A grande diferença entre o amor e a amizade é que na amizade é preciso haver reciprocidade.

Kisame P.O.V (Point Off View)

Ainda tinha que vigiar o Uchiha, entretanto, agora que eles não viajavam juntos ficou difícil seguir os passos do garoto. Há algum tempo atrás o líder-sama instruiu-o que o menino ainda deveria estar sob vigilância. O homem certamente ainda desconfiava da estranha junção de Itachi a organização, mas como não tinha provas para acusa-lo de deslealdade ficou quieto, apenas motivando-o a vigiar mais o garoto.

E ele estava tentando: Verdadeiramente tentando. Não fora treinado para lidar com adolescentes. Podia parecer muito fácil rastrear e vigiar uma criatura d 15 anos, como tirar doce da boca de um bebe, mas não era bem assim! E aquela merda de Uchiha era mesmo muito escorregadio e conseguia se safar dele com facilidade, era um ex-ANBU. Uma vez Kisame ficou à uma hora seguindo-o: Até descobrir que estava atrás de um mero clone. Sentiu-se um idiota por alguns instantes.

Ele ainda não sabia por que continuava tentando depois de dois anos. Era inútil, o moreno era muito esperto. Mas ele não se dava por vencido tão fácil, iria descobrir a verdade por trás daquela peste de expressões escondidas atrás de uma mascara fria. Demorasse o tempo que fosse.

Notou que nos últimos anos o garoto parecia mais apático que o de costume, como se tivesse aceitado a verdade amarga que aquela vida lhe trouxe. Estava muito curioso. A questão era que a peste era um mistério e isso o instigava: Sentia-se desafiado a descobrir quem realmente era aquele garoto com feições angélicas e feitos maquiavélicos. E isso era tudo culpa de Pain, afinal, foi o homem que o mandou espionar a vida do Uchiha. Agora não conseguia deixar de pensar nisso.

Parou para se concentrar no agora: Ele e seu parceiro tinham uma nova missão. O líder havia aparecido com seu jutsu astral para informa-los e agora o espadachim esperava o Uchiha frente uma cadeia de montanhas bem altas e íngremes.

Quando o menino chegou, parecia esgotado. Como se tivesse fazendo alguma tarefa que lhe tomou muito tempo e lhe fadigou. Ele pigarreou: ‘’Eu sei que não é da minha conta, mas o que estava fazendo? Você parece cansado, Itachi-San’’.

O outro só olhou-o de soslaio. ‘’Você tem razão, não é da sua conta’’ Disse friamente. ‘’Temos uma missão para completar, não quero perder mais tempo com suas perguntas tolas.’’ Disse enquanto seguia seu caminho rumo as montanhas, e Kisame seguiu-o, já acostumado com a personalidade defensiva do garoto.

O Uchiha começara a ficar bastante distante, sempre na defensiva, vinculando-se não mais do que era estritamente necessário: Como se quisesse manter uma relação rigorosa e estreitamente técnica e profissional. Era simples, ele entendeu que itachi não era realmente frio, ele só fazia-se parecer.

Era normal, todos os nukenins faziam isso para sobrevive naquele mundo cruel. Parecer uma pessoa séria e autoritária passava certa imagem de poder e maldade. E aquele mundo de renegados era uma verdadeira selva, todas as vilas queriam suas cabeças para recompensas.

Às vezes você tem que ser aquilo que a sociedade espera de você. E o mundo em que eles viviam era assim, ou você devora ou é devorado. Ele mesmo, todos pensavam que era um sádico endiabrado, mas não realmente: Ele era um ninja de Kiri afinal, mas nem por isso era de fato insensível. Ele só esperava um mundo melhor, sem mentiras e sem solidão.

No fim o Uchiha ainda era educado e culto, mas não exibia mais do que era preciso para se manterem em uma boa sintonia, o outro só não gostava quando ele começava a se intrometer na sua vida, então o azul esqueceu o assunto rapidamente, não querendo irritar o menor. Mudando de assunto: Eles realmente não tinham tempo a perder, tinham que pegar um pergaminho de Kumogakure.

Já estavam numa altura considerável e nem sinal da maldita vila. A Vila Oculta da Nuvem, pertencente um dos Cinco Grandes Países Shinobi, era de difícil acesso. Caramba aquele lugar ficava em uma cadeia de montanhas altas e literalmente estava escondida nas nuvens.

