncipe escrita por Andy


Capítulo 30
Capítulo 30


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente! =)
Como foi a semana de vocês? Espero que tenha sido incrível!
Quanto a mim, eu estou bem. Ainda ficando enjoada de vez em quando, mas agora me revoltei e estou indo pra faculdade de qualquer jeito. No momento, estou dando uma pausa na maratona de leituras e trabalhos que estou fazendo para vir aqui agendar o capítulo. Ufa!
Por causa da dita maratona, eu não vou poder responder aos comentários do capítulo anterior neste fim de semana, como sempre faço. Desculpem! Mas eu vou responder todos, um por um, como sempre, viu? Só vou demorar mais um pouquinho! Por favor, não deixem de comentar, sim? (Falem comigoooo!) ♥
Bom, aproveitem o capítulo! Amo vocês! ♥

Xoxo



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— Muito bem. — Luindos assentiu, indiferente ao desespero das três elfas ali presentes e à incredulidade de Sam, de Frodo e dos guardas. Ao falar, ele se concentrou em Thranduil e em Gandalf, que permaneciam, ambos, muito serenos. — Esses dois pedidos foram apresentados à corte dos Valar. Durante os últimos dias, nós ponderamos e julgamos cuidadosamente todos os aspectos de cada um deles, tentando na medida do que nos era possível compreender a vontade de Ilúvatar em relação a eles. — Ele fez uma breve pausa, correndo os olhos por todos os presentes. — Eu vos trago agora o veredito de Mandos.

Todos prenderam a respiração naquele momento, até mesmo Thranduil e o mago. Luindos deu a volta na longa mesa e deu dois passos em direção a onde Legolas se encontrava. Ao falar, ele olhava diretamente nos olhos do elfo:

— A vontade de Eru sobre os anões nunca esteve clara para nós. Mas a sua vontade em relação à bondade, à dignidade, à fidelidade e à bravura, sim. Mandos encontrou todas essas qualidades e muitas outras em Gimli, filho de Glóin. Além disso, refletindo, Mandos se deu conta de que Gimli foi, de certa forma, tão portador do anel quanto Frodo, Sam e até quanto o senhor. Vocês todos carregaram o peso desse fardo. — Ele fez uma pausa. — Por tudo isso, o veredito de Mandos é o de que Gimli é tão digno de Valinor quanto qualquer um dos Primogênitos. Aliás, até mais do que muitos deles. — Ele piscou para Legolas, se divertindo ao ver a expressão no rosto dele. — Essa última parte é por minha conta, na verdade.

A reação de Legolas surpreendeu a ele próprio, mas não a Syndel. Ele começou a chorar profusamente, lágrimas que misturavam alívio e felicidade. Embaraçado, ele soltou a mão de Tauriel e tentou esconder o rosto nas mãos. Syndel o abraçou e beijou o alto de sua cabeça. Tauriel ficou surpresa, de início, mas sorriu com carinho, sentindo os próprios olhos marejados, e acariciou levemente as costas dele.

— Tudo bem, Legolas, está tudo bem...

Thranduil olhou para o outro lado, parecendo meio constrangido com a reação que ele julgava exagerada:

— Menos, Legolas! Pelas estrelas, recomponha-se!

— Thranduil! — Syndel ralhou. Ela também estava chorando. — Não seja insensível!

Legolas riu de leve, ainda meio sem ação diante de seu alívio, e tratou de enxugar os olhos.

— Tudo bem, mamãe. Meu senhor tem razão. — Ele sorriu para o pai, feliz.

— Melhor. — Thranduil assentiu, sorrindo de leve para o filho.

Madlyn assistia a tudo à distância. Ela também se sentia feliz com o resultado do julgamento de Gimli, mas não conseguia chorar ou comemorar. Em seu interior, havia uma confusão de sentimentos conflitantes, e ela não sabia como agir com relação a nenhum deles. Ao mesmo tempo em que se sentia feliz, lamentava profundamente não poder comemorar com Legolas, abraçá-lo, sorrir para ele, dizer que tudo ficaria bem... Associada a essa tristeza, havia a raiva. E o ciúme. Porque Tauriel estava ali, no lugar dela. E Legolas havia deixado bem claro que preferia assim. Apesar disso, ela ainda não podia deixar de se sentir aliviada porque Legolas não morreria. E ainda havia o medo, que se tornava cada vez mais forte, agora. Porque ela estava muito, muito ciente de que, uma vez que o julgamento de Gimli estava acabado, agora era a vez dela. E ela sabia qual seria o resultado. O mero pensamento a fez estremecer.

