Não há segredos que o tempo não revele

Itachi P.O.V (Point Off View)

Estava dentro de uma das cavernas sinistras da Akatsuki há algum tempo, o local era escuro e tinha goteiras para todo lado. E embora fosse um cara normalmente calmo, agora estava começando a ficar inseguro.

Depois de todos aqueles anos descobriu que deixar alguém para trás não significa esquece-la e tira-la de seu coração, era bobagem. Você não esquece a outra pessoa, ela fica em seus pensamentos, as emoções ainda vividas ao lado dela podem ser revividas num fechar de olhos ao rememora-las... Mesmo que a distância faça tudo parecer um sentimento velho, ainda vive. Deu-se conta disso ao cruzar olhares com seu irmão, agora juntos naquele lugar.

Estavam a poucos metros um do outro. Itachi quase não conseguia conter a nostalgia que sentia: Seu irmão estava a sua frente depois de anos sem vê-lo... Tinha que se concentrar para não se aproximar e toca-lo na testa como antigamente, tinha que recordar-se que deveria fingir odiá-lo. Uma vez houve muito amor naquela relação fraternal, mas agora restara magoas, via isto nos olhos de Sasuke.

‘’Você ficou bem alto’’ Murmurou Itachi, notando que o outro era praticamente da sua altura. Não era a primeira coisa que desejava falar, entretanto foi oque saiu, deslumbrado. Mas claro, sua expressão era vazia e sua voz permaneceu inalterada. Era hora de deixar tudo, deixar o passado, se concentrar no agora e nas premissas que anunciavam seu fim, seu destino infeliz.

‘’E você continua com os mesmos olhos frios’’ Na voz, soava a determinação de alguém que iria lutar com tudo oque tinha, em nome de todos que Itachi assassinara. Apesar de tudo, no entanto, o jovem não pode mergulhar nos olhos de seu irmão mais velho e desvelar seus mistérios, seu Sharingan não era capaz de desfazer as ilusões. Não era capaz de ver oque estava invisível, mas implícito.

Era como se fossem dois desconhecidos apenas ligados pelo passado amargo. E de fato, Itachi sentia que merecia aquilo... Era estranhamente desolador não ter seu irmão correndo para si, sorrindo e feliz como quando eram crianças. Sasuke sempre fora alguém especial para si, alguém que perdeu ao longo dos anos, pois agora só lhe restara rejeição e ódio. 

Mas já havia se rendido aquilo, apesar de tudo, aquele encontro era algo mais parecido como plantar e colher; plantara o ódio no amago de seu irmão, e agora o receberia de volta. Aquilo era o resultado de seus erros imperdoáveis, das pessoas de seu clã que se decepcionaram e perderam a vida ao notar que ele havia escolhido Konoha. Era também seu fardo, de um irmãozinho que jurou proteger, porém tanto machucou. 

Teceu os fios do destino que o levara até ali. Era agora hora em que seus destinos voltavam a se entrelaçar, dessa vez numa batalha sangrenta rumo à conclusão de uma história complicada. 

Lembrou-se da ultima vez que se viram, em Konoha: ‘’Você não vai gritar e me atacar como da ultima vez?’’ Questionou intrigado, notando a diferença no comportamento do irmão. Era como ver alguém totalmente novo. Era seu Sasuke. Mas era um Sasuke que não conhecia, então era estranho revê-lo e julgar suas futuras ações.

‘’Você não sabe nada sobre mim mesmo... ’’ Meditou o outro moreno. ‘’Você não sabe quanto ódio eu carrego dentro de mim, e quão forte eu me tornei por causa desse ódio’’.

Num golpe rápido, o garoto se pôs atrás de Itachi e atacou-o com uma nova forma de Chidori. Tão rápido que Itachi se surpreendeu e não pode reagir de imediato. O ato foi eficaz, prendendo-o no teto da caverna e mantendo-o imóvel.

A selvageria de um ato tão repentino quase lhe pareceu um delírio, mas voltou a trocar olhares com o irmão, e só viu ali uma necessidade de violência, como se o mais jovem tivesse olhando para o ser mais abominável e cruel da terra. Sim, ele parecia ter prendido seu irmãozinho na ilusão perfeita... Isso porque ele encenou bem seu papel aqueles anos todos.