Não dava para ver terra firme dali de cima, era como um salta pra morte. Mal dava para respirar naquela altitude, e embora ele tivesse pulmões fortes estava sofrendo; o pirralho Uchiha então, estava tendo reais problemas, seu nariz sangrava e ele parecia tonto e nauseado. Kisame sabia, estavam muito acima do nível do mar: A questão era que a pressão atmosférica era menor ali em cima. Isso deixa o ar mais rarefeito e menos oxigênio circulava. Podia ser fatal!

‘’Tem certeza que pode continuar, Itachi-San?’’ Ele questionou. ‘’Eu posso pegar essa droga de pergaminho sozinho!’’ Sorriu, já se animando com a ideia.

‘’Estou perfeitamente apto.’’ O outro murmurou. ‘’Pare com essas tolices.’’

Ele não ia insistir mais do que aquilo. Ele não era babá daquele menino para ficar se sentindo responsável pela saúde do jovem.

Mudou de assunto: ‘’Uma vez Kumo roubou informações de Kirigakure e Iwagakure, levando ambas aldeias a se unirem para recuperá-las. Depois, uma vez que Kumo perdeu as informações que furtara, Iwa traiu Kiri e matou a maioria dos ninjas enviados na missão para levar as informações apenas para si.’’ Ele fez uma careta. ‘’Se Kumogakure não fosse uma vila de ladroes, esse derramamento de sangue não teria acontecido. Eu quero dar o troco.’’

‘’Hn’’ O outro só murmurou.

‘’Ei, fiquei sabendo que Kumo fingiu um tratado de paz com Konoha anos atrás. Mas que na realidade era uma armadilha para roubar o Byakugan. Não sei ao certo oque houve, sei que no fim eles não ficaram com o dojutsu. Mas alguém morreu não foi?’’ Ele perguntou, mas o outro fez ouvido de surdo. O espadachim se aborreceu: ‘’Olha, eu só quero que saiba que podemos dar o troco nós dois, no entanto se você se ferir ou atrasar a missão porque esta sendo um metido orgulhoso, isso vai me irritar muito!’’

▀▄▀▄▀▄ ...Um tempo depois...▀▄▀▄▀▄

Merda. Roubar a porcaria do pergaminho tinha sido uma frustração atrás da outra. Fossem eles ninjas rank-S ou não aquela vila tinha um poder militar surpreendente. Pela primeira vez seu parceiro de olhos Sharingan e ele estavam tendo problemas para completar uma missão.

Ele supôs que estava com o pergaminho, mas em cima da hora descobrira que Itachi tirou o rolo de informações da capa lustrosa e bonita e levou consigo as escondidas. Era um bom plano, esconder aquela coisa: Mas enquanto ele carregava a porcaria da capa que ficava em volta do pergaminho, vazia e sem utilidade nenhuma, agiu como uma verdadeira isca. Se o Uchiha estava zombando dele por ter a aparência de um peixe não sabia, mas bem que aquela peste podia ter contado para ele que o usaria para atrair a atenção indesejada.

Não havia sinal nenhum de onde o moreno poderia estar, separaram-se não fazia muito tempo. E o outro fora na frente claramente com as informações em segurança. Ele não ficou zangado, faria o mesmo se tivesse na mesma situação: Havia muitos inimigos e Kumo realmente tinha poder militar surpreendente, entrar numa vila assim era quase como pedir para ser assassinado de graça. Mas chateou-se porque o Uchiha nem fez seu plano apresentável, simplesmente agiu sem consulta-lo antes. Ele seria chamariz sem problemas, custava lhe informar?

Estava cercado agora. E não havia saída: Lutaria até seu ultimo suspiro, se fosse necessário. Porem não foi preciso. O menino voltara, retrocedendo seus passos quando notou que seu parceiro estava encrencado.

Ele cuspiu o sangue que escapara de sua boca com uma expressão raivosa. Ele fora salvo pela peste de uma forma que nunca teria imaginado. Não que precisasse de alguém para cuidar dele, podia muito bem levantar-se em fúria e dizimar aquela porcaria de pelotão que vinha para mata-lo. Por mero descuido, por ter subestimado o adversário, fora ferido, mas era só isso. Ele podia perfeitamente lutar por si só. Então porque aquele merdinha voltara pra lhe ajudar? Colocando em risco a droga da missão, seus esforços seriam pra nada se ambos ficassem ali.

