A Mesma Face escrita por LelahBallu


Capítulo 10
She Got Horns Like The Devil


Notas iniciais do capítulo

Boa noite!!
Já de volta, e sem muito tempo para falar aqui!!
Então, boa leitura!!



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THEA QUEEN

Encostei minha testa na janela de vidro enquanto apenas observava as ruas movimentando-se com rapidez, a essa hora as ruas estavam praticamente vazias, pessoas eram vistas apenas ocasionalmente. Com um suspiro fechei meus olhos apenas brevemente, precisando daquele poucos segundos de paz, segundos estes em que eu podia concentrar  apenas em mim. Apenas alguns bons segundos.

— Você está bem? - Escutei a voz de meu irmão soar pelo carro interrompendo o silêncio e com ele indo aquela sensação de quietude, paz. Abri meus olhos, pronta para dizer que sim, uma mentira contada tantas vezes que até mesmo eu já não duvidava da minha própria convicção.

Mas a pergunta não havia sido feita para mim.

Tão logo eu havia aberto meus olhos eu podia notar sua atenção a mulher sentada ao seu lado. A mão de Oliver estava em sua nuca como se tentasse aliviar qualquer mal estar com o pequeno gesto. Tudo o que eu podia notar do perfil de Felicity era que ela assentia de forma silenciosa a sua pergunta e que sua cabeça inclinava em direção ao gesto, respondendo ao contado físico de forma inconsciente.

Resisti a vontade de menear a cabeça, indecisa se devia me preocupar ou não com minha mais nova amiga e a possibilidade de que ela acabe com o coração quebrado. Ela estava cedendo, contrariando a si mesmo e possivelmente sem ao menos perceber, Felicity estava se apaixonando por meu irmão. Se ela já não estivesse completamente apaixonada por Ollie. E isso podia ser perigoso. Por que a verdade era que não importa o quanto eu deseje o contrário, o destino de Felicity e Oliver era incerto, e quanto mais tempo ele a conhecesse como a nova versão aprimorada de Megan, mais difícil seria para o meu irmão lidar com a verdade.

De que ela não era Megan.

E acima de tudo, que ele ia querer que fosse.

— Chegamos. – Dessa vez não havia dúvida de que Oliver havia falado comigo, já que tanto Felicity como Ollie estavam foram do carro e minha porta se encontrava aberta. Ollie segurava sua esposa postiça junto a si, e Felicity se encostava pesadamente contra seu corpo, aninhada para ser mais sincera.  – Thea, você precisa de ajuda também?

Havia certa carga de julgamento e irritação em sua frase. Eu sabia que maior parte era por preocupação, mas Ollie havia ido para uma festa da empresa, uma que ele não queria muito ir, e havia sido deixado para trás, sua esposa fugiu comigo, por minha influência, bebeu demais e chegou até mesmo a tirar sua aliança não se esquecendo de afirmar que estava solteira, eu não o julgaria por direcionar toda sua irritação para mim, mas também na aceitaria. A única razão real que fez Felicity sair daquela festa era por ter que lidar com a ex amante de Oliver.

— Eu não preciso de ajuda. – Falei saindo do carro.  – Eu não bebi tanto, ao menos não como ela. – Apontei para Felicity.

— Ei... – Ela protestou. Ela parecia pronta para dizer algo mais, mas franziu o cenho como se houvesse esquecido. Honestamente, eu estava preocupada, Felicity nesse estado ou desmaiaria, ou falaria demais, e na sua atual situação a segunda opção não poderia acontecer. – Na verdade, eu posso muito bem cuidar dela. Vamos, Megan. – A chamei estendendo uma mão. – Eu a ajudo a se trocar e a coloco para dormir.

— Eu não sua criança. – Protestou. – Eu posso muito bem dormir e colocar para me trocar sozinha.

— Heim? – Eu e Oliver murmuramos ao mesmo tempo.

— Eu posso trocar para dormir colocando sozinha. – Repetiu.

— Você não está fazendo sentindo. – Neguei.

— Nem você. – Franziu o cenho, então para minha surpresa riu. – Eu gosto de você, você boa, você sabia?

— Eu sei. - Assenti com paciência. – Vamos? – A chamei novamente. Ela meneou a cabeça em negativa.

— Megan...

— Eu quero ir para a piscina. – Argumentou.

— Bêbada? – Oliver murmurou a encarando. – Não. – Em seguida seu olhar caiu no meu, sério e um pouco desconfiado. – Eu posso cuidar da minha esposa, Thea.

— Eu sei, mas eu achei que ela se sentiria mais confortável...

— Eu não faria nada com alguém que está visualmente fora do seu juízo perfeito. – Oliver murmurou em tom duro, interpretando errado as minhas razões.

— Quem? – Felicity murmurou confusa. Oliver suspirou diante aquela pergunta e meneou a cabeça. Desistindo de servir como apoio e suspeito sem mais paciência, ele ergueu Felicity nos braços sem nenhum esforço. Felicity emitiu um pequeno grito de surpresa, mas que logo foi substituído por um riso.  – Você é forte! - Sua mão moveu-se pelo seu braço. – E cheiroso. – Murmurou antes encostar sua cabeça contra o pescoço dele, inspirando seu perfume. Um sorriso lento veio aos seus lábios quando afastou sua cabeça para encara-lo. - Eu deveria ter te conhecido antes.

— Como? – Oliver murmurou distraído.

— Ela não dirá muita coisa com sentido. – Procurei distraí-lo. – Ela está bêbada, provavelmente acha que está dormindo.

— E sonhando com quem exatamente? – Oliver questionou franzindo o cenho. Não sabia se por ciúme ou apenas por dizer.

— Meu príncipe encantado. – Felicity gracejou. – Não é você, uma pena.

— Eu acho que eu realmente deveria leva-la, Ollie. – Pedi ficando cada vez mais preocupada. – Seria inconveniente para você lidar com ela no momento. – Apelei. Ele estreitou os olhos me analisando, e inabalável respondeu.

— Não. – Negou prontamente. – Eu posso cuidar dela.

— Ollie...

