A Mesma Face escrita por LelahBallu


Capítulo 19
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

Hey hey!

Então eis que finalmente chega o momento de marcar A Mesma Face, como finalizada. Para aqueles leitores que também escrevem, eu acho que é mais fácil reconhecer o sentimento agridoce desse momento. A Mesma Face foi uma fanfic que era para ser ainda mais curta. Que iniciei, excluí e fiquei um longo tempo sem sequer abri-la, não por que eu não mais gostava da fic, mas por que (Não sendo novidade nenhuma para vocês) eu tenho por costume deixar pelo menos duas longs, me arriscar com uma short e ocasionalmente postar ones simultaneamente. Transformar AMF em long fez com que eu precisasse primeiro finalizar uma das longs em andamento da época, e desde que tornei a escrevê-la tive muitos altos e baixos como autora, desde a plágios, ao bloqueio, a estar ocupada e ao simples, puro e muito real “não estar na vibe” (acontece pessoal, é um motivo válido e não devemos ser condenados por isso ) e meu tempo entre atualizações infelizmente se tornou mais longo. Eu amo fics como AMF, que é onde eu me sinto mais na zona de conforto, gosto de brincar com humor, brincar com os personagens e explorar os tão adoráveis clichês. AMF era para ser uma fic rápida e fácil, o famoso mamão com açúcar, mas pelos motivos que já citei, não foi.

O sentimento agridoce é por isso. É triste como autora dar adeus a uma fic, por que o processo de criação envolvendo-a acabou. Vocês sempre vão poder vir aqui e ler novamente sua cena favorita, reler desde o começo, sentir todas as emoções novamente. Eu não vou poder criar a mesma cena duas vezes, a cena entre Lexie e Felicity só pode ser criada uma vez. Então por mais alívio que eu sinta em me despedir de cada fic que finalizo, e acredite é MUITO alívio, eu sempre penso, será que cheguei até onde podia ir? Outra fic minha será considerada tão boa como afirmaram ser? Será que eu conseguirei continuar criando novas histórias, novas fics e transformando os personagens sem perder sua essência da mesma maneira? Eu tenho que continuar da mesma maneira?

Em fim.

Quero agradecer a todos que continuaram acompanhando a fic. Agradecer todos os comentários, pois eu leio sim todos, e as recomendações. Obrigada pelo carinho, pelo incentivo, e pela paciência.

Xoxo,

LelahBallu.



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Peguei a caneta em um gesto firme e com um movimento ágil de pulso rabisquei a assinatura e então fechei o livro. Com a cabeça baixa repeti o gesto uma e outra vez, ocasionalmente levantava minha cabeça e sorria para a pessoa a minha frente, as vezes me erguia parcialmente para sorrir para criança que segurava a mão de um adulto, que poderia ser seu pai, sua mãe ou algum outro parente. Minha atenção se demorava por razões próprias nas crianças, mas quase nunca registrava quem os acompanhava.

De todas as coisas que eu podia acabar fazendo da minha vida após ter retornado para Vegas, nunca imaginei que começaria a escrever contos infantis. Nunca sonhei que seria boa nisso, que me daria algum dinheiro, segurança financeira, que me levasse a frente, mas aconteceu.

Era sobre conhecer a pessoa certa, no momento certo.

Eu acho.

Tudo começou com Helena.

Não.

Na verdade, tudo começou com uma carta.

A carta.

