Airheart escrita por Vaalas


Capítulo 7
Capítulo 07 — The Inventor’s Daughter


Notas iniciais do capítulo

EU. VOLTEI!
Não tenho boas desculpas para minha ausência, desculpem por isso. Falarei mais nas notas finais, por agora, deixarei com que leiam :D
A música do título é de, adivinhem, The Cog is Dead, como sempre ahah.
Boa leitura!



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— Papai mandou avisar que terá um jantar em casa essa noite e que sua ilustre presença é requisitada. — Claire sorriu, inclinando-se na cadeira como uma criança. — Sem grandes formalidades, só um encontro mesmo. Ele gosta muito de você.

Oliver acenou gentilmente, ocupado demais polindo as peças de metal recém compradas e importadas. Elas já brilhavam havia muito tempo, mas o mecânico não parecia notar: prendia-se à mesma peça por mais tempo do que lhe era necessário. Mesmo sendo do seu feitio se distrair com coisas assim, Claire podia sentir algo diferente, o clima de Oliver estava estranho.

— Tudo bem, é só dizer o horário e eu estarei lá. Podemos sair mais tarde se você quiser, faz tempo que não passeamos só nós dois, andei pensando em levarmos pão aos patos do parque.

Era verdade, fazia bem mais de um mês que não saíam para um encontro. Por já serem noivos, tais convenções eram mais necessárias. Se saíssem enquanto não tinham compromisso assumido, cairiam em olhares maldosos, mas agora que já tinham o noivado pronto, sair juntos era gracioso.

— Seria ótimo, não tenho grandes planos para hoje. — por dentro ela estava radiante, mas sua face expressava apenas uma satisfação casual — Aliás, como foi o reencontro com seu amigo, o soldado?

A peça circular de cobre escorregou dos seus dedos, caindo no chão em um barulho estridente que provocou na moça uma leve careta. Oliver rapidamente o apanhou, checando se não havia amassados ou arranhões, tudo parecia bem, no entanto.

Tudo, menos a pergunta, claro.

— Foi... normal, acho. Infelizmente não somos os mesmos de antes, então certas coisas mudaram. — voltou a polir a peça — Dois anos é muita coisa, tudo muda.

— Bem, acho que nem tudo, mas entendo o que quis dizer. Acha que ele mudou muito, ou foi você? — Oliver deu de ombros, mostrando indiferença — Hm... Está tudo bem com o braço dele?

Pela primeira vez desde o início da conversa, o mecânico ergueu o olhar e a encarou.

— Como?

— Ora, você sabe, marcaram de trocar as peças e essas coisas? Podíamos convidá-lo para um chá ou algo assim, gostaria de conhecê-lo. — Claire observou por um instante enquanto ele fechava um dos olhos com força e inclinava a cabeça, pensando, sem parar de polir — Desculpe, não falei nada tolo, falei? Não entendo nada da mecânica de braços.

— Não, acho que não foi nada tolo, faz mais sentido do que você acha. O braço dele precisa urgentemente de reparos e... Oh, Deus, eu amo aquele braço! — largou a peça de cobre sobre a mesa e se apoiou com os cotovelos, sustentando o queixo na mão — Mas não sei dizer se é uma boa ideia, na verdade, parece-me uma péssima ideia. Creio que seja melhor não falar com ele até as coisas se acalmarem.

A moça ergueu as sobrancelhas e se levantou da cadeira, cutucando seu braço.

— Oliver, antes de ser seu amigo, ele é seu cliente, isso é o mais importante. Vocês podem ter brigado ou algo assim, mas você continua sendo um mecânico, precisa consertar o que tiver para ser consertado.

— Claire, minha querida, aposto meu Air Driller finalizado que Jeremy Benedict deseja me ver tanto quanto eu desejo vê-lo.

— Nossa, o Air Driller? Aposta alta. — Oliver riu, concordando. — Vou ligar para ele, de todo modo, deve ter o número na agenda de clientes, certo?

