Sombras do Passado escrita por Zusaky


Capítulo 14
XlV


Notas iniciais do capítulo

Sim, gente, sim! Terão 15 capítulos mesmo, ou o negócio iria ficar mais corrido do que já ficou, hahah. Esse daqui teve pouca ação e... os pensamentos do Ethan foram ocultados de propósito, sinto em dizer.

Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/636476/chapter/14

Após empurrar Aaron do alto da torre do museu e confirmar que ele estava realmente morto – a poça de sangue no chão deixava claro isso –, Eileen quis correr novamente para onde Ethan e Joshua estavam. A espada que segurava ainda estava manchada de vermelho. Tudo o que a assassina fez foi limpar o sangue na própria roupa e colocar a arma no mesmo lugar onde a tinha achado.

O ferimento em sua cabeça ardia ainda mais que antes. Ela não se demorou muito mais na sala e foi em busca de seus outros dois companheiros. Não fazia nem ideia do que falaria para Ethan quando finalmente o visse. Sabia que ele nunca mais a olharia da mesma maneira – talvez nem mesmo a quisesse olhar novamente.

Passou novamente pelos corredores com a pressa que tinha tido antes, enquanto perseguia Aaron. Viu os sapatos que havia tirado, mas não parou para pegá-los de volta, sabia que teria que continuar a correr por mais algum tempo.

Assim que virou o corredor, por pouco ela não esbarrou em Ethan, que assustou-se ao vê-la. Ele parecia ter conseguido ajudar Joshua, uma vez que o ombro já não mais sangrava, embora o cientista mantivesse uma expressão dolorida no rosto magro.

Os olhos escuros dele passearam por todo o corpo dela, observando o ferimento na cabeça e as roupas com sangue. Ele tinha uma feição mais séria do que assustada.

— Precisamos sair daqui. — Ele tirou as palavras da boca dela.

Eles percorreram o mesmo caminho que tinham feito para entrar. Eileen agradeceu internamente pelo fato de o guarda dos fundos ainda estar apagado, dando a eles livre passagem. A assassina sentia o coração acelerar mais e mais à medida que iam se aproximando da saída. O rosto de Ethan simplesmente não denunciava o que ele estava pensando naquele momento, o que a deixava extremamente frustrada.

Quando já conseguiam ver a luz do sol, apressaram os passos. A luz do sol, embora fraca, já banhava a pele dos três. Eles notaram uma movimentação grande na lateral do prédio. Eileen já sabia do que se tratava, então não cessou os passos em momento algum. Ela viu que Joshua a observava e o olhou de volta, trocando olhares confidentes.

Ele sabe o que eu fiz.

Ela não se preocupava com em deixar o cientista saber daquilo. Ele já estava ciente do que ela era capaz; de modo que o problema maior estava em Ethan.

A carruagem tinha sido levada para um ponto mais afastado daquela parte, em um local mais calmo, embora os gritos de quem rodeava o museu pudessem ser ouvidos.

— Se me permite perguntar, senhor, o que houve por lá? — indagou o condutor assim que viu o seu senhor.

— Sinto que não poderei dizer com precisão —disse Ethan, com uma calma que espantou os outros dois que já estavam dentro da carruagem. — Passamos por outra rua justamente para evitar o tumulto.

— Entendo.

Eileen não sabia se Ethan mentia com frequência ou se havia pegado aquela mania dela.

. . .

Eileen achou que encontraria alguma paz ao entrar na carruagem. Tentaria a todo custo evitar cruzar olhares com Ethan, por mais difícil que fosse tal coisa. Suas intenções não puderam ser concretizadas quando ela notou seu queixo ser segurado por ele de modo a fazê-la virar o rosto para ele.

— O que está fazendo? — ela perguntou, assustando-se com o repentino movimento, mas não lutou para se livrar da mão de Ethan.

Ele segurava de modo delicado, como se ela fosse quebrar, enquanto seus olhos perscrutavam todo o rosto dela. Eileen não pôde impedir sua pele de enrubescer com aquele gesto dele. Gostou daquele toque e do modo preocupado como ele a olhou; sequer se lembrava de quando haviam a olhado de tal maneira.

— Ele te machucou?

Ela só notou a pergunta dele segundos depois de ele tê-la feito. Ela suspirou profundamente antes de conseguir responder.