Uma carta que jamais enviei, mas que ainda existia guardada em uma caixa com outras que jamais seriam enviadas. Uma carta que escrevi para os Queens, mas que na verdade era para Lexie, minha doce, travessa e sonhadora garotinha. Havia muitos momentos com os Queens que iam e vinham em minha mente, quase sempre nos momentos mais importunos, e que eu não conseguia apenas deixar de lado, por mais que tentasse. E dentre deles estava o dia em que mesmo em frente a Megan e me conhecendo como a tia Felicity, ela me reconheceu, soube apontar que havia sido eu e não Megan, a pessoa que havia passado os últimos meses sendo sua mãe. Ela lembrou daquela história, me reconheceu através dela, então ao me lembrar de Lexie, desse momento, eu sempre era levada ao momento que havia contado aquele conto, minha história através dele, e me lembrava que egoísta como era, não havia lhe dado um final. Então eu escrevi uma carta. Para Lexie, e William, mas principalmente para ela. Nela eu transcrevi a história que havia contado, e então acrescentei mais um trecho, que por mais que eu tentasse não conseguia deixa-lo menos amargo, aquele fim que eu sabia uma criança não deveria ler.

Então deixei para lá.

E por dias eu não toquei naquela carta, até que mostrei a Helena. Não sabia o que tinha em mente, talvez desejasse que através daquilo entendesse um pouco mais o porquê as vezes, mesmo em momentos alegres, eu ainda não conseguia sorrir genuinamente, verdadeiramente. Eu não tinha certeza do porquê, mas eu mostrei a ela. Apenas a ela, não ousei mostrar a minha mãe, porque não queria expô-la mais uma vez as ações de Megan, as consequências.

Helena leu em silêncio, e não falou muito após. Ela sorriu, um sorriso pequeno, forçado, que eu havia aprendido a identificar como o sorriso para os Queens, pois ela sempre o exibia quando eu tocava em um assunto que nos levasse novamente ao meu tempo com eles. Era como se dissesse “Lá vem ela de novamente” como se não soubesse o que fazer para cobrir ou substituir minhas lembranças de lá.

Não que eu quisesse.

O único motivo para que doesse tanto, era porque eu de alguma forma, fui feliz lá. Apesar de tudo. E por conta de tudo. Eu fui feliz lá. E isso, eu não queria esquecer. Não realmente. Colocar de lado? Sim. Ignora-las, talvez, mas nunca as esquecer. E talvez tenha sido por isso que escrevi aquela carta.

Carta que eu ignorei completamente até que Helena agiu.

Helena que havia começado um novo emprego como balconista no café de uma livraria mostrou a sua chefe, que conhecia alguém que conhecia alguém, e então de repente, me apresentaram essa oportunidade. Uma oportunidade que eu não podia ignorar, não quando havia voltado a rotina de ser criada de alguém, e diante de todas outras que tive e que recusei porque não me faria bem, ou que eu suspeitava vir de alguém cujo contato jamais desejaria ter, eu considerei.

Ainda não me achava boa suficiente para ser uma escritora, não mesmo. Respeitava demais aqueles que escreviam, para de repente me imaginar como uma, apenas porque minha melhor amiga gostou da forma que transformei minha história em um conto infantil, mas me arrisquei. Não com aquela história, não, porque eu ainda não conseguia escrever um final para ela.

Não que parecesse certo.

Que se encaixasse.

E porque pertencia a apenas uma criança.

Ao menos foi o que pensei na época.

Helena não gostou, afinal foi por aquela história que o editor se apaixonou, mas me neguei, e então escrevi a história de duas crianças, duas irmãs que haviam crescido longe uma da outra com outros valores e que conquistaram cada uma seu  próprio mundo de formas diferentes.

Eu não fingia que era imparcial quando escrevia as histórias. Cada qual tinha uma conexão com minha vida, meu passado, minhas próprias e reais histórias.

Por alguma razão as crianças amaram as histórias, e por alguma razão a personagem com escolhas duvidosas, a mais velha, era sempre a preferida de todos.

Fiquei aborrecida com isso, mas Helena riu.

Disse que era minha culpa, porque eu escrevia a mais velha com mais carisma.

Tive que revirar os olhos diante aquilo.

Insistiu que ninguém gosta de um personagem que seria capaz de perder a chance de felicidade apenas para não fazer o errado. “Todo mundo é egoísta”, disse ela. “Todo mundo tem vergonha de admitir, mas quando vemos um personagem que não lamenta isso, podemos sentir alívio. Enaltecer um vilão não nos transforma em vilões e por isso que os amamos tanto”. Tentei lembrar a ela que os personagens ainda eram crianças e que não existiam vilões, ela bufou e resmungou algo sobre Megan e se afastou.