Por mais triste que pudesse parecer um sorriso se espalhou levemente pela face de Itachi, afinal seu irmão se tornou audacioso, não mais o garotinho franzino, cheio de magoas estampadas numa nuvem de fúria, aquele menino que abandonou no passado. Agora era um jovem ciente do que estava a fazer. Alguém que já parecia cansado de toda aquela história, que estava rumando e querendo desesperadamente a conclusão de uma trajetória sombria, assim como Itachi.

O sentimento era estranho, não sabia classifica-lo, era como algo esperado e ao mesmo tempo em que duvidava do acontecimento. Era triste e ao passo que também era reconfortante: Sua jornada chegara ao fim... E a de sasuke estava prestes a mudar para sempre.

‘’Você realmente se tornou forte...’’  Meditou Itachi. Logo se transformou em vários corvos, desprendendo-se do golpe do outro, e voando para todos os lados descontroladamente grasnando. Podia sentir a presença dos companheiros de equipe de Sasuke chegando, não queria intromissões. Já não tinha mais tempo: ‘’Vá ao esconderijo dos Uchihas sozinho, nós acertaremos as coisas lá’’ Murmurou por entre os corvos.

Sumiu na sequência e deixou o jovem Uchiha atônito para trás. Pois já tinha dado seu aviso... Agora era questão de tempo...

...Seu corpo estava morrendo, era hora de partir. Não havia aureola, ele não era o herói. Nada lhe prendia mais ali. Queria poder encarar aquilo como ultima etapa de sua vida, porque aceitou aquilo e não queria ver como um ato de fracasso e nem como uma interrupção de sua jornada. Queria pensar que seria como dormir. E que as coisas que aconteceriam com os que ficaram ocorreriam porque tinham que ocorrer. Não havia mais nada que pudesse fazer, já não suportava mais o fado.

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Kisame P.O.V (Point Off View)

Oque deveria sentir? Raiva? Magoa? Remorso? Nunca foi alguém que derramava lagrimas, não era de seu feitio mesmo frente à morte de camaradas ou conhecidos próximos. A coisa que mais sentia era uma estranha angustia, uma sensação inconsolável, pois uma grande tragédia no mundo ninja estava prestes a se findar...

...Sim, tragédia porque sabia que Itachi ser um Nukenin era mais como uma convenção do destino, alguma coisa determinada por Konoha somada a algum mistério sobre como ocorreu o Massacre do Clã Uchiha que o jovem levava com pesar ainda que Kisame soubesse que não era inteiramente responsabilidade do Uchiha. Oque aconteceu não sabia, nunca recebeu explicação, mas o rapaz sempre pareceu determinado a aceitar aquela sina como se fosse natural e não uma loucura cruel.

O de cabelos longos pulava rapidamente por entre as arvores, rápido demais... O azul não entendia como alguém estaria com tanta pressa para morrer...

A jornada era silenciosa até demais para seus ouvidos, e odiava cada caminho por onde passavam porque todos estavam levando-os até o fim, enquanto que em sua mente, o azul não parava de cogitar quantas coisas mais gostaria de poder fazer na companhia de Uchiha Itachi. Fontes termais que não visitaram, casas de chá que não foram, pequenas coisas especiais que não fizeram, aniversários que não poderia mais comemorar, conversas que não teriam, sentimentos que não compartilhariam... Ao passo que também não queria recordar de coisas que viveram juntos. Era uma tortura.  

Apesar de tudo, não havia mais nada que pudesse fazer no momento para mudar o rumo, há não ser que considerasse seriamente a ideia de sequestrar seu camarada de cabelos longos...

...O espadachim suspirou, pois sabia que esse plano insano que sua mente conjecturou não iria ser tão ideal, desde que os protestos solenes de Itachi iriam lhe atormentar o tempo inteiro se tentasse alguma coisa assim.

A vida parecia lhe irritar naquele momento porque tudo parecia em vão, sua mente se fixando nesse tipo de pensamento agora. Ainda não conseguia se conformar com o quão estranho era: Os irmãos lutariam, Itachi morreria... Não lhe parecia justo.

Muitas lutas ocorriam naquele mundo, muitos morriam em batalha o tempo inteiro. A vida era sempre assim: A morte tem tanta certeza que vai te pegar que costumava até dar uma vida inteira de vantagem... E ele desde a infância teve contato com perdas. Mas estas não lhe devastaram tanto quanto agora.

