A Jornada do Príncipe escrita por Andy


Capítulo 22
Capítulo 22


Notas iniciais do capítulo

Oi, gentem! :D
Nossa, eu devo ser a ficwriter mais feliz deste site! O capítulo passado bateu oficialmente todos os recordes de números de comentários! Estou sem palavras para agradecer a vocês! Muito obrigada! Às vezes um comentário pode parecer pouco, mas para um autor, significa o mundo, acreditem. Obrigada mesmo! ♥
Bom, espero que todo mundo esteja com o plano de saúde em dia... Porque de agora pra frente, só teremos fortes emoções por aqui. Aproveitem o capítulo! ;3

Xoxo



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Legolas e Gimli remavam com toda a força enquanto Madlyn controlava o leme. O sol batia em seu rosto agora e as águas diante dela rebrilhavam em um bonito tom de verde claro. Apenas Tirion permanecia negra no horizonte. Negra e cada vez mais próxima. Madlyn achava que se Legolas subisse agora e olhasse, poderia ver os pais esperando por ele na costa. Ela tinha certeza de que a essa altura, eles já estariam lá.

Mesmo sabendo que não devia tentar o destino, ela decidiu fazer um teste. Com firmeza, girou o leme do barco tanto quanto podia para a direita. Ela podia sentir a tensão nele, e soube mesmo antes de soltá-lo. Quando o fez, ela observou com pesar que o leme suavemente voltou para o lugar original. Ela sabia. Tinha percebido há algum tempo: eles não precisavam remar. Não precisavam controlar o barco. Estavam sendo guiados. Ou, como ela pensou, “arrastados”. Não havia escapatória para ela agora. Apesar do aviso, eles não pretendiam permitir que a embarcação desse meia-volta.

Ela suspirou e se afastou, indo em direção aos pequenos degraus que a levariam ao local onde os outros estavam.

— Podem parar. — disse, num tom pesaroso.

Gimli parou imediatamente, mas Legolas continuou remando, olhando para ela com desconfiança. Ele sabia que eles ainda não podiam ter chegado. Madlyn lhe deu um sorriso sem convicção:

— Os Valar estão nos dando um empurrãozinho. Vocês só vão se cansar à toa.

Legolas parou de remar e se levantou. Sem dizer uma palavra, ele passou por ela e subiu para o convés. Ela o seguiu, estranhando seu comportamento. Gimli foi logo atrás.

Nenhum dos três estava preparado para a proximidade da praia. Legolas arregalou os olhos, o coração batendo em falso: era difícil ter certeza, depois de tanto tempo, mas ele pôde jurar ter visto a mãe. E aquele era definitivamente Thranduil. Ele pensou em acenar, mas não conseguiu erguer a mão.

~~ ♣ ~~

— Syndel! — Thranduil exclamou, a voz embargada pela emoção.

Ela se desvencilhou com facilidade dos braços dele e se virou para olhar. Quando ela o viu, sentiu os joelhos falharem e vacilou um passo para trás. Thranduil pôs as mãos em sua cintura, e depois a envolveu num abraço protetor.

— Legolas...! — Ela sussurrou, sentindo as lágrimas de felicidade inundando seus olhos.

Ao lado deles, Oropher e a esposa sorriam, de mãos dadas.

~~ ♣ ~~

Legolas virou as costas, balançando a cabeça para clarear seus pensamentos. Ele podia sentir, pelo deslocamento de ar, que a embarcação avançava agora a uma velocidade inacreditável. Eram as ondas, e não o vento, o que a empurrava. E isso fazia toda a diferença. Deviam lhe restar poucos minutos agora. Ele ergueu os olhos para Madlyn e avançou um passo em sua direção:

— Há algo que você não me contou.

Madlyn apenas abaixou a cabeça. Legolas não sabia o que sentir em relação a isso.

— Sempre houve. Algo que você está escondendo de mim desde o início. Desde a primeira vez em que nos vimos.

Ela sentiu o aperto se fechando sobre o coração e começou a respirar mais rapidamente, como se seus pulmões também se espremessem de repente, roubando-lhe o ar.

— Madlyn?

Ela não respondeu, mas levantou a cabeça lentamente, olhando para Gimli, que estava meio paralisado ali, um pé ainda nos degraus. Legolas também olhou para o anão.

