A Mesma Face escrita por LelahBallu


Capítulo 17
So close and still so far


Notas iniciais do capítulo

Olá!!! Acho que estou deixando vocês mal acostumados, não é?
Agradeço o carinho daqueles que foram nos comentários, fico feliz de que ainda gostem da fic, é importante eu saber como vocês se sentem com relação a história, principalmente agora que estamos tão perto do fim...Eu não vou me exceder aqui, só desejo a vocês uma boa leitura!



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FELICITY SMOAK

Caminhei pelo saguão do rico hotel com certo receio e relutância. Eu podia sentir a tensão nos meus ombros, podia sentir até mesmo o irracional medo dominando ainda que aos poucos, minha mente e corpo. Eu não tinha memórias boas em relação a última vez que estive aqui, penúltima na verdade, já que cheguei a voltar para me despedir de Helena, mas ainda assim, não era essa a memória que me dominava no momento, e de fato não era nem um pouco reconfortante. Longe disto. Por muito pouco não fui levada presa apenas pelo capricho de uma mulher idêntica a mim, mas dona de uma absurda riqueza e poder. Ela era elegante, rica, e exalava sensualidade, tendo cada homem a sua volta nas pontas de seus dedos.

Na palma de sua mão.

Megan Queen havia mudado completamente minha vida desde que eu havia pisado nesse hotel pela última vez. Ela havia me transformado, ou ao menos tentado, em uma pessoa completamente diferente de quem já fui um dia, em alguém igual a ela. E agora eu entrava de volta como a velha Felicity Smoak, desempregada, sim, mas sem nenhuma ligação com este lugar, e ao meu lado, bem ao meu lado, por ironia do destino, estava Oliver Queen. Seu marido. Sua mão envolvendo a minha com tamanha naturalidade que era alarmante.

Parei olhando ao redor, procurando a figura feminina que havia marcado comigo de nos encontramos justo aqui. Helena deveria saber que esse seria o último lugar  que eu gostaria estar, era quase humilhante rever aquelas paredes, e alguns dos rostos que haviam sido meus colegas de trabalho. Mas ela ainda trabalhava aqui, o tempo não havia parado para Helena enquanto eu estive interpretando o papel de esposa e mãe dos filhos de Oliver, ela continuou trabalhando dia após dia como camareira e ocasionalmente como garçonete em dos cassinos.

Ela odiava aquele lugar tanto quanto eu, mas ela ainda estava ligada a ele, e ela estava para sair de seu turno.

— Era aqui que você trabalhou? – A voz de Oliver interrompeu meus pensamentos, ergui meu rosto para que meus olhos encontrassem os seus.  – Quando Megan a encurralou.

— Sim. – Respondi.  – Helena ainda trabalha aqui.

— Vamos sentar em um dos sofás. – Sugeriu me puxando pela minha mão, hesitei um pouco e Oliver parou ao notar que eu não havia me movido. Seu cenho franzido. Sua confusão só demostrava como a realidade de Oliver era diferente da minha.

Nunca me foi permitido sentar nos luxuosos sofás da recepção antes.

Era para eu ser invisível, eu cuidava dos banheiros, cuidava dos quartos, e assim como Helena, já servi mesas e me ocupei dos clientes dos cassinos, servindo suas bebidas, ignorando seus olhares de desejo. Uma vez ou outra cobri o horário de uma das meninas que cuidavam do andar da recepção, mas elas tinham que ser tão invisíveis como eu, rápidas, olhares baixos e discretas, se alguma vez toquei em um desses sofás, foi para limpa-los.

Fiquei travada diante do olhar de Oliver, até que ele compreendeu.

O semblante de Oliver ficou escuro, seu humor mudando, mas então ele me puxou para si, seus braços envolvendo meus ombros, e os meus reagindo de forma automática ao abraça-lo pela cintura. Ergui minha cabeça tentando compreende-lo, e ele apenas beijou minha testa, carinho transbordando em seus gestos.

— Vamos sentar.  – Repetiu. – E então levaremos sua amiga para algum lugar em que ela e você fiquem a vontade, depois procurarei outro hotel para ficar.

— Você devia ficar aqui, esse está entre um dos melhores hotéis de toda fodida Vegas. – Oliver e eu viramos em direção a voz feminina que havia dito a frase e seus braços caíram quando fugi deles, meu corpo se chocando com o de Helena em um abraço que quase derrubou a nós duas. – Eu sabia que você não ia me decepcionar com uma recepção fria. – Helena murmurou me apertando.

Deus, como eu havia sentindo falta dela.

Eu sequer havia percebido o quanto até este momento. E se abraçar Helena estava levando lágrimas aos meus olhos, imagina o que poderia acontecer quando visse minha mãe novamente?

— Eu preciso respirar Felicity. – Reclamou, embora não fizesse muito para me soltar também.

— Respirar é super valorizado. – Murmurei embora a soltasse por fim, um sorriso em meu rosto. Helena devolveu o sorriso com carinho, mas logo seus olhos moveram-se para o homem que estava atrás de mim. Oliver havia observado tudo em silêncio, e agora que eu também o estava encarando, exibia um sorriso genuíno, mas também havia culpa.

— Suponho que você seja Oliver. – Helena falou caminhando em sua direção. Seus braços cruzados enquanto o avaliava sem qualquer descrição. As sobrancelhas de Oliver se ergueram, mas ele não parecia ofendido com o escrutínio, parecia até mesmo divertido.

— E você Helena. – Oliver retrucou.

— Quais suas intenções com minha melhor amiga, Oliver? – Helena perguntou direta.

— Ok. – Interrompi. – Muito cedo para isso, por que não fazemos como Oliver sugeriu e vamos para outro lugar?

— Por que vocês não ficam aqui? – Helena questionou. – Eu me encontro particularmente extasiada com a ideia de ver você sendo servida neste lugar. – Falou direta. – Inclusive indicaria que para todo e qualquer desconforto chamasse o gerente. – Sorriu animada. É claro que ela faria isso.

Oliver me encarou confuso.

— O homem que foi comprado por Megan para colocar suas joias em meu armário. – O atualizei. Oliver trincou os dentes, seu semblante se tornando frio.

— Por que vocês não esperam aqui? – Apontou para o sofá. – Vou fazer nossa reserva.

— Oliver...

— Eu faço questão. – Interrompeu-me, cedi com um aceno e ele sorriu, sua mão envolveu a minha, puxando-a para deixar um beijo em meu pulso. – Volto já.

O observei se afastar e fiquei dividida entre admirar sua atitude ou ficar preocupada. Não estava aqui por vingança, apenas queria conversar com Helena em um lugar tranquilo e encontrar minha mãe, eu sabia que passaria um tempo com Oliver e que ele teria que ficar em algum hotel, mas não gostava da ideia de ser justamente esse.