Então uma história se transformou em duas, três, quatro e lentamente, fui crescendo profissionalmente, e estando ocupada, sempre ocupada. E dessa forma esses anos se passaram rapidamente, um ano, dois e então cinco.  E agora eu assinava dedicatórias em um livro que narrava uma história, aquela história, cujo final finalmente eu fui capaz de escrever.

— Você está bem? – Ergui minha cabeça e encarei Helena que analisava meu rosto com atenção. Forcei um sorriso para a pessoa a frente e entreguei o livro, minha mão já segurando o próximo. – Podemos dar uma pausa. – Insistiu.

— Eu estou bem. – Murmurei assinando uma dedicatória qualquer. E então entreguei a mulher, quando estendi minha mão não encontrei nenhum livro, então ergui minha cabeça, o homem a minha frente deu de ombros e olhou para baixo, ergui-me e encarei a criança que estava em sua frente, o livro contra seu peito, era pequena, duvidava que já lesse e aparentava estar sozinha. Olhei em volta e depois para o homem.

— É sua? – Perguntei.

— Não. – Negou rapidamente. - Estou levando o meu de presente para minha filha. – Ele respondeu erguendo seu livro, em seu rosto um sorriso simpático, mas minha atenção já estava voltada para a criança

— Onde está sua mãe, querida? – Perguntei suavizando minha voz. O semblante da criança me lembrando de outra. Lembrando-me de Lexie. Foi doloroso, claro que foi.

— Ela foi pegar meu priminho. – Informou-me. – Ele saiu correndo para lá. – Apontou. Assenti percebendo a situação, a mulher não queria perder o lugar, e teve que lidar com outra criança menor. Não justificava, mas eu compreendia. – Vem cá. – A chamei para o meu lado. – Por que você não me ajuda um pouco enquanto sua mamãe não chega? – Ela sorriu feliz com a sugestão e correu para o meu lado, ignorei os múrmuros impacientes e puxei um banco que estava um pouco mais distante, Helena se apressou em coloca-la em cima do banco. Ela ficou de joelhos, seus olhos brilhando animados. – Primeiro. Eu preciso autografar o seu, não é mesmo? – Ela assentiu com veemência.  Ia pegar o livro, mas ela apertou mais junto assim. – O que foi?

— Posso escolher onde? – Perguntou hesitante.

— Claro. – Sorri. A criança colocou o livro sobre a mesa e procurou a página que queria, devia ter uma passagem preferida, com tantas ilustrações bonitas, ela sabia qual era sua referência.

— Aqui. – Apontou para o desenho, e engoli em seco. A imagem da estrela me pegando de surpresa e trazendo lembranças que queria esquecer, por mais que as tivesse eternizado nesse livro. – Em cima da estrela.

— Você gosta dela? – Perguntei tentando evitar que minha voz tremesse.

— Não. – Negou. – Eu fiquei muito triste quando a rainha virou estrela. – Assenti apenas porque precisava fazer algo. – A princesa Lis perdeu sua mamãe e ela ficou triste. – Lembrou-me. Assenti mais uma vez. Sim, eu havia ficado arrasada, principalmente porque eu estava confiante demais de que isso não aconteceria. Não em anos. – Mas então ela virou uma estrela.  – Sorriu. - Ela ficou ao lado da nuvem, perto da princesa, para que ela sempre pudesse olhar para ela.

— Ela ficou. – Acenei mais uma vez. -  É disso que você gosta? – Perguntei.

— Sim. – Concordou. – Porque ela sempre vai ter a mamãe dela.

— Sempre. – Concordei. – Qual é o seu nome querida?

— Alice. – Respondeu. – Você pode colocar para a princesa Alice?

