A Jornada do Príncipe escrita por Andy


Capítulo 24
Capítulo 24


Notas iniciais do capítulo

BOO! Demorou, mas chegou! o/
Bom, não vou falar demais aqui nesta semana, porque sei que está todo mundo ansioso para ler o capítulo logo. Espero que vocês gostem! Agora, vamos começar a desvendar esses mistérios todos, um a um.
Ah! Em homenagem à De Perogini... AVISO! Este capítulo contém fortes revelações. ;)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/636499/chapter/24

— O que você ia me dizer aquela hora no barco?

— É... — Ela franziu as sobrancelhas. — É complicado, eu...

Legolas deu um passo em direção a ela e abriu a boca para exigir que ela falasse, quando ouviu um arquejo baixo atrás de si, e depois uma voz melodiosa que parecia absolutamente chocada:

— Erin?!

Legolas viu a cor fugir do rosto de Madlyn. Todos se viraram para olhar a elfa que tinha acabado de entrar, vindo de um dos corredores internos do pavilhão de Greenwood. Ela tinha cabelos escuros como uma noite sem estrelas, cortados num corte em camadas que lhes dava mais volume. Seus grandes olhos azuis, somados ao nariz pequeno e aos lábios cheios, davam a seu rosto arredondado um ar quase infantil. Ela olhava para Madlyn como se estivesse vendo um fantasma, mas logo um grande sorriso se espalhou por seu rosto:

— Por Eru! Erin! É você mesma!

Desta vez, todos os olhares se voltaram para Madlyn. Ela apenas arregalou ainda mais os olhos e lentamente deu alguns passos, contornando Legolas e indo em direção a onde a recém-chegada estava. Ao lado dele, porém, ela parou, parecendo indecisa.

— Aurial*? — sussurrou, tão baixo que até ela própria teve dificuldade em se ouvir.

Mas a outra ouviu perfeitamente, pois seu sorriso se alargou, e ela correu para onde Madlyn estava, ignorando completamente os olhares espantados dos outros. Parando em frente a Madlyn, Aurial se curvou numa reverência profunda, e logo se reergueu sorrindo:

— Eu senti sua falta, Alteza! Muita! Onde você estava? Por onde esteve? Por que demorou tanto?

Durante alguns segundos, um silêncio constrangido tomou conta do ambiente. Legolas encarava Madlyn, incrédulo. Thranduil tentava organizar seus pensamentos, tentando fazer com que aquilo fizesse algum sentido, mas falhava. Syndel não podia tirar os olhos de Aurial, sua melhor amiga e mestra.

Legolas foi o primeiro a quebrar o silêncio. Ele se virou para Aurial, sem fazer a menor ideia de quem ela era:

— Deve haver algum engano aqui, me desculpe.

Aurial franziu as sobrancelhas para ele, parecendo notá-lo pela primeira vez. Antes que ela pudesse responder, porém, Syndel se aproximou e pôs a mão no ombro da amiga:

— Você a conhece, Aurial?

Aurial assentiu, animada, olhando de relance para Madlyn:

— Esta é Erin, princesa de Nan Elmoth, meu reino original... E minha mestra do arco-e-flecha. A elfa sobre a qual eu te contei, a que me ensinou tudo o que eu sei.

Syndel voltou-se para Madlyn, chocada. A elfa apenas corou e baixou os olhos, sentindo os olhares acusadores de Legolas, Gimli e Thranduil recaírem sobre si. Aurial olhava de Syndel para ela, confusa. Oropher e a esposa, a um canto, apenas observavam em silêncio.

Legolas se adiantou para poder olhar nos olhos de Madlyn, mas ela mantinha a cabeça baixa. Ele sentiu algo fervendo dentro de si, provocando um mal-estar quase insuportável. Raiva.. Um sentimento que é como veneno para os elfos da luz.

— “Erin”? — Ele perguntou, num tom acusador.

A elfa-escura não ousou levantar o olhar para encará-lo.

