A Jornada do Príncipe escrita por Andy


Capítulo 13
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Ai, por onde eu começo...?
Gente, como eu estou feliz! Eu sinceramente não sei nem o que dizer! Não apenas o capítulo anterior foi o que mais teve comentários até agora, como também eu tive várias surpresas incríveis essa semana! ♥
Primeiramente, aos leitores novos, sejam muito bem-vindos! Obrigada por darem uma chance à "Jornada do Príncipe".
Aos antigos, obrigada por estarem acompanhando esta jornada até aqui! Ela não seria a mesma sem vocês.
E tenho dois agradecimentos mais que especiais a fazer... Primeiro, à RaqCris, que não só escreveu uma recomendação muito linda para a fanfic, como também fez dois fanarts absolutamente PERFEITOS da Madlyn! Se ela deixar, eu mostro para vocês. De qualquer forma, muito obrigada por tudo, Cris! Eu sei que já agradeci profusamente, mas mesmo assim. Ainda estou meio em estado de choque de felicidade (?) aqui. Então vou continuar agradecendo compulsivamente! Hahaha!
E quero agradecer também à Luciana Snape, que não apenas leu a fanfic inteira em um dia (obrigada pela paciência - eu mesma não a teria!), como também escreveu uma recomendação! Obrigada pelo voto de confiança! Ele é, por si só, um imenso elogio!
Enfim, eu não sei nem como agradecer a todos pelo carinho que esta fanfic tem recebido. Em inglês, existe uma expressão muito boa para isso, mas ela não tem uma tradução muito exata para o português: "I'm very humbled by all the love towards this story". Significa mais ou menos "me sinto lisonjeada por todo o carinho dado a esta história", apesar de "lisonjeada" não ser uma tradução boa como eu disse. Enfim... Para encerrar o discurso... OBRIGADA. ♥

(P.S.: Leiam as notas de fim, sim? ^^')



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Quando Legolas despertou, Madlyn ainda dormia profundamente a seu lado. Um dos braços dele ainda estava sobre a cintura dela. Ele piscou pesadamente, tentando descobrir onde estava. A elfa estava de costas para ele, e seu cabelo curto permitia que ele visse sua nuca. Ele sentiu um imenso frio na barriga quando as memórias da noite anterior o atingiram. Incapaz de evitar um sorriso tímido, ele se ergueu sobre o cotovelo e inclinou a cabeça para beijar o ombro nu dela. Ela suspirou, mas não deu sinais de ter acordado. Legolas correu levemente a ponta dos dedos pela pele macia dela.

Ele não fazia ideia de que horas eram. Nas cavernas, o tempo sempre passa indistintamente. Podia ser noite ainda. Mais alguma coisa lhe dizia que já era de manhã. Tarde na manhã. Ele achou melhor se levantar e ir procurar Gimli.

Alguns minutos depois, tendo se vestido e refeito a trança que mantinha o cabelo longe de seu rosto, ele tornou ao dormitório onde tinham deixado o anão. Ele não estava lá. Os restos da fogueira estavam frios. Significava que ele havia saído há algum tempo. Mau sinal.

Legolas voltou pelo corredor, espiando em cada porta por que passava. Ele já estava começando a achar que tinha se perdido no imenso palácio de Thingol, quando se viu de volta ao salão de entrada. Gimli estava lá, olhando para ele. O anão parecia estar inspecionando melhor o lugar, agora iluminado pela luz do sol que vinha de fora.

Por um momento constrangedor, os amigos apenas se encararam. Até que Gimli quebrou o silêncio:

— Eu devo me preocupar?

Legolas ergueu as sobrancelhas, sem entender:

— O quê?

— Quero dizer... Você não a matou, não é?

O elfo sentiu o rosto começando a esquentar imediatamente.

— Sabe, eu não tinha notado ontem... Como estas cavernas fazem eco, não?

— Gimli... — Legolas se encolheu, constrangido.

— Imagine só como seria se alguém gritasse aqui dentro...

— Gimli!

— Bom dia! — Uma voz ronronou na escuridão. O sangue de Legolas pareceu congelar nas veias por um momento.