— Por que vocês estão discutindo sobre mim? – Felicity ergueu a cabeça e reclamou. – Eu estou ótima. – Mexeu-se no colo de Oliver tentando descer. – Coloque-me no chão, eu posso provar, eu vou fazer aquilo, como se chama? Que mandam as pessoas bêbadas fazerem?

— Andar em linha reta? – Perguntei confusa.

— Isso. – Assentiu. – Mas também tem outro... Já sei, é isso, eu posso ficar de quatro. – Concluiu. Oliver a encarou perplexo e por um momento pensei que a deixaria cair no chão.

— Fazer um quatro! – A corrigi. – Com as pernas, fazer um quatro.

— Foi o que eu disse. – Retrucou me dirigindo um olhar inquieto.

— Não, não foi. – Ollie murmurou sério.

— Que seja. – Suspirou desistindo de sair de seus braços. – Se é para fazer um quatro, apenas me dê uma folha e uma caneta.

— É com a perna. – Oliver murmurou.

— Oh.

— Apenas a coloque para dormir. – Pedi com urgência. – Imediatamente.

— Você não vai entrar? – Perguntou embora sua atenção agora estava exclusivamente em Felicity que havia voltado a abraçado pelo pescoço, seu rosto oculto.

— Mais tarde. – Prometi. – Agora só vou dar um passeio nos jardins.

— Cuidado. – Falou antes de sair a levando.

Meneei a cabeça enquanto os observava irem, estava entre divertida e preocupada com a situação. Sentia como se estivesse jogando um jogo arriscado ao deixa-la sozinha com ele. Bêbada ela poderia revelar mais do que deveria, e o dia poderia amanhecer carregado de revelações e tensão. Era como jogar na sorte sabendo que não seria sorteada. Com um suspiro de pesar resolvi fazer o que Felicity tanto queria, fui até a área coberta da piscina, não entrei, apenas coloquei meus pés dentro após me desfazer dos meus sapatos.  Fechando meus olhos revivi a noite de hoje, lembrei-me como foi dançar nos braços de Alex e por um momento ficar tentada a deixar tudo no passado, tentada a sugerir que podíamos dar ao nosso casamento uma nova chance, fiquei tentada até que meus olhos procuraram os dele e percebi que sua atenção já não estava em mim, mas em outra mulher.

Foi um banho de água fria e um verdadeiro golpe em meu ego. A ironia é que não achava que Alex ainda seria capaz de me atingir assim.

Como eu poderia ser tão tola?

— Você está bem? – Abri meus olhos de imediato, por um momento não reconhecendo a voz masculina e a temendo, apenas o braço de Roy Harper me envolvendo foi o que impediu de que eu caísse na piscina.

— Deus, você me assustou. – Confessei segurando seu braço com mais força do que deveria. Seus olhos me analisaram, não parecendo perder nenhum detalhe, a intensidade com que me encarava me fez temer até por meus pensamentos.

— Desculpe-me, eu não queria assusta-la. – Murmurou sério, então exibiu um sorriso de menino. – Posso solta-la agora? – Observei minhas mãos agarrando seu braço e percebi que ele havia disso gentil em sua pergunta, por que era eu quem deveria solta-lo. Envergonhada o soltei.  Esperei que fosse embora, almejei, mas para minha surpresa após também tirar seus sapatos e meias, Roy Harper sentou-se ao meu lado, seus pés movimentando-se sobre a água. – Você está bem? – Repetiu.

— Eu estou bem. – Murmurei sem ainda encara-lo. – Você pode ir. – Falei soando de forma rígida e até mesmo como uma ordem. Senti-me mal, embora achasse que provavelmente essa era a única razão por que ele continuava aqui, achava que sua patroa precisava de algo. Escutei um pequeno riso vindo dele e não pude não encara-lo diante isso. Ao perceber minha confusão, ele respondeu.

— Eu não sou seu empregado.  – Falou exibindo mais coragem do que eu esperava. Então seu olhar caiu no relógio em seu pulso. – Não as duas da manhã, de qualquer forma. Se você quer ficar sozinha basta me dizer, com educação.

— Por que você está aqui as duas da manhã? – Perguntei finalmente, a curiosidade me ganhando. Não deixando de perceber que ele havia me repreendido e enfrentado, nem ignorando o fato de que não pedi que fosse embora.

— Eu estava em uma festa. – Respondeu simplesmente. Ainda mais confusa olhei para suas roupas simples.

— Festa? – Não pude deixar de indagar.

— Não o tipo de festa que vocês riquinhos estão acostumados. – Deu de ombros.

— Você não gosta muito de mim, certo?

— Eu nunca responderia a essa pergunta com sinceridade. – Respondeu honesto. – Qualquer uma das respostas irá me complicar pela manhã, quando sou seu empregado, Srª Davis-Queen. – A forma com que falou meu nome, soava mais como um deboche, mas eu estava curiosa demais sobre ele, para repreendê-lo e acabar fazendo com que partisse. Eu já havia observado bastante Roy Harper, para ser honesta sempre fui curiosa sobre ele, não tínhamos muito contato, ele era filho do empregado, do jardineiro, não era comum vê-lo dentro de casa e só estava por aqui há um ano, pelo o que pude entender Roy vivia com sua mãe até que ela morreu em um acidente de carro, seu pai matinha constante contato, o que fez a escolha de morar com o pai mais compreensível do que morar com sua tia. Ele poderia ter morado sozinho, é claro, mas aqui ele tinha a promessa de um emprego.

Ele era bonito, não dava para ignorar isso, mas observar o filho do jardineiro pela janela, era diferente do que vê-lo tão de perto e tão... Descontraído.

— Sendo assim escolherei a opção mais óbvia. – Dei de ombros.

— Que é? – Murmurou parecendo ele agora a ser curioso.

— Que você não gosta de mim, é claro. – Respondi sem hesitar. Sua cabeça inclinou, seus olhos mais uma vez me sondando. – O quê?

— Eu me pergunto como uma mulher bonita e inteligente pode achar óbvio que a única opção é não ser apreciada. – Meneou a conversa com diversão.

— Você está flertando comigo? – Murmurei intrigada. Ele apenas sorriu antes de se erguer. – Roy? – Isso o fez parar, apenas voltar a sorrir.

