Airheart escrita por Vaalas


Capítulo 6
Capítulo 06 — The Death of the Cog


Notas iniciais do capítulo

Minhas notas inicias e finais estão sendo cortadas e to bolada. Padawan, vou te agradecer pela linda recomendação por resposta mesmo ;-;



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Oliver acordou um pouco antes da hora do almoço com o barulho de algo caindo no andar de baixo em uma sequência de tilintares. Abriu os olhos preguiçosamente e virou o rosto para o lado, em direção à porta aberta que levava ao corredor vazio.

Com reações lentas, piscou os olhos algumas vezes, confuso pelo sono. Então sentou-se, esticando os braços para trás. O dia através da cortina branca estava iluminado e bonito, foi só então se deu ao trabalho de olhar para o relógio acima da cômoda, movendo os ponteiros preguiçosamente e marcando quase meio-dia. Deveria terminar de limpar o motor consertado da motocicleta de Lawrence Soller antes das três.

Calçou os sapatos e se levantou, andando sem muita pressa para fora do quarto, a sola se arrastando ao descer as escadas.

— Claire? — chamou, já no último degrau. — Tudo bem aí?

Ele escutou um praguejar baixo vindo da cozinha, mas logo ela lhe respondeu.

— Sim, sim, tudo bem, apenas... Bem, acho que quebrei um prato. — Claire veio agitada até ele, sorrindo sem jeito — Eu vou arrumar tudo, prometo, enquanto isso porque não vai lavar o rosto? O almoço está quase pronto.

O mecânico sorriu, bocejando sutilmente. A ruiva não servia para trabalhos domésticos e ele sabia disso perfeitamente — ela parecia algo como uma raposa, tinha a aura um tanto agitada e selvagem demais para se prender em uma cozinha com panelas. Oliver não podia evitar se atrair por isso, soltando um sorriso gentil sempre que a via correndo de um lado para o outro, na intenção de agradá-lo.

— Posso ajudar se quiser, eu... — propôs.

— Não, não, eu cuido disso, mesmo! Você já fez o almoço da última vez e...

O moreno levou as mãos ao ar antes mesmo que ela terminasse de falar, se rendendo com uma risada e mostrando-se submisso às suas vontades. Claire sorriu com o ato, virando-se para voltar de onde viera, o rabo de cavalo batendo nas costas. No entanto, parou repentinamente, seus olhos pareciam curiosos e divertidos, naquele tom escuro tão característico.

— Ah, um homem veio lhe procurar mais cedo. — disse, um tanto ansiosa pela resposta de suas dúvidas — Parecia um soldado regressando para casa, muito alto e bonito. Ele deixou um cupom para você na recepção, disse que você ia entender do que se tratava quando visse.

A ruiva estudou as expressões do noivo, desde seus olhos se arregalando a seus ombros se contraindo — ela até se atrevia a dizer que uma vermelhidão lhe tomou as bochechas, fazendo as pequenas sardas sumirem em meio à cor. Era uma reação engraçada, diria, e logo viu os efeitos do nervosismo em sua voz, como se ele fosse exposto à uma grande dose de cafeína.

— Jeremy? Jeremy Benedict? — perguntou ansioso, abrindo a boca em espanto ao ver que ela concordava, Ele pareceria desesperado se sua expressão não mostrasse certa satisfação — Por Deus, onde está o cupom?

— Ah, deixei-o dentro do caderno de notas na recepção — informou. O moreno então correu até a entrada, deixando a porta aberta. Claire o seguiu rapidamente — Espere, esse Benedict é alguém importante?

Ao chegar à recepção, Oliver estava inclinado sobre o balcão, as costas contraídas e os braços apoiados na madeira ao lado de seu corpo. Ela se pôs a fitar o suspensório de sua calça arrumado devidamente sobre a camisa de mangas dobradas até os cotovelos. Demorou um tempo até que ele virasse para ela, o cupom verde em mãos e um sorriso enorme no rosto.

Ele parecia aliviado e muito surpreso, com uma energia até então desconhecida por ela.

— Oliver? — Ela o chamou, trazendo sua mente de volta à realidade — Está tudo bem?

Tristemente, viu o traço enorme em sua boca reduzir-se a lábios erguidos em um sorriso sutil de pura tranquilidade.

