A Jornada do Príncipe escrita por Andy


Capítulo 20
Capítulo 20


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitores que eu amo! :3
Aqui estou, trazendo o capítulo da semana! Muito obrigada por todos os comentários no capítulo anterior! É ótimo ver alguns leitores voltando! Bem-vindos de volta! Aliás, passamos a marca dos 200 comentários, hein? Nem sei como agradecer por toda essa atenção! Obrigada! A parte mais legal de escrever esta fanfic é poder conversar com vocês sobre elas. Me divirto muito lendo e respondendo os comentários. Obrigada por serem meus companheiros nesta Jornada! ♥
Ah! Tenho uma pergunta! Em que horário vocês gostariam que eu postasse os capítulos? Não posso prometer postar sempre no horário que vocês disserem, mas eu acho que posso pelo menos tentar... O que vocês acham?
Aguardo suas respostas! Aproveitem o capítulo! ^^



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/636499/chapter/20

Finalmente o dia chegou. Parada no porto enquanto aguardava que os marinheiros e os guardas de Eldarion terminassem de carregar a barca com as bagagens e provisões, Madlyn observava o Mar com medo nos olhos. Ela temera aquele dia praticamente a vida toda. O dia em que iria para Aman. Nunca pensou que o faria por via marítima. Nem que o faria voluntariamente.

Ela se sobressaltou quando Legolas a abraçou por trás e beijou seu pescoço.

— A luz das estrelas por seu pensamento.

Ela sorriu.

— Você não devia trocar a luz das estrelas por tão pouco. — Ela pousou uma mão sobre o braço dele. — Eu estava pensando na viagem.

— O que, exatamente?

— Estou com medo.

— Acha que não conseguiremos? Acha que os Valar vão criar dificuldades para nós, como criaram para Eärendil(1)?

— Não, ao contrário.

— Então, do que você tem medo?

— Do que acontecerá depois... Em Valinor. — Ela fez uma pausa. — Tenho medo do que vou encontrar lá.

— E o que seria?

Ela se desvencilhou do abraço dele e se virou para olhá-lo. Ele viu a angústia em seus olhos, e também viu que ela não ia falar. O que quer que estivesse em sua mente, ela não ousava pronunciar em voz alta. Ele começou a acariciar o rosto dela suavemente, tentando ler seus olhos. Ele se lembrava daquela conversa que tinham tido há algum tempo, quando ela lhe contou que tinha medo de reencontrar o pai e o irmão. Mas ele não compreendia que ameaça real eles podiam representar para ela lá, no Reino Abençoado.

Os dois se viraram ao ouvir os passos pesados de Gimli na pedra acinzentada do porto, seguidos pelos pés mais suaves do rei e da rainha. Gildarion vinha nos braços do pai e estendia as mãozinhas em direção ao Mar como se quisesse se atirar a ele. Com uma alegria como se adivinhasse o que havia do outro lado. Legolas sorriu ao vê-lo. Quando Eldarion chegou até eles, ele lhe passou a criança, sem dizer nada.

— Então é isso. — Gimli disse, num tom carregado de emoção.

Legolas brincava com o pequeno príncipe, balançando-o. Seu coração pesava ao saber que aquela seria a última vez que o veria. Madlyn pousou uma mão em seu ombro suavemente, compreendendo a dor dele. Ambos haviam se apegado ao menino nas últimas semanas.

O grupo permaneceu em silêncio, cada um deles perdido em pensamentos. Não era fácil para nenhum deles, estar ali.

— Tudo pronto, senhor. — O guarda que estava encarregado de fiscalizar o abastecimento da embarcação fez uma mesura para o rei.

Eldarion se voltou para Legolas e os dois trocaram um olhar angustiado. O filho de Aragorn precisou engolir em seco mais de uma vez antes de conseguir falar:

— Eu... Eu não tenho palavras para lhe dizer neste momento, meu amigo.