— Esse é um homem pelo qual talvez eu pudesse perder a cabeça. – Helena murmurou chamando minha atenção. A encarei prestes a concordar quando fui surpreendida.  Senti o leve tapa na lateral da minha cabeça antes que eu pudesse sequer reagir a sua aproximação repentina. A encarei em choque. – Você perdeu sua cabeça? – Indagou.

— Você acabou de me bater? – Retruquei incrédula.

— Você trouxe o homem da sua gêmea do mal para conhecer sua mãe? – Ignorou-me. – Eu vou ter que repetir: Você perdeu sua cabeça?

— Eles se separaram. – Murmurei em defesa.

— Então agora você também é uma destruidora de lares. – Sorriu divertida. – Felicity Smoak, por essa eu não esperava.

— Ela contratou uma pessoa para se passar por ela, para viver a vida dela. – Falei meu tom crescendo.  – Para transar com o marido dela, eu não sou uma destruidora de lares e certamente não esperava ser chamada assim por justamente você.

— Não seja idiota Felicity, é claro que eu sempre estarei do seu lado. – Suspirou.  – Eu só estou te dando um gostinho da reação de Donna Smoak ao saber que sua filha transou com um homem casado.

— Eu... Eu... – Gaguejei e então estreitei meus olhos a encarando com desconfiança. – Eu nunca disse que havia transado com ele.

— Pelo amor de Deus, qualquer que olhe vocês de longe pode perceber.  – Resmungou. – Eu sou sua melhor amiga, você acha mesmo que eu não desconfiaria após você me dizer que estava trazendo Oliver consigo que havia perdido seu cartão V com ele?

— Helena!! – Chamei sua atenção. Virei meu rosto procurando por Oliver que ainda estava junto ao balcão, sua atenção no recepcionista e então olhei em volta, preocupada que mais alguém tivesse prestando atenção em nossa conversa.  Nós sequer havíamos ido até o bendito sofá!

Emburrada, fiz justamente isso, passei por ela e sentei pesadamente no sofá de luxo, sentindo-me quase imprópria para aquela peça. Deus, eu odiava esse lugar, apenas me gerava desconforto. Helena me seguiu e sentou-se sem nenhuma hesitação, era de esperar que ela, já que ainda estava trabalhando no hotel, se sentisse um pouco menos a vontade do que eu, mas Helena não era o tipo de pessoa que deixaria um lugar ou outra pessoa levar vantagem sobre si.

— Eu não estou querendo ser chata, longe disso.  – Murmurou ao meu lado. – Mas você está de volta, após ter vivido uma vida completamente diferente do que costumava ser a sua, vai ser difícil se adaptar novamente, e você não vê suas mãe em meses, ela sente saudades, mas está desconfiada, ao apresentar Oliver tudo isso vai se multiplicar.

— Eu não vou simplesmente sair daqui agora e levar Oliver comigo. – Neguei. – Eu não sou estúpida Helena, além de sentir muita falta da minha mãe e de precisar de um momento a sós com ela, conheço-a muito bem. Minha mãe jamais me desaprovaria abertamente, e aceitaria qualquer decisão tomada por mim, mas isso não a impediria de se preocupar comigo, com as escolhas que faço. E Oliver, bem, eu não sei porque, mas quero que os dois se conheçam, só que não vou fazer isso abruptamente.

— Eu sei por que você deseja esse encontro. – Murmurou me surpreendo. – Mas duvido que esteja pronta para me ouvir.  – Eu estava quase certa, que ela tinha razão, então aproveitando a oportunidade que ela mesmo havia me oferecido, mudei de tema.

— Como está minha mãe? – Eu sabia o que Helena me passava por telefone já que minha mãe jamais seria completamente sincera sobre sua própria saúde.

— Ela está bem. – Falou hesitante.  – Mas ela teve que voltar ao hospital. – Ergui-me de pronto. Minha mãe esteve indo e voltando para o hospital, sempre em resposta as reações provenientes do tratamento novo, mas nas últimas semanas ela tinha estado bem.  O dinheiro que Megan depositava regularmente em minha conta, me permitiu contratar uma acompanhante para estar sempre com ela, já que Helena tinha suas limitações.

— Precisamos ir para lá.  – Falei com urgência. Helena segurou minha mão puxando-me de volta. – Helena...

— Eu sei que você sente essa urgência agora que está aqui, mas você não pode. – Falou. – Não chega a ser nenhuma novidade, já aconteceu antes. – Lembrou-me. - Não está no horário de visitas, ela estaria dormindo, você não pode ir agora, não deve encontra-la hoje. – Assenti a contra gosto, minhas mãos indo até as laterais da minha cabeça, uma dor de cabeça se formando.

— Tudo bem aqui? – Oliver perguntou colocando sua mão em meu ombro. Ergui minha cabeça apenas encontrar seus olhos preocupados.

— Estou bem. – Tentei tranquiliza-lo. Helena mais uma vez se limitou a observar nossa interação.

— Por que não subimos? – Oliver sugeriu. – Podemos pedir algo no quarto, vocês duas conversarão mais a vontade lá. – Assenti concordando. O olhar de Oliver fixou-se em Helena novamente, e então seu olhar caiu no meu uma resolução se formando.  – Quer saber? - Vão indo, vou pedir para subir com nossas coisas. E pedir algo para comermos. – Avisou-me ele me entregando o cartão magnético. Eu sabia que ele estava me dando espaço para conversar sozinha com Helena, e ficar mais a vontade. Ele não tinha como saber que Helena não dava a mínima para sua presença e nada a inibiria de falar livremente comigo, mas sabia que eu sim. Voltei a concordar.  Segurei seu braço e beijei sua bochecha em agradecimento, o surpreendendo, Oliver também sabia que eu ficaria mais hesitante em toca-lo diante Helena. Então não foi algo pelo que ele esperava.

Sentindo o olhar crítico de Helena sobre nós dois, eu me afastei dele e a encarei apontando meu queixo em direção ao elevador em convite. Helena sorriu animada por entrar em dos quartos não como camareira, mas como convidada.

— Está bem. – Falei após abrir a porta e deixa-la passar. – Pode soltar sua língua.

— Um minuto. – Pediu após fechar a porta atrás de si. Helena alongou seu pescoço, entrelaçou seus dedos os alongando e então para minha total surpresa ela correu em disparada a cama, saltando sobre ela com braços abertos.  – Agora sim.  – Sorriu se virando. – Seu Oliver sabe escolher uma suíte. – Falou se apoiando em um braço, tomou seu tempo olhando em volta. – Apenas o melhor para Oliver Queen.

— Você se ressente com ele? – Questionei sentando-me ao seu lado, meu peso por cima de uma pena, a outra solta balançando contra a cama, eu estava nervosa, não queria que Helena não gostasse de Oliver. Ela era minha melhor amiga, e ele era meu... Oliver. Não sabia quanto ia durar, sabia que era pouco e que certamente eu terminaria com meu coração partido, não queria atrito entre os dois, por que eu queria curtir meu tempo com Oliver, e precisava do carinho da minha amiga depois.