— Eu jamais poderia responder com sinceridade. – Foi sua resposta. – Escolha a opção mais óbvia. – Murmurou antes de me dar as costas, deixando-me intrigada, e então me surpreendi ao perceber que sorria.

Por que eu escolhi a opção mais óbvia.

FELICITY SMOAK

Tropecei de imediato assim que Oliver me colocou sob meus próprios pés. Eu costumava tirar notas boas em físicas, então o motivo pelo qual a terra está girando tão rápido era desconhecido por mim.

— Ops! – Murmurei segurando em sua camisa quando mais uma vez ele tentou me firmar. Talvez Oliver e Thea tivesse razão, talvez eu tivesse bêbada.

— Não há talvez, você está bêbada. – Oliver murmurou segurando mais firme em minha cintura. Sorri ao nota-lo me encarando.

— Você pode ler mente?! – Eu estava verdadeiramente maravilhada com a possibilidade. Oliver me dirigiu um sorriso divertido.

— Apenas quando ditos em voz alta. – Respondeu.

— Você é como o Superman!  - Falei me afastando e tentando alcançar o zíper do meu vestido.

— Ele não pode ler pensamentos. – Oliver protestou tentando me alcançar, mas dei um passo para trás certa de que eu mesma poderia lidar com aquele vilão sozinha.

— Aquaman. – Insisti.

— Você não é um peixe. – Sorriu.

— Batman. – Falei desistindo momentaneamente do vestido, e decidida a enfrentar meus sapatos primeiros, os chutei para o alto quase atingindo Oliver.

— Batman não pode ler mentes. – Oliver ainda disse, agora estava parado no meio do quarto e se limitava a me observar com os braços cruzados. Parei o que estava fazendo para encara-lo seriamente.

— Batman pode tudo. – Ergui meu queixo, não admitia que dissesse o contrário. Inabalável ele sorriu.

— Não, ele não pode. – Suspirei dando-me vencida.

— Está bem. Eu deixo você ser o arqueiro verde. – Suspirei girando tentando achar o maldito zíper de novo.

— Ele também não pode...

— Não importa, ele é sexy. – Parei irritada desistindo mais uma vez e soltei meus braços ao lado do corpo. – Como eu vesti isso?

— Sóbria.  – Foi sua resposta.

— Eu odeio esse vestido. – Murmurei encarando o tecido sob meu corpo, logo uma sombra se fez e percebi ao erguer a cabeça que era por que ele havia se aproximado. Maldito homem sexy, agora eu não estava mais pensando em tirar meu vestido, apenas sua calça mesmo.

— Eu gosto dele. – Falou ainda sério. – Mas temos que nos livrar dele, vire-se. – Ordenou. Devia haver algum motivo para eu não obedecê-lo, mas como eu não conseguia me lembrar no momento o mais natural foi lhe dar as costas. Senti suas mãos subirem pelas minhas costas, as pontas dos dedos desenhando uma linha imaginária antes de subir e alcançar o zíper. Eu não sabia se era meu cérebro ainda dominado pelo álcool, ou se era apenas ele, mas a trajetória do zíper ao descer foi ainda mais lenta. Arqueei meu pescoço ao sentir seu nariz o roçando e quase me encostei ao seu corpo. Quase. Sua mão apertou minha cintura por um momento e então me afastou de si. – Acho que você pode partir daí. – Murmurou parecendo tenso, o encarei confusa e assenti, minhas mãos já indo até o vestido para tira-lo por completo, mas as dele se ergueram com urgência em um típico pedido de pare. – Você pode fazer isso no banheiro.

— Hum. – Franzi o cenho. – Que diferença faz onde eu tiro? O resultado é o mesmo, eu fico nua.

— Deus. – Murmurou colocando as mãos em meus ombros e me empurrando para trás.  Logo percebi estar sendo empurrada para o banheiro. – Eu devia ter aceitado a ajuda de Thea.

— Para o quê?

— Megan, apenas tome um banho, talvez isso a deixe um pouco mais...

— O quê?

— Apenas entre. – O encarei divertida, e com meus dedos fingindo passos fiz o caminho de seu abdômen até seu peito.

— Alguém está pensando em sexo. – Sorri.

— Megan...

— Odeio quando você faz isso. – Suspirei ao escutar o nome da outra.

— Quando eu faço o quê? – Perguntou confuso. Estalei minha língua não estando mais disposta, apenas lhe dei as costas e terminei de entrar no banheiro fechando a porta atrás de mim.

Como ele pediu, tirei o restante da minha roupa e ainda que não quisesse entrei no chuveiro frio, e embora estranhamente não tenha dado um segundo pensamento sobre isso até então, pensei em nosso beijo de mais cedo.

A forma com que seus braços me envolveram não parecendo querer soltar.

A forma com que seus lábios moviam-se sobre os meus quase com desespero.

A forma com que seu corpo me fez ciente com apenas um beijo como eu estava sendo idiota tentando evitar algo que mais cedo ou mais tarde aconteceria. Havia apenas uma maneira de não dormirmos juntos, e era eu partindo.

Eu precisava ir embora.

— Eu preciso sair daqui. – Murmurei fechando meus olhos e deixando a água cair em meu rosto. Passaram uns poucos segundos antes de que eu escutasse o som de batidas na porta.

— Megan? – Respirei fundo ao escutar a voz de Oliver e desliguei o chuveiro. – Posso entrar?

— Sim. – Murmurei sem pensar muito, tão logo ele abriu a porta percebi meu erro. Oliver parou em meio de um passo e limitou-se a me encarar,  seus olhos dançando pelo meu corpo. Olhei para baixo percebendo tardiamente minha nudez.

— Oh. – Murmurei incerta de como agir, correr para me cobrir era virginal demais até para mim.

E honestamente, no momento eu não conseguia ficar constrangida mesmo estando nua em sua frente.

— Eu não acho que você esteja mais sóbria. – Murmurou simplesmente antes de pegar a toalha e me entregar.

— Você é meu marido.  – Murmurei dando de ombros antes de enrolar a toalha em mim.

— Eu sou. – Assentiu respirando fundo. – Trouxe roupas. – Falou fazendo-me ciente pela primeira vez do que carregava em suas mãos.