— Claro. – Sorri, deixando a tristeza de lado. Não me permitindo ter aqueles velhos sentimentos. A ferida já não era tão recente, mas não era menos dolorosa, e se eu fosse por aquele caminho, Helena teria que acionar todos os mecanismos de emergência, que envolvia muito doce, filmes idiotas e alguma bebida barata. Ela ficava mal humorada demais no dia seguinte, o melhor era evitar todos os mecanismos.

Autografei o livro em silêncio, ciente que era observada pelo homem inquieto, pela criança e por Helena, forcei um sorriso na direção da última e me apressei a entregar o livro de volta a menina. Ela me ajudou com os que vieram depois, os mantendo aberto enquanto eu seguia autografando em gestos mecânicos, ocasionalmente respondendo uma ou outra pergunta sua.

— Eu queria saber se ele foi. – Murmurou de repente.

— O quê? – Perguntei distraída.

— No final. – Falou. – A princesa desce até o reino e marca de encontrar o rei, e fica esperando por ele, olhando para frente. – Explicou. – Ele foi?

Oh.

Essa não era a pergunta de ouro?

— O que você acha que aconteceu? – Perguntei evitando responde-la. Apenas porque eu não tinha uma resposta.

Eu queria ter, adoraria.

Mas não tinha.

— Ele foi. – Falou parecendo confiante demais.

Sorri.

Como era invejável a certeza que tudo ficaria bem.

Queria voltar a ser tão ingênua assim.

Mas estava velha demais para isso.

Já não lia contos infantis.

Ironicamente, eu os criava.

E nem no meu próprio conto de fadas eu pude criar um final feliz. Apenas um talvez. Foi tudo o que pude dar aquelas crianças.

— Você deve estar certa. – Murmurei vagamente. E ela claramente não gostou daquilo. Por mais certeza que tivesse, jamais seria o mesmo do que eu, aquela que havia escrito a história, que conhecia os personagens melhor do que ninguém, afirmasse. A encarei brevemente apenas para notar seu rosto sério. Parecia que estava prestes a argumentar, mas sua atenção se desviou para a frente e eu tive que rir. Porque aquela criança estava indignada por não ter mais respostas, e eu não podia de jeito algum acalma-la com respostas. Eu havia voltado para Starling City, possivelmente apenas brevemente, e não havia entrado em contado com ninguém, ao contrário do que escrevi, não marquei nada, não deixei pistas. Esse livro havia sido lançado há algumas semanas, era a primeira sessão de autógrafos dele e através de um pseudônimo, assim como todos os outros. Eu não tinha esperanças de um reencontro, porque eu não havia buscado por um.

Eu havia seguido minha vida, corri atrás, perdi minha mãe, cresci profissionalmente e tive alguns namoros, nunca sérios, apenas passageiros, mas os tive, e agora estava só, mas eu tinha seguindo em frente, e esperado que ele tivesse feito o mesmo. Não tinha ideia de como estava. Se estava com alguém, se havia se casado. Eu não tinha ideia, não sabia, mas não ficaria surpresa se tivesse descobrisse que sim.

Passei todos esses anos no escuro.

Fugi de redes sociais, troquei de número e evitei contato até mesmo com Thea. O que Helena desaprovou, ela achava que eu devia mais, o fato de estar aqui, em Starling City e não entrar em contato com ninguém a irritava, achava desleal, porque por anos eu me preocupei com eles, imaginei como estavam e ela achava que o mesmo se passava do outro lado. Achava que merecíamos pelo menos uma conversa cortês, mas eu tinha medo. Eu sabia até onde eu segui em frente, sabia que não foi o suficiente para olhar para trás e não o ver, mas e ele? E se eu entrava e contato para o descobrir casado?

A possibilidade doía.

Eu o queria feliz, é claro que queria.

Mas isso não me impedia de ficar triste ao imaginar que não era comigo.