— Sim, sim, tudo está ótimo. — Claire sentiu a mão de dedos compridos do mecânico fechando-se em seus ombros com carinho. — Mr. Benedict é só um cliente antigo que foi para a guerra, estou aliviado por estar vivo.

Claire assentiu, feliz pelo contentamento explícito em seu rosto.

Enquanto Oliver estivesse feliz, tudo estaria bem.

...

Jeremy sentia no peito uma sensação desagradável, como se pedras de gelo escorressem da sua garganta até seu ventre. Estava no meio da tarde, mas ainda não havia almoçado, então sentou-se em uma mesa descoberta em frente ao restaurante Marión e pediu um almoço acompanhado de um suco sem açúcar. O lugar era bem em frente à um lago de água verde escura, com pedras brancas dispostas de um lado ao outro. Era um lugar agradável, mas sua mente estava possuída pela imagem do anel brilhante, exposto com beleza no dedo fino de uma adorável moça escocesa.

Oliver tinha bom gosto para mulheres, pensou com humor amargo, considerando por um longo instante se uma bebida forte não cairia bem.

Logo a atendente trouxe seu pedido, e Jeremy comeu sem sentir o gosto de nada, com certa miséria presa aos dentes, mastigando em uma lentidão agonizante. Ao fim, deixou o prato pela metade e o suco intacto sobre a mesa, pagou a conta e se retirou para caminhar um pouco. Não demorou muito para perceber que era uma tarefa ainda mais cansativa e infeliz.

As nuvens no seu céu lhe lembravam o sorriso de seu Oliver, combinando com a cor da água do lago que lhe remetia os olhos.

E a tarde não poderia lhe parecer mais longa.

...

Oliver tomou a decisão de ir ver Jeremy. Era de seu feitio ser o primeiro a dar um passo e tinha em mente que o loiro sendo o loiro não teria coragem de aparecer em sua frente com muita facilidade. Não achava que essa seria uma característica facilmente mudada em dois anos — ou ao menos esperava que não —, e, de todo modo, estava ansioso demais para esperar a atitude por parte dele.

Claro que não seria tão tolo ou ingênuo como era dois anos antes, afinal certas circunstâncias mudaram. Muitas, na verdade.

— Quer que eu a acompanhe até a sua casa? — perguntou ele, vestindo seu casaco e saindo logo atrás de Claire, trancando a loja em seguida. — Está tarde, talvez seja melhor.

— Não se preocupe com isso — ela lhe sorriu com o olhar vivaz de sempre. — Sei me cuidar muito bem e, de todo modo, preciso passar na casa dos Hillon antes de ir para a minha.

No fundo mesmo, Claire queria que o mecânico a acompanhasse. Queria que segurasse a sua mão e se exibisse em frente aos demais casais, contando suas piadas um tanto usuais, mas decidiu conter seu egoísmo, Oliver tinha coisas para fazer.

— Bem, se é assim, lhe vejo pela manhã?

A ruiva assentiu, levantando-se na ponta dos pés para beijar-lhe os lábios. Foi apenas um toque breve, mas o suficiente para deixá-la radiante.

— Até amanhã.

— Até.

Oliver viu-a andando ao longe e sorriu quando sumiu de vista. Realmente nutria sentimentos pela jovem, não havia como evitá-lo, pois a mesma tinha uma aura apaixonante e livre. No entanto, enquanto caminhava pelas ruas nem tão desertas de início da noite — os lampiões começavam a se ligar e a luz escassa dava um tom diferente às cores do ambiente —, se lembrou do que nutria por Jeremy e hesitou, parando ao meio da rua pensativo. Será que tais sentimentos ainda seriam os mesmos? Bem, esperava que de certa forma não, as coisas começaram a dar certo entre ele e sua noiva — e ele esperava mesmo que um dia pudesse amá-la com ardor e que Jeremy estivesse entre os convidados de seu casamento, como um amigo.

Não, por Deus, a imagem lhe parecia por demais imprópria, totalmente inadequada. Jeremy não poderia estar no seu casamento, eles nutriam paixão um pelo outro. Passageira e antiga, talvez, mas ainda assim era algo bem mais ardente e impulsivo do que nutria por Claire, e de repente viu suas pernas travarem novamente, a confusão instalando-se e não pretendendo abandoná-lo tão cedo. Talvez não fosse uma boa ideia ver Jeremy.