Queria poder ser indiferente quanto a isso, como fingia ser quando outros morriam. Mas o fato era que o tubarão não conseguia pensar que, em questões de horas, seu camarada Uchiha não estaria mais ao seu lado como esteve ao longo daqueles oito anos. E era estranho permitir sem titubear que Itachi seguisse aquele caminho rumo a sua morte, então resolveu se calar ou poderia ser traído por sua boca que arrumaria um motivo para discordar daquilo tudo novamente, oque provavelmente os levaria a outra conversa depressiva e angustiante que só estilhaçaria ainda mais seu coração...

A raiva fluía em suas veias livremente, por mais que tentasse conte-la, às vezes trincava os dentes tão forte que eles rangiam ou então rosnava, provavelmente estava com uma careta monstruosa e em desagrado com aquilo também. Mas continuou seu caminho quieto e relutante, pensando que aquela jornada de superação e dor os levou até ali, e Kisame não conseguia compreender o porque. E nem como Itachi podia contemplar aquele destino como algo memorável e significativo...

Certamente Itachi notou seu descontentamento, pois era algo tão forte que aquele sentimento de desprazer devia estar inundando a ambos, deixando o clima um tanto tenso de azedo entre eles.

Às vezes Kisame pensava se não tinha ficado louco ao permitir-se perder o amigo daquela forma, deixando Itachi ir ao abate sem que nada fizesse, como se aceitasse aquilo aprazivelmente. Sentiu um gosto de sangue instantâneo, percebendo que havia mordido a parte interna da boca com tanta força, numa fúria de raiva, que o vermelho se espalhava languidamente por sua língua. Não, aceitar perder seu amigo daquela forma estava muito longe de algo aceitável, estava destruindo seu coração...

...E fazia-o pensar em como tinha sido tolo ao ter dado seu coração a Itachi, devia ter previsto que o garoto o despedaçaria lentamente. Doía porque não queria que as coisas acabassem, que aquilo que mantiveram por tantos anos fosse finito.

Foi abrupto, de repente um membro da Akatsuki apareceu do nada, com metade do corpo para fora do chão e a outra para dentro. Se não fosse um Shinobi e estivesse tão desatento ao ambiente como estava, teria levado um baita susto. Tentou acalmar sua respiração de modo que fosse imperceptível seu espanto, e que suas feições soassem tranquilas: ‘’Zetsu, que houve?’’ Murmurou Kisame, a presença do outro deixando sua mente turva com os pensamentos anteriores.

‘’Estou aqui para informar que, se continuarem nessa direção, encontrarão Uchiha Sasuke e sua equipe... ’’

‘’Estou ciente disso!’’ Murmurou Itachi com uma voz tão vazia, como se isso nem significasse que estava frente a sua própria morte. Tal ato fazia Kisame querer soca-lo só para ver se assim ele esboçaria alguma reação pertinente à situação.

‘’Lutará com ele?!’’ Murmurou o Zetsu branco.

‘’Sim!’’ O Uchiha disse simplesmente.

Kisame estremeceu, sentiria falta daquela voz soando em seus ouvidos por mais tensa que fosse. Sentiria falta dele. Por Kami-Sama, até sentiria falta de suas teimosias irritantes, e seus discursos depressivos, e de suas chatices, e talvez até da forma como ele ficava doente e tinha que cuidar dele.

Mesmo com todas as lembranças em sua mente, nada seria substituível ao lugar de Itachi ao seu lado, e Kisame queria ser capaz de mantê-lo ali e vivo como deveria ser. Desconfiava que nunca quis tanto algo em sua vida...

A voz de Zetsu Negro lhe trouxe de volta a realidade: ‘’Vá enfrente então, confiaremos em suas habilidades...’’ Depois Zetsu Branco disse: ‘’Espero que tenha a mesma sorte que Pain está tendo com o Sannin Jiraya...’’  Deixou escapar. ‘’O que? Porque disse isso a eles seu idiota?’’ Brigou o Negro, agora parecendo que ambos estavam em uma discursão interna...

Notou que Itachi parecia surpreso por alguns segundos. Mas foi Kisame que se pronunciou primeiro: ‘’Então aquele velho está levando uma surra do nosso líder?! Por que eu sempre perco as melhores lutas?’’ Murmurou, como quem não quer nada...

Sua mente correu para outro assunto. Nunca soube ao certo se a tentativa de Itachi ao enviar uma mensagem secreta a Jiraya realmente funcionou. E se deu ou não certo, a coisa toda já deveria ter vazado, porém não sabia dizer porque Pain ou mesmo Tobi não foram atrás deles para mata-los por traição. Talvez já soubessem que seu camarada Uchiha já premeditava a própria morte e assim não se dariam ao trabalho de se livrar dele... Mas e quanto a si mesmo? Que futuro na Akatsuki lhe aguardava?