Os dois olharam enquanto Madlyn aparecia à porta com um sorriso torto estampado no rosto. Legolas sentiu-se corando mais do que nunca na vida e olhou desesperado do anão para ela. Gimli ergueu uma sobrancelha, olhando-a de alto a baixo, e depois de volta para o amigo.

— Minha nossa! Como está claro! — Ela piscou, os olhos incomodados pela luz do sol. — Eu acho que dormimos demais... — Ela deu uma piscadela para Legolas.

Ele começou a suar frio e pensou rápido:

— E-Então... Que coisa, n-não é? E-Eu... Eu vou sair para caçar!

Antes que alguém tivesse a chance de dizer qualquer coisa, ele disparou porta afora e desapareceu na floresta. Madlyn riu de leve.

Gimli olhou para ela, como se ainda tentasse verificar se ela estava inteira. Ela sorriu travessamente para ele e cruzou os braços, apoiando o queixo na palma da mão, e suspirou teatralmente:

— Nossa, Gimli... — Ela olhava para fora, para o ponto em que Legolas tinha desaparecido. — Olha, eu vou te contar, seu amigo é tão... — A voz dela era macia como veludo.

— EU NÃO QUERO SABER! — O anão a interrompeu, em desespero. Ele tapou os ouvidos com as duas mãos e apressou-se em direção ao interior da caverna, mesmo que não fizesse ideia de aonde estava indo. — Eu não quero saber, eu não quero saber, eu não quero saber... — Ele repetia, enquanto meio andava, meio corria.

Madlyn riu alto, o coração ainda palpitando no peito com as lembranças da noite anteior.

~~ ♣ ~~

Quando Legolas retornou, trazia apenas uma lebre nas mãos, embora estivesse completamente sujo, com os cabelos bagunçados e as vestes em desalinho. Era óbvio que a caçada tinha exigido tudo dele. Quando Madlyn o viu, se levantou e correu em direção a ele. Ele tentou se afastar, mas antes que se desse conta, ela estava com as mãos em volta de seu pescoço, rindo:

— O que aconteceu com você, amorzinho? — Ela aproximou o rosto do dele, fechando os olhos e encostando o nariz ao dele. Legolas congelou no mesmo lugar, olhando para ela em desespero. — Por que demorou tanto? — Ela não esperou por uma resposta e o beijou.

Ele não a afastou, mas também não retribuiu o beijo. Ela se afastou para olhar para ele, tirando as mãos de seu pescoço. As sobrancelhas dela se uniram em confusão:

— O que foi?

— Foi só isso que você pegou? — Gimli, completamente indiferente, se aproximou para pegar a lebre ensanguentada que Legolas segurava. A flecha ainda estava atravessada na perna do animal.

O elfo olhou nos olhos de Madlyn apenas por mais dois segundos, depois desviou o rosto para olhar para o anão, ignorando-a completamente. Ela preferiria que ele tivesse lhe dado um tapa:

— Legolas? — Ela chamou.

— O que diabos houve com você? — O anão perguntou.

— Desculpe. — Legolas falou, por fim. — Acho que estou num dia ruim.

Madlyn arregalou os olhos, sentindo as lágrimas subindo por sua garganta. Sem dizer uma palavra, ela deu as costas para os dois e se afastou em direção ao interior da caverna. Gimli se sobressaltou com as pisadas fortes dela:

— Mas o quê...?

Legolas não respondeu, nem olhou na direção em que ela tinha ido.

~~ ♣ ~~

Legolas e Gimli já haviam terminado de comer há algum tempo quando finalmente ouviram passos vindo em sua direção. Apenas o anão olhou quando a elfa apareceu, o rosto plenamente composto, sem expressão alguma. Ela parou à porta e ficou encarando Legolas até que ele erguesse a cabeça e olhasse para ela. Ele engoliu em seco:

— Você... — A voz dele mal saiu. Ele pigarreou. — Você está com fome?

— Não. — O tom dela foi ácido.