— Eu não tenho como não gostar dele. – Confidenciou. – Ele foi enganado, não só por Megan, Felicity, mas por você também, sei que suas razões são plausíveis, honrosas, mas não muda a verdade, você enganou a ele e sua família. E ele não se mostra ressentido com você, na verdade a forma que ele te olha... Oliver parece apaixonado por você. – Murmurou honesta. – Eu não poderia odiar um homem que a amasse.

— Não se trata disso...

— Só que eu também estou preocupada. – Ela se ajeitou sentando-se na cama, suas costas contra a parede. – Felicity, eu sinto muito dizer isso, mas não tem como dar certo. Ele tem uma família já pronta. Sua vida é aqui, você sabe disso, certo?

Fiquei em silêncio. Considerando mais uma vez o que significava um envolvimento com Oliver. Helena estava certa, claro que estava, eu não podia simplesmente largar minhas responsabilidades aqui, e assumir o lugar em definitivo de Megan. Não era certo. Eu não era a mãe daquelas crianças, e Megan já havia confundido tanto os filhos de Oliver que até mesmo um envolvimento casual com Oliver era impossível de manter sem envolvê-los.

O pior de tudo é que eu já sentia falta deles.

— Felicity?

— Eu só quero um tempo com ele. – Confessei. – Eu sei que parece loucura, principalmente sabendo que há um fim próximo, mas eu só quero passar um tempo com ele.

— Não é errado, não é loucura. – Murmurou segurando minha mão. – Vocês seriam perfeitos um para o outro, mas o tempo está errado.  Sinto muito.

— Eu sei, eu também sinto. – Confessei.

— Bem... Por que você não me fala como é ser rica? – Perguntou mudando de assunto. – Eu bem que gostaria de tirar alguns meses, para ser nada além de rica.

— Não pense que foi fácil. – Ri.

— Oh sim, tenho certeza que foi um trabalho árduo estar cercada de luxo e ser constantemente servida. – Zombou.

— Na verdade, eu dei trabalho para todos os empregados da mansão. – Sorri ao me lembrar. – Quase provoquei um avc em nossa cozinheira quando assumi a cozinha para fazer biscoitos para crianças, e Roy o rapaz da manutenção também ficou assustado quando encontrou sua “patroa” escondida na dispensa. – Parecia tão distante agora, pensar na ocasião.  – Oh , e minha sogra me odeia. – Ergui um dedo a provocando. – Por que eu não comprei bebidas para sustentar seu vício. – Helena não sorria mais. – O que foi?

— Tantos “meus”, e “nossa” me fez perceber que vai ser mais difícil do que eu pensava para você voltar para nossa realidade. – Frisou.

— Eu estou ciente de que nada ali era meu de fato, Helena. – Murmurei aborrecida. – Vai ser assim agora? – Perguntei rudemente. - Não posso falar livremente do tempo que passei com os Queens sem que você me lembre, constantemente que não faço parte disso? – Questionei fazendo-a recuar. - Eu vivi aquilo. – A lembrei. – Eu realmente vivi cada momento daquilo, e só tenho você para compartilhar sobre isso, conversamos por telefone, mas há coisas que não falei em detalhes e gostaria de falar com você.  – Respirei fundo tomando uma pausa. – Só que quero que seja sem ser censurada e corrigida a todo momento, por que por quatro meses eu fui a mãe daquelas crianças, eu fiz parte daquela família, e tive em Thea a amiga que não esperei encontrar lá, e Oliver, bem, Oliver foi meu marido. Ele não é, não vai ser, mas foi. Com quem mais posso conversar sobre quão confuso isso tudo é, senão você?

Helena pareceu analisar minhas palavras. Eu entedia, ela estava preocupada comigo, ela era minha melhor amiga e se via no papel de me proteger e lembrar de como as coisas realmente são, mas ela também deveria me ouvir certo?

— Ele foi o meu primeiro e ainda não falei com você sobre isso.  – Deixei escapar mantendo meus olhos baixos. Senti sua mão sobre a minha.

— Você pode falar sobre qualquer coisa comigo. – Murmurou por fim. – E mesmo eu, sei quando estou sendo invasiva, a partir de agora manterei minha preocupação controlada e me limitarei a te escutar. – Prometeu. Seus olhos estavam ainda mais sérios quando acrescentou. - Mas saiba que quando precisar de mim, pode contar.

— Eu sei disso.  – Sorri por fim.

— Agora, fale sobre sua primeira vez. – Tornou a se deitar confortavelmente na cama. Um grande sorriso em seu rosto, e conhecendo Helena como eu conhecia, sua animação era de fato real. – Diga que foi melhor que a minha, precisa ser, afinal aquele homem não é um adolescente desajeitado que não sabe sequer tirar o sutiã de uma mulher. – Fez uma careta.

— Foi bom. – Murmurei não sabendo ao certo como abordar o assunto, sim, eu desejava falar com ela sobre, mas não significava que era fácil. Helena me encarou obviamente esperando mais.  Suspirei cedendo. – Foi ótima, não digo apenas pelo sexo, mas por como aconteceu. Você sabe que não me mantive virgem por esperar o cara certo, por desejar algo especial, mas foi, ele foi cuidadoso, e generoso.

— Você chegou lá – Ergueu as sobrancelhas sugestivamente. Meneei a cabeça, não queria ser tímida justamente com Helena, mas falar sobre sexo não era bem meu tópico preferido.

— Não com o ato em si. – Confessei. – Foi desconfortável e doí mais do que certos livros gostam de passar. – Reclamei. – Mas antes... – Deixei no ar. – Sim.

— E na segunda vez? – Helena perguntou confusa. – Com um homem daquele é de se esperar que a segunda vez seja bem feita...

— Bem...

— Vocês ainda não tiveram uma segunda vez? – Perguntou incrédula.

— Digamos que tivemos momentos agitados. – Dei de ombros.

— Felicity Smoak. Tudo pode ser arranjado quando se deseja. – Meneou a cabeça com desaprovação. – Um banheiro? Um armário de serviço, qualquer coisa?

— Tivemos que lidar com outras coisas antes... – Defendi-me.

— Está bem. – Ergueu-se e saiu da cama me surpreendendo. – Eu vou embora.

— O quê? Por quê? – Estava confusa com aquela reação repentina.

— Para você transar é claro. – Murmurou séria. – Eu tenho certeza que esse homem só não subiu até agora por que eu estou aqui. – Ela não estava errada quanto a isto. - Nosso serviço de quarto é ótimo, suas coisas já deviam estar aqui, eu vou embora, pois me nego a ser sua empata foda.

— Helena... – Ajoelhei-me na cama pensando em uma maneira de impedi-la de ir assim.

— Estou indo, amanhã nos encontramos no hospital. – Murmurou indo até a porta, no momento em que ela segurou no trinco a porta foi empurrada e ela recuou, Oliver entrou carregando uma caixa de pizza, seu olhar confuso ao notar a determinação no olhar de Helena, o rapaz que estava com nossas coisas entrou sem dizer nenhuma palavra e saiu da mesma forma, ela sorriu olhando de um para o outro.