— Eu... Já fui chamada assim. Há muito tempo.

Aurial franziu as sobrancelhas:

— Alteza? O que está havendo? — Ela olhou para Legolas. — Quem é você?

— Acho que agora não é o momento, mas... — Syndel interveio. — Aurial, este é o Legolas. Meu filho.

O rosto da elfa passou da confusão ao choque e à alegria em uma questão de segundos. Ela tornou a olhar para Legolas e o analisou rapidamente de alto a baixo. Então, fez uma reverência.

— Mil perdões, Alteza. É um imenso prazer finalmente conhecê-lo. — Ela se reergueu. — Você é ainda mais bonito do que eu pensei que seria.

Legolas ficou ligeiramente desconcertado, mas não estava com a menor paciência para aquilo naquele momento. Em outras circunstâncias, ele seria um cavalheiro e demonstraria o maior respeito por aquela que havia sido a mestra de sua mãe. Ele a reconhecera agora, ao recordar o nome. Havia outro assunto mais urgente, porém, ocupando sua mente e seu coração. Assim, ele ignorou completamente a elfa e se virou para Madlyn:

— O que você ia me contar?

Madlyn olhou para ele com um pedido de perdão no olhar. Depois, olhou para Aurial e estremeceu levemente.

— Madlyn?

Ela respirou fundo e tornou a olhar para Legolas.

— Eu... Não sei bem por onde começar...

— Comece do começo. — Thranduil sugeriu, se aproximando. Madlyn notou que Legolas deu um pequeno passo atrás, aproximando-se do pai como se inconscientemente buscasse alguma proteção ali. Thranduil também notou, a julgar pela comoção que perpassou seu rosto.

Madlyn manteve os olhos fixos em Legolas, implorando sua compreensão:

— Eu não menti para você sobre minhas origens, como você pode ver. Eu nunca te enganei quanto a isso. Eu sou realmente uma elfa-escura, como seu pai diz. Filha do próprio Eöl... “Princesa” de Nan Elmoth, por assim dizer, já que, como você sabe, Nan Elmoth nunca foi um reino propriamente dito.

Os outros se aproximaram para ouvir, formando uma espécie de semicírculo em torno de Legolas, quase como se tentassem protegê-lo. Madlyn, ao olhar para seus rostos mortos, sentiu um frio imenso tomando conta de seu interior, e seu coração pareceu pesada uma tonelada. Todos mortos, pensou, horrorizada, embora soubesse que, na verdade, era ela quem andava no vale da morte. Todos, até a Aurial... Todos... Menos ele. Legolas era como um raio de luz no meio dos outros. A única centelha de vida no reino dos mortos. Madlyn estremeceu.

Legolas olhava para ela em expectativa, e ela pôde ver em seus olhos que estava fazendo justamente o que menos queria fazer. Estava partindo o coração dele. Não suportando olhar, ela voltou os olhos para Aurial:

— Quando Nan Elmoth caiu... Quando meu pai e meu irmão foram para Gondolin para jamais retornar, e eu soube que os elfos-escuros seriam caçados... Eu temi por minha vida e fugi. Eu sabia que ninguém procuraria por mim. Meu nome jamais entrou para as canções, pois eu era jovem e meus feitos nunca haviam sido grandes... Nem grandes, nem vis o bastante para serem dignos de versos. Então eu fui embora sem jamais olhar para trás. E quando ouvi as canções sobre a dizimação de Nan Elmoth, simplesmente admiti que não havia restado ninguém. Nenhuma canção falava de sobreviventes.