Sua mente voltou ao agora quase que num instante: Um futuro sem Itachi parecia improvável, uma incógnita que não sabia desvendar. Ao pensar nisso, sua mente se encheu novamente de desprazer, e como Zetsu já tinha ido, não fez questão de esconder seu descontentamento e amarura.

Seguiu seu caminho atrás de Itachi, resignado.

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Itachi P.O.V (Point Off View)

Depois de percorrer um longo caminho rapidamente, estavam adiantados. Chegaram antes ao local da batalha. Não havia nuvens no céu, mesmo assim o sol mal lhes dava luz já que estavam dentre uma vegetação espessa, a alguns metros do Esconderijo Uchiha. Não estava ventando porque as arvores densas não permitiam que o vento corresse ali, mas ainda sim o frio era penetrante e gélido naquele lugar, porém nada era pior que o amargo frio que havia de repente em seu coração...

Sentia como se estivesse carregado o mundo em suas costas aqueles anos todos. E agora estava apenas esperando Sasuke chegar e dar fim a sua vida miserável, e a sensação de completude, de terminar oque havia começado inflamava a pele de Itachi, era como ir a um encontro marcado há anos.

O azul fez um barulho que soava como dentes trincando, como se lesse seus pensamentos e se zangasse. Assim virou e olhou a forma ríspida de seu camarada, oque lhe chamou a atenção. Sim, o Uchiha estava bem em morrer nas mãos de seu irmãozinho vingador, depois de tudo sua alma estava farta de carregar tanto sangue em suas mãos, era seu fim e estava aliviado. O problema nisso tudo era o tubarão que parecia não compartilhar da mesma emoção: O homem maior estava com uma expressão lívida e, para desgosto do moreno, desde que saíram do antigo alojamento confortável onde estavam anteriormente não se falaram muito.

Estava tudo muito silencioso entre eles, oque fazia a mente do mais jovem correr freneticamente pensando se não havia sido muito seco depois de tudo oque o espadachim compartilhou emocionalmente com ele. Às vezes Itachi sentia que nada que fizesse poderia realmente pagar tudo oque Hoshigaki Kisame fez por ele durante todos aqueles anos...

Escorou-se ao pé de uma arvore qualquer se perdendo em pensamentos... Sem conseguir realmente encarar as feições carrancudas do outro.

Apesar de estar dentre uma selvagem relva depois de quatro meses em uma cama de hospital inábil, sentia-se estranhamente calmo. Talvez fosse efeito adverso daquelas estranhas drogas que adquiriu, mas em sua defesa aquela se tornou a única solução para estar apto a lutar contra Sasuke. Utiliza-la era ultimo recurso para prolongar o tempo de vida de uma pessoa com uma doença grave. E era apenas disso que precisa: Um tempo a mais para se preparar e poder lutar contra seu irmãozinho de forma imponente e grandiosa.

O azul, protetor do jeito que era, não gostou em nada dos efeitos colaterais indicados, pois Saigenzai Kotarō era uma droga hipnótica que parecia lhe fazer pensar que amplificou suas capacidades tornando-o forte o suficiente para encarar aquela batalha, mas por outro lado, seus efeitos colaterais eram irreversíveis causando deterioração neurológica adjunto com uma perda gradual de memorias dentro de um curto período de tempo. Não era como se o moreno estivesse satisfeito com isso também, os danos físicos em seu corpo já eram extensos. Mas seu tempo era limitado, e não era como se fosse viver o suficiente para ver suas capacidades mentais se deteriorarem também...

Mas foi justo isso que o fez cair em um mar de nostalgia mórbida; memorias.

Olhou fixamente para seu reflexo em uma de suas Kunais, ao afia-las para batalha, perdido em um turbilhão de pensamentos controversos: Não era mais o mesmo de antes, suas lembranças mais antigas contrastavam com as atuais, fazendo notar que aquela jornada toda havia o transformado; e não havia percebido o quanto até aquele momento.

Quando aquilo tudo, sua jornada como Nukenin, começou oque mais desejava era desmemoriar-se e esquecer-se da terrível e fatídica carga emocional e o peso do fardo que era ter assassinado seus familiares, e também de toda sucessão de erros que tinha sido sua vida. E agora, apenas pensar em desmemoriar-se parecia assustador porque haviam coisas naquela jornada que eram dignas de se preservar: Sua amizade com Kisame, por exemplo, era um bem muito precioso para simplesmente esquecer.