Seus ombros ficaram tensos e ele se alarmou, a ruiva notou, mas o mais conveniente seria ignorar. Oliver e o cliente não podiam ser infantis a esse ponto. Se eram bons amigos, tinham que se resolver — e, além de tudo, havia o trabalho.

— Claire...

— Vai ser rápido, tudo bem? Não deixe assuntos incompletos, nunca é bom, e é errado e antiético deixar um cliente com um produto precisando de reparos.

E saiu em direção à recepção com um sorriso de satisfação por não ser impedida. Oliver permaneceu na oficina, já não polia nada e se sentia mais uma vez flutuando em confusão. Respirou fundo, voltando a pegar as peças para terminar o serviço. Claire não estava errada ao propor o conserto do braço, só estava errada por não saber do que se trata Jeremy.

Mas ela estava certa, ele era o mecânico e não deveria pôr os problemas que havia entre ele e o aviador acima de sua própria profissão. Obviamente, isso era fácil e honroso na teoria, mas na prática... ele achava que talvez não conseguisse.

Podia ouvir a voz da sua noiva na recepção, cortês e clara, e ainda estava tentando absorver os fatos de que aquilo estava mesmo acontecendo. Suspirou.

Ele era o mecânico.

Jeremy o cliente

De volta aos velhos tempos.

Tentou manter a calma ao ver Claire voltando da recepção, e optou por fingir pouco interesse no assunto. A peça em suas mãos já estava mais do que bem polida, então pegou outra para manter as aparências.

— Talvez eu vá ver o Sr. Gregory amanhã, ouvi dizer que chegaram coisas maravilhosas da...

— Oliver.

— ... E ah, Sarah disse que tem alguns conselhos para lhe dar sobre o casamento, talvez você...

— Oliver!

O mecânico levantou o rosto com apreensão e rigidez, encontrando o olhar aflito cravado no rosto bonito da mais jovem. Suas mãos tremiam um pouco e havia tanta tristeza em sua expressão que ele soltou tudo o que segurava e se aproximou com passos largos, ostentando preocupação.

— Oh, Oliver. — disse com tristeza, e o moreno travou, muitos passos à frente. — Mr. Benedict está no hospital... E o seu braço.... ah, o seu braço...

Tudo de repente parou, como uma engrenagem em mau funcionamento.

...

Jeremy não se lembrava bem do ocorrido ao abrir os olhos. Havia algo desconfortável martelando em sua cabeça e ele temeu que isso evoluísse para uma dor pior, mas manteve os olhos bem abertos e se assustou ao encontrar uma parede clara e simples à sua frente, no lugar onde normalmente se encontrava um papel de parede encardido e descascando. Sua visão estava embaçada e sua cabeça doeu instantaneamente com a claridade insuportável que invadia seus olhos, forçando-os a se fechar. Alguém havia aberto uma maldita janela!

Ao seu lado, identificou um soro pendurado e brilhante em seu próprio material transparente, junto a um monitor rústico e escuro. Olhou para baixo e encontrou lençóis limpos e os dedos brancos expostos do seu pé direito. Foi o que bastou para ter certeza de que não estava em casa.

No entanto, apesar de sua cabeça querer explodir, algo realmente incomodava seu corpo: seu braço direito, duro e gelado, que deveria estar fedendo à graxa. Não conseguia vê-lo da posição em que estava, então ergueu seu braço esquerdo, sentindo uma pontada desconfortável quando a agulha do soro se soltou e ele teve quase certeza de que sangue pingava nas roupas de cama extremamente limpas.

Que desastre, pensou, e moveu o braço até onde estava o seu outro, procurando-o com o toque. Seus dedos correram pelo colchão, esperando que o frio do aço adormecesse o calor que era seu sangue escorrendo pelo cotovelo e mão, pingando no colchão. Tateou em todas as direções, sem sucesso.