Legolas entregou o pequeno príncipe a Madlyn e se adiantou para abraçar Eldarion. O rei retribuiu com força. Gimli logo se juntou ao abraço, agarrando as pernas deles. Os dois se ajoelharam para ficar à altura dele. Nenhum dos três disse nada. A rainha os observava com lágrimas nos olhos, segurando nas mãos o pingente prateado com que Eldarion a havia presenteado quando eles se casaram. Madlyn deu um beijinho no rosto de Gildarion e desviou o olhar. Ela sentia que não fazia parte daquela despedida.

Demorou algum tempo para que os três se recompusessem. Quando Eldarion se levantou, Madlyn entregou o filho a ele. Gildarion começou a chorar, como se compreendesse exatamente o que estava acontecendo, e a rainha o pegou para tirá-lo dali. Chorando, ela acenou para os três que estavam prestes a partir, incapaz de dizer qualquer coisa.

Eldarion se voltou para os amigos:

— Vocês são os melhores amigos, conselheiros e guerreiros que eu já tive. Eu não tenho palavras para expressar o quanto eu me sinto honrado por ter tido a oportunidade de crescer ao lado de vocês. Eu... — Ele deixou que uma lágrima escapasse a seu controle, e outras a seguiram. — Eu vou sentir muito a falta de vocês. E jamais vou esquecê-los.

Legolas o abraçou novamente.

— Nós nunca iremos esquecê-lo também, Majestade. — Ele disse a última palavra com carinho, tentando expressar todo o orgulho que sentia daquele rei que um dia fora seu pequeno príncipe. Eldarion sorriu, dando-lhe um tapinha nas costas.

— Trate de se comportar, você, ouviu? — Gimli disse, num tom rabugento, evitando olhar para o rei. — Seja um bom menino. Senão eu volto para te dar uma lição!

Eldarion riu alto.

— Olha só quem fala, Mestre Anão...

Gimli fungou em resposta, e não disse nada. O rei se dirigiu a Madlyn, que arregalou os olhos, surpresa por ter sido lembrada.

— Eu jamais poderei lhe agradecer o suficiente... Não apenas pelo o que você fez por mim, minha esposa e meu filho... Mas também pelo o que tem feito ao meu amigo. Por favor, continue tomando conta dele lá, no Reino Abençoado. — Ele a abraçou. Madlyn hesitou, mas depois retribuiu o abraço.

— Obrigada. — Ela sussurrou.

Eldarion não compreendeu a resposta dela, mas antes que ele tivesse a chance de questionar qualquer coisa, Legolas segurou a mão dela e pôs a outra mão sobre o ombro do rei.

— Está na hora. Se não formos agora, é capaz de não irmos nunca.

Eldarion assentiu. Silenciosamente, ele observou enquanto os três subiram à embarcação. Legolas puxou a pequena escada que dava acesso à barca e fechou a entrada. Gimli se apressou em cortar as cordas que prendiam o barco. Legolas içou a vela. Logo a Barca do Fim, como ela ficaria conhecida mais tarde nas canções da Terra-Média, se afastava do porto. Os três acenaram para o rei até o perderem de vista.

~~ ♣ ~~

Madlyn se aproximou de Legolas na proa da embarcação e pousou a mão sobre seu ombro. Ele não se moveu, olhando ansioso para as ondas. Atrás deles, o sol apenas começava a dar indícios de que logo iria se erguer. Mesmo assim, não havia estrelas no céu diante deles, e a escuridão tomava o coração do elfo.

— Há quanto tempo você acordou?

— Na verdade, eu não cheguei a dormir.

— Ainda está preocupado?

Ele se virou para olhá-la com uma expressão angustiada.

— Escute... — Ela pôs a mão no rosto dele gentilmente. — Eu entendo que você esteja ansioso, mas está correndo tudo bem, não está? Há três dias que estamos no Mar, e nada ruim aconteceu. Nenhuma tempestade, nenhuma confusão na direção... E eu acho que você também notou que há um vento nos impulsionando constantemente em direção ao Oeste?