— Você já está indo? – Oliver perguntou ao notar que ela permanecia no mesmo lugar.

— De nada. – Seu sorriso tornou-se mais amplo, Oliver ficou ainda mais confuso.

—Eu trouxe pizza. – Murmurou como que querendo fazê-la mudar de ideia, talvez pensando que Helena o estava evitando. Isso atraiu sua atenção, Helena se aproximou e abriu a embalagem, sem cerimônia tirou um pedaço de dentro e deu uma dentada. Para minha surpresa e de Oliver, Helena lhe deu três tapinhas no ombro e sussurrou:

— Usem camisinha.  – Com isso foi embora, levando o pedaço de pizza e deixando a porta se fechar com um baque constrangedor.

Comprimi meus lábios e observei Oliver coçar a cabeça.

— Essa foi Helena Bertinelli. – Murmurei por fim.

— Ela me lembra um pouco de Tommy. – Confessou deixando a caixa na mesa com duas cadeiras que havia por perto. – Então...

— Então... – Repeti quando ele parou em minha frente, como eu ainda estava de joelhos, não tive que erguer tanto a cabeça quando se aproximou. Suas mãos pegaram as minhas e meus dedos entrelaçaram aos seus.

— Eu pensei que estava lhe dando espaço para restabelecer antigas ligações, e vocês estavam falando sobre sexo. – Considerou.

— É Helena, ela pode passar de um tema a outro com extrema facilidade. – Não chegava a ser uma mentira.

— Eu tenho. – Oliver murmurou de repente.

— O quê?  - Perguntei confusa, por um momento pensei que se referia a mesma facilidade de mudar de temas como Helena. Mas Oliver apenas ergueu as sobrancelhas sugestivamente.

— Oh. – Murmurei.

— Oh.  – Repetiu divertido.

— Você não está cansado? – Talvez eu estivesse sendo ingênua, mas tive que prolongar sua tortura com aquela pergunta. Oliver soltou minhas mãos, as pontas de seus dedos entrando em contato com minha pele por baixo da minha blusa, a erguendo apenas levemente, seus dedos dançando por minha cintura muito lentamente, distraindo-me, aquecendo.

— Eu posso descansar depois. – Murmurou fitando meus lábios. – Você está?

Como ele acha que eu poderia me concentrar em lhe dar uma resposta agora que seus dedos delineavam o cós da minha calça? Olhei para baixo o vendo brincar com o botão, tentando-me.

— Felicity? – Ergui meus olhos. Oliver me encarava repleto de luxúria, seus olhos aquecidos, o desejo cru presente neles.

— Eu posso descansar depois. – Murmurei enlaçando seu pescoço e atraindo seus lábios para os meus. Seus lábios devoraram os meus, exigindo, tomando e ainda assim, dando. Sua língua contra a minha era abrasiva, desafiante, não dando espaço para timidez, hesitação.  Correspondi ao beijo com fervura, precisando fazê-lo durar.

As mãos de Oliver ergueram minha blusa, o tecido deslizando sobre minha pele em um ato provocativo. Recuei para me livrar da peça e logo em seguida mantive minhas mãos inquietas sobre seu corpo ainda vestido, precisando livra-lo de suas próprias roupas, mas Oliver impediu-me ao ocupar minha boca mais uma vez com a sua, suas mãos puxando-me contra o corpo forte, o tecido de sua roupa contra minha pele nua deixando-me ainda excitada.

Oliver empurrou meu corpo, fazendo com que eu me deitasse na cama, e então recuou, assistindo-me com seus olhos febris. Exibiu um sorriso mínimo, orgulhoso, arrogante e lascivo, e então puxou sua camisa por sobre a cabeça em um gesto único, seduzindo-me ao exibir aquele corpo que tanto me atraia. Com suas pernas entre as minhas, Oliver não fez mais do que me contemplar, parecendo tomar um tempo para absorver o que via.

— Tão linda. – Murmurou antes de se abaixar, seu peito entrando em contato com meus seios, sua mão envolvendo minha cintura, atraindo-me para si, provocando maior contanto entre nossos corpos.  – Foda.

Eu queria protestar, uma parte minha sabendo que eu sempre iria competir com Megan, mas mantive para mim. A insegurança não tinha espaço para esse momento.

A mão de Oliver envolveu meu pescoço, seus lábios descendo pelo meu colo até chegar aos meus seios, soltei um gemido quando senti sua boca no topo de um, sua língua tracejando a borda. Oliver sorriu contra minha pele poucos momentos antes de sua mão alcançar minhas costas, com agilidade que faria Helena sentir inveja, Oliver abriu o fecho do meu sutiã e jogou a peça de lado. Seus olhos passando por meu rosto antes de se concentrar mais uma vez em meus seios.

Deus, eu amava como ele me encarava. Amava a forma como seus olhos pareciam acariciar cada pedacinho da minha pele exposta.

Oliver estava faminto, e meu corpo era seu banquete.

— Oh. –Suspirei ao sentir seus lábios se fecharem ao redor de um mamilo, chupando fortemente, fazendo com que meu corpo estremecesse contra o seus. – Oliver.  – Gemi seu nome uma e outra vez enquanto sua atenção estava focada em meus seios.

Minhas pernas apertaram sua cintura, cada mordida, cada sucção fazendo com que minha pélvis moesse contra a sua, arrancando gemidos meus e seus. O calor aumentando gradualmente até que as mãos impacientes de Oliver foram até minha calça, seus dedos cuidando daquele infame botão, logo suas mãos puxavam minha calça e calcinha em um movimento só para baixo, livrando-me do inconveniente que elas eram.  A cada peça que ia embora Oliver parecia ainda mais faminto, seus olhos comendo-me enquanto me despia.

Suas mãos alcançaram meus joelhos, e sem nenhuma cerimônia, sem quaisquer avisos, Oliver os separou, sua intenção clara quando sua boca desceu por minha barriga, mas a fome de Oliver era urgente, e agora seu corpo já me era familiar, em questão de segundos ele recou para se livrar do restante de suas roupas, e sim, tomou seu tempo colocando a camisinha, e então, ele se colocou entre minhas pernas, meu corpo se arqueando ao ser penetrado.

Ainda pude sentir um leve incomodo, mas não era nada como antes. E nada comparado a sensação que ser preenchida me provocava. Oliver se movimentava tocando todos os pontos certos, fazendo-me gemer seu nome, implorar por mais. Eu precisava dele, mais forte, mais rápido, mais.

A cada novo impulso, seu corpo batia contra o meu provocando sons luxuriantes, minhas mãos estavam cheias dele, em suas costas, em suas coxas, sua bunda, e então se fechando em seus cabelos quando se curvou para mais um beijo. Lento, profundo e escorregadio, tão lascivo quanto o sexo, tão bom quanto. Estremeci, gemi e me entreguei completamente ao orgasmo que se alastrou por todo meu corpo, até que Oliver também chegou ao êxtase. Seu gemido rouco abafado contra minha pele.