Eles se olharam intensamente por um momento constrangedor, até que Legolas se deu por vencido e rompeu o contato visual. Gimli olhava de um para outro, sem saber o que fazer. Ele não estava entendendo nada. Finalmente, uma ideia lhe ocorreu:

— Ahnm... Então, elfa, você não ia nos levar para conhecer melhor as cavernas hoje?

Ela olhou para ele:

— É por isso que eu estou aqui. Vamos, não temos o dia todo. As cavernas são grandes. E acho que nós precisamos partir novamente amanhã, não é?

Gimli se pôs de pé imediatamente, andando em direção a ela. Ele parou quando percebeu que Legolas não o seguia e olhou para ele por sobre o ombro:

— Legolas?

Legolas olhou para ele, abraçando os joelhos. Parecia desconfortável.

— Eu não vou. Estou um pouco cansado da caçada. Prefiro ficar aqui. — Ele disse tudo isso num tom melancólico que alarmou o anão. Gimli se virou, dando meia-volta como se fosse voltar até ele. — Pode ir, Gimli. — Ele acrescentou rapidamente. — Eu vou ficar bem aqui.

Gimli continuou onde estava, olhando para o amigo em dúvida.

— Vamos, Gimli! — Madlyn disse, num tom ríspido. A voz dela, geralmente tão suave, parecia cortar o ar. — Deixe-o.

Legolas assentiu. Gimli se virou bem lentamente, parecendo ainda indeciso. Então Madlyn começou a se afastar a passos rápidos, e ele se apressou em segui-la.

O elfo suspirou profundamente, escondendo a cabeça nos joelhos. Ele não sabia o que pensar. Nunca estivera tão confuso na vida. Mas algo estava errado ali, ele tinha certeza. Ele jogou a cabeça para trás, mantendo os olhos fechados e respirou fundo. Depois, abrindo os olhos, encarou o teto.

Durante todo aquele tempo, Legolas tinha estado sozinho. Não motivado por algum tipo de restrição autoimposta, nem nada do gênero, como algumas pessoas pareciam pensar. Ele simplesmente nunca havia se interessado por ninguém. Nunca, desde que...

Ele abaixou a cabeça, tentando escapar do pensamento. Não importava a razão. O fato é que ele estava bem sozinho. Não se sentia incompleto, como costumava ouvir os homens de Gondor reclamando às vezes, em seus momentos dramáticos regados a cerveja. Ele estava bem.

Não foram poucas as vezes, também, que mulheres e elfas se insinuaram para ele. Mas Legolas sempre tratou de dispensá-las com a maior delicadeza possível, tratando-as conforme as regras do cavalheirismo. Porque ele se sentiria desprezível, escória da pior espécie se se envolvesse com elas sem ter por elas sentimentos nobres e direitos.

Como tinha feito com Madlyn.

Ele correu os dedos pelos cabelos nervosamente. Aquilo estava errado, muito errado. Ele não sabia o que havia acontecido. Ele havia se deixado levar completamente pelo desejo. Mas por que ela? Por que, depois de tantas outras terem tentado, por que ela conseguiu arrastá-lo daquela forma?

Ele estendeu a mão para pegar seu arco e começou a limpá-lo distraidamente com um velho trapo que sempre carregava para esse fim. Então, sem ser evocada, uma lembrança o invadiu. Uma memória muito distante, que ele nem sabia que ainda existia nele...

~~ ♣ ~~

Syndel riu levemente quando Legolas fingiu não notar as elfas que acenavam desesperadamente para ele, do outro lado do rio. Os braços delas estavam carregados de flores silvestres. Estavam ocupadas com os preparativos para o dia de Achernar*.

— Suas fãs estavam te cumprimentando.

O filho olhou para trás, depois de volta para frente. Ele acelerou o passo, quase imperceptivelmente.

— Eu nem percebi.

Syndel sorriu. Orgulhoso igualzinho ao pai...

— Sabe, Legolas?

— Hnm?

— Pensando agora, você tem mais ou menos a mesma idade que seu pai tinha quando nós começamos a namorar.

Legolas fez uma careta e evitou olhar para a mãe.

— Mamãe...