— Exatamente. Tudo está calmo demais. Onde estão todos os obstáculos enfrentados por Eärendil? Onde estão as ilhas, os ventos contrários...?

— Talvez os Valar os tenham retirado? Afinal, eles foram colocados no caminho durante a época da Ocultação a Valinor(2)... E esse período já passou há muito tempo, não é?

— Como sabemos disso?

Madlyn o encarou, tentando ler seus olhos.

— Sabemos disso... — Ela falou lenta e pausadamente. — Porque as Silmarils não existem mais... E principalmente porque todos os outros chegaram a Valinor sem problemas.

— Como sabemos que eles chegaram sem problemas?

— O que quer dizer?

— Quem nos garante... — Legolas engoliu em seco. — Que eles não naufragaram?

— Eru! Você nunca ouviu as canções? Nunca lhe contaram a história? Eru previu que um dia os elfos deixariam a Terra Média, dando lugar ao reinado dos homens. Nessa ocasião, todos os elfos tornariam a Valinor, onde viveríamos eternamente em harmonia... Lembra?

— Sim, mas Eru nunca estipulou como nós tornaríamos a Aman.

— Como assim?

— E se ele esperasse que todos nós morrêssemos no Leste? Quando um elfo morre, seu espírito vai para Mandos de qualquer forma, não é?

Madlyn arregalou os olhos, finalmente compreendendo o que ele queria dizer. Se aquela barca afundasse, ela e Legolas ainda assim chegariam a seu destino. Gimli, por outro lado...

— A barca de Círdan não naufragou! — Ela negou veementemente.

— Como você pode dizer com tanta certeza?

— Mithrandir(3) estava com eles!

Legolas considerou aquilo por um momento.

— Talvez você tenha razão... Mas ele não está conosco.

Ela inspirou profundamente, olhando para ele:

— Você teme pelo anão.

Legolas assentiu.

— Não custaria nada aos Valar, afundar esta embarcação. Quando eles virem o símbolo de Durin... Se ainda não tiverem visto...

Ela o abraçou.

— Eles não vão fazer isso.

Ele retribuiu o abraço.

— Por que não?

— Porque Gimli merece viver. Muito mais do que eu.

Ele a afastou para olhar para ela, chocado. Ela lhe sorriu suavemente.

— Eu tenho certeza de que isso será levado em consideração. De qualquer forma, mesmo Eärendil recebeu o direito de se defender diante de Manwë(4). Nós também com certeza teremos esse direito. — Ela pôs a mão no rosto dele e se aproximou para que seus narizes se tocassem. — Você devia ir dormir um pouco, amorzinho. Eu fico aqui vigiando o Mar.

Ele hesitou, em dúvida. Por fim, assentiu levemente.

— Tudo bem. Eu vou tentar dormir. Obrigado.

Ela beijou a testa dele e observou enquanto ele se afastava em direção à cabine da embarcação. Quando ele desapareceu do alcance de sua visão, ela suspirou e se virou para se apoiar na amurada da barca. Ela encarou as ondas frias e escuras. Se adiantasse, ela se atiraria a elas.

~~ ♣ ~~

Gimli tentava manter a barba afastada do rosto enquanto punha para fora o pouco que tinha comido naquela manhã.

— “Continue respirando! Essa é a chave! Respire!” — Legolas tentou brincar, mas olhava para ele com preocupação. O tempo ali passava diferentemente, ou não passava, mas Legolas calculava que havia dias que o anão não conseguia comer direito, e vomitava constantemente. Ele já estava emagrecendo a olhos vistos.

Madlyn se aproximou segurando uma pequena taça com um líquido amarronzado dentro.

— Aqui, Gimli.