Seu corpo desmoronando contra o meu.

O peso de seu corpo contra o meu era o meu mais novo vício. Abracei seus ombros, enquanto sentia sua respiração contra minha pele ainda aquecida, pequenos tremores ainda se propagado por meu corpo.

— Cansada? – Perguntou fazendo com que eu risse, e sentisse o seu próprio riso contra minha pele. Eu amei aquele som. Soltei a contra gosto seus ombros quando demostrou a clara intenção de se afastar, Oliver rolou para o lado, aliviando o peso, ele me encarou com seus olhos sorridentes e amorosos, e eu não pude resistir ao ímpeto de aproximar o meu rosto do seu, meus lábios encostando-se nos dele apenas o suficiente para um gesto terno, sua mão se ergueu, seu dedo traçando meu perfil, seu sorriso fazendo coisas com meu coração.

 - Preciso me limpar. – Murmurei por fim. Ele assentiu concordando.

— Eu também. – Oliver se levantou sem se incomodar com sua nudez, e foi até o banheiro, dando-me um vislumbre de suas costas e de sua bunda.

— Você vem? – Oliver perguntou colocando uma cabeça para fora. O encarei com preguiça.

— Eu não sei, meus músculos viraram geleia. – Falei sincera.

— Isso é um convite para eu ir aí te buscar? – Questionou-me interessado. – Não sei se terei forças para lhe tirar da cama depois.

— Isso deveria me fazer mudar de ideia? – Brinquei. Oliver pareceu considerar, e quando ele fez menção de voltar eu me ergui. Eu não estava tão confortável como ele com minha nudez, mas me forcei a ignorar isso, principalmente quando Oliver parecia apreciar meu corpo, tanto quanto eu apreciava o dele.

Ainda achava o ato de tomar banho juntos, íntimo demais, mas não me incomodei. A intimidade após o sexo era bem vinda. As mãos de Oliver eram brincalhonas quando me acariciava durante o banho, e seduziam muito facilmente, e foi apenas a certeza de que logo o dia nasceria, e eu precisava de um sono adequando antes de encontrar minha mãe, que me impediu de levar adiante o que ambos queríamos.

Dormimos nos braços um do outro, ato que nos foi imposto antes mesmo do sexo, e era muito apreciado por ambos. Eu me perguntava como seria quando não pudesse mais ter Oliver me abraçando durante o sono.

O movimento dos dedos de Oliver por minha coluna foi o que me despertou.  Minha cabeça estava encostada ao seu braço, e minha perna estava por cima da sua, sentia seu corpo quente contra o meu, e uma sensação cálida me acometeu. Eu não havia tido isso na nossa primeira vez, ele teve que sair antes, e eu perdi isso. Acordar ao seu lado após o sexo.

Ergui minha cabeça, meus lábios formando um sorriso antes mesmo que eu pudesse registrar o seu. Oliver me encarava feliz, parecia tranquilo, desprovido de quaisquer preocupações. Sabíamos que a realidade era diferente, que logo eu teria que me levantar e ir de encontro a minha mãe, Oliver teria que fazer ligações, falar com seus filhos, teria que aceitar todos aqueles problemas que havíamos decidido ignorar, por hora, mas agora estávamos presos em nossa própria bolha.

— Bom dia. – Murmurou com sua voz rouca.

— Bom dia. – Respondi movendo-me para apoiar meu braço em seu peito, meu queixo descansando ali, meus olhos absurdamente encantados com sua expressão.  Seus dedos continuavam dançando sobre minha pele, ele parecia até mesmo alheio a carícia, como se não pudesse se conter, mas nem mesmo percebesse essa necessidade.

Eu me perguntava se ele sempre havia sido assim.

Odiava fazer comparações, não às achava justas, mas parecia ser impossível não fazê-las. Não exatamente com Megan, não. Eu estava ciente que mesmo inconscientemente, Oliver sempre teria Megan como referência para comparar a mim, seu relacionamento, suas atitudes, tudo, por que somos quem somos, por ter feito o que fizemos, e por que nossas vidas sempre estariam ligadas uma a outra, não havia como não fazê-lo. De minha parte eu já conhecia bem como havia sido o casamento de Oliver e Megan, eu havia vivido o casamento de Oliver e Megan, a própria Megan me alertou que não havia gestos de carinhos, abraços excessivos, encontrar de mãos... Ela já havia me dito que não era algo que eu devia me preocupar, então eu sabia, que até então, isso que vivíamos agora, era nosso. Mas como havia sido o primeiro casamento de Oliver?

Tinha tido gestos de carinhos? Aconchegos diante uma lareira, ou apenas o segurar de mãos por que a intimidade entre casal despertava a necessidade do toque, do entrelaçar de dedos? Eu não estava com ciúmes de uma mulher morta, de um relacionamento que já havia acabado, eu até mesmo desejava que houvesse ocorrido assim, por que Oliver merecia a parceria em um casamento. Eu só estava curiosa, por que nunca havíamos conversado sobre sua primeira esposa, eu sabia muito pouco sobre ela, tudo pela perspectiva de Megan. Havia visto uma foto sua em apenas uma ocasião, que foi quando Megan muito rapidamente me mostrou quando estava me “educando”.

Observei os olhos de Oliver se estreitarem, com o dedo indicador tocou um ponto entre minhas sobrancelhas como esfregasse um nó invisível. O encarei confusa.

— Você parece ter recuado. Havia preocupação em seus olhos. – Confessou. – O que aconteceu? É sobre sua mãe?

— Não. – Neguei. – E sim. – Assenti. – Sim, por que de uma maneira ou de outra a preocupação com minha mãe sempre está lá, mesmo que escondida entre outras eventualidades, mas não por que eu estava pensando em outra coisa no momento. – Confessei. O encarei hesitante. – Posso lhe perguntar algo?

— Claro. – Concordou de pronto.

— É íntimo, demasiado pessoal e talvez não queira responder. – O alertei. – O que compreenderei. Então, basta ser sincero comigo se não desejar falar sobre.

— O que aconteceu? – Estranhou minha hesitação.

— É sobre sua primeira esposa. – Falei por fim. – Nós nunca conversamos sobre ela, você apenas a citou naquela noite... – Interrompi-me. A lembrança do que havia dito sendo jogada sobre mim, levando-me como uma onda, deixando meus pés sem tocar a superfície, fazendo-o com que eu me sentisse desorientada por alguns segundos.

Era uma promessa, uma promessa que nunca consegui fazer a nenhuma antes, nem mesmo minha primeira mulher, e jamais a Megan.”

Oliver me encarou com expectativa, como se ele houvesse escutado suas próprias palavras soar em sua mente, assim como eu. Mas enquanto eu estava assustada, Oliver exibia um sorriso muito pequeno. Talvez ele houvesse pensado que eu não havia escutado direito, ou apenas esquecido e apenas agora obtivesse a certeza de que eu estava ciente da profundidade do que havia dito.