— Bom, é melhor eu acordá-lo! — Luindos foi até Gimli, com passos rápidos, e estendeu uma mão sobre ele. Fechando os olhos, ele pronunciou bem baixinho algumas palavras em uma língua que nenhum dos presentes, conhecia, a não ser por Gandalf. Depois, sorrindo levemente, disse em voz alta: — Desperte, filho de Mahal*! Bem-vindo a Valinor! — Dizendo isso, para a perplexidade de Legolas, Luindos se inclinou e deu um beijo na testa de Gimli. O elfo precisou conter a risada ao imaginar a expressão no rosto do anão, se ele tivesse visto aquilo.

O corpo de Gimli pareceu relaxar lentamente sobre a maca, saindo daquela posição rígida em que se encontrava durante a hibernação. Legolas notou que, simultaneamente a isso, os cabelos e a barba dele voltaram ao tom ruivo original, perdendo qualquer sombra de cinza. Logo o anão parecia pelo menos cem anos mais jovem. Syndel e Thranduil deram passagem para que um Legolas sorridente se aproximasse devagar do amigo.

— Gimli?

O anão abriu os olhos lentamente, piscando duas vezes, como se despertasse de um sono profundo.

— Gimli! — Legolas correu para lá, e antes que o anão tivesse sequer a chance de se sentar direito, o elfo já o havia abraçado com toda a força que possuía.

— Legolas? — Gimli respondeu, numa voz abafada. — O que é isso, seu orelhas-pontudas maldito? Perdeu o juízo? Me ponha no chão!

Só então Legolas percebeu que tinha erguido o amigo da mesa. Rindo alto, ele o pôs no chão. Gimli arregalou os olhos, percebendo que o elfo estava chorando.

— Você está chorando?

— Não. — Legolas passou a mão pelos olhos, sorrindo. — É claro que não. Caiu um cisco no meu olho. Como você se sente?

— Com fome. — Gimli respondeu, pondo as mãos sobre a barriga.

Legolas gargalhou de novo, feliz.

— Eu tive um sonho tão esquisito! — O anão olhava desconfiado para ele. — Sonhei com um anão, só que ele era muito alto. E o rosto dele parecia um pouco o do seu pai, apesar da barba, que só podia ser de um anão. E ele me disse umas coisas estranhas, disse que era o pai de todos os anões e que sabia dos meus planos e que ia me proteger, não importava o que acontecesse. Ele disse que você era meu amigo de verdade e que estaria comigo até o fim. E aí ele começou a me contar a minha vida inteira e a responder um monte de perguntas que eu nem sabia que tinha. E enquanto isso, nós bebíamos cerveja atrás de cerveja, mas não ficávamos tontos. E tinha também muita carne, carne à vontade.

Legolas apenas sorria, balançando levemente a cabeça. Gimli pensou que ele estava zombando dele e fechou a cara. Só então que ele foi olhar em volta, arregalando levemente os olhos.

— Legolas? Onde nós estamos?

Luindos se adiantou sorrindo e estendeu a mão:

— Bem-vindo a Valinor, Gimli, filho de Glóin.

Gimli olhou desconfiado para aquela figura. Ele achava que se tratava de um elfo, apesar da aura levemente dourada que brilhava em torno dele. Para Gimli, aquilo só podia ser fruto de alguma magia negra.

— Eu sou Luindos, arauto de Mandos, juiz dos Valar.

— Quer falar na minha língua?

Luindos franziu a testa. Legolas riu.

— Os Valar são Mahal e seus irmãos. Os criadores de tudo. Mandos é o juiz. Não sei que nome seu povo dá a eles. Luindos é um Maia, o mensageiro de Mandos. Você acaba de ser julgado e considerado digno de viver aqui, na terra dos elfos.

— “Digno”? Eu sou mais do que digno! Vocês orelhas-pontudas é que não são dignos de mim!

Desta vez, Luindos acompanhou Legolas na risada.