— Nós achamos que você tivesse seguido Eöl. — Aurial interrompeu, num tom triste. — Pensamos que tivesse morrido com ele em Gondolin. Meus pais e eu éramos tudo o que restou de nosso povo na Terra-Média. Nós conseguimos fugir em meio ao caos. Durante algum tempo, nos escondemos nas montanhas... Tínhamos planos de viver embaixo da terra por pelo menos mais um século, mas logo a vida no subterrâneo se mostrou insuportável. Somos elfos, não anões. Então decidimos sair pelo outro lado das Montanhas Sombrias, e acabamos chegando a Greenwood. O reino ainda estava se estabelecendo na época, mas meu senhor Oropher nos recebeu de braços abertos, como parentes distantes. Afinal, somos todos sindar.

“No início, foi difícil para nós. Toda a luz da Floresta Verde... Os outros nos olhavam com estranheza, também, por causa da cor dos nossos cabelos e olhos... Mas nós não tardamos a nos apaixonar pela luz. Meus olhos mudaram de cor, você notou? E os seus também... A luz faz coisas conosco, não é? — Ela sorriu levemente, um sorriso triste, carregado de dor. — Finalmente, depois de algum tempo, nós fazíamos parte do reino. Estávamos ali havia tanto tempo que ninguém mais questionava a cor de nossos cabelos. E os elfos-escuros foram esquecidos, tornaram-se apenas um mito...

— Carregado com uma imagem negativa de maldade e traição. — Thranduil completou, estreitando os olhos.

Madlyn piscou, como que para expulsar as lágrimas que não tinham permissão para chegar a seus olhos. Apenas lágrimas de alegria podem cair no Reino Abençoado. Ela pigarreou baixinho:

— Isso... Isso explica tudo. Fico feliz que tenham encontrado pessoas tão boas. — Ela olhou de relance para Oropher e a esposa. A elfa lhe sorriu levemente, mas o primeiro rei de Greenwood parecia querer perfurá-la com o olhar. — Eu jamais me perdoei por não a ter levado comigo. Você era só uma criança.

Aurial não disse nada, apenas baixou os olhos. Syndel ficou surpresa. Nunca, em todos aqueles milênios de amizade, ela havia visto qualquer coisa diminuir as infinitas alegria e disposição da amiga.

— Eu sinto muito mesmo, Aurial. — Madlyn repetiu. A outra não olhou de volta para ela, e aquilo lhe doeu. Ela sabia que merecia o desprezo de todos os presentes ali.

— Quando foi que você deixou de ser...? — Legolas perguntou, num tom vazio de emoção. Seu coração batia devagar, como se o peso da raiva o houvesse obrigado a diminuir o ritmo. Ele sabia que em algum momento próximo, sentiria uma dor excruciante. Naquele instante, no entanto, só havia raiva.

Madlyn olhou para ele, angustiada.

— Logo que deixei Nan Elmoth, eu soube que não poderia ir a lugar algum com o meu nome. Durante muito tempo, eu vivi escondida de tudo e de todos, vagando pelos lugares escuros da terra. Nesse período, eu não precisava de um nome.

Ela se calou e Thranduil, que a observava intensamente, achou que ela estava editando a história mentalmente. Legolas olhava para ela em expectativa.

— Quando eu decidi sair das sombras, eu precisava de um nome com o qual pudesse me apresentar. E aí eu precisei escolher... — Ela cerrou os punhos, tentando fazer com que suas mãos parassem de tremer. — Lyn era o nome da minha mãe.

— Mas você tinha dito que não sabia o nome dela! — Gimli acusou.

— Eu sei. Eu menti. Me desculpe, mestre anão. — Ela fez uma pausa, observando com pesar quando Gimli virou a cara para ela. — Lyn era minha mãe. Ela era uma elfa sindar de Menegroth. Ela tinha olhos azuis hipnotizantes e cabelos num tom claro de louro que pareciam prateados sob a luz das estrelas. Eles lhe caíam em ondas sobre os ombros... Ela era quase tão bela quanto a própria Melian.