Era uma coisa estranha porque quando tudo aquilo aconteceu, a noite do massacre e as coisas posteriores aquele dia, pensou que seu fim seria aterrador e solitário. Piscou vendo o outro se aproximar, se dando conta que Kisame provavelmente queria ficar um pouco mais perto dele antes que finalmente partisse.

Sentia pesar por ter que deixar o Hoshigaki. Seu irmão tinha camaradas, tinha Naruto, Sakura, Kakashi, e a equipe nova que montou para persegui-lo. Mas e seu amigo espadachim? Oque ficaria para ele depois de tudo?

Suas convicções estavam erradas naquela época, pensou que estaria sozinho em sua vida até ali, pensou que era oque merecia, uma vida solitária e cheia de martírios. Mas Kisame mudou tudo: Porque não estava sozinho nos seus momentos finais. E agora não sabia oque fazer quanto a ele, oque dizer? Como se despedir? Como deixa-lo depois de tudo oque o outro fez e devotou a ele?

A maneira como Kisame entrou em sua trajetória, mudou sua vida. O tipo de mudança que trás uma cor nova. Uma parceria que saiu de um espesso descontentamento e se tornou amigável e impossível de resistir com o passar dos anos, e isso que fez Itachi refletir sobre o quanto mudou desde que se conheceram...

...A amizade do espadachim tornou tudo mais suportável: Não teria se sustentado até ali se não fosse pelo outro, a azul foi seu suporte, seu guia, sua luz. Esperava ter sabido dar valor aquela dádiva que Kami deu-lhe depois de toda dor, mas provavelmente falhou nisso também.

Concentrou-se com fervor no homem maior: ‘’Kisame!’’ Chamou, seu coração se pôs numa névoa de tristeza onde parecia estar se afogando, a conclusão de sua vida pelas mãos de Sasuke lhe aliviava do peso de continuar vivendo. Mas seu peito doía de remorso ao ter que deixar o azul: ‘’Dentre algumas horas estarei... (...). Você já sabe oque vai fazer depois?’’ Suspirou, seu coração afundando, mas ambos não podiam negar a verdade.

O homem ficou sem palavras. Como se não tivesse resposta para aquilo.

Então ocorreu a Itachi que talvez ele fosse a luz de Kisame. Assim como o azul era a sua. E isso pesou ainda mais em seu peito. Ele fez Sasuke sofrer, e isso já era angustiador. Fazer seu camarada fiel sofrer também era algo que lhe deixava aflito.

Por Sasuke e os familiares que assassinou, merecia morrer. Mas por Kisame, merecia viver. E não podia fazer os dois ao mesmo tempo...

Era um momento estranho aquela pequena espera até que Sasuke chegasse ao lugar indicado. Era o fim. Sentia que era o momento onde deveriam se despedir, mas sua garganta parecia entupida para algo desse porte, e seu camarada parecia estar perdido num limbo estranho de silencio excruciante.

Quando tentava esboçar seu adeus, sua mente pegava atalhos, mudando o rumo de seus pensamentos. Perdido naquele dia que estava sobre um Deck madeira e Kisame viera falar com ele, posteriormente sua apresentação na Akatsuki. Tudo ainda era nítido, cada uma das estradas por onde seguiram juntos depois daquilo. E estranhamente, olhar para trás, para estes momentos, o fazia se sentir quase bem. Diferente das outras recordações assombrosas que detinha em sua mente.

Itachi hesitou por mais alguns segundos, não sabia como fazer aquela pergunta, mas depois sua garganta desentupiu, não haveria outro dia em que pudesse questionar, então falou de uma vez: ‘’Quando nos conhecemos você não tinha a intenção de ser meu amigo, e não quero questionar isso agora, mas tem algo que eu queria saber; Você disse a uns anos atrás que todos nós somos descartáveis, e que por isso não valia a pena ser amigo de ninguém, mas mesmo assim me considerou como amigo, como se eu valesse a pena...’’

O outro suspirou: ‘’Oque está me perguntando?’’.

‘’Porque você realmente achou que havia um ponto positivo em me ter como um amigo? Mesmo sabendo que isso poderia não acabar bem? Porque ainda está aqui?’’.

Aquela pergunta parecia ter pego Kisame desprevenido, e antes de responder o azul teve que parar para analisa-la: ‘’O que te levou a perguntar isso agora?’’ Questionou tentando ganhar algum tempo, ou apenas para ouvir a voz de Itachi mais um pouco.