— Muito espirituoso, o seu amigo. — O arauto comentou. Legolas concordou com a cabeça. — Aulë... Quero dizer, Mahal manda dizer que você é muito bem-vindo para viver com ele em seu palácio, honorável Gimli. Ou talvez... — Luindos ergueu a cabeça e olhou para Thranduil.

Thranduil ergueu uma sobrancelha para o Maia. Logo em seguida, Legolas e Syndel olharam para ele também, de maneira bem sugestiva. Ele olhou de uma para o outro, parecendo insatisfeito. Syndel atraiu a atenção dele, e os dois mergulharam em uma breve discussão silenciosa, como Legolas já os havia visto fazer várias vezes. Por fim, Thranduil suspirou e, fazendo uma meia-reverência impaciente para Gimli, convidou:

— Se preferir, você também é bem-vindo para morar conosco em Tirion, no pavilhão de Greenwood, mestre Gimli.

Legolas olhou para Gimli, sorrindo em expectativa.

— Que é? Pode ir tirando esse sorriso da cara, seu maldito!

De fato, a expressão do elfo desmoronou, e as sobrancelhas dele se uniram de angústia. Só então Gimli abriu um sorriso travesso:

— Parece que você não vai se livrar de mim tão cedo.

Legolas sorriu e se abaixou para abraçar Gimli de novo, que desta vez retribuiu discretamente, batendo nas costas do amigo. Nem mesmo Thranduil pôde evitar sorrir levemente, vendo a felicidade do filho.

— Que assim seja. — Luindos também sorria satisfeito.

Gandalf, que havia se aproximado com os hobbits sem ser notado, falou, num tom alto:

— É bom vê-lo novamente, Gimli!

Legolas soltou o anão, que olhou para cima para ver o rosto do mago:

— Gandalf! — Então, ele viu os hobbits. — E os pequenos Sam e Frodo!

— “Pequenos”? Você é só uns dez centímetros mais alto que eu! — Sam comentou, sorrindo para Gimli.

— Parece que foi em outra vida que eu os conheci! — Gimli ignorou o comentário.

— E foi, meu caro Gimli. Foi. — Gandalf concordou.

Bem nesse momento, o estômago de Gimli roncou audivelmente.

— O que foi isso? Um orc raivoso? — Thranduil zombou, olhando em volta como se estivesse assustado.

— Thranduil! — Syndel deu um leve tapa no braço do marido, enquanto os hobbits e Tauriel caíam na risada.

— Orc não, mas raivoso, talvez! — Gimli exclamou, num tom rabugento. — Eu poderia comer um javali inteiro!

— Nesse caso, venha conosco para casa. — Syndel sorriu. — Nós vamos lhe servir um banquete!

— Espero que tenha espaço para mais um ou dois convidados nesse banquete! — Sam pensou em voz alta sem querer.

— Sam! — Frodo o repreendeu.

Syndel riu de leve.

— É claro que há, mestre hobbit!

— Tudo bem. Você é a rainha, acho que pode tomar esse tipo de decisão sem consultar seu marido. — Thranduil, de braços cruzados, fuzilava Gimli com os olhos. O anão olhava intensamente para Syndel.

Syndel olhou para o marido, contrariada. Ele fingiu não ter percebido:

— Tudo bem. Teremos um banquete. Mas nada de javalis. Em Valinor, nós adotamos o costume de Valfenda e só comemos vegetais.

— O quê? — Gimli pareceu profundamente decepcionado. O estômago dele roncou novamente.

— Eu posso caçar! — Legolas se adiantou, já levando a mão ao arco. — É uma ocasião especial! — Ele acrescentou, quanto o pai lhe lançou um olhar de fúria.

— E eu vou com você. — Tauriel puxou o arco das costas, sorrindo para Legolas.

Legolas retribuiu o sorriso.

— Ótimo! — Syndel pôs a mão no ombro do marido, acariciando levemente seu braço. — Então Legolas e Tauriel vão caçar, e enquanto isso, nós todos vamos para Greenwood para acomodar mestre Gimli.

— Sim, minha senhora. — Thranduil respondeu, num tom mal-humorado. Syndel lhe deu um beijo no rosto. Ele olhou para Luindos. — Estamos dispensados, meu senhor?

— É claro que sim! Mais uma vez, seja bem-vindo, Gimli.

— Obrigado.