— O que é? — Ele perguntou, tirando o pé do degrau e batendo-o no chão de madeira do convés. — O que foi?

Legolas olhou brevemente para Madlyn e de volta para o amigo:

— Poderia... Nos dar licença, por favor?

Gimli estranhou o tom formal dele e soube que Madlyn estava em apuros. Mesmo assim, sentiu-se ultrajado por estar sendo excluído do que quer que fosse. Ele chegara à mesma conclusão que Legolas sobre os raios.

— Ora, o que quer que vocês tenham a dizer, podem dizer na minha frente, não é?

Madlyn franziu as sobrancelhas, angustiada. Ela tinha noção do que se passava na mente do anão. Não era justo com Legolas.

— Saia, Gimli. — Legolas repetiu, entredentes.

Gimli deu um passo na direção dele:

— Não.

— “Não”?

— Não.

Foi a vez de Legolas se adiantar. Mas Madlyn foi mais rápida, interpondo-se entre ele e o anão.

— Por favor, Gimli. — Ela pediu, num tom suplicante.

O anão estudou o rosto dela por um momento.

— Está bem. Que seja. Danem-se vocês. — Ele se virou abruptamente e desceu os degraus, batendo os pés.

Legolas suspirou, sua irritação imediatamente se transformando em sentimento de culpa. E algum ressentimento. Ele também havia adivinhado o que Gimli estava pensando, e isso o indignava. Mais do isso, o feria. Depois de tantos anos, o anão deveria saber que Legolas jamais consideraria traí-lo. Ele tirou vantagem desse sentimento para ser firme ao se virar para Madlyn novamente:

— Fale.

Ela olhou para ele, surpresa com o tom de exigência em sua voz. Ela sabia que ele não seria conivente para sempre. Sabia que desde o começo, ele devia desconfiar dela. Legolas era inteligente, ela soube desde a primeira vez em que o viu. Mas não esperava por toda essa fúria, não ainda. Não agora.

— O que você está escondendo de mim, Madlyn? — Ele deu um passo na direção dela, seu rosto se decompondo em frustração. — O que a está deixando tão infeliz?

Ela arregalou os olhos em choque ao perceber a preocupação no fundo dos olhos dele. A culpa imediatamente perfurou seu coração. Ela não merecia que ele a olhasse daquele jeito. Ela lhe deu as costas.

— Por favor. Eu não aguento mais isso.

Madlyn não respondeu, mordendo o lábio com tanta força que começou a sangrar.

— Por favor. Eu te amo tanto! — Ele engoliu em seco. — Mas eu sinto que nem sei... Eu não... Eu preciso confiar em você.

Ela soluçou, levando as mãos ao peito.

— Por favor. Seja o que for, só me diga. Já chega disso.

Ela respirou fundo, incapaz de ignorar a dor na voz dele. Ela sabia que o fazia sofrer. Sabia que o estava magoando desde o início. E que só iria piorar, cada vez mais. Mas ouvi-lo falar daquela forma... Ela tinha sido terrivelmente egoísta. De novo. Talvez estivesse mesmo em seu sangue.

Ela se virou para olhá-lo.

— Só... Por favor. — Ela pigarreou, tentando fazer com que sua voz soasse clara o bastante. — Quando você descobrir. Por favor, não se esqueça. De como foi. Até aqui.

— Do que você está falando? — Ele se adiantou e estendeu as mãos para segurar o rosto dela, mas ela se esquivou com agilidade. — Madlyn?

— Só se lembre. Por favor.

Ele abriu a boca para responder, mas foi impedido por um leve tremor que sacudiu toda a embarcação, desequilibrando a ambos. Ele olhou para Madlyn, e ela observou enquanto sua expressão se decompunha em choque quando ele ouviu seu nome naquela voz do passado:

— Legolas!

~~ ♣ ~~

Desta vez, era Thranduil quem tinha dificuldades em conter Syndel. Ela se debatia, tentando se livrar de seus braços fortes, e ele ria.

— Calma, Syndel! Espere o barco chegar. Na velocidade em que eles estão, não vai demorar muito, agora.

— Eu quero ver meu filho agora! Eu sei nadar! Você sabe disso! Melhor do que ninguém, inclusive!