Os dois chegaram à clareira em que costumavam treinar. A verdade é que aqueles treinamentos não eram mais necessários, porque Syndel não tinha mais muito a ensinar para o filho. Mesmo assim, ela gostava de treinar com ele e vice-versa. Então eles continuavam.

Ela segurou o braço dele. Ele olhou para ela, erguendo uma sobrancelha. Lembrava tanto Thranduil que ela teve que se esforçar para conter um sorriso.

— É sério, Legolas. Acho que está na hora de nós termos “a conversa”.

Legolas sentiu-se começando a corar e puxou o braço. Decidindo fingir que não havia entendido o que ela queria dizer, ele puxou o arco das costas, retesando a corda como que para testá-lo:

— Que conversa?

Syndel, é claro, notou que ele estava tentando mudar de assunto. Ela abriu sua melhor versão do sorriso de Thranduil:

— Quer saber de onde você veio?

Legolas sentiu o rosto ardendo ainda mais e se atrapalhou, disparando a flecha sem querer. Ela voou a vários metros de distância, desaparecendo nas árvores. Bem longe do alvo. O elfo nem se importou, estendendo a mão desesperadamente para impedir a mãe de continuar:

— Não!

Syndel riu alto.

— Q-Quero dizer, e-eu já... E-Eu não... Eu n-não acho que... — Ele se complicou, tentando explicar. A mãe continuava rindo, deixando-o nervoso. — Mamãe!

Ela se esforçou para conter o riso, mordendo o lábio. Legolas tinha 32 anos agora, já não era mais uma criança, mas continuava tão puro e inocente quanto. Ela achava que mesmo que tivesse mil anos, ele continuaria o mesmo. E se orgulhava disso. Legolas era muito decente, muito honrado. Um cavalheiro. Exatamente como o pai dele, mesmo que Thranduil tenha levado anos para aprender o que Legolas pareceu nascer sabendo.

Syndel se aproximou do filho e, dando a volta nele, começou a arrumar sua trança, mesmo que nem houvesse o que arrumar ali. Ela sorriu:

— Você é um ótimo rapaz, Legolas.

— Mamãe... — Ele estava desesperado para se libertar daquela conversa constrangedora.

— De verdade! Muito melhor que o seu pai era, na sua idade. — O sorriso dela se alargou com as lembranças. — Você será um namorado incrível para alguma sortuda, um dia.

— Mamãe, é sério...

Syndel o fez virar para ficar de frente para ela e olhou profundamente nos olhos do filho, que tinham um tom azul profundo exatamente como os do pai, em contraste com os dela própria, que eram prateados como a lua. Ela pousou a mão no rosto dele.

— Eu não estou tentando te constranger, Legolas.

Ele engoliu em seco:

— Nesse caso, por favor, não tente.

Syndel riu, e o filho a imitou, sem graça.

— Eu só queria te falar... Sobre como é. Encontrar o amor da sua vida.

Ele ergueu uma sobrancelha para ela:

— Você já me contou milhares de vezes sobre como foi com você e o meu pai.

— E quem disse que ele é o amor da minha vida?

Ela riu levemente quando as sobrancelhas do filho se ergueram em espanto e se sentou na grama seca. Demoraria algum tempo ainda até que os raios solares se tornassem quentes o bastante para que as plantas se reanimassem. Legolas a olhou por um momento e ela revirou os olhos, gesticulando para que ele se sentasse com ela. Ele obedeceu contrariado, percebendo que ela não ia treinar com ele enquanto não se desse por satisfeita com aquela conversa.

— Ele é. — Syndel sorriu.

— Eu sei. — Legolas não pôde evitar sorrir de volta. — Eu vejo vocês. Ele muda completamente quando está com você.

Syndel assentiu.

— O amor faz essas coisas. — Ela observou o filho por um momento. Uma brisa gelada balançava os cabelos dele. Sem mais nem menos, ela se aproximou e lhe deu um beijo no rosto. Quando ele olhou para ela, seus olhos sorriam. — Legolas, não me diga que você não sente o menor interesse por nenhuma daquelas elfas lá atrás... A menos é claro que você prefira, ahnm... Outro tipo de elfo. — Ela enfatizou o masculino. — O que por mim estará perfeitamente bem, mas acho que seu pai não...