Thranduil olhou brevemente para a esposa, surpreso com a semelhança na descrição da mãe de Madlyn. Cabelos ondulados eram uma característica extremamente rara entre os elfos. A única elfa de cabelos ondulados que ele conhecera na Terra Média foi Syndel... Uma elfa sindar. Thranduil sabia que Syndel havia nascido em Greenwood, mas ficou se perguntando se ela não teria algum parentesco com a mãe de Madlyn. A coincidência parecia óbvia demais. Mas ele preferiu não dizer nada a respeito, e os outros pareceram não notar, pois estavam absortos nas palavras de Madlyn, que continuava falando.

— Minha mãe, dizem, era a elfa mais doce que já habitou Menegroth, depois, é claro, de Melian e Lúthien. Infelizmente, sua bondade teve um preço. — Ela correu os olhos pelos presentes, implorando por compreensão. — Lyn foi a única que tentou tirar Eöl das trevas, sabendo que os Primogênitos de Eru foram feitos para apreciar a luz, e não para viver nas sombras. Thingol e seu povo há muito haviam desistido de Eöl, julgando-o corrompido, mas Lyn sempre achou que ele podia ser salvo. Então ela implorou a Thingol por permissão e partiu para Nan Elmoth, onde Eöl se escondia.

“Inicialmente, Eöl a desprezou e se recusou a falar com ela, ocultando-se nas sombras densas do bosque e observando-a à distância. Mas era difícil resistir ao charme e à doçura de Lyn. Sabendo que ele podia vê-la e ouvi-la, ela conversava com ele. Ela lhe contava histórias sobre a vida nas Mil Cavernas e cantava para ele. Ela falava com tanto carinho que Eöl foi pouco a pouco se aproximando cada vez mais.

“Mas quando ele estava prestes a sair das sombras e se revelar para falar com ela, Lyn decidiu partir. Ela estava havia muito tempo na floresta escura e desejava rever a luz. Ela não queria desistir, mas seu coração estava pesado de tristeza e de saudade da alegria dos salões iluminados de Menegroth. Vendo que Eöl não tinha a intenção de falar com ela, ela organizou suas coisas e entoou uma triste canção de despedida.

“Eöl ouviu atentamente a tudo o que aquela voz melodiosa lhe dizia, e quando se deu conta de que ela pretendia ir embora, ele se desesperou. Depois de tanto tempo, ele não conseguia mais imaginar como seria sua vida ali, sozinho nas trevas, sem ela.

“Então ele saltou sobre ela... Mais ou menos como eu fiz com você naquele dia, Legolas. Ele saltou sobre ela, impedindo que ela saísse, e falou com ela. Lyn ficou radiante. Ela lhe sorriu e pediu que ele fosse com ela para Menegroth, mas ele lhe pediu por mais tempo. Disse que precisava se preparar, que havia passado tempo demais nas trevas... E além disso, que tinha vergonha de encarar Thingol. Lyn foi compreensiva e disse que esperaria com ele.

“Mas muitos anos se passaram sem que Eöl se decidisse por sair. Lyn sempre lhe pedia, mas ele sempre inventava uma desculpa. Até que um dia ela se cansou e decidiu ir embora sem ele. Mas ele havia posto um encantamento em Nan Elmoth que fez com que ela jamais conseguisse encontrar a saída. Ela se tornou prisioneira de Eöl. E continuou a viver ali, na escuridão, absolutamente infeliz. Eöl pôs vários de seus súditos para lhe servirem e garantiu que ela tivesse tudo do bom e do melhor, mas Lyn não conseguia mais ser feliz ali. Aos poucos, sua luz interior, aquela alegria e aquela doçura que fizeram sua fama em Menegroth foram desaparecendo.

“Certa noite, Eöl visitou o quarto de Lyn. E não importava o quanto ela gritasse, ninguém veio em seu socorro... Algum tempo depois disso, eu nasci. E Eöl me deu o nome de Erin, que significa “a única”, ou “a sozinha”.