Ele riu de novo, mais alto dessa vez. Oropher fez menção de se aproximar para ajudá-lo a afastar Syndel da beira da água, mas Thranduil fez que não com a cabeça. Ele sabia que mesmo que a soltasse, ela não pularia, no fim das contas. Os dois estavam apenas se divertindo, felizes demais para se conter. Oropher franziu a testa, mas assentiu de volta. Ele às vezes não compreendia como Thranduil podia parecer tão jovem quando estava com a esposa. Como se eles dois fossem permanentemente aqueles jovens rebeldes que lhe deram tanto trabalho no passado(1).

De repente, Syndel parou de se debater. Thranduil se voltou para olhar, e seu coração falhou uma batida. Lentamente, ele deu alguns passos para trás, puxando Syndel consigo. Ela não ofereceu resistência.

Mentalmente, os elfos contaram os segundos até que a barca enfim atracasse.

Dez... Nove...

Thranduil estreitou o abraço, puxando Syndel para mais perto de si.

Oito... Sete...

Syndel pôs as mãos sobre as do marido, feliz por ele estar ali.

Seis... Cinco...

Oropher olhou para a esposa, nervoso. Ela pôs a mão em seu rosto e sorriu levemente.

Quatro... Três...

Oropher retribuiu o sorriso.

Dois...

Syndel pôde jurar ter ouvido a voz do filho. Ele parecia ansioso com alguma coisa.

Um...

Thranduil percebeu, pasmo, que havia mais alguém com Legolas no barco. E não era o anão.

A lateral da embarcação bateu suavemente contra a madeira branca do porto ao atracar. As ondas não foram delicadas o bastante. Mesmo assim, não houve danos. Os elfos olharam em expectativa. De perto, a barca era tão alta que não permitia que se visse quem estava lá dentro. Syndel prendia a respiração, esperando que a porta lateral se abrisse, mas uma eternidade pareceu se passar, e isso não aconteceu.

— Chame por ele, meu amor. — Thranduil sussurrou no ouvido dela.

— Legolas!

~~ ♣ ~~

Legolas permaneceu onde estava por mais alguns segundos, o coração batendo tão forte que doía. Ele ainda olhava para Madlyn, mas sem a ver. Ela sorriu levemente para ele, mesmo assim. Como se de alguma forma estivesse apenas esperando por isso, ele deu as costas para ela e correu em direção à amurada da barca. E não se deu ao trabalho de descer até a porta lateral. Simplesmente pulou. Madlyn se assustou com essa atitude e correu para olhá-lo, mas tudo o que viu foi Legolas aterrissando com leveza no porto de madeira. Ela respirou fundo, aliviada, e se afastou da amurada, grata por Legolas ter toda a atenção para si, de modo que ela não foi vista.

Legolas não olhou para trás, e nem se deu tempo para se recuperar do salto arriscado. Desequilibrando-se levemente ao se levantar rápido demais, ele deu dois passos largos e se atirou nos braços de Syndel, como costumava fazer quando era criança:

— Mamãe!!

Syndel se desequilibrou, e Thranduil segurou seus ombros para impedir que os dois caíssem. Ela riu nervosamente, envolvendo o filho em seus braços. Ele enterrou o rosto em seus cabelos, chorando. O perfume dela era maravilhoso. Suas memórias não chegavam nem perto.

— Legolas! — Ela mal conseguiu sussurrar. Ele riu baixinho, feliz. — Ah, por Eru... Legolas! Eu... Eu sinto tanto, eu não quis, eu não... — Ela atropelava as palavras, sabendo que não estava fazendo sentido.

— Respire, Syndel. — Thranduil tentou brincar, mas sua voz, embargada pelas lágrimas, não colaborou.

Legolas ergueu a cabeça e olhou para ele, percebendo pela primeira vez que ele estava ali:

— Meu senhor! — Sorriu para o pai, mas hesitou, não querendo soltar a mãe. E ela também o segurava com tanta força que parecia que não ia soltá-lo nunca.

Thranduil sorriu, compreensivo, e se aproximou, envolvendo a esposa e o filho num abraço. Ele nunca pensou que choraria na frente de Legolas daquele jeito, mas naquele momento, aquilo não importava.

— Legolas, eu sinto muito, de verdade, eu... Quando eu fiz aquilo, eu quase... Eu só quis te proteger, eu tive tanto... — Syndel tentou de novo, respirando fundo, tentando manter a calma, mas as lágrimas quase não permitiam que falasse. Ela estava tão aliviada por Legolas estar ali, por ele tê-la abraçado, por não estar bravo com ela...