— Não é uma camisa sua? – Inclinei minha cabeça com diversão. Ele sorriu.

— Muito cliché. – Respondeu colocando sobre o balcão as roupas. – E possessivo, você já é minha esposa, não preciso estar te reivindicando. – Respondeu antes de caminhar de volta até a porta. – Eu estou te esperando. – Murmurou antes de fechar a porta atrás de si.

— Quem ele engana dizendo que não é possessivo? – Murmurei meneando a cabeça com diversão. Fui até as roupas e fiquei feliz que ao menos ele não pegou nada da verdadeira Megan. Após me vestir e sentindo um pouco mais de clareza em meus pensamentos, finalmente abri a porta me deparando com a cena atípica de Oliver Queen escrevendo em um diário.

Ao menos era o que parecia ser antes de ele rapidamente esconder sob o travesseiro.

— O que era aquilo? – Perguntei me aproximando.

— Nada. – Respondeu cruzando seus braços. Segui o encarando em espera de uma resposta melhor. – Um livro.

— E querido diário é a frase do primeiro capítulo? – Brinquei, só após ri bobamente que percebi ainda não estar sóbria.

— Megan. – Murmurou em tom firme. – Deite-se.

— Oh alguém ainda quer sexo. – Sorri me aproximando.

— E não me importa quanto implore, eu não vou lhe dar. – Respondeu, mais uma vez ri antes de perceber o que significava.

— Ei!

— Apenas deite-se. – Com tapinhas leves no colchão, tornou a mandar.

— Você é muito mandão. – Reclamei embora fizesse exatamente o que dizia.

— Você gosta. – Retrucou se limitando a me observar.

— Não. – Neguei, podia ser algo que a outra Megan gostasse, mas eu não.

— Você gosta. – Seus olhos brilharam ao ver que eu lhe lançava um olhar irritado. – Você não gostava antes, mas você gosta agora. – O encarei surpresa, com antes ele queria dizer a outra Megan? Oliver não podia saber, mas ao usar temos como antes e agora, na verdade em minha mente soava como Megan e Felicity. Não querendo lhe dar uma resposta e com medo do que minha mente ainda um pouco vulnerável pudesse não conseguir controlar minha língua, me mantive em silêncio. Mas ainda assim não deixei de encara-lo. Nem Oliver desviou o olhar.

Tudo o que eu queria era que quando ele me olhasse, ele realmente me visse.

— No que você está pensando? – Questionou-me parecendo genuinamente interessado.

Um longo silêncio se seguiu até que eu pudesse responder honestamente.

— Você está muito distante. – Murmurei por fim. Respondi me referindo a distância entre nós dois na cama.  – Você não me abraça mais. Quando dormimos. – Expliquei.

— Pensei que não queria que eu a tocasse mais, depois de... Depois. – Murmurou vagamente, eu sabia ao que se referia, depois de Isabel. Por um tempo isso foi verdade.

— O fato de ela ter conseguido tirar isso machuca ainda mais. – Murmurei. – Até então eu poderia ao menos contar com seus abraços.

— Megan...

— Apenas... Esqueça. – Murmurei lhe dando as costas. Senti mover-se atrás de mim, sua mão envolveu meu braço e puxou-me fazendo girar de volta, logo meu rosto ia de contra o tecido de sua camisa branca, respirei fundo sentindo mais uma vez seu cheiro e permiti-me ser abraçada por ele, movi meu braço o abraçando de volta.

— Eu não achei que você sentisse falta, não disso. – Confessou. O timbre de sua voz ressoando em meu ouvido.

— Esse é o problema Oliver, eu sinto. – Murmurei revelando mais do que queria, mais do que podia. E ainda assim fui incapaz de me frear. – Quando ela me disse...

— Podemos falar disso amanhã? – Pediu. – Quando você realmente estiver sóbria?

— Eu estou sóbria. – Murmurei teimosa. Embora, se pudesse admitir, tudo ainda parecia vir de longe.

— A única razão pela qual você está me dizendo o que sente, é por estar bêbada. – Ele respondeu contra meus cabelos.

— Você está certo. – Concordei. – Há tantas coisas que apenas poderia dizer agora.

— Eu não quero. – Negou. – Não assim.

— Você deveria. – Afirmei. Essa era sem dúvida nenhuma, a oportunidade perfeita, mas então Oliver deixaria de me abraçar, Oliver pela primeira vez, me encararia com ódio. – Você deveria aceitar confissões na madrugada.

— Bem, eu poderia fazer confissões na madrugada. – Murmurou.

— Que confissão? – Questionei me afastando para encarar seus olhos, temendo o que mais ele poderia me revelar.

— Eu costumava pensar que apenas meus filhos eram minha fraqueza. – Murmurei. – Eu pensava que apenas eles podiam me deixar vulnerável.  Eu estava errado. – Admitiu. – Você também tem essa capacidade. – Tomei uma respiração profunda, assimilando o que dizia. Levei minha mão ao seu rosto e acariciei sua barba, sentindo a aspereza contra minha mão e gostando de senti-la. Perguntando-me como seria senti-la em outras partes do meu corpo.

— Seus filhos não são sua fraqueza. – Neguei. – Nem eu quero ser, se eu pudesse ser algo para você, é força. – Completei antes alcança-lo para um beijo. O surpreendi, eu podia perceber, mas seus lábios não foram indiferentes aos meus. Nenhuma parte de seu corpo foi.

Havia certa hesitação quando sua mão apertou minha cintura e meu corpo cobriu parcialmente o seu. Deixei minhas mãos sob seus ombros enquanto me concentrava apenas naquele beijo.

Em primeiro momento seus lábios moveram-se sob os meus vagarosamente, sua mão afastando meu cabelo com surpreendente delicadeza, um gemido vindo a minha boca quando a ponta da sua língua tocou a minha.

A partir daí tudo ficou mais intenso.

Toques e beijos, deixando-me cada vez mais atrevida e desejando mais.

Abri meus olhos com uma dor de cabeça agoniante, garganta seca e confusa como o inferno, imagens aleatórias da noite anterior vinham a minha cabeça e em sua maioria envolvia beijos e toques. Atônita, olhei para baixo procurando minhas roupas.