Ela fez uma pausa, olhando para baixo, encurvada como se a tristeza literalmente pesasse sobre seus ombros. Todos olhavam para ela atentamente. Syndel, Aurial e a esposa de Oropher pareciam sentir pena dela. Gimli estava indeciso, sem saber o que pensar. Mas os três homens Verdefolha tinham gelo nos olhos ao fitá-la com rostos inexpressivos. Legolas mais do que todos. Madlyn respirou fundo antes de continuar:

— Nós três continuamos a viver em Nan Elmoth durante mais alguns anos, até que Thingol, preocupado com Lyn, que nunca mais mandara notícias, decidiu enviar dois guardas para procurar por ela. Quando eles chegaram e viram o estado em que Lyn estava, completamente irreconhecível, eles voltaram depressa a Menegroth e relataram para o rei tudo o que tinham visto. Thingol ficou furioso e mandou mensagem a Eöl exigindo que ele enviasse Lyn e a filha para o palácio. Eöl se recusou inicialmente, mas Thingol o ameaçou e, por fim, temendo o poder de Melian, a Maia, Eöl mandou Lyn de volta, comigo nos braços.

“Os guardas de Thingol nos encontraram perdidas e quase mortas nos limites do Cinturão de Melian. Eles nos levaram correndo para o palácio, onde fomos tratadas pelos melhores médicos do reino. Eu... Eu não nasci nas Cavernas Brilhantes, como eu tinha te dito, Legolas. Eu nasci em Nan Elmoth. Mas sempre considerei o momento do resgate como meu verdadeiro nascimento. O início do único período da minha vida em que eu fui verdadeiramente feliz... Ou quase.

“Porque, ao contrário de mim, Lyn não parecia estar se recuperando. Ela continuava magra e sem forças, não importava o quanto a alimentassem. Seus olhos haviam enegrecido devido ao tempo passado nas trevas, e ela fitava os rostos do passado como se não pudesse vê-los. Ela não falava com ninguém. Nem cantava. Nem dava sinais de estar ouvindo. Era como se seu corpo estivesse ali, mas seu espírito ainda estivesse perdido nas trevas. Nem mesmo o poder de Melian parecia ser capaz de retirá-la de seu torpor.

“Até que, certo dia, um grito cortante se fez ouvir nas Cavernas Brilhantes. Assustado, Thingol correu para a ala médica, onde encontrou Lyn ajoelhada sobre uma poça de sangue... Uma poça do próprio sangue. Ela ergueu os olhos para o rei, e ele viu que seus orbes estavam azuis novamente. Então, horrorizado, ele compreendeu: Lyn havia despertado... E havia encontrado uma lâmina médica e rasgado o próprio ventre de um lado a outro. Lyn havia escolhido a morte.

Um silêncio horrorizado tomou conta do grande salão enquanto o corpo de Madlyn tremia, como se ela soluçasse em meio a lágrimas invisíveis. Legolas quis se adiantar para abraçá-la, esquecendo a raiva que sentiu ao saber que ela havia mentido, mas Thranduil pôs a mão em seu ombro, impedindo-o. Ele estreitou os olhos para Madlyn, pouco convencido. Ele sabia que o principal ainda não tinha sido dito. O porquê de ela haver mentido. Legolas olhou angustiado para o pai, mas permaneceu onde estava.

— Quando... Quando isso aconteceu, ninguém sabia o que fazer comigo. Melian quis me criar em Menegroth, sabendo que eu não tinha culpa de nada, e eu vivi lá até completar mais ou menos doze anos de idade, mas as pessoas começaram a temer que eu pudesse representar algum tipo de ameaça. Talvez eu enlouquecesse como Lyn tinha enlouquecido. Ou talvez eu trouxesse as trevas para as Cavernas Brilhantes. Porque antes de ser filha de Lyn Luz-do-Luar, eu era filha de Eöl, o Escuro.

Dessa vez, não foi apenas Thranduil quem se surpreendeu com a semelhança**. Syndel arfou com o choque, e Oropher e a esposa trocaram um olhar perplexo. Legolas olhou para a mãe, procurando por uma resposta, mas ficou claro que ela sabia tanto quanto ele. Madlyn, no entanto, pareceu não notar aquela reação, pois continuou a falar.