Arriscou então erguer-se minimamente, o que suficiente para ver em que direção seu braço poderia estar. Talvez estivesse pendurado ao lado da cama, mas ardia demais para que se atrevesse a levantá-lo.

Com o pescoço inclinado, seus olhos focaram no nada, subiram até seu próprio ombro, descendo pelo fim da pele, o toco, e continuaram a descer para apenas encontrar o vazio, sem brilho prateado algum.

Seu coração falhou umas muitas batidas e a máquina ao seu lado começou a apitar.

Onde estava seu braço?

— Sinto muito, senhor, o horário de visita acabou há mais de duas horas. Volte amanhã, entre as seis e as dez.

Era quase meio-dia e Oliver estava visivelmente incomodado e aflito, parado em frente à enfermeira com uma expressão um tanto bruta, os pés batucando no chão de forma a mostrar toda sua impaciência. Tudo em si estava impaciente, na verdade, e sua vontade íntima era de sair correndo pelos corredores em busca do aviador e de seu braço de metal, mesmo sem saber o andar ou quarto em que se hospedava.

O mecânico era só preocupações.

— Você não pode me deixar vê-lo? — pediu — Prometo ser rápido, só três minutos, talvez menos! Sou bom em ser rápido.

A moça apertou os lábios e se pôs a acenar negativamente, abraçando a prancheta que segurava contra o peito. Ela expressava não ter como ajudá-lo em todas as suas ações e expressões, e realmente não tinha.

— Temos políticas que proíbem atos assim, senhor. Talvez seja melhor se acalmar e esperar até amanhã, o horário da tarde é reservado à família.

Oliver engoliu em seco. Tudo bem, ele não era família, mas chegava a ser alguma coisa?

— Eu sou seu mecânico, por Deus! — foi o melhor que conseguiu, infelizmente. Suspirou com tristeza — Pode ao menos me dizer o que houve com ele? Ele está bem? O braço...

A enfermeira, alta e de pernas finas, com um rosto ossudo e olheiras cansadas, ergueu uma mão para tomar a fala. Ela tentou sorrir amigável.

— Mr. Benedict está bem, não precisa se preocupar. Ele está dormindo neste exato momento por causa das medicações, mas não é nada muito grave, embora ele tenha tido um ataque de pânico algumas horas atrás, graças ao braço.

A cabeça de Murphy estava uma terrível confusão. Queria que Jeremy estivesse bem, queria que seu braço estivesse com ele. Queria poder vê-lo imediatamente e verificar se estava tudo como deveria estar.

— Braço? O que há com o braço?

Sentiu imediatamente o que seria o início de uma enxaqueca.

— Ele está um pouco... bem, venha cá. — ela acenou para que ele a seguisse e se dirigiu até uma porta um pouco além da recepção do hospital. O compartimento cheirava a produtos de limpeza e talco — Aqui, tome.

Oliver a observou curioso, vendo-a se aproximar com o embrulho comprido e duro em seus braços. O mecânico tomou-o para si com grande cautela, levantando em seguida a ponta do tecido para espiar o conteúdo.

Seu rosto empalideceu.

— Ele está terrivelmente danificado, não acho que poderá ser usado novamente, mas bem, se você é o mecânico dele deveria dar uma olhada. — informou, com uma linha comprimida no lugar dos lábios.

O moreno sentiu a garganta seca, um gosto azedo no fundo da boca. O embrulho que carregava trazia o braço em que trabalhara durante meses, pouco dormindo, mas com uma paixão pela construção que nem mesmo a própria ganancia ousara afetar. Sua obra-prima, antes brilhante e forte, agora reduzida a metal amassado e molas soltas.

Sentiu uma raiva inexplicável. Jeremy havia se machucado, ele, seu melhor amigo e por quem possuía sentimentos indecisos, mas fortes, estava deitado em uma cama de hospital alguns andares acima, desacordado por causa de remédios e sem um dos braços.

Respirou fundo, com ira. Aquele que provocara tudo isso lhe deixara extremamente irritado.