Então ele percebeu que a intenção do Uchiha nunca foi lhe abandonar: Ele estava ganhando tempo, apareceu de soslaio na penumbra para pegar seus inimigos desprevenidos.

No campo de batalha, o ex-nin da névoa estava perfeitamente ciente desse fato agora: Ele podia facilmente se reerguer e acabar com seus inimigos. Mas o Uchiha havia infalivelmente acobertado sua retaguarda de mais ataques, como uma sólida presença constante que o fez se sentir seguro em atacar seus oponentes diretamente sem temer outro ataque inesperado. Afinal de contas ele era a força bruta daquela parceria, mas Itachi era aquele que estava pelas sombras o protegendo com aqueles genjutsus, como Amaterasu e outros na mesmo linha de ataque a longa distancia.

▀▄▀▄▀▄ ...Um tempo depois...▀▄▀▄▀▄

A missão havia transcorrido dentro do planejado. Depois de terem se safado do pelotão saíram do lugar bem. Sempre concluíam suas missões com maestria. Mas algo ainda estava deixando o espadachim perplexo: ‘’Você poderia ter me largado lá!’’. Ele estava surpreso porque nunca antes havia precisado da assistência do menino: Sempre cumpriram suas missões, cada um com sua devida contribuição, mas sem auxiliar um ao outro. Pela primeira vez aquilo fora necessário. Torceu o cenho, injuriado: ‘’Você podia ter ido sem mim!’’ Murmurou. ‘’O pergaminho estava com você afinal de contas!’’

‘’Deixa-lo para trás só me traria contratempos!’’ O outro explicou monotonamente, como se não fizesse diferença alguma tê-lo ajudado.

Fez uma cara feia: ‘’Eu o deixaria se fosse necessário para o cumprimento da missão!’’ Ele informou-o um tanto frio demais. ‘’Não me leve a mau garoto, mas se fosse necessário, a missão viria em primeiro lugar!’’

O Uchiha não se abateu: ‘’Mas não foi você que se viu diante essa opção. Fui eu. Eu escolhi ajuda-lo.’’ Afirmou, deixando o azul surpreso. ‘’Não é para isso que Pain nos coloca em conjunto? Para sanar as dificuldades um do outro? Se a situação fosse o contrario poderia ter escolhido me deixar desamparado. Mas somos uma equipe e eu escolhi ajuda-lo como deve ser, viva com isso!’’

‘’Você realmente adora me surpreender, não é?’’ Ele murmurou, seu sorriso cheio de dentes voltando a aparecer na face. ‘’É tão malditamente certinho!’’

‘’Hn’’ O garoto só murmurou.

‘’Mesmo que sejamos uma dupla, e mesmo que o objetivo de estarmos juntos seja para completar as técnicas um do outro, o cumprimento da missão vem primeiro. O líder não teria se incomodado em saber que me deixou para trás para executar a missão. Então porque perder seu tempo e se arriscar por mim?’’

‘’Vai começar com essa chatice de novo?’’ O outro murmurou irritado, claramente já se cansando com daquilo. Estava lesionado: Seus olhos sangravam.

Pela primeira vez o tubarão ignorou-o: ‘’Usou o mangekyou em excesso. Ainda não acredito que fez isso por mim.’’ Disse assombrado. ‘’Porque vale a pena salvar minha vida, mesmo quando eu não faria o mesmo por você, Itachi-san?’’

O outro parou para olha-lo nos olhos e terminar aquele assunto de vez: ‘’Estar só na vida é inevitável, vai acontecer com qualquer um algum dia, ter de lutar individualmente para conquistar algum objetivo. Mas quando temos a oportunidade de trabalhar em equipe as coisas se tornam mais descomplicadas. Uma vez busquei ter êxito sozinho e falhei. Espero que não seja tarde demais para fazer a diferença agora, mesmo que seja lutando ao seu lado. Somos uma dupla, e somos mais fortes lutando juntos.’’

A explicação o pegou desprevenido. Quem diria que um pirralho daquela idade teria algo para lhe ensinar?