— Não. Quer dizer, isso aqui não foi nada. — E tentou limpar os resquícios de sangue da lateral da cabeça. — Eu consegui me defender.

Ethan franziu o cenho e lentamente soltou o queixo de Eileen.

— Eu não deveria ter te deixado ir atrás dele. — Ele passou a mãos nos cabelos de maneira nervosa. Eileen nada respondeu, então ele continuou a falar, mas sem olhá-la dessa vez. — E o Aaron? Ele...

— Ele encontrou o próprio fim. — Eileen queria falar a verdade, mas tinha algo que a impedia. Não queria mentir para Ethan, mas a opção de contar a verdade também não lhe era muito atraente. Seus pensamentos estavam mais bagunçados do que nunca. — Tivemos uma luta com as espadas das armaduras e... — Ela sabia que deveria estar se mostrando mais abalada, mas não conseguiria fingir aquilo. — Eu acabei o empurrando.

Assim que terminou de falar, seus olhos procuraram os dele, mas tudo o que ele olhava era a movimentação do lado de fora. Faltavam ainda alguns poucos minutos para que eles chegassem na casa dos Caulfield.

A assassina estava extremamente ansiosa para saber que reação Ethan teria. Ela praticamente havia confessado que matara seu ex-melhor amigo de maneira brutal. Poderia ter mentido, mas tinha certeza de que ele acabaria descobrindo a verdade. Eileen, então, pensou melhor. Ela já estava com a bateria; não demoraria muito mais tempo ali, não tendo necessidade de ter mentido.

Ah, quem se importa?

Lembrando-se do motivo que tinha a levado para aquele caminho, ela pôs-se a remexer um pouco no bolso e, de lá, tirou a bateria. Observando-a melhor, notou que tinha aproximadamente o tamanho de uma mini garrafa de água e era fina, com alguns discos um sobre o outro do início ao fim.

— Essa é a bateria? — indagou Joshua, que tinha estado quieto até o momento, surpreso por ela ter conseguido recuperá-la.

Quando Joshua tocou no objeto ainda nas mãos da moça, ele começou a emitir uma luz branca que foi aumentando aos poucos. Eileen e Joshua não conseguiram desviar os olhos da bateria, que parecia tê-los enfeitiçado.

Ethan também observava a cena, abismado com o que se passava ali. Eram muitos acontecimentos para um dia só. Sua mente não conseguia parar de trabalhar por nenhum momento.

— É a mesma luz que eu vi no seu corpo — ele comentou, vendo os dois o olharem de maneira curiosa. — Quando você apareceu aqui, eu digo.

O cientista retirou a mão da bateria, vendo nos segundos seguintes o brilho começar a enfraquecer. Ao encostar novamente, a luz voltou a ficar mais forte.

— Talvez os pósitrons que estão aí dentro estejam reagindo à nossa energia — arriscou o cientista.

Joshua começou a sussurrar palavras que Eileen não conseguia entender, mas ela julgou que ele somente estivesse tentando encaixar as coisas na própria cabeça e aquele, por mais estranho que fosse, era seu modo de conseguir pensar.

Ela quis sorrir, achando graça daquela mania dele, mas foi então que seus olhos encontraram com os de Ethan e ela sentiu todo o seu corpo ficar gelado subitamente. Felizmente, para Eileen, a carruagem havia finalmente chegado ao destino final.

. . .

Tudo o que Eileen fez ao chegar foi ir para o quarto que estava ficando desde o início; o cientista podia cuidar da bateria sozinho. Sentia o corpo inteiro cansado e doendo, como se tivesse corrido uma maratona. Jogou-se de qualquer jeito na cama e fechou os olhos, inalando o ar. Logo sentiu o cheiro da comida e só então lembrou-se de que deveria estar na hora do almoço. A vontade de comer, porém, não existia.

Preciso de um banho.

Ela ouviu a porta ser aberta, mas não achou forças para sequer abrir os olhos. Tinha quase certeza de que se tratava da Sra. Bradley e já se preparou para escutar alguma bronca ou algo do tipo. Contudo, mudou de opinião assim que sentiu alguém sentando-se logo ao seu lado na cama.

— Sabia que você não limparia isso.