Thranduil, Syndel, e os guardas fizeram uma reverência e se viraram em direção à saída. Gimli hesitou brevemente, mas Legolas lhe disse para ir com eles. Gandalf e os hobbits saíram logo em seguida. Então Legolas se virou para Tauriel:

— Então... Acho que vai ser como nos velhos tempos.

— Eu, você e os javalis. — Ela concordou.

— Mostre o caminho.

Ela se virou e começou a andar, mas Luindos chamou:

— Um momento! — Ele se aproximou para sussurrar: — Lamento atrasá-los, mas, Legolas, eu preciso saber... Você deseja ser avisado quando chegar... O outro julgamento?

Legolas estremeceu levemente. Com toda a alegria dos últimos minutos, ele havia se esquecido quase completamente de Madlyn. Agora, seu coração começava a pesar mais uma vez.

— Não, senhor. — Ele engoliu em seco. — Eu não tenho nada a ver com ele.

Luindos assentiu.

— Muito bem. Desculpe-me por perguntar. Tenham uma boa noite, senhores!

Quando Legolas e Tauriel deixaram o salão, Madlyn permaneceu ali, sozinha. Esquecida.

~~ ♣ ~~

Legolas e Tauriel se divertiram muito na caçada, rindo e pregando peças um no outro. Quando escureceu completamente, eles retornaram com dois javalis, duas lebres e três esquilos. Eles mal conseguiram carregar tudo aquilo.

Mas Gimli parecia disposto a comer tudo aquilo e muito mais. Antes de eles chegarem, ele já tinha devorado todo o estoque de queijo de Thranduil, e estava atacando as cenouras quando eles puseram os pés no salão de jantar do rei.

— Se seu amigo comer assim sempre, eu vou fazer você trabalhar para sustentá-lo! — Thranduil pôs o dedo na cara do filho. Ele estava visivelmente nervoso. Talvez isso tivesse algo a ver com o fato de que Syndel não havia saído do lado do anão desde que eles tinham chegado, e estava agora rindo muito das histórias que ele contava, falando de boca cheia mesmo.

— Não come. — Legolas respondeu, olhando perplexo para o Gimli, que estava agora terminando de devorar o primeiro javali. Até Sam e Frodo já pareciam cheios, e eles haviam comido, juntos, apenas uma coxa do animal. E um esquilo cada um, é claro. — Deve ser por causa do longo período de hibernação. Algo me diz que ele vai vomitar a metade do que comer aí. E provavelmente desmaiar na cama depois.

Thranduil bufou com impaciência quando Syndel riu de novo.

— É melhor que seja verdade. — Dizendo isso, ele se afastou para se sentar ao lado da esposa, olhando com uma expressão de nojo enquanto Gimli entornava a grande caneca de cerveja que Gandalf tinha conseguido sabe-se lá onde.

— Legolas... — Tauriel se aproximou, vendo que a conversa de pai e filho tinha terminado, e pôs a mão no ombro dele. — Enquanto Gimli come... O que acha de fazer um passeio até a fonte de Yavanna?

Ele olhou para ela, hesitando. Não queria deixar o amigo.

— Com essa história toda, eu não pude te mostrar nada de Valinor. — Ela completou, a título de explicação. — A floresta não conta, porque estávamos trabalhando.

Legolas hesitou ainda, olhando para Gimli. O anão ria alto da própria piada, agora, espalhando farelos de pão pela mesa. Syndel e os hobbits pareciam bastante entretidos, mas Thranduil parecia prestes a decapitar alguém. Legolas se voltou para Tauriel com um sorriso torto estampado no rosto:

— Acho que Gimli ficará bem sem mim por uma ou duas horas.

Tauriel retribuiu o sorriso e segurou a mão dele, puxando-o pelo corredor.

Minutos depois, eles se encontravam em uma espécie de galpão arredondado, de paredes abertas, em cujo centro havia uma grande fonte. As pilastras que sustentavam o teto eram finas e delicadas e haviam sido esculpidas de modo a parecerem plantas trepadeiras. De fato, algumas plantas cresceram agarradas a elas, o que criava um efeito interessante. O lugar era iluminado por uma lanterna que ficava no centro do teto abobadado. Dentro dela, brilhava uma luz prateada como a das estrelas, que Legolas não conseguiu identificar o que era. A água da fonte, refletindo a luz, parecia prateada também. Legolas se perguntava como ela não transbordava.