Ainda era estranho pensar que o outro se prejudicou para ajuda-lo. Não era assim que as coisas funcionavam em Kiri, lá era um por si, o cumprimento da missão vinha em primeiro lugar, era uma desonra arriscar a missão para ajudar um companheiro caído: Não valia muito apena trabalhar em equipe se hora ou outra poderiam lhe trair também. Mas parecia que o menino pensava algo totalmente diferente, e se ele fez aquilo era porque tinha apreço o suficiente por ele. Não o ajudaria se não gostasse, nem que fosse minimamente, dele.

Aquele jovem dos olhos vermelhos era mesmo um mistério. Assassinara seu clã, mas estava ali lhe estendendo a mão: Auxiliando-o quando era preciso, como um bom moço.

Tinha algo acontecendo de diferente dentro de si. Algo que mudou sua forma de pensar, algo que mudou sua dinâmica de vida: Lutar em conjunto, ignorando suas individualidades por um momento, podia ser muito mais útil do que ele tinha imaginado. Em equipe podiam maximizar as chances de sucesso e atingir o objetivo com mais segurança. Itachi lhe protegeu e estava lá para fazer o que ele não pode sozinho. Agora sentia-se no dever de retribuir: Pigarreou antes de começar ‘’Como estão seus olhos?’’ Murmurou.

O menino surpreendeu-se, mas logo voltou à postura normal: ‘’Não precisa retribuir nada. Você não esta em divida comigo.’’

‘’Não vou perguntar de novo, Itachi-san...’’

‘’Meus olhos irão ficar bem num futuro próximo, eu só preciso descansar.’’

‘’Você esta mentindo.’’ Acusou-o.

A peste lhe ignorou e caminhou devagar em sua frente. Olhou o garoto por uns instantes: Pensando por que se importava tanto com o menino de repente, porque parecia tão admirado.

Ah claro, porque o outro acabara de salvar-lhe. Assim sentia-se em divida, mesmo que o outro não pensasse da mesma forma. A questão era que nunca ocorreu aquilo em sua vida: Alguém que desviasse de seu rumo para auxilia-lo.

Ele sempre fora um tubarão solitário naquele mar cheio de adversários. Agora havia alguém verdadeiramente ao seu lado para lhe dar apoio e aquilo era tudo muito novo para ele. Uma novidade surpreendente, sem duvida. Era um sentimento estranho saber que podia contar com outra pessoa, e também um sentimento perigoso, se Itachi viesse a lhe trair algum dia.

Trabalhar em equipe tinha lá suas vantagens mesmo. Para que ambos se ajudassem mutuamente e complementassem as técnicas um do outro. Em Kiri geralmente era um por si. Agora que entendia o verdadeiro conceito de equipe, sentia-se na necessidade de ajudar o Uchiha. Porque agora ali estava o menino matador de clã, nukenin rank-S: Com os olhos sangrando e tropeçando em buracos e pedras em seu caminha. Sua visão periférica estava se enfraquecendo devido ao uso excessivo do olho vermelho.

Ajudar alguém poderia ser considerado degradante, uma fraqueza vergonhosa. Mas Itachi não se importou com isso quando lhe ajudou, por que ele deveria se importar também? Eles eram Nukenins, deveriam ser capazes de poder fazer oque quisessem já que estavam distantes dos sistemas de suas vilas natais, sistema que lhes impunha regras de conduta rigorosas.

Ele era um homem livre agora, não havia mais rédeas. Seu parceiro lhe fez ver isso: Não haveria ninguém para lhe punir caso ele faltasse com o seguimento da missão na risca. Se ele desse apoio ao seu camarada, quem iria se importar além dele mesmo? A missão estava completa de qualquer forma. De repente se sentiu senhor de si e de suas ações: Ele não era mais escravo daquelas vilas de merda. Podia ser quem ele quisesse e fazer oque desejasse.

Com um novo animo ele abriu a boca: ‘’Itachi, quantos dedos tem aqui?’’ Disse levantando três dedos.

O outro nem o olhou: ‘’Pare de brincadeira. Não estou no clima, Kisame’’ Disse monótono, ainda caminhando, sem olhar para trás.

‘’Eu estou falando sério, Itachi-san’’ Mas o pirralho continuou andando e ignorando-o.

De repente tropeçou e quase foi ao chão, conseguiu se equilibrar no ultimo minuto. O azul balançou a cabeça em descrença e se aproximou. ‘’Você não está conseguindo enxergar. Aquela porcaria de chamas negras acabou com você, hein!’’