— Quem poderia fazer algo assim com ele? Isso é… isso é tão terrível. — não pôde mais olhar, voltando a cobrir o braço de metal com o tecido. Era desagradável demais. — Por Deus, eu o vi ontem de noite, como…

A enfermeira pigarreou, desconcertada. Seus dedos se enrolavam uns nos outros e seus lábios hesitavam em dizer o que diria.

— Senhor, desculpe, mas… Bem, foi o próprio Mr. Benedict quem destruiu o braço.

...

Jeremy soube que amanheceu quando ouviu as cortinas se abrirem e sentiu os passos de alguma enfermeira se aproximando da cama. Podia sentir o calor do sol e vê-lo através da fina pele que separava seus olhos da visão clara. Não queria abri-los, a mulher poderia deixar a comida na mesa e se retirar, simples como se nunca houvesse estado ali.

Não queria abrir os olhos e ver o estrago de suas próprias ações. Seu braço — ou onde antes ele se encontrava — ainda ardia, mas ele sabia ser apenas psicológico: estava medicado o suficiente para não sentir qualquer dor ou qualquer coisa. Na verdade, estava até espantando por sentir o calor do sol nos seus pés.

Se pôs a escutar. Os passos pareciam mais suaves do que da maioria das enfermeiras e seus tamancos barulhentos, mas o trajeto pareceu o mesmo, da janela até a cama e então até o soro.

Abriu os olhos minimamente e viu uma mão dando petelecos descontraídos na bolsa de soro, cutucando-o logo em seguida. Definitivamente não era uma enfermeira.

— Sei que está acordado, suas pálpebras estão piscando involuntariamente.

Ah, como ele conhecia aquela voz. Seus ouvidos não o enganariam com algo assim.

— Oliver? — abriu os olhos lentamente, a luz do sol embranquecendo a imagem do moreno momentaneamente.

— Oi — ele disse, e Jeremy viu sua sombra se inclinar para frente, antes dos traços do rosto entrarem em foco. — Estou com muita raiva de você.

Bem, não era exatamente isso que sua expressão demonstrava, mas o loiro contraiu a face, aceitando o sentimento. Oliver tinha todos os motivos para estar furioso. Seu braço ardeu um pouco mais.

— Mas — ele recomeçou — Não sei explicar, não consigo ficar com raiva de você desse jeito, tive tempo para pensar e concluí que em parte a culpa disso tudo é minha — ergueu o rosto, mirando o soro erguido mais acima — E também, esse negócio é realmente curioso, sinto vontade de furá-lo com uma agulha.

O aviador tentou sorrir, mas seu rosto estava todo dormente.

— O meu braço... Não pude vê-lo. Ele — soltou o ar dos pulmões — está muito feio?

Oliver apenas assentiu, voltando a fitar o saco do soro. Tudo nele estava calmo demais.

— Feio, destruído e praticamente irreparável. O que você fez com a minha obra, Jeremy? Deve ter usado uma força estúpida, tirada do seu mais profundo abismo de estupidez. — o encarou — E acabou se machucando desse jeito, espero que suas ligações nervosas estejam bem.

— Estava triste, só isso.

— Sim, eu também estava. Por isso não o culpo. — suspirou, sentando-se e apoiando o rosto na grande de proteção da cama. — Estava realmente preocupado com você, quase não acreditei que pudesse ser tão imprudente.

A ponta dos lábios do loiro subiu em ironia.

— Eu disse que te amava sabendo que você estava noivo, há algo mais imprudente que isso? — sorriu, tossindo seco. — Água, por favor.

Oliver rapidamente inclinou-se e apanhou uma jarra posta sobre a cômoda, servindo um copo até a metade.

— Bem, mais imprudente seria se eu dissesse que te amava também. Seria uma quantidade de imprudência para uma vida inteira.

— Deveríamos ser mais imprudentes, não acha?

Oliver calou-se, pareceu pensar por um bom tempo em uma resposta, sem jamais deixar de encará-lo nos olhos.