— É linda, não é? — Tauriel se aproximou, enquanto ele mirava o próprio reflexo nas águas calmas, que pareciam um espelho.

— É impressionante.

— Esta fonte tem muitos nomes. Uns a chamam de “espelho de Yavanna”, porque de vez em quando, dizem, ela vinha se mirar aqui, como você está fazendo agora. Para estar sempre bela para Aulë.

Legolas olhou para ela, detectando certa tristeza em sua voz. Tauriel manteve os olhos fixos na água.

— Mas a maioria a chama de “fonte da vida”. Diz a lenda que aquele que beber desta água terá sua vida renovada e será capaz de olhar de novo para a vida da mesma forma que fazia quando era jovem e inocente.

Legolas desviou os olhos para a água. A melancolia na voz de Tauriel agora ressoava em seu coração, que não parara de doer desde que Luindos perguntara sobre Madlyn, mais cedo. Lentamente, ele estendeu a mão em concha e, fazendo uma prece silenciosa para Yavanna, retirou um pouco de água e levou aos lábios. A água era fresca, mas também estranhamente fria. Ele a sentiu descendo por sua garganta, gélida. Ele estremeceu levemente e fechou os olhos. Nada aconteceu.

— Também não funciona comigo. — Tauriel disse, sentando-se na beirada da fonte.

Legolas reabriu os olhos e a imitou, em silêncio. Os dois permaneceram muito quietos por longos minutos, perdidos em pensamentos melancólicos.

— Estou feliz que tudo tenha corrido bem com Gimli. — Ela rompeu o silêncio, por fim.

Legolas sorriu levemente.

— Obrigado. Eu também estou.

— Você mudou muito, Legolas.

Ele olhou para ela, franzindo as sobrancelhas.

— Para melhor. — Ela acrescentou, num tom gentil.

Legolas voltou os olhos para as águas, fugindo do olhar dela.

— O que foi?

— Eu... Não tenho certeza  quanto a essa última parte.

— Que quer dizer?

Ele não respondeu. Estendendo a mão, ele correu um dedo sobre a água, bagunçando o próprio reflexo.

— Legolas?

Ele suspirou.

— Eu não me sinto... Melhor.

— Por quê?

— Você não entenderia.

— Você só vai saber se me contar.

Ele ergueu a cabeça e encontrou no rosto dela aquela mesma expressão decidida de que ele se lembrava tão bem. Por um momento, pareceu que eles estavam de volta àquele rio, persseguindo aquela horda de orcs.

— Hoje mais cedo, a minha mãe me deu um conselho estranho.

— Verdade?

— Ela me disse para abrir meu coração para você.

Tauriel pareceu desconcertada. Ela abriu a boca como se fosse falar algo, mas a fechou novamente, franzindo a testa.

— Eu devia ter tido a coragem de fazer isso há muito tempo. Talvez as coisas tivessem sido diferentes. — Ele fez uma pausa. — Eu sou apaixonado por você, Tauriel.

— Alteza...

Legolas ergueu a mão para impedi-la.

— Foi por isso que eu deixei Greenwood. Eu não suportaria vê-la chorando por aquele anão. Eu não entendia.

Tauriel esperou, sem saber o que dizer.

— Agora, acho que entendo. Talvez. — Ele fez uma pausa, franzindo as sobrancelhas. — Ou talvez não entenda nada. Desde que cheguei a Valinor... Não, desde que conheci... Madlyn. Eu não tenho mais certeza nenhuma.

— Legolas...

— É como se eu não funcionasse mais direito, entende? Como se houvesse algo errado com a minha mente. Eu não consigo mais entender o que as pessoas dizem. Nem meus próprios pensamentos fazem sentido para mim. É... Assustador.

“A minha vida inteira, eu tive pelo menos uma certeza. A de que eu amo você, Tauriel. Esse sentimento sempre me protegeu. Era um lugar seguro para que retornar. A dor é algo bastante seguro, por pior que ela possa ser. A dor é clara, inconfundível. A dor de ter sido rejeitado por você me fazia forte.

— Legolas, eu nunca quis te fazer sofrer, eu...

— No que você estava pensando? Quando decidiu ficar com o anão?

Tauriel engoliu em seco. Pela expressão no rosto dela, Legolas soube que ela estaria chorando agora, se pudesse.

— Eu não pensei. Eu só não suportava a ideia de deixar Kili.