— Mamãe! — Syndel riu da expressão no rosto do filho. Ele balançou a cabeça levemente, contrariado pela mãe ter sequer pensado naquela hipótese, e voltou a cabeça na direção da floresta: — Algumas delas são mesmo muito bonitas. — Disse, num tom baixo e desinteressado.

— Mas...?

Ele suspirou, passando a mão pelos cabelos.

— Mas eu não acho que eu sinta nada... “Especial” por qualquer uma delas. — Ele franziu a sobrancelha. — Não como você e o pap... E meu senhor Thranduil.

Syndel assentiu.

— Talvez se você tentasse conversar com algumas delas? Eu não vejo você, ahnm... Socializando muito.

Legolas deu de ombros:

— Você sempre me disse que se sentia atraída pelo meu pai mesmo antes de ter falado com ele.

— “Atraída” não é bem o termo, eu acho. Eu morria de vontade de socar ele.

Legolas riu. Syndel nunca se cansaria daquele som. De novo, tão puro e inocente...

— Bom... Eu não tenho vontade de socar ninguém.

— Nem de beijar?

O filho abriu um de seus sorrisos tortos para a mãe. Depois, sem mais nem menos, sem dar a ela a chance de reagir, ele se atirou sobre ela, enchendo suas bochechas e sua testa de beijinhos. Syndel riu e o afastou, dando-lhe um tapa de leve no braço. Ele riu também. Ela o puxou e lhe deu um beijo na testa.

— Não foi o que eu quis dizer.

Ele sorriu para ela de novo, desta vez um sorriso tímido, e se deitou na grama, pousando a cabeça no colo dela. Parecia um animalzinho. Syndel começou a fazer carinho nos cabelos dele e ele fechou os olhos, suspirando.

— Você está sempre muito sozinho, Legolas... Eu me preocupo com você.

— Mas não precisa se preocupar. Eu estou bem. — Ele abriu os olhos para olhar para ela.

Ela contemplou o rosto dele. Ainda era exatamente o mesmo de quando ele era criança. Seus olhos ainda tinham o mesmo brilho de antes. Nada parecia ser capaz de mudar o coração dele. Para o bem ou para o mal. Ela sorriu:

— Quando eu olho nos seus olhos... — Ela passou a mão pela testa dele. — Eu sei que o seu coração ainda vai amar muito um dia, Legolas.

Legolas olhou para o outro lado, virando levemente a cabeça no colo dela. Ela passou as pontas dos dedos pela orelha dele, e ele sorriu, sentindo cócegas.

— Muito... — Ela continuou. — Mas eu espero que elas não machuquem você.

Ele olhou para ela pelo canto do olho, sem entender:

— Me machucar?

— É. Você é muito inocente, Legolas.

O filho bufou, ofendido e se levantou, ficando sentado em frente a ela. Ele fechou a cara para ela:

— Você acha que eu sou ingênuo? — Ele pareceu tentar falar na voz mais grave que conseguiu. Parecia querer enfatizar que já não era mais criança, como se o fato pudesse ter passado despercebido da mãe.

— Eu disse “inocente”, não “ingênuo”. E isso é bom, Legolas! — Ela estendeu a mão para acariciar o rosto dele. — Como eu disse, você ainda vai amar muito profundamente na sua vida. E também vai me fazer muito orgulhosa. — Ela sorriu. — Você com certeza será um ótimo amante. Decente. Honrado. O fato de você não se envolver com aquelas garotas lá só demonstra isso.

A raiva no rosto de Legolas se diluiu. A mãe se levantou.

— Sim, disso eu me orgulho. Você é um príncipe muito decente. Bem diferente de uns e outros. — Ela piscou para ele, fazendo-o sorrir ao se lembrar do que a mãe lhe contou sobre como Thranduil era quando tinha a idade dele. — Mas, como eu disse, você é inocente... O que me preocupa, porque pode ser que, sendo seu coração tão bom e tão aberto, você talvez pense se apaixonar várias vezes ao longo da vida... E é até possível que se apaixone. Mas existe uma diferença muito grande entre se apaixonar e amar, Legolas.

