Esperamos até tudo estar calmo e o caminho até o chafariz livre de guardas. Juntamos nossas mãos e colocamos nossos pés dentro d’água. Além do portão, havia outro jeito de sair de Guhur, e era proferindo as palavras mágicas dentro do chafariz central.

- você não ta com medo? E se ele não estiver realmente... bem? – Joan dizia nervosa.
- eu preciso vê-lo Joan. E tenho certeza que ele não deixaria esse mundo sem esperar pelo o que eu tenho para dizer. – ela sorriu e apertou minha mão.
- você é uma ótima menina, Maya. E merece ser muito feliz. Agora vamos. Pronta?
- prontíssima.

Falamos todo o feitiço e logo encaramos a luz que nos levava de volta à Terra. ‘Descemos’ no mesmo parque em que encontrei Gerard pela primeira vez. Tudo estava igual, era noite e não havia ninguém na rua. Passei a mão nas minhas costas e não encontrei mais as minhas asas.

- agora não tem mais volta. – Joan disse me olhando e passando a mão nas costas dela também.
- eu não vou querer voltar. – disse seguindo pelo caminho até a ‘minha’ casa.

Quando chegamos em frente à casa, vimos que as luzes da sala estavam acesas. Meu coração batia acelerado e minhas pernas tremiam. É, me senti humana mais uma vez.

- não vai bater? Ele está em casa.
- não sei se tenho coragem.
- ah, deixa de ser boba Maya! Você veio até aqui, o que foi mais difícil. Agora não há mais nada que impeça vocês dois de ficarem juntos. – ela me deu coragem.
- é, tem razão. Nada mais pode nos separar.

Bati na porta duas vezes, depois de perceber que eu não tinha mais a chave. Demorou um pouco até a porta se abrir e eu ter minha primeira decepção de amor.

Uma mulher loira e muito bonita abriu a porta sorridente e levou um susto quando nos viu ali paradas, com as caras mais surpresas do mundo.

- olá. Posso ajudá-las?
- o Gerard... ele mora aqui, certo? – Joan disse por mim, que tinha perdido completamente a voz.
- sim, ele está lá dentro no quarto. Vocês são amigas dele?

Puxei Joan pelo braço e andei o mais rápido que pude para longe dali. Meu coração estava partido em mil pedaços e eu só queria sumir. Me arrependi por ter dito que nunca mais desejaria voltar para a terra das fadas, quando era tudo o que eu mais queria naquele momento.

- calma, Maya! Ela pode ser só uma amiga, sei lá.
- não, Joan! Não! Tenho certeza que não! Você viu o sorriso dela? Ela estava radiante!
- e o que tem isso a ver? Você devia ter entrado!
- e descobrir que ele me trocou por outra tão rápido? Que ele deve fingir que eu nunca existi? Afinal, quem acreditaria que ele namorou uma fada, não é mesmo? – eu dizia chorando e sentando em um banco na praça.
- calma, nós vamos descobrir o que aconteceu, você vai ver. E eu tenho uma idéia de quem vai nos ajudar. Vem comigo.

Mesmo chorando e com o coração partido, eu precisava tirar essa história a limpo. Segui Joan até onde ela queria me levar e quando chegamos, o lugar era óbvio. A casa de Frank.

- ele vai nos explicar, tenho certeza. – um misto de alegria e amizade tomavam conta do rosto dela. Ao mesmo tempo que ela queria me ajudar, seu coração estava radiante em encontrar Frank de novo.

Tocamos a campainha e uma senhora muito gentil nos atendeu.

- boa noite, posso ajudá-las em alguma coisa?
- o Frank está? Somo amigas dele. – Joan disse sorrindo.
- amigas do Anthony? Claro, podem entrar. Ele está no quarto descansando do acidente. Ele ficará contente em ver mais amigos, tenho certeza. Esperem um pouquinho que irei chamá-lo. – ela nos deixou na sala e saiu.

Eu e Joan nos olhamos e eu vi que ela não conseguia conter a ansiedade. Em alguns minutos, Frank apareceu na sala mancando e quase caiu sentado quando nos viu ali.

- Joan?? Maya?? Oh meu Deus!! – ele me abraçou primeiro e depois deu um abraço bem mais demorado na minha amiga. – como chegaram aqui? Ou melhor, onde vocês estavam?
- acho melhor você se sentar. É uma longa história. – Joan explicou tudo a ele, com cuidado para que a mãe dele não aparecesse e ouvisse toda aquela loucura. Eu não disse uma palavra, meus pensamentos estavam longe, mais precisamente na casa de Gerard. Minha antiga casa.
- e você, Maya? Está bem? – ouvi ele perguntar e acordei dos meus pensamentos.
- não muito, Frank. Não depois de hoje. – falei cabisbaixa e quase chorando.
- o que aconteceu? O Gerard já sabe que você está de volta?

Eu voltei a olhá-lo e ele devolveu um olhar de interrogação, em seguida olhando pra Joan como se pedisse uma explicação.

- Frank, nós estamos vindo da casa do Gerard. Havia uma mulher lá e Maya acha que... – ela nem terminou a frase e Frank caiu na gargalhada.
- eu não acredito... vocês acham que ela é alguma coisa do Gerard? – eu e Joan trocamos olhares confusos.
- e não é?? – perguntei alto, com o coração latejando.
- claro que não! A não ser irmã do Bob e amiga nossa desde que tínhamos 10 anos. Ela está na cidade e foi visitar o Gerard com o Bob depois que soube do ‘acidente’. – ele fez aspas com as mãos e falou sussurrando – pra todos os efeitos, nós fomos assaltados, eu levei um tiro de raspão na perna e o Gerard levou um choque com um daqueles aparelhinhos usados por policiais e... ah, deixa pra lá. – ele desistiu de explicar vendo nossas caras extremamente confusas.
- então... aquela loira é amiga de vocês? Só amiga? – Joan também sentiu um pouco de ciúme ao saber que Frank a conhecia há tanto tempo também.
- só amiga. Pode ficar tranqüila, minha fadinha. – os dois se olharam apaixonados e eu fingi uma tosse para acabar com a ‘melação’.
- com licença, Frank. Mas eu preciso resolver meu destino. – saí correndo da casa dele em direção à casa de Gerard novamente, e dessa vez, nada ia impedir que ele soubesse que uma parte dele crescia dentro de mim.

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