O mais novo olhou para ele finalmente acetando a derrota. E Kisame olhava pare ele parecendo preocupado, afinal os olhos do menino sangravam tanto que escorria pelo rosto e pingava no chão.

‘’Talvez eu tenha ido longe demais com o Mangekyou... Nesse ritmo eu vou ficar completamente cego antes dos vinte anos... ’’ Reclamou, mas com ele mesmo do que com o espadachim.

Se aproximou mandando a razão e a incerteza pra puta que pariu. ‘’Olhe, você não esta enxergando, eu vou te carregar, você querendo ou não. Lhe devo isso ao menos.’’

‘’Não seja ridículo.’’ O outro olhou-o ranzinza. ‘’E se você tocar em mim eu vou-‘’ Foi interrompido. 

‘’Você pode berrar e espernear que não vai funcionar’’ Ele informou um pouco aborrecido. ‘’Não tem forças para lutar contra mim assim mesmo.’’ Mandou a real. ‘’Então relaxa ai e aprecie a minha devoção, antes que eu mude de ideia!’’

O olhar do menino suavizou de repente e ele estendeu os braços, se rendendo. Kisame segurou a Samehada nas mãos para poder carregar Itachi em suas costas. A peste pesava menos que sua espada, na realidade.

Um silencio incomum pairou no ar. (O ex-nin da Nevoa nunca saberia que aquela cena lembrava o menino de quando ele carregava Sasuke do mesmo jeito, e de quando Shisui o carregava assim também...)

O silencio constrangedor surgiu por minutos, até Kisame murmurar: ‘’O que acha de ir procurar um médico? Seus olhos então péssimos, e numa vida como a que temos, isso é um risco real.’’

Itachi fechou os olhos. ‘’Não é necessário. Só preciso descansar um pouco...’’

‘’Fale o que quiser, tenho certeza que você esta precisando de óculos’’

‘’Eu nunca vou usar óculos. Não mesmo’’ Ele murmurou intimidado com a ideia. O tubarão olhou divertido de repente. ‘’Não faça essa cara, Kisame’’

‘’O que? Eu não estou fazendo nada’’ Disse ainda sorrindo de canto.

‘’Eu não preciso nem de minha visão para perceber suas ações... Você é tão fácil de ler... ’’ O pirralho murmurou.

‘’Eu não sou fácil de ler coisa nenhuma... Talvez seja pelo fato de sermos bons... Bem acho que posso chama-lo de amigo agora, não é Itachi-San? É o que somos, não é?’’

O menor ficou meio desconfortável depois daquela frase e se moveu um tanto nas suas costas. ‘’Não sou seu amigo e nunca serei. Não confunda as coisas Hoshigaki: Somos uma dupla. Uma dupla incrivelmente entrosada. Nada mais!’’ Disse calmamente. E agora foi a vez do azul de ficar desconfortável, e o Uchiha notou. ‘’Desculpe-me. Mas é melhor assim!’’ tornou a falar, se sentindo mal.

Kisame fez uma careta: Não tinha percebido o quanto havia mudado sua postura em relação a Itachi tão rapidamente.

Havia algo de estranho com aquele garoto, algo que fazia o tubarão lembrar de seu próprio passado: Quando estava ainda em Kirigakure, sendo um ninja honrado da vila, sentia-se vazio por dentro porque não sentia-se bem em fazer amizade ou se juntar com as outras pessoas. Porque não valia a pena desde que o futuro era tão incerto, capaz de tornar grandes amigos em grandes inimigos, de tornar a lealdade em grande desonestidade...

O futuro era tão incerto que nunca daria para prever quem seriam seus companheiros para sempre e quem lhe trairia amargamente. Itachi era justamente como Kisame era anos atrás: Desconfiado, detinha uma grande dificuldade em confiar, era cético e descrente.

O Uchiha preferia prevenir do que remediar. E Kisame podia se identificar com isso. Do que valia a amizade de alguém naquele mundo cruel e cheio de mentiras?

Talvez por isso ele se identificasse e se importasse tanto com aquele Uchiha idiota: Porque eles possuíam uma verta similaridade.

Ambos, alguma vez naquela vida miserável que tinham, aprenderam a se fechar e se afastar. Porque aquele mundo cruel havia ensinado que a vida podia ser amarga.