Eileen se sobressaltou ao escutar a voz de Ethan, que ao seu lado, tão próxima. Abriu os olhos, mas continuou na mesma posição. Notou que ele a olhava fixamente, que nem quando estavam na carruagem.

Logo em seguida viu ele levar um pano úmido para sua testa, tirando os cabelos escuros do caminho e passando a limpar o ferimento. Ela ainda sentia certa dor no local, mas não era algo tão forte que a fizesse gemer.

— Não precisa fazer isso — comentou ela, ainda deitada.

— Eu sei. — Ethan não mais a olhava nos olhos; estava concentrado na ferida. — Mas eu quero.

Eileen não respondeu, apenas deixou que ele terminasse o serviço. Ao mesmo tempo em que apreciava tal gesto, também desgostava. Uma vez que agora já estava com tudo pronto para deixar aquele lugar, não seria nada bom se apegar ainda mais a Ethan.

A possibilidade de chamar Ethan para aquela possível viagem já tinha passado pela sua cabeça, mas ela logo desconsiderou a ideia. O que haveria no futuro para ele, afinal? No século dezenove ele possuía casa, empregados, dinheiro e certo status, coisa que muitos homens da sua época lutavam para ter.

Ela lembrou-se de que eles ainda tinham um assunto pendente.

— Desculpe — ela pediu. Não sabia exatamente pelo o que estava se desculpando, mas logicamente não era por tirar a vida de um assassino. Talvez, ela considerou, ainda precisasse dizer o que ele gostaria de ouvir.

— Pelo o quê?

— Por ter... Ah, você sabe. — Eileen notou que ele tinha parado de limpar e julgou que já tivesse terminado. Ela, então, sentou-se na cama, ficando quase que na mesma altura que Ethan. — Por como tudo acabou com ele.

Ethan suspirou, observando o pano agora já levemente sujo de sangue.

— Não quero pensar nisso por agora — desabafou ele, também com a voz cansada. — Aaron fez coisas terríveis. Tirou a vida da própria irmã por nada... — Ele franziu o cenho ao lembrar-se da cena. Provavelmente seria manchete de algum outro jornal. — E você não teve culpa, apenas agiu em legítima defesa.

As palavras de Ethan caíram sobre Eileen com um peso enorme. Ela não soube se ele realmente tinha aquela opinião ou se apenas estava aliviando a culpa que ela deveria estar sentindo. Naquele momento, ela quis abraçá-lo e ficar apenas naquilo por alguns momentos, mas não encontrou coragem suficiente para fazê-lo.

— Irei te deixar fazer suas coisas, Srta. Hawkins. — Eileen viu Ethan levantar-se, mas não imitou sua ação.

Ela apenas assentiu com a cabeça e o assistiu deixar o quarto.

. . .

Naquele dia, Eileen deixou o quarto apenas quando já estava prestes a anoitecer. Todas as refeições foram feitas em tal recinto, na companhia da solidão. Quando perguntou por Ethan e Joshua aos empregados, eles a tinham levado até o escritório do dono da casa. Ao entrar no lugar, ela surpreendeu-se com a bagunça de papéis que havia ali.

Os dois haviam notado sua presença, mas quem falou primeiro foi o cientista, animado.

— Há uma maneira! — ele disse, com um sorriso no rosto e balançando uma folha em uma das mãos. — Temos realmente uma chance de voltarmos.

A assassina sequer conseguia pensar de que modo ele faria para levá-los ao futuro. Ele mostrou um desenho do que parecia ser uma máquina com o formato de um cilindro e dois discos cortando esse corpo verticalmente. A ponta era menos proeminente que o resto do objeto. Em sua mente, ela julgou ser mais uma coisa inventada pelo cientista.

— Isso vai nos levar para casa? — ela indagou, irônica.

— Sim, irá — ele respondeu, sem notar a ironia na fala dela. — O Sr. Caulfield me contou sobre uma pesquisa que Nikola Tesla estava fazendo, mas que tinha deixado de lado por um tempo. Logo imaginei que podia se tratar da Bobina de Tesla.

Eileen não fazia a mínima ideia do que se tratava aquilo.