— Em fim. – Meneei a minha cabeça. – Eu só estava curiosa.

Para minha surpresa ele ergueu seu torso, sentando-se, puxei o lençol contra meus seios permitindo sua distância. Pensei que ele precisasse se afastar de mim, para poder recuar no tempo e contar sobre a vida que teve com sua primeira mulher, mas eu estava errada. Oliver puxou-me para seus braços, suas mãos segurando minha cintura, colocando-me em seu colo, minhas pernas ao lado de cada coxa sua.

Meus olhos foram de imediato ao encontro dos seus, e percebi que essa havia sido sua intenção, eu não podia fugir dessa intimidade, de seu escrutínio estando tão perto de seus olhos.

— Não foi um casamento por amor.  – Falou antes que eu pudesse emitir um som de protesto. – Mas foi regido por respeito e carinho.  Não era para ser algo sério, honestamente, eu não estava interessado em casamento, nossas famílias estavam. – Explicou. – Ela era filha de um amigo próximo do meu pai, era mais nova, não como você e Megan e era linda. Eu só queria diversão, um namoro rápido no máximo, era conveniente estar com ela, assim como era para ela estar comigo. 

— Era como o que você tinha com Megan? – Perguntei tentando visualizar.

— Não. – Negou. – Megan sempre foi mais adulto. – Fiz uma careta em resposta.

— Mas sexual. – Acrescentei involuntariamente.

 - Sim. – Respondeu. – Era o que era, Felicity, não posso mudar o que já aconteceu. – Havia preocupação quando disse isso. Como se temesse minha reação, achando que eu fosse me afastar só em menção a sua relação com Megan, suas mãos até mesmo deram um aperto involuntário em minha cintura, como se desejasse impedir.

— Não estou pedindo isso. – Pontuei.  – Continue. – Pedi.

— Com Samantha era conveniente por que ela sempre foi superprotegida. – Esclareceu. – Ela viu em mim a oportunidade de ter um relacionamento que a família aprovasse, mas que depois pudesse terminar tranquilamente. Por que ela sabia que não havia grandes sentimentos, nada que me prendesse a ela, então... – Deixou o resto no ar.

— O que mudou?

— Surgiu algo que me prendesse a ela. – Disse com uma centelha de vergonha.

— Ela engravidou.  – Deduzi. – E você quis assumir a responsabilidade casando.

— Parecia ser o certo. – Segurou minhas mãos, seus olhos deslizando para o meu corpo que havia ficado exposto, mas então fixando em nossas mãos novamente, por um tempo me vi presa ali também, abri minhas mãos e deixei meus dedos se entrelaçar aos deles as fechando dessa maneira. – Will não foi planejado, mas o amei de imediato, nunca quis uma família, nunca pensei que formaria uma família com ela, mas não me arrependo, não conseguiria ignorar um filho meu, e quis fazer parte de cada aspecto, perguntei se ela queria levar a gravidez ao fim, mesmo tendo medo de sua reposta... – Ergui meus olhos, e mergulhei na profundidade do amor que enchia os seus. Amor por aquelas crianças. – Quando ela disse que não, eu prometi que estaria sempre ao seu lado, que ela poderia contar comigo. Fomos mais amigos que amantes, menos um do outro e mais do nosso filho, fomos mais família. Teve respeito e carinho. – Concluiu voltando a dar de ombros.

— Lexie foi planejada? – Questionei lembrando-me que a idade de Lexie era muito próxima a de Will. Oliver assentiu.

— Ela queria outro filho, eu não sabia na época, mas ela já sabia que estava doente. – Parecia estranho para mim, com um bebê para cuidar e já desejar outro. Nunca fui mãe, nunca estive perto de mães, o mais próximo que tive dessa experiência foi com William e Alexia, e eles já passavam dos 5 anos. Só podia imaginar o desgaste mental e físico que era ter que cuidar de um bebê esperando por outro, como uma pessoa poderia considerar ter outro tão logo? – O que foi? – Perguntou analisando meu silêncio.

— Se eu pudesse apostar eu teria dito que era o inverso, que Lexi não havia sido planejada. – Confessei. Oliver ergueu as sobrancelhas surpreso e curioso. – É estranho para mim, desejar ter outro filho enquanto você ainda tem um nos braços. Desculpe. – Murmurei temendo tê-lo ofendido.

— Eu pensei o mesmo.  – Murmurou me surpreendendo. – Eu não concordei de primeira, mas ela insistiu, ela parecia precisar disso. – Franzi o cenho ao perceber que Oliver havia soado um pouco amargurado com o que disse.

— Você ressente? Por que ela já sabia que estava doente? – Questionei.

— O tratamento precisou ser adiado, por que ela estava grávida. – Explicou. – E ela engravidou já sabendo que isso aconteceria, eu não sei se ela subestimou sua doença, se foi excesso de positividade ou apenas egoísmo, há dias que inclino para um ou outro, o que sei é que ela teve os filhos, e então morreu, e me deixou sozinho com eles.

— Você ressente.  – Repeti, agora não mais uma pergunta. A contragosto, Oliver assentiu.

— Mas tal como Will, eu não consigo me arrepender, eu amo minha filha. – Não duvidei disso, nem por um minuto. Sorri ternamente ao pensar nas crianças, suas crianças.

 – São especiais, os dois. Você está fazendo um bom trabalho, Oliver.

Dirigiu-me um sorriso orgulhoso, feliz por escutar isso.

— Obrigado. – Seus olhos fixaram em meu rosto, suas mãos subindo e descendo por minhas costas, a suavidade em seus olhos duelavam com o desejo, eu podia notar, mas havia algo mais, Oliver apesar de tudo parecia ele mesmo imenso em seus pensamentos, e por ter tido uma postura semelhante, por ter tido a mesma hesitação, eu sabia que havia algo que ele queria perguntar.

— O que foi? – Murmurei levando minhas mãos ao seu resto, meu polegar o acariciando, por algum motivo, deixar de toca-lo parecia uma tarefa muito difícil.

— Tenho medo de estragar o momento. – Confessou.

— O que você quer me perguntar? – Questionei curiosa, mas um pouco distraída. Não levando a sério seu aviso. Suas mãos pararam abrangendo minha cintura, estar sentada sobre ele era uma distração.

— São eles? – Perguntou por fim, a seriedade em seu tom fazendo com meus olhos que haviam descido por vontade própria, voltassem a encontrar os seus. – São meus filhos que a impedem de ficar comigo?

Inclinei minha cabeça o analisando, um suspiro triste retumbando em peito. Sem que ele protestasse saí do seu colo, a necessidade de me afastar sendo evidente. Oliver me dirigiu um olhar magoado e eu soube que não foi um movimento legal para se fazer agora, ele pensou que eu estava rejeitando-o, por conta das crianças.