— Oh meu Deus. – Murmurei percebendo que eu estava praticamente seminua. – Será? – Questionei-me receosa. – Não, não pode ser. – Ergui-me enquanto tocava meu corpo. – Inferno não, eu não posso ter dormido com Oliver e não ter nenhuma lembrança vívida do ato. – Protestei.

Oh, merda.

Eu havia perdido minha virgindade fácil assim?

Será?

— Não pode ser. – Meneei a cabeça em negativa. – Ou sim? – Voltei a me questionar. Fechando meus olhos busquei em minha mente por cenas mais específicas. Bem, se aconteceu pelo menos eu já não tenho que me preocupar com isso, a não ser... Será que Oliver percebeu?

Oh merda.

Oh merda.

Oh merda.

Espere. Se aconteceu ele certamente usou camisinhas. Com dois filhos com certeza ele usou. Em algum lugar dessa quarto tinha que ter pelo menos embalagem de camisinha.

Olhei em volta procurando por qualquer sinal de embalagem jogada pelo quarto, arrastei-me pela cama e me inclinei apoiando-me com os antebraços no chão sem ainda sair completamente da cama, concentrei-me em olhar embaixo dela.

— O que você está fazendo? – A voz de Oliver me surpreendeu. Ergui minha cabeça e após afastar concentrei meu olhar no seu, o que não foi fácil já que eu estava de ponta cabeça.

— Procurando camisinhas. – Respondi automaticamente.

Droga.

Eu já fui mais eficaz em controlar minha língua. Empurrando meu corpo de volta para cama ainda peguei seu sorriso de resposta. Oliver que estava completamente vestido e pronto para o trabalho levou suas mãos a gravata a afrouxando.

— Você quer fazer agora? – Perguntou lançando-me uma piscadela.

— Não! – Murmurei o parando em seco, ele ainda me lançou um olhar de dúvida, um brilho de diversão em seus olhos azuis. – Sim. – Murmurei confusa. - Eu quero dizer: NÃO!

— Você tem certeza? – Questionou-me. Seu sorriso, seu humor, todo o seu jeito descontraído me passando uma mensagem. Eu percebi que brincava comigo, maldito descarado. Sua atitude não me ajudava nem um pouco em chegar a conclusão se havia acontecido algo, só havia uma maneira de ter certeza, e nela havia certa dose de humilhação.

Eu teria que perguntar.

— O que eu quero saber é... Ontem... Você sabe... Nós dois...

— O quê? – Perguntou colocando suas mãos no bolso e deixando de lado aos poucos seu jeito brincalhão.

— Você sabe, ontem a noite. – Expliquei. Gesticulei o ato de tirar a blusa. - Roupas fora, outras coisas dentro...

— O quê? – Murmurou incrédulo.

— Custa dizer se transamos? – Perguntei sem paciência. Seus olhos se estreitaram e todo o seu corpo ficou tenso. Seu bom humor foi completamente embora.

— É claro que não. – Negou. – Você estava bêbada. – Lembrou-me. – Nos beijamos. – Informou-me, um sorriso carregado de orgulho masculino vindo com as palavras seguintes. - Você parecia querer mais, tirou quase rasgou minha camisa, jogou a sua... – Oh os malditos detalhes. - Mas eu recuei. – Deu de ombros. - Era o certo.

Oh. Queria tanto me lembrar daqueles beijos.

Droga.

— Eu tenho certeza que não é a primeira vez que me aproximo de você dessa maneira, estando bêbada. – Falei na defensiva, preocupada por seu tom irritado.

— Não. – Assentiu agora mais calmo, então se aproximou sentando ao meu lado. – Mas por meses você não me deixa toca-la, sexualmente. - Esclareceu. - Deixou claro que não queria isso, eu jamais ultrapassaria esse limite por você ter mudado de ideia enquanto estava bêbada.

— Eu sei, desculpe. – Murmurei arrependida por ter pensando o contrário. Tomei meu tempo observando suas roupas.  –Você já está de saída.

— Na verdade, eu estava esperando por você. – Confessou. Franzi o cenho, confusa com isso.  – Lembra que pedi para deixar a conversa sobre Isabel e os papéis para hoje? – Suspirei quando apenas com sua frase a memória voltou em um passe de mágica. Assenti concordando. – Eu queria que você viesse comigo.

— Para a QC? – Questionei surpresa. Ele assentiu concordando. – Não podemos ter essa conversa aqui? Em nosso quarto? – Pedi nem um pouco encantada com a ideia de possivelmente encontrar Isabel.

Ele meneou a cabeça em negativa.

— Eu quero te mostrar algo. – Falou.

— Está bem. – Concordei por fim. Só algo mais a ter que lidar.  – Eu só preciso tomar um banho e algum remédio para dor de cabeça. – Confessei, ressaca não combinava comigo, ressaca seguida de conversa séria, menos ainda.

— Tome seu tempo, se possível coma algo, ou pelo menos beba um suco.  – Pediu levando sua mão até minha cabeça, seus dedos enredando-se me meus cabelos, o gesto carinhoso me pegando de surpresa. – Nós precisamos conversar, mas não significa que precisa terminar em algo ruim. – Falou antes me surpreender ainda mais ao me beijar brevemente nos lábios.

Foram os beijos da noite anterior que o deixou tão confortável assim?

Até onde iria isso?

— Estarei lá em baixo com as crianças. – Informou-me. Assenti vagamente resistindo de tocar meus lábios com as pontas dos dedos, ainda tentava compreendê-lo. Tomei meu banho questionando cada gesto seu desde que havia entrado no quarto, seu sorriso, seu bom humor, sua brincadeira, seu beijo.

Desci as escadas ainda com isso em mente e após tomar o suco junto com um remédio para dor de cabeça, eu já pensava no que estava chegando. Visitar a QC. Seria essa uma boa ideia?

— Megan? – Virei-me ao escutar a voz de Oliver. – Podemos ir?

— Eu não vi as crianças. – Murmurei hesitante.

— Elas já foram para a escola. - Informou-me.