— Talvez. Dois anos atrás eu teria sido bastante imprudente.

Jeremy não tardou a responder, tinha as respostas na ponta da língua.

— Sinto falta do Oliver de dois anos atrás, então.

Levantando-se sem pressa, o mecânico se aproximou alguns passos da cama do aviador, inclinando-se para fitá-lo mais de perto. Os olhos de cobre enferrujados pela guerra lhe encararam com certa ansiedade, e pela primeira vez em meses Oliver se perguntou como seria beijar os lábios do outro mais uma vez.

Piscou. Não, não podia.

— Ainda estou com raiva de você, Jeremy. — o loiro pôde sentir um vestígio da respiração do outro contra o seu rosto. — Tudo o que você faz tem me trazido sentimentos estranhos e... Você está me deixando confuso, estou odiando isso, se pudesse parar, agradeceria.

— Desculpe pelo braço, mas...

— Jeremy. — interrompeu-o — Lembra-se de certo dia, quando ainda construía seu braço, e aquele cliente veio buscar um aeroplano belíssimo?

— Claro que sim, você ficou muito abalado.

— Exatamente. Espero que entenda que estou bem pior agora — suspirou — Eu não consigo entender você, isso é irritante! Tudo parecia tão certo e então você voltou e agora estou tão perdido, como uma engrenagem fora do lugar. Sim, exatamente como isso! Não sei o que está acontecendo, mas está tudo fora de controle — apontou para sua própria cabeça — Aqui, entende? Estou ficando louco.

O loiro o fitou por uns instantes, analisando as mãos que gesticulavam nervosas de um lado para o outro. Oliver possuía uma ruga desconhecida entre as sobrancelhas e sua voz soava exasperada, meio rouca. Com a luz da janela batendo em suas costas e projetando uma sombra, Jeremy viu novamente o que observara dois dias atrás.

Cansaço.

— Isso realmente não combina com você — o quarto ficou em silêncio, apenas um sutil barulho do monitor rústico apitando — Está tão estressado, como se estivesse sem construir e consertar coisas há mais de anos.

— Você está me estressando, Jeremy. Não sei o que fazer com você — apoiou-se na grade da cama — Deveria me afastar? Convidá-lo para um chá e mostrar que casarei com Claire? Não, isso seria errado... Você entende o que está fazendo comigo? Não quero me afastar porque você...

— Me beije. — Oliver arregalou os olhos.

— Jeremy!

— Se você está confuso a esse ponto, não vejo solução melhor. — apoiou sua única mão na cama, forçando-se a sentar — Não entende? Sua única confusão é a respeito do que escolher. Tudo o que fiz foi lhe dar a opção de seguir com o casamento ou ficar comigo.

— Mas Claire...

— Prefere se enganar e enganar ela? — Jeremy passou a mão nos cabelos. Quando começara a suar? — Vamos, Oliver Murphy, apenas deixe isso tudo claro. Se ao fim do beijo você perceber que não é isso o que quer, irei para longe e tirarei você dessa preocupação toda.

Era errado, Oliver sabia melhor do que ninguém. Havia um gosto ruim na ponta da língua, a prontidão para recusar, do mesmo modo que havia uma dor sutil na sua cabeça, pedindo para tentar.

Claire não precisava saber, pelo bem de ambos.

— Você entende o que acontecerá se...

— ... se você perceber que precisa de mim tanto quanto eu de você? — Jeremy sorriu — Quero arriscar, e você?

Foi algo simples, tão simples que o próprio Oliver não pôde compreender como o ato lhe parecera tão cotidiano. O mecânico jogou seu corpo para frente antes que se arrependesse e seus lábios se chocaram com os de Jeremy, pressionando sua cabeça contra o travesseiro. Uma de suas mãos se apoiava na grade da cama e a outra subiu até o pescoço do loiro, trilhando até os cabelos ralos. O aviador, no entanto, não moveu-se. Deixou que o moreno lhe segurasse os ombros e se afundasse no seu beijo, sugasse seus lábios, ansiando por agarrá-lo com o braço que já não possuía.