— Shh... Não se preocupe, mamãe. Eu sei.

Ela se afastou minimamente para olhá-lo. Ele sorriu levemente para ela, sentindo-se tímido de repente.

— Ah, Legolas! — Ela o abraçou de novo. — Eu te amo tanto!

— Eu também te amo, mamãe! — Ele não se cansava de repetir a palavra. Havia tanto tempo que ele não a dizia! Não se importava se estava soando infantil para os elfos curiosos que se aglomeravam no porto, a apenas alguns metros de distância. Ele engoliu em seco, desejando que sua voz soasse mais clara: — Eu senti a sua falta. Muito. Todos os dias, sempre.

— Eu também! Cada dia que estive longe! Eu não acredito que eu passei tanto tempo longe de você... Você cresceu tanto!

Legolas riu baixinho.

— Isso é impossível, mamãe....

— Não é, não! — Ela o afastou para olhar para ele. — Olhe só para você!

Legolas corou levemente e desviou o olhar, constrangido, buscando os olhos do pai. Thranduil lhe abriu um de seus sorrisos sarcásticos e antes que Syndel o puxasse para seus braços de novo, ele se adiantou e puxou Legolas para si. O filho demorou um pouco a retribuir, confuso com o gesto.

— Eu nunca devia tê-lo deixado para trás. Nunca devia tê-lo deixado partir. — Thranduil disse baixinho, apertando o filho.

— Eu estou de volta, ada(2).

Thranduil queria dizer algo, mas não conseguia encontrar sua voz. Legolas sorriu levemente. Ele não precisava que o pai dissesse nada. Ele já sabia.

Oropher se aproximou silenciosamente sorrindo, trazendo a esposa pela mão. Como parecia que ninguém o estava notando ali, ele pigarreou baixinho. Legolas e Thranduil se sobressaltaram, desfazendo o abraço rapidamente. Oropher abriu um de seus sorrisos tortos para Legolas, divertindo-se ao ver a expressão de choque no rosto do neto. Legolas se atrapalhou um pouco e começou a se curvar, mas Oropher estendeu as mãos e segurou seus ombros, impedindo-o. Legolas ergueu a cabeça, surpreso:

— M... Majestade?

Oropher o fez se reerguer.

— “Vovô” já me basta, Legolas. Agora o seu pai é o rei de Greenwood, não eu. Além disso...

— Embora... — Thranduil interrompeu o pai. Ele se voltou para Legolas sorrindo levemente. — Talvez nós devêssemos providenciar uma cerimônia de coroação em breve.

— O quê? — Legolas olhava de um para outro, confuso. Syndel lhe abriu um sorriso.

— Você é maior que todos nós agora, Legolas. — dizendo isso, Oropher se curvou.

Thranduil encarou o filho intensamente, tentando lhe dizer tudo o que seu orgulho não permitia que dissesse em voz alta. Depois, lentamente, curvou-se também. Syndel o fez em seguida. E logo todos os elfos que estavam no porto os imitaram. Legolas sentiu-se corar e ficou parado ali, sem saber o que dizer ou fazer.

Depois de algum tempo, Oropher se levantou, e os outros logo o seguiram. Legolas olhou para Thranduil:

— Por favor... Não faça isso de novo. — Ele fez uma careta para o pai.

Thranduil riu alto e o abraçou.

— Vamos falar sobre isso depois.

— Meu querido Legolas...

Legolas se voltou assustado ao ouvir aquela voz. Elrond ainda se reerguia, flanqueado pelos dois filhos. Ele olhava para Legolas com o rosto cuidadosamente composto numa máscara de serenidade.

— Mestre Elrond! Meu senhor também se curvava a mim?!

Elrond sorriu.

— Se você está aqui, então devo crer que Elessar...?

Legolas baixou os olhos, pesaroso.

— Aragorn faleceu em Gondor há um ano.

Um suspiro baixo percorreu o grupo de elfos ali reunidos. Syndel se aproximou e pôs as mãos nos ombros do filho. Elladan(3) foi o primeiro a compreender o que aquilo significava. Ele se virou para o pai:

— Mas então... Arwen...

Elrohir viu quando Legolas assentiu, com uma careta de dor. Syndel deu um beijo no rosto do filho, que se virou para abraçá-la.