‘’Só queria saber porque você está aqui comigo hoje. Porque esteve aqui todos esses anos, mesmo que eu não mereça sua amizade, e todo o zelo e lealdade que me devotou. Eu pensei que no dia de minha morte estaria sozinho. Mas pensando melhor, parece meio assustador imaginar estar sozinho, não só agora, mas durante toda a jornada que me trouxe até aqui... Você foi tudo oque tive esses anos, e estou feliz por tê-lo. Eu só não sei porque ficou ao meu lado. Porque eu? Oque eu tinha para lhe dar? Oque fiz para merece-lo?’’.

O espadachim olhou para baixo, como quem analisava algo concreto: ‘’Uma vida inteira de batalhas, de traições e sangue nas mãos. Nada disso parecia importar mais. Você teve um efeito diferente em mim. E com o tempo eu descobri que valia a pena estar do seu lado, e ser seu amigo, mesmo que fosse por um tempo fugaz. De repente você era a única coisa entre esse mundo cheio de batalhas e eu. Cuidar de ti tornou-se facilmente uma vida paralela em contrapartida a esse cotidiano de guerrilhas, missões, sangue, batalhas e morte. Logo, fiquei ao seu lado e isso foi bom pra mim! Desviava minha atenção desse mundo cruel e cheio de mentiras onde vivemos''.

‘’Entendo...’’ Divagou ‘’Foi bom para mim também... Desviava minha atenção das coisas ruins de meu passado, e de todo o fardo que tinha que carregar’’.

‘’Agora só resta mais a inveja. Porque você vai partir com tudo isso que fazia me sentir genuíno e verdadeiro. Tudo isso que fez com que me sentisse alguém de novo, e não um criminoso, ou um renegado, ou uma arma ninja de combate...’’.

Depois disso o silencio que se prolongou entre eles foi aterrador.

Itachi estava pasmo. Não tinha nada para aquele momento, não guardou nem mesmo palavras condolentes. Mas no fundo, era como se tivesse algo sim. Sua alma estilhaçada guardava incontáveis memórias, algumas boas e felizes e outras sombrias. E com seu camarada assim tão próximo, sentia a nostalgia de uma história bem contada soprando aos ouvidos. Isso o fez lembrar que Kisame era um ótimo contador de histórias, mas talvez fosse sua vez de tentar...

 ‘’Genuíno e verdadeiro...’’ Itachi entoou, fazendo o outro olha-lo.

‘’Sim. É como me sentia ao seu lado, como se fosse meu proposito estar ao seu lado, sendo útil. Apesar de ter entrado na Akatsuki com o objetivo de ajudar o mascarado... Você chegou e se tornou minha nova razão de estar aqui. Eu mal acredito que em algumas horas não vai estar mais aqui comigo. É como se a minha vida toda fosse perder a graça...’’.

‘’Kisame, eu sint-’’ Foi interrompido.

‘’Não. Não fale isso. E não se preocupe comigo também, eu sei que é o fim da estrada. Estar ao seu lado foi bom enquanto durou. Você me pegou com tudo nessa ilusão desde que nos conhecemos, me enfeitiçou com seu semblante triste e suas mentiras vazias. Agora eu sei que tenho que sair desse faz-de-conta que criamos para nós, e voltar a por os pés na dura realidade’’.

Itachi ficou a pensar por um breve instante. Se ele fosse quem deveria ser, não haveria necessidades de ilusão, nem de Faz-de-Conta.  Era o ultimo momento que restava para desfazer o único muro que havia entre eles, chegara o momento em que não havia espaço para empecilhos entre os dois...

De todas as coisas que compartilharam, no vão da vida que tiveram e nas estradas que trilharam juntos não cabia mais segredos. E ocorreu a Itachi que aquilo era a única coisa que tinha a ofertar a Kisame agora, a única que seria significativa o suficiente. ‘’Você gostaria de saber oque me trouxe para seu lado? Oque nessa vida me trouxe até aqui? Acho que você, dentre todos, merece saber!’’ Disse suspirando. Claro, a verdade por traz de sua vida miserável...

I need another story

(Eu preciso de uma história)

Something to get off my chest

(Algo que eu possa tirar do meu peito)

My life gets kind of boring

(Minha vida tem andado entediante)

Need something that I can Confess

(Há algo que eu quero confessar)

‘’Itachi... Tem certeza que quer isso? Você guardou isso a tantas chaves...’’.