— Ah. – Murmurei desapontada. – Sendo assim, podemos ir.

Eu não queria, mas não parecia ser algo que eu pudesse evitar. Oliver me encarou como se percebesse isso apenas em minha expressão, mas ocultou qualquer detalhe sobre isso.

Ele apenas ergueu sua mão, e de forma automática alcancei a minha com a sua. Ter Diggle nos levando me surpreendeu, Oliver geralmente dirigia seu carro, mas sem demora percebi o porque, eu estava chegando com ele, mas estaria indo sozinha.

Entrar na Queen Consolidated foi estranho, por que Megan nunca se preocupou em me falar muito sobre a empresa, eu não sabia se ela ia com frequência, quem ela conhecia dentro. Alguma vez ela deve ter ido, afinal ela é esposa do dono disso tudo, então eu tentava a todo custo não parecer completamente perdida em uma empresa que supostamente também em minha, mas que eu nunca havia visto antes. Entrar na sala de Oliver foi um alívio.

Passageiro, mas foi.

— Então. – Murmurei observando ao redor com o máximo de descrição, eu estava curiosa, e já havia me perguntado sobre o local que ele passava tanto tempo, estar aqui era no mínimo estranho e perturbador, mas de alguma forma conseguia ser ao mesmo tempo... Bom. – Por que você me trouxe aqui?

— Sobre ontem. – Falou encostando-se a sua mesa, incerta de como me posicionar o surpreendi ao contornar sua mesa e sentar na sua cadeira, aquela que muitos poderiam considerar metaforicamente seu trono. Oliver me lançou um olhar divertido, intrigado pela minha escolha.

— Ontem. – Murmurei esperando que continuasse. Se for para lidar com isso, eu podia muito bem lidar com uma rainha.

— O que exatamente Isabel te disse? – Questionou-me.

— E é isso? – Murmurei indecisa. – Eu apenas contarei tudo e você aceitará minha palavra sobre a dela?

— Você é minha esposa. – Respondeu simplesmente.

— Por enquanto. – Não pude evitar dizer. Ele ergueu o queixo ao me ouvir dizer isso. – Ao menos foi isso o que ela disse.  – Dei de ombros, antes que ele pudesse argumentar qualquer coisa eu continuei. – Você sabe Oliver, uma esposa pode mentir.

— Você não vai mentir para mim. – Murmurou com tanta certeza que por um momento esqueci que mentir era tudo o que eu vinha fazendo. – Diga-me.

— Eu estava bêbada ontem. – Admiti. – E foi por isso que não protestei como deveria, mas Oliver... Pare de me dá ordens.

— Eu... Desculpe. – Murmurou me surpreendo. – Diga-me o que aconteceu, por favor. – Sorri diante o acréscimo um pouco hesitante. – O que ela disse exatamente?

— Ela disse muitas coisas Oliver, eu não acho que precise entrar em detalhes com você sobre o que ela exatamente disse, ela fez insinuações, de como você mentiu para mim, de como vocês voltariam a se encontrar e de como até mesmo ela pode ser a mãe perfeita. – Falei ainda irritada com aquele encontro. Eu não iria omitir isso. – Ela disse que após ficarem juntos você pediu os papéis, e deu a entender que você mesmo havia os mostrado a ela.

— Ela mentiu. – Falou prontamente.

— Pode ser. – Dei de ombros fingindo uma indiferença que não existia. – Você não tem os papéis? – O silêncio que se seguiu foi resposta o suficiente. – Entendo. Então, sobre o que Isabel mentiu?

— Eu nunca mostrei nada a ela. – Endireitou-se. – E eu não pedi após o que aconteceu naquele dia. - O que aconteceu. Oliver parecia não conseguir admitir a si mesma que havia dormido com outra pessoa.

— Então, cadê os papéis? – Perguntei sentindo-me encolher, mas negando-me a demostrar isso. Havia tantos motivos pelos quais eu não podia assinar esses papéis, maioria deles legais. – Você quer que eu assine eles, é por isso que me trouxe aqui? – Perguntei com receio, seria contrária a todas as ações que ele havia tido esta manhã, mas era possível.

Oliver me encarou por alguns longos segundos, como se medisse minhas palavras. Ergui meu queixo negando-me mais uma vez demostrar quaisquer fraquezas.

— Vocês os assinaria? – Perguntou-me por fim.  – Se eu colocasse em sua frente, você os assinaria?

Eu sabia que ele queria uma resposta minha, uma resposta agora, mas eu incapaz de lhe dar. Se apenas assinar esses papéis o livrasse e toda sua família das garras de Megan, eu assinaria sem hesitar, mas esse não era o caso, tudo apenas se complicaria. Oliver parecia impaciente e cansado de esperar uma resposta minha. Ele ergueu-se e se aproximou, com seu olhar fixo ao meu inclinou-se para puxar uma gaveta, tão ocupada que estava em observar seu perfil perdi o momento que digitou um código, apenas o som suave de envelope deslizando na mesa me despertou. Eu não precisava pensar muito para deduzir o que aquilo significava.

Era isso. Ele esperava que eu apenas assinasse isso aqui e agora. Engoli em seco sem saber como evitar toda a situação, e percebendo que para ser sincera eu não queria. Levantei minha mão e percebi tardiamente que tremia, a coloquei sobre o envelope pardo ainda sem abri-lo.

— Eu não quero. – Oliver murmurou chamando minha atenção. – Eu não quero que você assine isso.  Eu pedi esses papéis antes mesmo que você chegasse. – Confessou me surpreendendo. – Eu não achei que iria querer lidar com o nosso casamento mesmo depois, mas tudo mudou. Você mudou. E embora toda a situação esteja longe do ideal, eu vejo em alguns momentos, como poderia ficar.

— Por que você está me mostrando isso, Oliver? – Questionei lhe dirigindo um olhar de mágoa. Parecia que se divertia comigo, como se jogasse, eu não gostei, toda essa conversa poderia ter acontecido em nossa casa, sua casa. Mas ele quis me tirar da minha zona de conforto, se eu pudesse chamar a mansão Queen de uma zona de conforto.