— Não. – Murmurei tornando a puxar os lençóis contra os meus seios. – Eu os amo. – Murmurei sincera e não conseguindo enfrentar a intensidade de seu olhar me levantei procurando por algo para vestir, entrei no banheiro e voltei envolvida com envolvida com um roupão. Para minha surpresa Oliver tinha continuado inerte, envolvido em seus próprios pensamentos, sequer havia exigido algo mais de minha frase, então fui até a cama e sentei em sua frente, Oliver ergueu os olhos, percebendo meu olhar sobre si.  – Se daqui cinco anos, eu conhecesse um homem lindo, com olhos suaves e gentis, eu certamente me sentiria atraída por ele, se por ventura, ou força do destino eu me encontrasse com ele novamente, conversássemos e aos poucos fôssemos descobrindo pequenos detalhes um do outro, eu ficaria tentada a encontra-lo uma vez mais, e quando fosse revelado que ele tinha duas crianças lindas, educadas e carinhosas, eu me encontraria encantada com eles. Se esse homem bom me conquistasse ao ponto de eu desejar seguir uma vida com ele, eu teria que considerar sim a carga extra que são os dois filhos, mas isso não me impediria, não quando meu coração já estivesse tão envolvido não só com ele, mas com sua família.

— Felicity...

— Não foi o que aconteceu. – Murmurei triste. – Não foi assim que o conheci. Eu te conheci de maneira enganosa, e sempre vou me questionar sobre a linha que divide seus sentimentos por mim, e pela função que eu possa exercer para sua família, se apenas sou qualificada para ser uma mãe e que de bônus você gostou de mim, de verdade, ou se você me vê antes de qualquer coisa, antes de tudo isso, como Felicity Smoak. Você se casou por seu filho, em seu primeiro casamento. Casou por eles novamente, no segundo. Eu não quero preencher uma vaga Oliver.

— O que sinto por você não resume a isto. – Negou com veemência.

— Não, mas faz parte. – Falei convicta. – E eu entendo, seus filhos são sua prioridade, e essa é uma das razões pelas quais eu te am... Admiro tanto.  – Tropecei na palavra. O cenho de Oliver franziu, como se perguntasse se não havia escutado errado. – Eu não o condeno por isso, mas tire toda a bagunça que Megan criou, tire tudo, e eu serei a mesma garota que ainda deseja crescer: profissionalmente e emocionalmente. – Esclareci. - Estamos em estágios diferentes, temos vidas completamente diferentes, e eu não tenho dúvida, eu poderia facilmente apressar meu passo para te alcançar, mas fazer isso seria pular etapas, e não é justo, para todos nós. Você sabe disso. – Já havíamos chegado a essa conclusão antes, mas agora soava ainda mais dolorosa. - Eu ainda tenho contas para pagar, eu ainda tenho que cuidar da minha própria educação, da minha mãe, eu adoraria ter te conhecido cinco, seis, ou até mais anos mais velha, mas não aconteceu. – Dei de ombros. - Eu nunca antes sequer pensei se queria ter filhos, eu acho que apenas imaginei que aconteceria naturalmente quando encontrasse alguém, depois.

— Entendo. – Assentiu ainda sério. Machucou-me perceber que ele realmente parecia triste e magoado com o que eu disse. – Você merece isso. Eu só queria encontrar uma maneira de permanecermos na vida um do outro, apesar de tudo.

— Seria impossível conviver com vocês e não desejar estar com vocês. – Meneei a cabeça negando. Oliver segurou meus pulsos e me surpreendeu ao beijar minha testa de forma terna, fechei meus olhos, absorvendo o carinho, sentindo-me profundamente triste por perceber que o clima leve havia indo embora, não importava o lugar, nossos problemas não iam sumir apenas por que entramos em um avião. – Eu preciso me arrumar, preciso ir até minha mãe. – Murmurei afastando meu rosto.

— Ainda temos esses dias, certo? – Oliver perguntou esfregando meu pulso. Assenti. Estávamos nos torturando.

— Sim. – Murmurei precisando expressar a afirmação em palavras.

— Imagino que queira fazer isso sozinha. – Considerou. – Visitar sua mãe. – Voltei a assentir.

— Mas também desejo que a conheça, apenas não agora. – Apressei-me a dizer. Oliver sorriu.

— Seria um prazer. – Falou por fim. – De verdade. Eu vou ficar por aqui, ligue-me se precisar que eu a busque.

— Está bem.  – Concordei antes de separar minhas roupas e entrar no banheiro, quando estava pronta liberei o banheiro para ele. Não pude evitar comparar esse momento com a noite anterior.

Apenas quando ele fechou a porta atrás de si, que deixei meu corpo cair na cama, meus pensamentos indo e voltando para nossa conversa. Eu podia aproveitar que ele estava no banheiro e apenar sair, de certa forma já havíamos nos despedido, mas eu não tinha certeza se o horário de visita já havia começado e Helena havia me dito que mandaria uma mensagem confirmando, me arrastei na cama para conferir se havia alguma ligação perdida de Helena, mas não havia nada, é claro que eu podia ligar para minha mãe, mas queria fazer uma surpresa.  Justo quando eu estava me questionando se deveria fingir uma chamada de Helena e evitar mais um clima estranho entre nós dois, a tela do celular ascendeu, mostrando uma nova notificação.

Helena avisava que estava no saguão do hotel me esperando. Respondi rapidamente que estava descendo e fui até a porta do banheiro, tocando-a com hesitação.

— Oliver? Eu já estou indo. – Avisei. – Qualquer coisa me mande uma mensagem, certo? – Por um momento imaginei que ficaria sem resposta, mas quando eu ia dar as costas a porta se abriu repentinamente, Oliver vestia apenas uma toalha, tudo o que pude registrar foi seu peito nu molhado antes de ser surpreendida com um beijo necessitado, cru e urgente, havia tanto desespero naquele beijo, abracei seu pescoço deixando meu próprio desespero emergir. E então seu rosto se afastou do meu, e seus olhos, Deus seus olhos encara-me aflitos, segurando minha nuca Oliver tocou minha testa com a sua.

— Não desista de mim. – Pediu.

— Eu não quero. – Repeti ciente que já havíamos repetido essas mesmas frases outras vezes, e o sentimento não passava, não recuava. Com um último beijo rápido, mas cheio de ternura, eu me afastei, ainda abalada pela forma com que Oliver  havia me segurado.

Tomei o tempo do elevador para me controlar, mas pelo olhar de Helena, eu sabia que não tinha tido muito sucesso. Seja o que for que ela viu em meus olhos, ela ignorou, talvez em prol do que havíamos discutido ontem.

— Você não deveria trabalhar hoje?

— Estou doente. – Respondeu. Meneei a cabeça não podendo deixar de admirar sua ousadia em dizer isso estando no saguão do hotel.

— De fato seu estado é lamentável. – Comentei deixando meu braço se enganchar no seu.