O anão olhou para ela desconsoladamente e balançou a cabeça, recuando. Quando, porém, ele sentiu a ânsia de vômito lhe subindo mais uma vez, atirou-se à frente e tomou a taça da mão dela, entornando-a de uma vez. Ele fez uma careta torturada e se atirou ao chão de madeira clara do convés, pondo a língua para fora.

— Quanto ainda tem? — Legolas perguntou, olhando para a elfa.

— Não muito. — admitiu ela.

Legolas assentiu, franzindo as sobrancelhas, e olhou para o horizonte. Não havia sinal de terra no Oeste.

~~ ♣ ~~

— “Onde a sombra desce sobre colinas congeladas”(5). — Legolas interrompeu, num tom frio e áspero. Madlyn parou de cantar. Ela e Gimli olharam para ele. — Onde estão as colinas?

— Amorzinho... — Madlyn estendeu a mão para pousá-la sobre o ombro dele, mas ele a afastou. Ela lhe lançou um olhar magoado.

— Parece que há milênios que chegamos a “Onde Sempre é Noite”(6). Nem me lembro da última vez em que vimos a Luz. Mas onde está Valinor?

Gimli olhava para ele assustado, mas principalmente preocupado. Ele podia sentir Legolas se tornando mais e mais amargo a cada dia. Ele podia sentir a tristeza e a frustração do elfo, e se sentia também triste e frustrado por não poder fazer absolutamente nada por ele.

— Onde está Eärendil para nos guiar na escuridão? — Legolas não tentou impedir que as lágrimas lhe chegassem aos olhos. Sua voz estava carregada delas. — Onde estão os Valar, e por que eles nos abandonaram?

— Legolas...! — Madlyn sabia que ele não falava de coração, mas entre os elfos, as palavras eram sagradas e nada devia ser dito em vão.

— Eu não sou um marinheiro, Madlyn. — Ele sentiu o estômago se contorcendo e olhou para baixo. As migalhas de sua porção de lembas espalhavam-se no convés à frente da elfa e do anão. — Eu não posso nos salvar sozinho.

Nesse momento, como que atendendo ao pedido dele, algo cintilou no horizonte. Gimli foi o primeiro a ver, pondo-se em pé de uma vez e apontando entusiasmadamente:

— Pelas minhas barbas! O que é aquilo?

Legolas e Madlyn praticamente saltaram em pé, e ele correu para a proa, inclinando-se sobre a amurada. Ele ainda chorava quando seus olhos se arregalaram, incapazes de crer no que viam.

— Tirion (7)... — Ele sussurrou.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

(1) Eärendil foi o mais famoso marinheiro elfo. Ele e a esposa navegaram até Aman para implorar que os Valar ajudassem os povos da Terra Média na luta contra Morgoth. Essa história é narrada na Balada de Eärendil.

(2) O período de Ocultação a Valinor foi um período durante o qual os Valar encheram o o caminho marítimo que leva a Valinor de armadilhas (neblinas, ilhas, correntes contrárias. etc.) a fim de impedir que os elfos noldor voltassem para o Reino Abençoado. Isso se deveu às desavenças criadas pelas Silmarils, mas essa é uma história longa demais para eu contar aqui. O fato é que nenhum marinheiro jamais conseguiu passar por todas essas barreiras, exceto por Eärendil. A história completa pode ser lida na primeira parte d“O Silmarillion”.

(3) “Mithrandir” é o nome que os elfos dão ao Gandalf.

(4) Manwë é o maior dos Valar, uma espécie de rei entre eles.

(5) Essa é uma tradução minha de um dos versos da "Balada de Eärendil", de Bilbo Bolseiro: “[...] where shadow lies on frozen hills”. Eu não tenho o livro em português, então não faço ideia de como ele foi traduzido na versão brasileira, desculpem.

(6) Mais uma das minhas lindas traduções livres. “Evernight”, nome que aparece na "Balada de Eärendil". É um local por onde o marinheiro passou pouco antes de avistar Valinor.

(7) Tirion é a cidade construída pelos elfos (e para os elfos) em Valinor.