— Eu quero transparência. – Confessou. – Eu quero sinceridade, e eu quero dar a nós dois uma chance, e eu não posso fazer isso sozinho, eu preciso de você.

— E se eu não puder lhe dar essas coisas? – Perguntei sentindo a chegada de lágrimas, mas me negando a cedê-las. – E se por mais que eu precise de você também, eu não possa fazer isso?

— Então acaba. – Deu de ombros. – Mas mesmo para acabar será preciso sinceridade. Eu preciso saber por que você continua distante, e por que não pode ou deseja mais dividir uma vida comigo. Embora eu ache você queira.

Não adiantava, de um jeito ou de outro ele descobriria, e em minha visão, eu o perderia.

— Megan?

— Eu preciso pensar nisso. – Confessei. – Sobre tudo.

— Entendo. – Assentiu. – Esse é um bom momento para dizer que vou viajar?

Não.

Não era.

Na verdade, era um péssimo momento.

— Como é que é?

— Irei visitar uma das filiais. – Respondeu.

— Oliver um tempo para pensar não significa que você não possa estar na mesma casa que eu. – Protestei. Ele meneou a cabeça, exibia um pequeno sorriso.

— Já estava agendado, voltarei no final de semana. – Explicou. – Diggle irá te deixar em casa e trará meu carro com minhas coisas. Eu já me despedi das crianças.

— Você tem certeza? – Perguntei preocupada.

— Eu preciso ir, eu não queria. – Deu de ombros.

— Você vai sozinho? – Sondei. Ele sorriu divertido, mas assentiu.

— Completamente.

— Bom. – Murmurei me erguendo. – Tenha uma boa viagem então.  –Falei parando apenas para deixar um beijo em seu rosto. Quando me afastei ele inclinou sua cabeça, em seus olhos uma pinta de humor.

— Podemos fazer melhor do que isso. – Argumentou.

— Podemos. – Assenti. – Mas foi você que dramatizou tudo ao colocar isso em minha frente.  – Apontei com o queixo o envelope que ainda permanecia no mesmo lugar, ele se limitou a menear a cabeça. – Até mais, Oliver.

— Megan. – Acenou levemente.

Como sempre eu nome me trouxe uma sensação amarga. Principalmente por que eu teria que contata-la para falar sobre isso, se ela me permitisse.

Foi com grande surpresa que logo após chegar em casa, com Diggle ainda segurando a porta do carro para mim, recebi sua chamada. Saí do carro ainda observando a tela e apenas após tomar fôlego, foi que decidi atender.

— Olá minha querida. – Murmurei encontrando certo prazer em cumprimenta-la usando sua própria frase. – Já não era sem tempo.

MEGAN QUEEN

Tédio.

Não havia nenhuma outra palavra que pudesse descrever toda a situação e sensação que era escutar Felicity Smoak, minha cópia mal feita descrever a rotina que havia assumido como Megan. O que ela queria? Acabar com toda a reputação que criei em toda minha vida em apenas alguns meses?

Ela não estava indo as festas que eu costumava frequentar.

Manteve firme sua postura de não dormir com Oliver.

E o ápice das más notícias foi quando me descreveu como estavam as crianças, Felicity Smoak havia transformado Megan Queen em um sinônimo de maternal.

Como ela podia fazer isso comigo?

Ela tinha ideia de quão grudentos esses pestinhas seriam comigo quando eu voltasse?

— Você entendeu o que isso significa? – Despertei de meus pensamentos e segurei um bocejo antes de responder em tom monótono.

— Sim, você claramente pensa que quando eu chegar em casa vou colocar um avental envolta da minha cintura, esperar pela chegada de Oliver em casa enquanto alimento as crianças. – Murmurei aborrecida. – Por que você está dando tanto atenção a esses pirralhos? Sinto muito minha querida, mas o perfil dona de casa não combina com meu estilo. – Escutei uma risada cortada soar através da linha, só então percebi que Felicity parecia nervosa.

— Certo, Srtª Mãe do ano, eu tenho uma pergunta para você. – Murmurou em tom acusatório. – Desde exatamente que ponto você parou de me ouvir?

— Desde as crianças estão bem e elas estão blá blá blá.... – Vomitei.

— Bom, suponho que a frase Oliver transou com Isabel não tenha sido impactante o suficiente para chamar sua atenção.  – Murmurou em tom cortante. – Ou a seguinte: Oliver me mostrou os papéis.

— Ele o quê? Com quem? – Murmurei me levantando e por alguns momentos me esquecendo de onde eu estava. Olhares carregados de repreensão foram dirigidos a mim, ergui uma sobrancelha em desafio e lhes dei as costas. – Como você deixou chegar a esse ponto?

— Agora a culpa é minha? – Reagiu indignada.

— Você está se passando por mim. – Retruquei. – Todas suas ações influenciam em meu futuro, meu casamento, como não pode ser sua culpa? – Isso pareceu irrita-la.

— Você provavelmente está em uma praia qualquer, com um amante qualquer, enquanto eu, a idiota, a usurpadora, estou tentando salvar seu casamento. – Murmurou ríspida. - Nada disso pode ser culpa de outra pessoa se não sua. – Falou. – Do meu ponto de vista, Oliver e toda sua família não poderiam estar melhor sem você.

— Parabéns, você finalmente está usando as garras que lhe dei. – Murmurei com diversão.

— Finalmente? – Questionou parecendo descrente. – Você tem alguma ideia do que eu tenho passado aqui?

— Não, e eu me importo. – Murmurei sincera. – A única coisa com que me importo no momento é como você irá contornar tudo isso.  – Falei cansada de suas reclamações.

— Eu não acho que possa consertar nada. – Respondeu. – Eu acho que já está mais do que na hora de você considerar o divórcio. – Ri com sua sugestão.

— Minha querida, eu desconheço tão ofensiva palavra. – Falei.

—Então ao menos volte, agora. Salve você mesma seu casamento. – Pediu. – Não acho que eu possa fazer mais nada aqui, Megan.

— Você apenas me chamou pelo meu nome? – A questionei irritada. – Pode haver alguém por perto?

— Não. – Respondeu prontamente. – Eu já estou em meu quarto... Seu quarto. – Corrigiu-se.