Elrond engoliu em seco e deu um passo atrás. Ele ergueu a cabeça para olhar para Thranduil:

— Você compreende...

Thranduil assentiu. Elrond e os dois filhos deram as costas ao grupo e se afastaram, desaparecendo na multidão.

Por alguns minutos, ninguém falou. Os elfos absorviam com pesar a notícia de que Arwen Undómiel havia partido para sempre. Nenhum deles estava acostumado a lidar com a mortalidade, não importando o que haviam visto em seus anos na Terra-Média. Foi Thranduil o primeiro a romper o silêncio:

— Eu creio ser seguro, Legolas, dizer que você trouxe companhia...?

Legolas, ainda nos braços da mãe, ergueu os olhos para o pai.

— Sim... — Ele se desvencilhou de Syndel delicadamente e se virou para olhar a embarcação. A porta ainda estava fechada, e ele não podia abri-la por fora. — Gimli! Madlyn!

— “Madlyn”? — Syndel repetiu, confusa.

Legolas sentiu o rosto ardendo levemente e evitou olhar para a mãe. Thranduil observava, desconfiado. Por alguns instantes, nada aconteceu. Depois, quando Legolas já estava quase chamando novamente, a porta de madeira rangeu, ouviu-se um barulho de trancas sendo soltas, e finalmente Gimli a escancarou com um chute.

— De quem foi a ideia de colocar os ferrolhos dessa porcaria tão no alto? — Ele saltou da embarcação para o chão, provocando um barulho alto.

Os elfos olhavam para ele surpresos. Alguns deles nunca tinham visto um anão antes. Thranduil parecia se esforçar para conter o riso, e Syndel sorria encantada para o anão de que tanto tinha ouvido falar. Oropher olhava com uma sobrancelha erguida. Legolas riu alto:

— Ei-lo aqui! Gimli, filho de Glóin!

— E Senhor das Cavernas Brilhantes de Aglarond, obrigado! — O anão complementou, pondo as mãos no cinto de maneira orgulhosa.

— É, isso também. — Legolas concordou, sorrindo. — Gimli, estes são meus pais, Thranduil e Syndel Verdefolha. — Ele gesticulou.

Gimli se voltou para olhar o casal de elfos. Ele olhou feio para Thranduil por um breve momento. O elfo o olhava do alto com um ar de presunção. Mas ao olhar para a mãe de Legolas, o anão não pôde impedir que seu queixo caísse. Por um instante, ele ficou completamente sem fala.

— Creio... — Thranduil se aproximou de Syndel e pôs a mão na cintura dela num gesto um pouco despreocupado demais. — Creio ter conhecido seu pai, Gimli, se não me falha a memória. Ele não era por acaso um dos membros da companhia de Thorin Escudo de Carvalho?

Gimli piscou algumas vezes rapidamente antes de se voltar para o rei de Greenwood, fechando a cara:

— Sim. Creio ser você o elfo metido a besta que o fez prisioneiro?

Thranduil riu com escárnio:

— Creio que sim. Espero que não guarde ressentimentos, foi tudo um mal-entendido. — Ele se esquivou com agilidade quando Syndel tentou lhe dar uma cotovelada.

— Sei. É claro que sim. — Gimli bufou, ofendido.

— Meu senhor, por favor... — Legolas começou.

Syndel se libertou do braço do marido e se inclinou levemente para falar com Gimli:

— Não dê ouvidos a ele, Mestre Anão. No fundo, ele lamenta pelo que fez.

Gimli olhou para ela, encantado com o som de sua voz. Ninguém pôde ver, por causa da barba, mas ele sentiu-se corar levemente.

— O... Obrigado, minha senhora.

— Menos, Syndel. — Thranduil pôs a mão no ombro da esposa, aborrecido, querendo que ela se reerguesse. Ela o afastou com um movimento brusco.

— Estou muito feliz por finalmente poder conhecê-lo, Gimli. Afinal, você é o melhor amigo do meu filho, não é? — Ela ergueu os olhos para Legolas, sorrindo levemente.

— Algo assim. — Legolas concordou, dando de ombros e olhando para o outro lado.

— Eu... Eu também estou feliz em conhecê-la. — Gimli respondeu, num tom um pouco baixo demais. Ele sorriu para ela timidamente.