— Melhor do que o seu.  – Falou apontando para minha blusa, havia algumas marcas de água. – Na verdade, não, posso imaginar o que causou isso, e você está melhor, definitivamente.

— Qual exatamente é o horário de visitas? – Perguntei ignorando seu comentário.

— Não estamos indo para o hospital. – Falou com estranha calma. Parei em brusco bem na entrada no hotel.  – Calma, sua mãe está bem, está em casa.

— Você disse...

— Eu sei, eu menti. – Deu de ombros.

— Helena...

— Ouça, você chegou tarde da noite, com aquele pedaço de mau caminho ao seu lado.  – Falou. – Mesmo ainda não inteiramente ciente do que acontecia, eu não queria que você fosse para sua casa, no meio da noite. – Explicou. – Eu sabia que você estava ansiosa por ver sua mãe, e sabia que ela estando em casa você iria. Você conhece sua mãe, chegar em Vegas de surpresa, no meio da noite soa como se estivesse fugindo, ela ficaria preocupada.  Então menti.

— Dizendo que ela estava no hospital! – Reclamei.

— Sim. E só o fato de existir horário de visitas a impediu de ir. – Falou sem culpa.  – Você não pode ir do caos direto para sua casa, Felicity, precisava de uma transição tranquila, uma noite no hotel e sexo com seu Oliver deve ter te dado isso.

Meneei a cabeça diante sua última frase.

Irritada com sua conclusão, e por ela estar certa lhe dei as costas e fui para a rua.

— O que você está fazendo? – Correu para o meu lado.

— Vou pedir um táxi. – Respondi, já erguendo meu braço na esperança de chamar a atenção de um. Mas a vida não era um filme em que um táxi vazio estava sempre por perto quando você precisasse. Talvez eu devesse chamar um uber, embora ainda não conseguisse confiar nesse sistema.

— Se acostumou mesmo a boa vida. – Comentou abaixando meu braço. – Chega de transição suave, vamos andando.

— O quê? – Perguntei incrédula. Gostaria de ter tido mais tato ao fazê-lo, por que até agora eu só dava mais razões para Helena temer minha adaptação de milionária para... Pobre.

— Temos muito que conversar. – Respondeu guiando-me. – Faz bem para saúde e...

— E eu não gosto. – Resmunguei. – Ser levada de um lado para o outro era a única vantagem que eu tinha em ser Megan Queen. – Confessei. – Embora eu teria ficado mais animada se tivesse tido a oportunidade de pegar em seu carro, o que seria tolice, pois eu terminaria morta, mas o que importa aqui é que: Eu não gosto. – Repeti. Helena bufou.

— Eu não me importo. – Retrucou.

— Helena...

— Oliver devia ser uma vantagem também. – Considerou ignorando meus protestos. – Vocês dormiam na mesma cama, certo?

— Você sabe que sim. – Estreitei meus olhos considerando o rumo que sua mente tomava.

— Quais as chances de eu consegui uma foto dele dormindo...

— Não come...

— Pelado.

— Nenhuma! – Declarei firme fazendo com ela risse.

— Vamos, Felicity. – Falou se agarrando ainda mais ao meu braço. – Vamos andar por que eu preciso ser atualizada, e por que você sabe que precisa dessa caminhada. – Cedi, por que ela tinha razão. Conversamos sobre tudo, e todos que conheci em Starling City. Helena particularmente pediu mais detalhes sobre Thea e senti meu coração apertar ao perceber que não veria mais a Queen mais nova, e que minha despedida havia sido fraca e rápida, por que eu tinha sido covarde.  Falei sobre Tommy e Sara, sobre como desejava tê-los conhecido melhor enquanto Felicity Smoak, evitei falar das crianças, mas cheguei a comentar sobre o dia em que levei o cachorro.

Helena por sua vez me atualizou sobre a melhora da minha mãe, dizendo que ela sentia menos dores, e que seu humor estava tal como o de antes. Disse que ela vinha perguntando cada vez mais sobre mim, e que sempre soava muito desconfiada.

Evitamos o assunto Megan, por que Megan devia ser evitada.

Quando cheguei em frente ao meu prédio, parei hesitante. Ainda tinhas as paredes com tintura gastas, descascada. Helena estava certa, era uma realidade completamente da que vivi com os Queen, e era minha.

— Vamos.  – Murmurei para Helena que havia respeito meu tempo em silêncio. Subimos as escadas em silêncio até chegarmos em frente a porta do meu apartamento. Foi ao colocar minha mão no trinco que percebi não tinha as chaves. Helena suspirou e puxou do seu próprio bolso um par extra. Entrei devagar meu olhar passando pelos móveis simples, e pouco, a sala tão pequena que faria com que muito se sentissem aprisionados.  Não mentir e dizer que antes nunca havia ficado incomodada com o lugar que eu chamava de casa, sempre quis mudar, melhorar, mas o retorno para minha casa, sempre veio acompanhando da sensação de lar, minha mãe estava aqui e era isso que importava, sempre fui totalmente dedicada a ela, e ainda era assim, sempre seria, mas a sensação não era mais única, singular. Agora acompanhada a ela veio a sensação de abandono, por que ao entrar na minha casa, eu sabia que deixava algo para trás.

— Helena? – Senti um nó se formar em minha garganta ao escutar a voz da minha mãe soar através das paredes. – Entre, querida, eu estou procurando meu celular. – Gritou. – Quero falar com Felicity, tive um sonho estranho. – Helena indicou que fosse até lá, mas balancei a cabeça precisando escutar um pouco de sua típica ladainha, minha mãe estava sempre me falando sobre seus sonhos, ela jurava que podia prever muito do seu dia apenas tentando interpreta-los. - Ela estava em uma sala cheia de espelhos e não sabia dizer qual era a verdadeira Felicity, e tudo mudou de repente, e então ela estava em um labirinto, mas não sabia que direção ir... – Sua voz mudou soando próxima, ela vinha ao encontro de Helena apesar de tê-la chamado, tão típico de minha mãe e tinha animais falando e tudo pareceu produzido pela Disney... – Resisti à vontade rir com sua frase. - Eu falei com Fabiana, minha amiga sensitiva, ela disse que coisas em... Oh meu Deus! – Murmurou em choque ao me notar lá, no centro da sala. Sorri emocionada, então ela gritou, naquele jeito espalhafatoso, tão dela e correu para os meus braços. – Ela voltou, minha garotinha voltou!

— Eu voltei. – Murmurei contra seus cabelos, minha voz denunciando meu estado emocional. Eu estava de volta, e pela primeira vez, talvez por que estava rodeada por seus braços, eu me senti genuinamente feliz com isso.


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Notas finais do capítulo

"How could I face the faceless days If I should lose you now?
We're so close to reaching that famous happy end
Almost believing this was not pretend
Let's go on dreaming for we know we are
So close and still so far".


Espero que tenham gostado e nos vemos nos comentários!
Xoxo, LelahBallu.



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