Sentir saudades cada dia desde que me afastei se tornou algo normal, sempre presente. E é claro que hoje, estando aqui, isso aumentava ainda mais. Mas eu precisava sobreviver apenas mais alguns dias, e então seria afogada pela rotina novamente. Só mais uns dias, e então com sorte, os transformaria em semanas, meses e anos novamente. Era o lançamento desse livro em específico que me deixava assim, ansiosa, tentada.

— Felicity. – Pisquei diante o chamado de Helena e notei uma vez mais preocupação em seus olhos. Meneei a cabeça em negativa, respondendo sua pergunta silenciosa. Eu não precisava parar, eu precisava continuar.

Então continuei. A garotinha permaneceu ao meu lado apenas por mais alguns minutos, logo sua mãe chegou, desesperada, olhos molhados, com um bebê choroso em seus braços, um curativo improvisado em sua pequena cabeça, a menina saltou da mesa e correu para a mãe, Helena as seguiu, prestativa, mas logo retornou, disse tê-la ajudado a encontrar um carro e que a mãe da menina já havia ligado para o pai do bebê, que eles se encontrariam no hospital, mas que não parecia ser nada sério. Assenti com o cenho franzido, meu corpo começava a protestar pelo tempo sentada e minha cabeça protestava contra a iluminação forte da livraria. Helena percebeu meu desconforto e me assegurou que faltava muito pouco, a fila estava pequena, e o horário de encerramento se aproximava.

Sorri pela milésima vez naquele dia, mas pela primeira vez alegre de fato. Estava mais do que ansiosa para partir, e precisava me concentrar no depois. Tinha que encontrar uma maneira de distrair Helena, que com certeza insistiria que eu entrasse em contato com eles, e bastava ela insistir uma vez mais e eu cederia. Eu sabia que cederia. Então precisava evitar isso. A distraindo. Era quase certo que eu usasse seu noivo para isso. Então ignorei todos aqueles protestos, inclusive da minha barriga, que resolveu avisar que eu estava com fome, e continuei, dessa vez ainda mais distraída, e quase sem mais prestar atenção naqueles presentes, mesmo as crianças.

— Falta apenas mais um. – Ergui meu rosto, o sorriso ainda ali presente, a reação espontânea sendo mais rápida do que minha mente que havia reconhecido a voz. Encarei aturdida o rosto masculino, os olhos azuis tão familiares e parecendo tão ansiosos. Meu mundo parou, eu já não conseguia assimilar mais nada, não sabia qual havia sido a reação de Helena, não sabia se o adolescente que havia pedido timidamente meu nome verdadeiro ainda olhava para trás, não tinha ideia se havia por perto mais alguém além de nós dois.

Respirar só era possível porque era uma necessidade.

— Oliver. – Murmurei seu nome como uma prece.

— Você pode? – Ele me encarou com educada indiferença, como se não houvesse percebido que havia chamado seu nome.

— O quê? – Murmurei sem entender ao que se referia, ele ergueu o livro. – Esse é para meus filhos, Lexie e Will. – Murmurou como se eu fosse uma desconhecida para eles. O som de seus nomes em sua voz me abalou. Encarei o livro e o segurei com mãos trementes antes de colocá-lo aberto sobre a mesa, recebi uma caneta, minha caneta, que havia derrubado sem sequer perceber. Olhei para o lado percebendo que quem me entregava não era Helena, mas Thea, respirei fundo ao receber seu sorriso e senti lágrimas chegar aos meus olhos, mas as segurei. Eu precisava, ou viraria um poço de água que logo inundaria todo o recinto. Por sobre seu ombro vi Helena piscar um olho para minha expressão confusa antes de se afastar. Voltei meu olhar para Oliver que continuava me encarando. Eu não conseguia lê-lo, não sabia como decifrar seu silêncio, não conseguia entender. – Eu...

— Lexie e Will. – Repetiu como se duvidasse que eu tivesse escutado direito na primeira vez. Assenti e foquei em escrever a dedicatória, eu deveria fazer como outra qualquer, algo generalizado, mas não poderia, sequer usei meu pseudônimo. 

“Para meu tigre e minha abelhinha. Com amor, Liz.”