Syndel riu levemente, e o som lembrava sinos tilintando com o vento. Gimli não conseguia parar de olhar para ela. Ela se reergueu lentamente, e Thranduil imediatamente envolveu sua cintura com os braços, puxando-a para si. Ele olhava feio para o anão.

— Onde está a Madlyn? — Legolas franziu as sobrancelhas, voltando-se para a embarcação. A porta estava aberta, mas não havia sinal da elfa.

Ele sabia que ela o havia ouvido, mas por algum motivo, não havia saído.

— Vá buscá-la. — Gimli sugeriu.

Legolas assentiu para o anão e entrou na embarcação. A porta dava para a parte inferior do barco, onde estavam os remos. Não havia sinal de Madlyn ali. Por que ela não havia seguido Gimli? Legolas correu para a parte de cima do barco.

Ele foi encontrar Madlyn na cabine. Ela estava sentada sobre uma pilha de caixotes de madeira, encolhida como se quisesse sumir. Com uma das mãos, ela apertava o peito, sentindo a pulsação forte de seu coração. Seu rosto estava contorcido como se sentisse dor, mas ela não chorava. Legolas ficou surpreso ao vê-la ali.

— Madlyn?

Ela se sobressaltou ao ouvir a voz dele, passando a mão pelo rosto como se quisesse enxugar lágrimas que não estavam ali(4).

— O que aconteceu? Por que você não desceu? Está brava comigo?

Ela continuou apenas olhando para ele.

— Me desculpe se eu disse alguma coisa. — Ele se aproximava lentamente. Devagarinho, tentando não a assustar, estendeu a mão para ela, a palma virada para cima. — Eu não quis magoá-la.

Ela tremeu como se tivesse sido tomada por um soluço e saltou de cima da pilha, atirando-se nos braços dele. Legolas perdeu o equilíbrio por um instante, dando dois passos para trás, mas se recuperou e a envolveu em seus braços com carinho.

— Você está com medo, não é? — Ele falou baixinho ao ouvido dela.

Ela balançou a cabeça lentamente, confirmando. Ele a afastou delicadamente, deslizando a mão por seu braço até encontrar seus dedos, entrelaçando-os aos dele.

— Não se preocupe. Eu estou aqui.

Ela olhou para ele, e ele viu a dúvida em seus olhos.

— Eu estou com você. Não vou deixar que nada nem ninguém lhe faça mal.

Madlyn não disse nada. Parecia apavorada.

— Por favor... Meus pais estão ansiosos para conhecê-la. — Ele sorriu, tentando motivá-la. — Você não sabe o quanto minha mãe vai ficar feliz em saber que finalmente tem uma nora.

Ela não pôde evitar sorrir levemente. Legolas tinha lhe falado muito sobre a mãe.

— Por favor?

Madlyn respirou fundo, fechando os olhos para se concentrar. Ela sabia que não havia mais volta agora e que não adiantaria nada ficar ali na barca. Estava feito. Depois de tantos milênios, ela estava no último lugar do universo em que queria estar. Valinor. O inferno de seus pesadelos. Ela balançou a cabeça, tentando afastar esses pensamentos e se concentrar no fato de que os dedos quentes de Legolas envolviam protetoramente os seus. A luz ainda não tinha se apagado.

Ela abriu os olhos lentamente e sorriu para Legolas. Bem devagar, ela assentiu. Ele retribuiu o sorriso e a puxou em direção ao convés e aos degraus que os levariam para fora da barca.


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Notas finais do capítulo

(1) Histórias narradas em minha outra fanfic, “A Razão do Rei”.

(2) “Ada” significa “pai” em Quenya.

(3) Elladan e Elrohir são filhos de Elrond, irmãos da Arwen.

(4) Não sei se isso ficou bem explicado o suficiente nesta história, então acho melhor pôr uma nota, por via das dúvidas. Isto é algo que eu estabeleci em “A Razão do Rei”. Na minha versão da história, apenas lágrimas de alegria podem ser derramadas em Valinor. Então, se os elfos se sentirem tristes ou com raiva, ou qualquer outra emoção, não serão capazes de chorar por isso, e apenas se sentirão sufocar pelas lágrimas. Sim, é cruel. E reafirmando: isso não faz parte da mitologia de Tolkien, é algo que eu eu inventei. Não me lembro ao certo por que, mas é preciso manter a coerência entre as duas fanfics, então... É.