‘’Eu quero que saiba, eu já devia ter dito-lhe antes, só não fiz porque meu próprio capricho me impediu na ilusão de que era só meu fardo para guardar e defender. Mas ele se tornou seu fardo também, desde que você esteve ao meu lado nos momentos mais difíceis. É agora seu fardo também visto que nos conhecemos por causa disso, e sou seu amigo, e você vai me perder por causa das circunstâncias deste segredo’’.

‘’Bem... por esse lado, tens razão!’’ O azul repensou.

‘’Só quero ouvir uma coisa de você!’’

‘’O que?’’ O Hoshigaki perguntou curioso.

‘’Você preza a verdade, não é?’’ O moreno questionou.

‘’Mais que tudo Itachi-San...’’ O outro respondeu com facilidade.

‘’Então quero que me diga a verdade; Se você soubesse sobre mim, você contaria para alguém?’’.

‘’E, depois de tudo, você ainda me pergunta isso? Se vai me confidenciar algo, o mínimo que eu posso fazer é retribuir a confiança. Então, não. Eu não vou contar a ninguém, isso é uma promessa. Nem se eu estiver sob tortura!’’.

Itachi assentiu. O que estava fazendo não sabia, mas escolheu dizer aquilo. Era tolice. Mas diria a verdade. Não devia, mas seria verdadeiro. Kisame merecia ao menos isso...

Till all my sleeves are stained red

(Até as minhas mangas estão cobertas de vermelho)

Suspirou e deixou sair de uma vez: ‘’Um golpe de estado. Eu os assassinei antes que eles o executassem...’’Disse e olhou a reação do outro com atenção.

‘’O-oque? Eu estava certo então?’’ O azul entoou embasbacado ‘’Porque sabe, de todas as teorias que eu tinha, essa sempre foi a melhor pra isso tudo, pelo menos a única que parecia fazer sentido ao longo do tempo!’’ Disse o homem, perdendo o semblante triste e tentando encaixar as peças com a informação que obteve.

From all the truth that I've said

(De todas as verdades que eu disse)

Come by, it honestly I swear

(Vamos lá, eu estava sendo honesto, eu juro)

Thought you saw me wink, no? i’ve been on the brink, so
(Achei que você tinha me visto piscando, não?! Eu estive na beira de um precipício, então...)

Itachi suspirou, colocando as mãos nas têmporas, se perguntando se era mesmo o certo... Mas agora já tinha começado. Sua garganta desentupiu completamente, já não havia mais nenhum tipo de filtro entre sua cabeça e sua boca: ‘’Os Uchihas planejaram um golpe de estado, e eu era um espião duplo.’’

‘’Um conflito entre seu Clã e sua vila de origem e você no meio, eu já imaginava algo assim... ’’

‘’Você sempre foi mais inteligente doque parecia... Mas todas as vezes que você parecia estar no caminho certo para desvendar tudo, eu o levava de volta a escuridão, lhe negava a verdade. Algumas vezes porque precisei, outras por capricho, pois chegou o tempo em que eu sabia que podia confiar inteiramente em você...’’ Afirmou. Mas Kisame parecia não ter forças nem para rebater a revelação. Assim o Uchiha olhou para o horizonte com um ar abatido, seus pensamentos voando muito longe. ‘’Oque está em sua mente, Kisame? Porque não está atendo em mim? Imaginei que fosse querer saber...’’.

 ‘’Logo Sasuke estará aqui. Não há tempo para me contar, Itachi-San. É tarde demais...’’ O outro disse amargo.

‘’Mas... Eu posso te mostrar, se quiser!’’ Disse, voltando seu olhar ao azul, um olhar que cintilava todas as coisas que queria compartilhar, algo que transbordava oque havia sofrido e lhe assombrado por anos. O espadachim o olhou de volta como se tentasse desvendar oque aquilo queria dizer. O moreno tornou a falar, se lembrando de algo antigo: ‘’Não é uma história feliz!’’.

‘’Eu sei!’’ Disse, possivelmente recordando-se que disse algo semelhante quando contou sua própria história ao garoto.

Tell me what you want to hear

(Diga-me oque você quer ouvir)

Something that'll light those ears

(Algo que agradará seus ouvidos)

Sick of all the insincere

(Cansei de toda essa insinceridade)

I'm gonna give all my secrets away

(Agora eu vou contar todos os meus segredos)

Não houve nenhum receio quando o Sharingan girou nos olhos do moreno. Olhos que poderiam assombrar Kisame, mas o azul nem titubeou, ficou ali a esperar ansiosamente. Itachi estava ansioso também, para mostrar oque sentia, oque ficou guardado por tanto tempo, tudo aquilo que tinha dado errado ao longo do tempo, todos os grandes propósitos que tinha como Shinobi de Konoha que se perderam... todos os acontecimentos nefastos que o levaram até ali.