Kisame se sentiu mal: Aquele era um mundo cheio de mentiras. Ele tinha aprendido que era um mundo sem futuro e injusto, alguém sempre se dava bem em detrimento de outra. E só o plano de Tobi podia mudar isso...

O tubarão se identificava com o parceiro mais novo. Talvez por isso estivesse tão ligado ao pirralho estupido.

A que ponto ele chegou? Kami! Os papeis estavam completamente invertidos, antes era Kisame o frio, o insensível, aquele que preferia não se aproximar de ninguém, o monstro da névoa oculta. E agora ele se via instigado a amparar um jovem!

Itachi era tão parecido com ele... E aquele pirralho era tão novo para estar numa merda de vida assim...

Engoliu em seco.

‘’Eu acho que eu não tenho sido muito educado nos últimos tempos, não é?’’ O garoto perguntou de repente. ‘’Nunca cheguei a agradece-lo por ser tão cortes.’’

O azul deu de ombros. ‘’Tudo bem, isso não me incomoda, sendo educado ou não você ainda é a melhor opção de dupla que eu tenho’’

Após isso ecoou um silencio constrangedor Depois de um tempo o espadachim sentiu-o relaxar em suas costas: Sua respiração estava leve e calma. Ele sorriu ligeiramente. ‘O poderoso Uchiha Itachi está dormindo. Sucumbiu ao cansaço. ’ Pensou.

Seu sorriso diminuiu lentamente. ‘Não, isso não é verdade. Outros poderiam chamá-lo de poderoso e inescrupuloso, mas eles não sabem quem é Itachi Uchiha de verdade: Só um garoto que se esconde atrás de uma mascara fria afinal ’

Não sabia ao certo, mas... Ele queria poder prometer que quando o plano ''Olho da Lua'' de Tobi fosse concretizado, ninguém no mundo teria que se esconder atrás de uma mascara, uma mascara que o mundo e as situações impuseram. Porque não existiriam mais mentiras...

Tudo o que estava fazendo era para um bem maior que iria beneficiar muitas pessoas, não só a si mesmo. Seu plano era ajudar Tobi a lançar o Tsukuyomi infinito na terra, para criar assim um mundo perfeito. Não desistiria até que o mascarado conseguir efetua-lo. Só quando todos estivessem dentro de um grande genjutsu poderiam cada um buscar sua própria felicidade. Em síntese, ele próprio teria seu mundo perfeito: Um mundo sem mentiras.

Era pra isso que estava na Akatsuki afinal.

Sabia que o mascarado teria que trair o líder Pain para adquirir o Rinnegan para, dessa forma, criar uma dimensão vazia sob seu controle, que poderia então ser preenchida pelo conteúdo de desejo de quem estiver dentro do alcance do jutsu. Após fazer isso poderia manipular o mundo vazio para as pessoas criarem o que quisessem, não importando quão detalhado. Todos teriam seus finais felizes: Experimentando um mundo de sonhos com base em seus desejos individuais.

Alguns poderiam achar loucura, mas eles não sabem o que estão dizendo. Não sabiam o quanto o mundo era verdadeiramente cruel. Tobi tinha razão, enquanto houvessem vencedores haveria perdedores. Nem todos naquele mundo sem amor eram realmente felizes. Por isso tinham que continuar lutando, para efetuar a técnica que acabaria com essa injustiça.

Talvez nesse mundo de realidade paralela Itachi e ele fossem só homens satisfeitos com a vida que tinham...

Ele fechou o cenho. No fim das contas, o pirralho estava certo, mesmo que ele tivesse a fisionomia de um tubarão, ele era só humano e tinha sentimentos e emoções como qualquer um.

E ainda que não houvesse realidade paralela para deixa-los alegres, sabia que o Uchiha escondia um passado assombrado. Estava intrigado com o jovem, mas do que qualquer coisa. Com plano Olho da Lua ou não: Ele iria descobrir o que fez Uchiha Itachi se tornar tão distante e temeroso

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Itachi P.O.V (Point Off View)

Afastou-se de Kisame no dia seguinte. Pegou o pergaminho e foi ele mesmo entregar a Pain. Certamente fez algum proveito de uma pequena estadia em Amegakure, afinal o local era altamente industrializado para uma vila tão pequenina como se pensava. Era distinto de Konoha, havia uma arquitetura composta de vários arranha-céus realmente muito altos espalhados para todo os cantos que se olhasse, era curioso e instigante andar pelo lugar.