Legolas assentiu, muito sério.

— Eu sabia que você gostava de mim. Seu pai me falou.

— Meu pai?

Ela confirmou com a cabeça.

— Sim. Ele me disse que você... Tinha se afeiçoado muito a mim. E também... — Ela mordeu o lábio, em dúvida se devia falar aquilo ou não.

— Também...?

— Ele também disse que não permitiria que ficássemos juntos. Eu, uma simples elfa da floresta. Ele me disse para não te dar esperanças, onde não havia nenhuma.

Tauriel se assustou com a raiva que viu surgir no rosto de Legolas:

— Quem ele pensa...? Foi por isso que você...!

— Não, Legolas! — Ela estendeu as mãos para segurar os ombros dele. — Não. Você me conhece. Não foi esse o motivo.

A expressão no rosto dele se abrandou.

— Eu não poderia fazer isso comigo mesma. Eu jamais me perdoaria. Se tivesse deixado Kili morrer naquela cabana, eu não poderia viver comigo mesma. — A voz dela tremia. Legolas virou o rosto, e ela viu que o estava magoando. — Mas eu não poderia fazer isso com você também! Por favor, não pense que eu não me importo com seus sentimentos. Eu me importo! Muito! A sua amizade é muito importante para mim. Por causa disso, eu não poderia ser insincera com você.

— Amizade.

— Eu amo você também, Legolas. Talvez não da forma como você gostaria. Mas amo.

Ele ergueu os olhos para encontrar o olhar dela. Fosse qual fosse o motivo, ele não podia negar, olhando no fundo daqueles orbes verdes, que ela estava sofrendo. Talvez tanto quanto ele. Ele estendeu a mão para tocar o rosto dela gentilmente. Ela se adiantou e o abraçou. Ele ficou em choque por um instante, mas depois a envolveu em seus braços. O corpo dela tremia, como se ela soluçasse. Ele afagou as costas dela.

Eles permaneceram assim até que Tauriel finalmente se acalmou e se afastou dele devagar. Ela olhava para as próprias mãos, que mantinha fechadas no colo, evitando o olhar dele.

— Desculpe.

— Não... — Ele estava surpreso com os próprios sentimentos. Achava que devia sentir raiva dela, naquele momento. Afinal, ela tinha acabado de rejeitá-lo de novo. Mas ele não sentia raiva alguma. Na verdade, sentia-se um pouco tonto. — Está tudo bem. Tauriel.

Ela balançou levemente a cabeça.

— Eu entendo o que você quer dizer. Sobre sentir como se houvesse algo errado com você.

— Entende?

— Entendo. Eu também me sinto assim. Desde que o Kili... É como se eu não fosse mais a mesma.

— É mais do que isso. Não foi só desde que eu a perdi. Desde antes... Desde que eu a conheci, há alguma coisa me incomodando. Eu pensei que era porque eu sabia que ela estava me escondendo alguma coisa. Mas mesmo depois que ela contou tudo... Mesmo assim, eu não me sinto...

— É como se estivesse faltando uma parte de você.

Legolas arregalou os olhos para ela.

— Como se ela tivesse levado algo. — Tauriel sorriu levemente, olhando para ele com carinho. — Como se viver sem ela não fizesse mais sentido.

Ele assentiu devagar.

— Mas não fazia sentido com ela, também.

Tauriel franziu as sobrancelhas.

— Eu não sei explicar. Eu pensei... Que era por sua causa. Por causa do que eu ainda sinto por você. Eu pensei que... Eu pensei que quando eu te contasse tudo, eu me livraria disso. Mas não...

— Eu não entendo.

— Mithrandir me aconselhou a fazer o que a Madlyn me pediu. Mas por mais que eu tente...

— O que ela te pediu?

— Ela pediu que eu me lembrasse de como foi antes.

— E... Como foi?

Legolas olhou para Tauriel, hesitando. Mas antes que ele pudesse pensar a respeito, as palavras simplesmente começaram a sair de sua boca. Antes que ele decidisse fazê-lo, ele já estava contando tudo para ela. Desde o momento em que ele conheceu Madlyn, até o momento em que ela revelou toda a verdade. Tudo, desde o começo. Ele não tinha percebido ainda o quanto precisava falar a respeito com alguém. Quando ele terminou, sentia-se aliviado. Embora a dor em si ainda não houvesse desaparecido, ou sequer diminuído.