Ele franziu as sobrancelhas, erguendo-se também:

— Existe?

Syndel sorriu. Inocente.

— Existe. Estar apaixonado vai fazer você pensar apenas naquela pessoa por vários dias, vai lhe causar arrepios quando ela passar por você, vai fazer você procurá-la a todo instante e vê-la em todo lugar mesmo quando ela não estiver lá.

A expressão de Legolas se decompôs em um olhar assustado. Syndel tinha vontade de abraçar seu menino, mas se conteve.

— Em resumo, estar apaixonado tem a ver com desejo. Pode acontecer com qualquer pessoa que tenha algo que lhe atraia. Qualquer característica. Um sorriso. Um olhar. Um jeito de jogar o cabelo.

O filho nem piscava enquanto ela falava. Syndel lhe deu as costas, olhando para as árvores. Aquela parte da floresta lhe trazia lembranças. Fora ali que Thranduil a convidara para ir ao Baile da Estrela pela primeira vez. Fora ali que ele se desculpara pelo que aconteceu com a amiga dela durante aquela batalha sobre o comando dele. Fora ali que o coração dela começou a mudar.

— E amar... — Ela franziu as sobrancelhas. — Amar é bem difícil de definir.

Legolas esperou, mas ela não disse mais nada.

— Mas como eu vou saber a diferença?

Syndel se virou e sorriu para o filho.

— Você vai saber. No seu coração.

— E se meu coração se enganar? — Ele agora se sentia angustiado. — E se eu nunca...

— Shh... — Syndel o abraçou. — Você vai saber quando a encontrar. A mulher certa.

Legolas a afastou para olhar para ela. Suas sobrancelhas estavam unidas em confusão e angústia. Syndel o puxou e ficou na ponta dos pés para lhe dar um beijo na testa. Depois, ela puxou o arco das costas, já preparando uma flecha.

— Mas chega de conversa! — Ela disse, apontando uma flecha para ele. — Ou ela é que não vai te querer! Afinal, quem quer um namorado que não sabe o que fazer com sua flecha? — Ela sorriu travessamente. — Com o perdão do trocadilho.

Legolas ficou mais confuso ainda, franzindo a testa:

— Que trocadilho?

Syndel riu alto.

— Tão inocente... — Ela se virou, já começando a atirar.

Legolas apenas balançou a cabeça para recuperar o foco e tratou de se posicionar ao lado dela.

~~ ♣ ~~

De volta ao presente, as palavras de Syndel se misturavam às de Lady Arwen em sua mente: “Você com certeza será um ótimo amante. Decente. Honrado.” “Você foi feito para viver exatamente o mesmo tipo de amor.” “Eu tenho medo de que você se torne amargo, Legolas, se não conhecer esse sentimento.” “Você vai saber quando a encontrar. A mulher certa.

Ele pôs as duas mãos na cabeça, tentando conter a onda de pensamentos. Sabia que elfos não tinham dor de cabeça, mas quase podia sentir uma chegando. Tentou respirar fundo. Quando olhou para fora, viu que a luz do sol já estava quase desaparecendo. E Madlyn e Gimli não haviam retornado, mas isso não o preocupou. Menegroth era imensa.

Ele se deitou de costas, olhando para o teto da caverna. Várias luzes azuis cintilavam ali, mas não era um brilho que incomodava os olhos. Ele tentou focalizar seus pensamentos e pela primeira vez em anos se permitiu revisitar as memórias que havia tentado reprimir por tanto tempo. Tauriel... Ele tinha certeza de que a amava. Profundamente, como sua mãe dissera. Ele sorriu ao se lembrar de como costumava se sentir ao lado dela. Do frio na barriga, da imensa felicidade que brotava em seu interior só de pegá-la olhando para ele, do arrepio de desejo cada vez que ela passava por ele e seu braço roçava o tecido de suas vestes. Lembrou-se das noites em claro pensando nela. Pensando inclusive em fazer com ela justamente o que havia feito com outra elfa na noite anterior. Mas então a dor o atingiu ao se lembrar do momento em que Tauriel escolheu o anão e o traiu. Porque foi assim que ele se sentiu: traído.