— Vou criar uma máquina que funciona através de energia eletromagnética para que uma bobina possa girar. Vou conectar a bateria que conseguimos nessa turbina, isso dará força suficiente para a bobina girar. — Ele se aproximou mais dela, fazendo uma pausa. — Isso irá fazer a energia se direcionar para um ponto.

— No caso, nós dois? — ela arriscou, vendo o homem confirmar. Não duvidava que ele era uma pessoa estudada, já que estava trabalhando em um acelerador de partículas antes, mas aquela ideia parecia absurda demais. — Isso quer dizer que vamos tomar outro choque?

— Se quiser encarar como isso...

Foi uma resposta vaga, mas Eileen não questionou mais, então tudo o que Joshua fez foi voltar para a mesa de trabalho. Ethan também rabiscava algumas folhas, mas ela não se atreveu a ir até ele.

Após sair da sala, Eileen fez algo que nem mesmo ela acreditou. Havia procurado por Louisa e passou o resto da noite a ouvir os casos que ela contava de Cambridge, sobre o tipo de pessoa que estava acostumada a ver e os problemas do lugar. Não era uma pessoa de má índole, afinal, apenas gostava de ter alguém para poder conversar. Pudera, o irmão passava mais tempo na cidade do que em casa, além de ser pouco conversador.

Eileen passou os próximos dias sem nada para fazer. Não possuía paciência para lidar com os assuntos de física, de modo que restava-lhe apenas ler livros, fazer exercícios e passar o tempo na companhia da irmã de Ethan.

— Creio eu que ele tenha ficado ainda mais quieto após a morte do Sr. Lawrence — disse Louisa um dia, quando as duas tinham saído da casa para ir a uma loja. — Oh, até quando você pretende ficar conosco?

— Estarei indo embora nos próximos dias — Eileen respondeu, sem muita certeza do que dizia. Sempre que perguntava ao cientista como estava o processo de construção da máquina, ele dizia que estavam mais perto do que esperavam.

— É uma pena, preciso dizer, que você tenha que ir. Meu irmão parece apreciar muito sua companhia. Estarei retornando para Cambridge no próximo dia, então ele logo voltará a ficar solitário.

Eileen não duvidava das palavras dela.

. . .

Haviam se passado três dias após a ida de Louisa para Cambridge e Eileen não sabia mais o que fazer para passar o tempo. Ethan, ao seu ver, não tocava mais em assuntos relacionados ao falecido amigo. Ele trocava o curativo da testa dela sempre que podia, por mais que ela respondesse que não precisava daquilo.

— Se eu não trocasse, você ainda estaria com o mesmo curativo do primeiro dia — ele disse numa noite, logo antes que eles fossem dormir.

— Como você consegue afirmar isso com toda a certeza?

— Eu conheço bem sua teimosia. — Ethan não estava mentindo e ela sabia disso. — Não quis nem ao menos receber o médico aqui.

Eileen soltou uma risada abafada, lembrando-se de todos os argumentos que tivera que usar nos dias que se seguiram após o incidente.

— Você vai sentir minha falta quando eu me for, não vai? — Ela fechou os olhos, apreciando o toque dele em sua pele enquanto colocava um novo curativo. Havia se habituado a receber aquele gesto todas as noites.

— Sim, irei.

Eileen realmente não estava esperando por aquela resposta. Tinha feito apenas uma pergunta retórica.

Antes que pudesse sequer pensar numa resposta, a porta do quarto foi aberta com violência. Joshua Sanders estava atônito e o suor descia por suas têmporas. Por um momento, a assassina achou que Aaron houvesse ressurgido e roubado novamente a bateria, ou então que algum outro ladrão teria aparecido. Porém, se assim o fosse, ele não estaria com um enorme sorriso no rosto.

— Ela está pronta! — E saiu do quarto de maneira rápida.

Eileen e Ethan trocaram olhares. A hora finalmente havia chegado.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Finalmente a hora que todos estavam esperando e, logicamente, que temiam também. Resta saber se a máquina realmente vai funcionar ou se a Eileen e o Joshua estarão fadados a viverem no passado.

Para quem lê de madrugada: como estou com muito sono e super cansada agora, acho que não revisei direito, mas amanhã cedo eu vou reler o capítulo mais uma vez, aí vejo se ainda há algum erro.

Espero que tenham gostado. E que venha o último capítulo agora!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sombras do Passado" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.