Tauriel tinha ouvido tudo muito concentrada, com uma expressão séria. Agora, ela parecia pensar profundamente a respeito de alguma coisa.

— O que foi?

— Você tem razão. Há coisas nessa história que não fazem sentido.

— Você sabe o que são?

— Você não percebeu?

Ele balançou a cabeça levemente, sentindo uma leve esperança brotando em seu interior. Talvez ela pudesse lhe dizer.

— É que... Se essa elfa é mesmo quem diz ser... O braço direito de Sauron, foi o que ela disse, não é? — Legolas assentiu. — Então, por que os orcs estavam contra ela?

Legolas arregalou os olhos levemente.

— Por que ela lutou contra eles? E por que eles a ameaçariam? Se ela é quem diz ser, então eles deviam conhecê-la. Deviam venerá-la. Ou pelo menos respeitá-la de alguma forma, porque eu acho que orcs não veneram coisa alguma.

— Tem razão.

— Além disso, por que havia magia negra em torno daqueles orcs em Eriador? Orcs não são capazes de evocar magia. Mas todos aqueles capazes de fazê-lo estão aqui... Ou vagando nas trevas do Eterno Vazio. Exceto, é claro, por Radagast, mas ele jamais penderia para as trevas.

— Jamais. — Legolas concordou, pensativo.

— Mas, Legolas... Uma coisa me parece certa.

Ele ergueu os olhos para ela.

— Madlyn protegeu você. Ela se voltou contra os dela para protegê-lo.

O coração dele pareceu falhar uma batida, e depois começou a bater mais forte, enquanto ele processava o que Tauriel estava dizendo.

— Talvez por isso eles a tenham atacado.

— Por que ela faria isso? Ela nem me conhecia. Quando salvou Gimli, ela nem sabia o meu nome.

— Eu mal conhecia o Kili.

Legolas ficou olhando nos olhos de Tauriel, tentando absorver o que ela estava tentando dizer. Os olhos dela eram gentis. Ela não interrompeu os pensamentos dele, nem rompeu o contato visual.

— Como você consegue viver com isso? — Ele perguntou, algum tempo depois.

— O quê?

— O que fez durante todo esse tempo? Depois que eu deixei o reino?

Tauriel baixou os olhos. Seu rosto se tornou triste de novo.

— Eu... Estive vagando. Logo depois que... Tudo aconteceu. Eu pedi permissão a Sua Majestade para deixar o reino por algum tempo. Ele permitiu sem fazer perguntas. E então eu fui a Erebor. Depois às Montanhas Azuis. Eu... Conheci a mãe dele.

Legolas desviou o olhar, inspirando profundamente. Ele podia imaginar a dor que Tauriel devia estar sentindo ao falar.

— Depois, eu fiquei vagando pelo mundo. Estive algum tempo em Valfenda, em Lothlórien... Também estive no Norte, com os dúnedain, quando aquelas partes ainda eram amigáveis. Eu voltei a Erebor várias vezes. Balin sempre me recebeu bem lá.

“Durante a Guerra do Anel, eu estava lá. Em Erebor. Eu ajudei os anões a defenderem a região. Também estive em Valle, quando precisaram de nós lá.

Legolas voltou a cabeça para olhar para ela. Tauriel o estava observando, com uma expressão que ele não conseguiu decifrar.

— Mas esse tempo todo... — Ela continuou. — Não importava o quão longe eu ia... — Ela fez uma pausa, olhando nos olhos dele. — Meu coração, por algum motivo... Meu coração sempre me levava de volta a Greenwood.

O coração dele ainda batia acelerado e deu um salto quando ela disse isso. Ele quis desviar o olhar, mas sentia seus olhos presos nos dela. E então ele percebeu que não queria realmente romper aquele laço. Lentamente, ele ergueu a mão para tocar o rosto dela, inseguro. Ela não se afastou. Então, bem devagar, ele foi aproximando o rosto do dela. Tauriel fechou os olhos. Ele podia ouvir o coração martelando nos ouvidos. Então os lábios deles se tocaram.

Os olhos azuis elétricos que observavam o casal de elfos de trás de um arbusto se fecharam com força. Completamente às cegas, ela se levantou e tentou fugir.


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Notas finais do capítulo

*“Mahal” é o nome que os anões dão a Aulë.