Além disso, ninguém parecia temer a Akatsuki ali, trataram-no com cortesia e amabilidade na maioria das vezes que andou pelo lugar. Mas não era para fazer excursão que estava fazendo visita: Achou que seria mais fácil inspecionar o lugar e seu líder se estivesse numa posição mais próxima para manter um olhar mais minucioso e atento.

Ele costumava temer o lugar por seu tempo fechado costumeiramente. Mas seu líder tinha se autoproclamado deus por algum motivo, e naquela vila só chovia mesmo um dia na semana graças a alguma façanha do alaranjado, sempre aos domingos. Foi por conta disso também que sua estadia foi descoberta mais cedo do que ele pensava; A chuva era realmente provocada por Pain, que tinha-a ligada aos seus sentidos e enquanto ela caia ele verificava o lugar, quando detectava um chakra diferente sabia que havia intruso.

Havia uma base de operações na torre mais alta do lugar e soube de imediato quando ele chegou no lugar. Mandando alguns ninjas escolta-lo para lá assim que ele se alojou com conforto em uma parte da vila.

Ele não se intimidou em estar a sós com o outro. Mas surpreendeu-se ao se deparar com um rapaz ruivo, alto, porem extremamente atrofiado e magro. Usava um andador mecânico para a mobilidade e embora não vestisse o manto negro e vermelho se declarou o verdadeiro líder da organização. Seu verdadeiro nome sendo Nagato e ele possuía o Rinnegan original. Percebeu que o rapaz magricela controlava o corpo daquele que ele conhecia como Pain e podia manipular outros cinco corpos como se fossem seus próprios. O desgraçado era realmente poderoso afinal.

Ele abriu a boca e falou: ‘’Não sei por que me não surpreendo por vê-lo fazer uma estadia aqui dentre todos os outros! Deixe o pergaminho na mesa...’’ O homem murmurou quando estavam frente a frente. ‘’Não me incomodo com sua presença, desde que não me cause problemas.’’ Itachi só assentiu ainda perplexo pelo oque descobriu. O ruivo olhou-o com mais severidade. ‘’Sabe Uchiha, um bom líder costuma manter vigilância e atenção naquilo que lhe pertence. Tomar esse lugar para mim custou-me algumas coisas importantes. Agora eu fico aqui só observando atentamente, patrulhando meu território de forma pacifica. Não se engane, eu posso mostrar minha ferocidade se necessário, caso me depare com um traidor.’’

‘’Não se preocupe comigo, só vim trazer isso e descansar num lugar mais seguro. Kumo vai estar no meu encalço por algum tempo.’’ Murmurou. De qualquer forma ele sempre fora um bom mentiroso.

‘’Você esta livre para andar por onde quiser...’’ E assim ele lhe virou as costas e se foi, deixando Itachi sozinho com Konan.

▀▄▀▄▀▄ ...Um tempo depois...▀▄▀▄▀▄

Ele olhou para a jovem de cabelos azuis, ela lhe apresentara a vila de forma educada e neutra, sem deixar nada que não fosse relevante escapar de sua boca, era fria e direta. No fim das contas ela era tão inteligente e estoica quanto ele. Só sabia que ela era muito leal a Nagato e que concordava com tudo oque o ruivo premeditava. Descobriu que o homem tinha uma ideia um tanto distorcida de paz, acreditando que o mundo nunca iria parar de guerrear voluntariamente a menos que conhecessem o que era a verdadeira dor, querendo então mudar o mundo a um estado de paz através do medo da destruição pelas mãos da Akatsuki.

Pelo pouco de tempo que ficara ali soube que quando chovia sem parar, era porque Pain não estava. Podia espiar o lugar de forma mais significativa se ficasse permanentemente. Mas não por acaso do destino, deixou a vila menos de uma semana depois em que entrou. Tobi ficava muito no entorno por algum motivo, e ele sabia que o homem estava mantendo uma certa desconfiança dele, não era uma boa ideia ficar e esperar o outro lhe incriminar para o líder.

Só sabia de uma coisa: Alguém que desconfia em demasia não podia teme-lo tanto se não tivesse nada a esconder. E Tobi certamente escondia algo grande demais...