— Thingol acabou cedendo à pressão e me enviou de volta a Nan Elmoth, escoltada pelos mesmos dois guardas que haviam encontrado Lyn no passado.

“Eöl não demonstrou qualquer tipo de emoção ao ouvir sobre o fim trágico de Lyn. Ele disse que não me queria e que Thingol podia ficar comigo, mas os guardas tinham ordens expressas de me deixar na floresta. Por fim, eles conseguiram fazer com que Eöl ficasse comigo, não sei em troca de quê.

“E eu cresci em Nan Elmoth, sem jamais voltar a ver a luz das estrelas, mas nunca me esqueci das cores e da alegria de Menegroth. Sempre quis voltar para lá. Mas com o tempo, as lembranças se tornaram cada vez mais distantes, e eu acabei perdendo qualquer esperança de que isso um dia pudesse acontecer. Eu me acostumei à vida na escuridão, que na verdade não era assim tão ruim para mim. Afinal, o sangue de Eöl corre nas minhas veias. Isso me garantia não apenas olhos muito bem-adaptados ao escuro, mas também uma série de privilégios. Eu era tratada como uma espécie de princesa em Nan Elmoth. Tanto que Aurial me chama de “Alteza”.

Madlyn sorriu levemente para Aurial, que hesitou, mas retribui sem muito entusiasmo. Com algum esforço, Madlyn se forçou a encontrar o gelo dos olhos de Legolas:

— Quando precisei escolher um nome para mim mesma, eu escolhi “Lyn”. Mas parecia errado, então acrescentei o “mad”***. Eu queria algo que me lembrasse da minha mãe... E achei que me lembrar do destino dela seria um modo de me lembrar de que eu não queria ser como o meu pai.

Legolas ficou apenas olhando para ela, sem aparentar emoção alguma. Em seu interior, no entanto, um turbilhão de emoções se processava. Acima de tudo, ele estava confuso. Por que Madlyn teria escondido aquela história por tanto tempo? Não havia nada de tão grave assim nela. O fato de ela tê-la ocultado era o que o estava irritando, não a história em si.

— Legolas? — Ela chamou baixinho, em tom de súplica.

Thranduil ainda matinha a mão sobre o ombro do filho e o apertou discretamente, alertando-o. Legolas não soube muito bem como interpretar aquilo, mas sabia que podia confiar no julgamento do pai. Sem se mover, ele olhou para Madlyn e perguntou, num tom tão neutro quanto possível:

— Isso é tudo?

Madlyn mordeu o lábio e baixou os olhos. O estômago de Legolas pareceu afundar desconfortavelmente. Havia mais.

— Então você realmente está aqui! — A voz desconhecida vindo da entrada do salão atraiu a atenção de todos. Thranduil foi o primeiro a reagir, puxando a espada da bainha e se adiantando de modo a ficar à frente de Legolas e Syndel, na defensiva.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

*Aurial é uma personagem original minha, criada para minha outra fanfic, “A Razão do Rei”. Naquela história, Aurial era a melhor amiga de Syndel e foi quem ensinou tudo o que Syndel sabia a respeito da arte de atirar com um arco-e-flecha. Aurial morreu antes de Legolas nascer. (Cf. “A Razão do Rei”, cap. 3)

**Em “A Razão do Rei”, antes de se casar com Thranduil, Syndel se chamava Syndel Luz-lunar (Moonlight). A semelhança com o nome “Lyn Luz-do-Luar” (Lunarlight) é inegável. Isso somado às semelhanças físicas entre as duas elfas sugere um parentesco próximo entre elas.

*** “Mad” significa “enlouquecida”, mas também “furiosa” e “frenética” ou até “extremamente feliz”, em inglês. É uma palavra que muda bastante de significado de acordo com o contexto.