Encarei o que havia escrito e fechei o livro, pensei em entregar a ele, mas Thea foi mais rápida, ela tirou o livro das minhas mãos e beijou minha bochecha.

— Eu vou te encontrar. – Alertou-me. – E tortura-la por anos de frieza. – Pisquei ainda incerta de como agir, meu olhar acompanhando sua partida, a observei envolver a mão de Roy e ir embora. Então voltei a encarar Oliver que agora me entregava outro livro.

— Esse é meu.  – Murmurou simplesmente. Assenti confusa e o abri, mas me limitei a encarar o espaço vazio, não sabendo o que escrever ali. Não sabendo o que fazer. Sabia o que queria, o que eu sempre quis. Mas não sabia como obtê-lo. Ainda não sabia o que sua presença significava. Suspeitava, tinha esperanças, mas não tinha certeza.

Claro que não.

— O que quer que eu escreva? – Perguntei erguendo meus olhos por fim. Oliver me observou o semblante se tornando terno. Finalmente me dirigindo a ele, fazendo algo além de encara-lo.

— Nada que você não possa dizer se tiver que ir embora. – Murmurou por fim. Pegando-me de surpresa por sua escolha de palavras.

Hesitei.

Pois sabia o que isso significava, e não compreendia como mesmo após esses anos, ele ainda pudesse sentir o mesmo. Era bom demais para ser verdade. Não podia ser. Movi a caneta por entre meus dedos e lhe lancei um último olhar antes de me inclinar sobre o livro.

Respirei fundo, escrevi a dedicatória, fechei o livro e o entreguei.

Oliver me encarou, seus olhos lendo meu rosto. Pensei que ele ia abrir o livro e ler o que eu havia escrito, pensei que estaria curioso sobre, mas tudo que ele fez foi me encarar. Sua calma me fez contornar a mesa, me atraiu até ele, como se me cercasse e me puxasse até si. Como a gravidade. Oliver sorriu ao notar minha confusão, minha expressão séria, minha incerteza.

— Eu nunca precisei escutar essas palavras, Felicity. – Murmurou após eu voltar a encarar o livro em sua mão. – Eu ainda não preciso. – Respirei fundo enquanto o escutava, enquanto o observava. - E a única razão pela qual me afastei por todos esses anos foi para provar que as minhas eram reais. E ainda são.

Ergui minha mão e alcancei seu rosto, precisando senti-lo. Precisando entender que ele era real. Que não era tudo uma fantasia, que eu não estava sentada diante uma mesa, meus dedos sobre o teclado de um computador escrevendo um final que embora irreal era o que agradava a todos.

Eu precisava disso. Precisava dele. Precisava da certeza de que Oliver, meu Oliver, estava ali e que ainda era meu. Que sempre seria. Meus dedos entraram contato com os pelos de seu rosto, a aspereza de sua barba não me incomodando nem um pouco. Oliver fechou os olhos e inspirou, como se precisando se acostumar novamente ao meu toque.

Então seus dedos estavam sob os meus, o baque do livro caindo contra o chão parecendo longínquo enquanto sua mão envolvia meu rosto. E eu encarava maravilhada aquele rosto que eu amava tanto. Ele sorriu, como se pudesse ler cada um de meus pensamentos, e aquilo lhe fizesse feliz, como se esse momento o deixasse feliz.

E deixava.

Depois de anos vivendo de momentos e lembranças, eu finalmente poderia ser feliz.

Eu havia refeito meus passos, havia cruzado a linha de chegada e ele estava aqui, esperando por mim. Ele estava aqui, ele era real.

Foi maravilhada com seu sorriso e com esse pensamento que me ergui nas pontas dos pés e o beijei. O beijei sabendo que dessa vez ao me separar de seus lábios o que me esperava era um novo beijo.

Sem mais despedidas.

Apenas outro beijo.

E provavelmente mil outros.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!! E como sempre, estarei esperando vocês nos comentários.

Xoxo,

LelahBallu.



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