O mecânico de repente se perdeu no beijo, como alguém se perde na própria loucura, e tão logo Jeremy perdia o ar, parou, notando que sua própria respiração lhe faltava. Respirou fundo em seu rosto, poucos centímetros do seu rosto. Havia acabado e agora o aviador lhe encarava, esperançoso, os olhos mais próximos dos seus do que nunca. Oliver, no entanto, afastou-se e deu as costas, andando apressado até a cômoda e apanhando sua bolsa. Jeremy seguiu-o com os olhos, ainda sentindo o gosto dos lábios dele nos seus.

— E então? — ousou perguntar. Oliver já estava na porta.

— Espero que você melhore logo, Mr. Benedict.

E fechou a porta o mais silenciosamente possível.

...

Claire desceu as escadas correndo. Era começo de noite e ainda havia vestígios do sol sumindo no horizonte, marcando o fim do dia. Não era a hora de descansar, porém, e a moça estava agitadíssima, aguardando ansiosa as notícias que seu noivo deveria trazer.

— Murphy não virá para o jantar? — perguntou seu pai na tarde anterior, quando a filha chegou em casa. Estava ajudando a mãe a carregar uma cesta de batatas até a cozinha.

— Temo que não, um amigo sofreu um acidente. — foi tudo o que pudera responder.

E agora que a campainha tocou, Claire estava certa de que seria ele, com esperança de boas notícias. Desejava no mais íntimo que Mr. Benedict estivesse bem e sem dúvidas iria lhe prestar uma visita outra hora. Oliver não possuía muitos amigos, o que lhe cabia de maneira estranha: era tão simpático e atencioso, deveria ser repleto de amizades e companheiros.

Vira seu pai se aproximar da porta de entrada e correu para ter certeza de que seria ela quem atenderia.

— Sem dúvida é Oliver, pai, deixe comigo.

O homem ruivo barbudo assentiu, sorrindo de lado e retirando-se para a cozinha mais uma vez. Claire respirou fundo, arrumou sua postura e vestido e só então abriu a porta.

Oliver não sorria do outro lado.

— Claire — cumprimentou, sério — Está ocupada?

— Não, de modo algum. — deu passos para fora de casa, fechando a porta atrás de si — O que há?

O mecânico comprimiu os lábios e pareceu sem jeito, um pouco triste, mas havia uma certa energia vindo dele que ela própria nunca pudera ver.

— Podemos dar uma volta? — ele perguntou, olhando-a nos olhos — Precisamos conversar.

O sorriso da jovem ruiva murchou automaticamente. Ele não dissera uma palavra a mais do que isso, nem uma sentença, gesto ou sequer expressão. Parecia obstinado ao pôr a boina sobre os cabelos novamente, virando-se para caminhar ao seu lado. Parecia o Oliver normal, ou era o que qualquer um diria, mas algo no seu instinto escocês apurado lhe revelara tudo. Não sabia como ou porquê, mas sabia.

Segurou-se para não chorar.


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Notas finais do capítulo

Então, tó um presentinho para vocês: http://36.media.tumblr.com/tumblr_lt7td7sceJ1qgj5dso1_1280.png
Zulenha divando como sempre nessas fanarts c:
ENTÃO, TENHO DESCULPAS PARA MINHA DEMORA SECULAR? NÃO! TENHO VERGONHA DISSO? SIM!
Me desculpem mesmo. Eu já tinha acabado esse capítulo antes mesmo do desafio chegar ao fim, mas estava muuuuito indecisa se era isso que eu queria, então pensei "vou deixar isso pra amanhã, até lá eu me decido" Bem, parece que hoje é o amanhã do dia 30/08 ahahaha
No fim acabei não mudando quase nada no capítulo então fiquei sem postar à toa. Perdões, perdões.
Adoro vocês



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