Ele fechou os olhos, tentando lidar com a dor, pungente mesmo agora, tanto tempo depois. Uma dor tão forte que praticamente o expulsou de Greenwood, porque ele não toleraria vê-la mais. Se isso não fosse amor, ele não sabia o que era. Sim, ele tinha certeza de que amara Tauriel e de que ainda a amava mesmo agora, e com a mesma intensidade.

Contraditoriamente, porém, tudo o que ele desejava naquele momento era ter Madlyn em seus braços. A pedra estava tão fria em suas costas...

~~ ♣ ~~

Quando Madlyn e Gimli retornaram, encontraram Legolas adormecido. Ele não havia acendido uma fogueira e estava encolhido em posição fetal, parecendo sentir muito frio. A elfa já quase não sentia mais raiva dele e vê-lo assim derreteu qualquer vestígio desse sentimento em seu coração. Ela ficou parada olhando para ele com carinho, enquanto Gimli se apressou em empilhar lenha para o fogo.

Ela tinha passado o dia inteiro pensando no que tinha acontecido, tentando interpretar as reações de Legolas. Por fim, chegou a uma conclusão confortadora. Legolas estava embaraçado, e o motivo era óbvio. Ele era jovem. E, pelo que ela sabia, nunca havia estado com uma mulher... Principalmente, não daquele jeito. Ele devia estar tímido. Com medo. Assustado com a força do próprio desejo. Madlyn sorriu de leve, observando-o. Ela precisaria ser paciente com ele. Eles poderiam aprender juntos, se era esse o problema.

Legolas tremeu levemente. Madlyn se aproximou, ajoelhando-se ao lado dele. Ela o observou por mais um momento. Ele era tão belo... E, quando dormia profundamente assim, podia-se ver em seu rosto como seu coração era puro. Madlyn havia brincado sobre pensar nele como uma criança. Mas talvez houvesse mesmo uma parte dele que ainda fosse uma.

Ela se deitou atrás dele e passou um braço por sua cintura, aconchegando-se a ele. Isso manteria a ambos aquecidos, mesmo sem a ajuda da fogueira que Gimli se apressava em acender. Ela plantou um beijo entre as omoplatas dele, e roçou o rosto contra suas vestes, feliz. Legolas reagiu movendo-se levemente e suspirando baixinho. Madlyn sorriu.

Então Legolas soltou um murmúrio baixo, vindo de algum lugar de seu sonho. Baixo, mas ainda inteligível:

— Tauriel...

Gimli ergueu a cabeça dos gravetos que esfregava e olhou para Madlyn. Inicialmente, ela não esboçou reação, ficando completamente imóvel. Depois, lentamente e sem nenhuma emoção visível no rosto, ela soltou Legolas, se levantou e andou para longe dele, para o outro lado do ambiente. Ela se deitou ali mesmo, com o rosto voltado para a parede, de costas para tudo. Gimli percebeu que, ficando ali, ela estaria muito longe da fogueira. Provavelmente passaria frio. Mesmo assim, o anão não disse nada. Ele tornou a esfregar os gravetos e finalmente conseguiu uma faísca, que logo se transformou em chamas fortes e consistentes. Depois, ele se deitou perto do fogo, do lado oposto em relação a Legolas, e tratou de dormir tão rápido quanto pôde.

O anão não viu nem ouviu nada enquanto Madlyn chorava.


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Notas finais do capítulo

* Achernar é o nome de uma estrela. Essa festividade foi inventada por mim em “A Razão do Rei”.


Tá, estou ansiosa para ver as reações... E preocupada! Espero que não me odeiem, não odeiem o Legolas... Provavelmente odeiam a Tauriel mais que nunca na vida. Só... Sejam pacientes, sim? Fiquei com medo depois do entusiasmo nos comentários do último capítulo. Não esperava de jeito nenhum a reação de vocês, haha! Sempre me surpreendendo da melhor forma possível!
Enfim, só queria "defender" o pobre Legolas. Madlyn o entende muito bem.

Xoxo