This time

(Dessa vez)

Don't need another perfect lie

(Não preciso de outra mentira perfeita)

Don't care if critics never jumped in line

(Não me preocupo se as críticas nunca romperem a linha)

at once, I'm gonna give all my secrets away

(De uma vez só, eu vou me desfazer de todos os meus segredos)

‘’Só vai durar alguns segundos...’’ Sussurrou ‘’Mas pode ser uma enxurrada de informações ao mesmo tempo!’’

‘’Sei... Pode ser que eu fique com dor de cabeça, né?!’’ O outro tentou brincar para dissipar a tensão, que não se dissipou. ‘’E você não pode perder muito Chakra antes da batalha...’’.

‘’Vou fazer o possível para não machuca-lo’’ Dito isso as pás do seu Mangekyou vieram a vida, prendeu Kisame no Genjutsu antes que ele pudesse notar que estava em um. Dessa vez, não eram ilusões que seriam expostas ali, e o objetivo não era machucar o alvo. Não eram fantasias dolorosas, mostraria a realidade.

My God, amazing how we got this far

(Meu Deus, é surpreendente como chegamos até aqui)

Seriam sim alguns segundos. Rápidos. Mas não para quem estava preso com ele no Jutsu, seria como um turbilhão de emoções que mais pareciam como uma avalanche pronta para atingir quem visualizasse as memorias. Seria como vivenciar aquilo tudo de novo junto com ele...

Sitting straight, too low

(Sentado reto, tão deprimido)

And I don't really like my flow, no, so

(E eu realmente não gosto do meu ritmo, não, então...)

Tell me what you want to hear

(Diga-me oque você quer ouvir)

Something that'll light those ears

(Algo que agradará seus ouvidos)

Sick of all the insincere

(Cansei de toda essa insinceridade)

I'm gonna give all my secrets away

(Agora eu vou contar todos os meus segredos)

Inspirou e expirou por alguns segundos. E deixou suas memorias saírem e serem mostradas, ele poderia partir em algumas horas, mas sua vida, suas memorias e sua história seguiriam com alguém, ao invés de desaparecer junto com sua presença...

Got no reason

(Não tenho mais razão)

Got no shame

(Não tenho mais vergonha)

Got no Family

(Não tenho mais família)

I can blame

(A quem eu possa culpar)

Just don't let me disappear

(Então apenas não me deixe desaparecer)

I'mma tell you everything

(Eu vou te contar tudo)

Sempre soube que não poderia guardar aquilo com ele para sempre. E ninguém era mais apto a ouvir aquilo que seu camarada. Kisame merecia, pois transformou sua trajetória e ficou ao seu lado de modo que nem ele podia explicar...

Kisame merecia mais doque o silencio das coisas que ocultou dele ao longo daquela vida. Por isso precisava despir-se de quem era. Desembrulhar-se e mostrar tudo. Deixar as verdadeiras emoções ecoarem, mostrar oque sentia. Revelar algo que era triste, e tornara-se seu destino.

E ele resolveu mostrar seu passado, porque do contrário não faria jus ao amigo que ajudou-o tanto e lhe foi leal todos aqueles anos. Era melhor revelar-lhe tudo, suas verdades e pesares, doque deixa-lo com as mentiras...

Era como diziam; não há mentiras que durem para sempre. E aquela amizade, apesar de tudo ditar o contrário, ofereceu-lhe a oportunidade para revelar-se. Então era oque faria, pois confiava no azul o suficiente...

Tell me what you want to hear

(Diga-me oque você quer ouvir)

Something that'll light those ears

(Algo que agradará seus ouvidos)

Sick of all the insincere

(Cansei de toda essa insinceridade)

I'm gonna give all my secrets away

(Agora eu vou contar todos os meus segredos)

This time

(Dessa vez)

Don't need another perfect lie

(Não preciso de outra mentira perfeita)

Don't care if critics never jumped in line

(Não me preocupo se as críticas nunca romperem a linha)

at once, I'm gonna give all my secrets away

(De uma vez só, eu vou me desfazer de todos os meus segredos)

All my secrets away

(Todos os meus segredos)