— É por isso que não está dando certo. – Meneei a cabeça com desgosto. – Você insiste em ser as duas, quando por esse tempo você deveria ser apenas Megan. – A repreendi. - Pare de se corrigir. Você é Megan Queen, esse é seu quarto. E Oliver é seu marido, então, dê um jeito de seu marido desistir de se divorciar de nós duas.

Observei com interesse a figura masculina vestida de azul se aproximar em minha direção.

— Você não parece realmente ter ideia do que está acontecendo aqui. – A escutei falar enquanto ainda mantinha minha atenção no homem que se aproximava, era hora de desligar, ou Felicity iria escutar toda nossa conversa. O que a esse ponto não seria interessante. – Olhe, eu realmente acho que...

— Eu não a ensinei a achar nada, lembra? – Murmurei. – Eu tenho que ir, não perca tempo com conjecturas e conserte o estrago que você provocou.

— Filha da p... – Quase me arrependi de ter desligado a ligação, eu queria saber até onde ela iria com os palavrões. Forçando um sorriso doce encarei o homem que havia esperado que eu encerrasse a ligação, seu semblante me mostrando curiosidade, e é claro certo fascínio.

Era natural demais causar esse tipo de reação para que eu sequer lhe desse um segundo pensamento sobre. Percebendo minha abertura ele se aproximou.

— Senhorita Smoak. – Cumprimentou-me.

— Hey. – Forcei a palavra ridícula sair dos meus lábios, por culpa de Felicity eu havia até mesmo vestido jeans, eu a odiava. – Esses são os exames da minha mãe?

— Sim.  – Assentiu me entregando. – Não quero que se alarme, mas embora por algum tempo o novo tratamento pareceu fazer efeito, temos notado certa regressão, por enquanto isso não significa no avanço da doença, mas se ela não reagir bem, provavelmente teremos que buscar novas alternativas. – Confessou.

— Entendo.  – Murmurei fingindo-me atenta aquele monte de papéis e radiografias. – Não precisa se preocupar com dinheiro, estamos lidando com isso.

— Nossa prioridade é a saúde de sua mãe. – Falou. – Não ficaremos discutindo esse tipo de burocracia no momento.

Bem, a tradução exata seria: Ficará caro e não nos importamos como você irá pagar.

Lhe dedicando um dos meus melhores sorrisos eu me limitei a assentir concordando. Ele moveu-se inquieto, obviamente reagia ao sorriso e já pensava em flerte. Ele era bonito, mas não estava em meus planos agora, ele não me servia para nenhum propósito, então não valia a pena seduzi-lo.

— Ela está dormindo agora? – Perguntei curiosa sobre a mulher a quem Felicity era tão dedicada. Eu não entendia isso. Quando criança eu tinha horários para encontrar meus pais, o encontro era desconfortável, principalmente depois de ter sido enviada ao internato. Após isso vê-los parecia algo semelhante a ir ao dentista, era necessário, mas irritante e se possível adiável.

E agora havia a possibilidade de que eles não eram meus pais, ou que Donna Smoak não era a verdadeira mãe de Felicity. Por que era óbvio para qualquer idiota que éramos irmãs. Eu estava em busca disso, quando eu poderia muito bem estar uma praia qualquer, com um amante qualquer, eu estava rebuscando meu passado, e visitando doentes.

Entediante.

— Eu não sei afirmar, mas apesar de não ser horário de visitas, eu poderia deixar que a visse. – A forma como falou, fazendo questão de mostrar o quando generoso estava sendo apenas deixou claro que ele queria uma recompensa por isso.

— Não. – Neguei. – Minha mãe não sabe que estou na cidade.  – Expliquei. – E eu não posso ficar por muito tempo, não seria justo incomoda-la apenas para ir embora. - Sorri docemente, Felicity era o tipo que sorria toda hora, como uma idiota. Certo? Ao menos nessas situações, comigo ela sempre esteve bufando e munida de sarcasmo. – Eu vou levar isso.  – Ergui os envelopes. Pela quantidade de exames, a mulher devia está morrendo. – Obrigada. – Falei antes de sorrir mais uma vez e lhe da as costas. Meu sorriso indo embora, revirei os olhos, eu não conseguia fingir de boazinha por mais de alguns minutos, era cansativo.

Por que alguém em sã consciência optaria por ser a virgem melosa, quando podia ser o tipo de mulher que qualquer homem deseja ter?

Olhei para os envelopes em minha mão e os coloquei em ordens, ainda decidindo como isso poderia me ser útil, quando ergui meus olhos foi para encontrar os azuis de uma morena que por um breve momento me encarou com cenho franzido. A ignorei passando por ela e já procurando meu celular que havia jogado com pressa na bolsa.

Após as novidades de Felicity havia alguém que eu precisava contatar.

— Megan. – Murmurou feliz. Ou pelo menos fingiu bem, é sempre um prazer. – Sua voz soou através da linha com seu típico charme borbulhando.

— Chase.  – Murmurei em um falso tom tranquilo. – Lembra quando eu pedi que ficasse de olho na cópia?

— Claro. – Respondeu prontamente. – E eu o fiz.

— Sim, só se esqueceu de me atualizar devidamente. – Observei. – Afinal me custa acreditar que Isabel colocando as garras em meu marido tenha passado despercebido por você. – Acusei.

— Ora, eu não achei que tinha que atualiza-la também sobre Oliver. – Mentiu. – Meu erro.

— Não o repita. – Falei sem disfarçar a ordem. Não estava com humor para adocicar nada.

— Você me conhece, sempre a sua disposição. – Murmurou sem se alterar com meu tom.

— Por falar nisso, eu preciso que você faça algo por mim. – Falei saindo do hospital e erguendo minha mão para chamar um táxi.

Táxi.

A que ponto cheguei?

— Sou seu humilde servo. – Murmurou exageradamente. – Do que precisa?

— Eu acho que você tem a observado longe demais. – Comentei entrando no táxi, um sorriso finalmente vindo aos meus lábios. – Eu acho meu querido, que já está na hora de você e Felicity se conhecerem um pouco mais.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha gostado, e como sempre fico no aguardo ;)
Xoxo, LelahBallu



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