Suas manhãs se tornaram vazias quando ele foi embora. Oliver escutava o tic tac dos relógios e o soar dos motores à vapor, mas não havia café por perto, pois preferira se afastar da bebida por um tempo — muitas lembranças e associações à certos cabelos loiros na bebida amarga —, e, mesmo que incomodado com o silêncio, acostumou-se, acomodando-se mais uma vez à velha rotina.

As coisas pareciam chatas demais e nem construir bugigangas ou consertar relógios tiravam o peso dos seus ombros chamado de saudades.

Conheceu Claire em uma manhã bonita de Outubro, acompanhada do pai grande e barbudo, ruivo num tom muito mais alarmante que o da própria moça. O homem veio contatar seus serviços a respeito de uma cadeira de rodas com motor movido à vapor, e perguntou se era possível construir algo do tipo. Bem, era novidade para o mecânico, mas faria de tudo para sair da mesmice que eram seus dias.

A cadeira se destinava à avó de Claire, uma senhora com 94 anos bem vividos, talvez a pessoa mais velha que Oliver teve o prazer de conhecer. Ela perdera a sensibilidade das pernas havia dois verões e uma cadeira do tipo — o pai de Claire, Joshua, lera um artigo sobre aquele tipo de veículo em uma revista russa já proibida — seria a mais bela salvação.

Mergulhara em seu trabalho, sem quase ver ninguém durante o processo. Diferente de Jeremy, Joshua tinha muito o que fazer e pouco supervisionava o andamento da produção. Ele era dono de uma grande parte do porto de Tilbury e tinha posse de muitos navios mercantes direcionados à Ásia em busca de especiarias. No entanto, uma vez — apenas uma — Claire veio até ele numa tarde com uma cesta de bolinhos feitos por ela e pela a avó.

O resto é história.

A senhora Margaret morrera cinco meses depois da cadeira ficar pronta, com 95 anos. Teve um infarto enquanto dormia.

Isso também é história.

Agora ali, parado no meio da rua, Oliver não sabia exatamente o que fazer. As chaves da loja pesavam no bolso, como que pedindo para serem encaixadas na porta de entrada, praticamente implorando para que ele voltasse, sentasse na sua mesa e trabalhasse até concluir que o passado era passado e certas coisas precisavam permanecer para trás.

No entanto, havia um cupom entre seus dedos que lhe diziam o contrário, e Oliver não pôde deixar de lado a vontade enorme que sentia de rever os olhos polidos do mais puro cobre. Levou as mãos aos bolsos e se pôs a andar.

Claire teria que perdoá-lo — naquela noite, visitaria um antigo amante.

...

Oliver apenas não contava que tempos haviam passado. Ele mais do que ninguém deveria ter essa noção: os relógios que consertava diariamente tentavam lhe dizer isso, no entanto o impulso do momento fazia questão de esquecer desse detalhe. Naquela mesma noite em que ele subia os degraus do prédio onde se despediram dois anos antes, Jeremy fumava apoiado na janela e virava uma garrafa de bebida garganta abaixo. Não estava nem perto de ficar bêbado, mas lhe parecera o suficiente para tirar certo peso do peito e derreter o gelo em sua garganta.

Bem, o mecânico não podia saber disso, então bateu à porta do apartamento que ele torcia para ainda ser o seu. Coçou a nuca, desconcertado com a demora em ser atendido. Quando a porta se abriu, no entanto, aprumou-se com as costas retas e cheio de nervosismo.

Não havia parado para pensar no que diria.

O aviador atendeu, para sua felicidade, expondo-se ante a porta aberta. No entanto, os olhos de Oliver custaram a acreditar no que viam, sorrindo um tanto descrente com a imagem desleixada que o fitava curioso.

Sua língua adormeceu.

— Jeremy... Você está bem?

O loiro piscou umas muitas vezes e inevitavelmente abriu um sorriso. A noite estava quente naquela área de Londres, mas nem mesmo em um calor desértico Oliver esperava encontrá-lo de regata branca com calça de tecido folgado — em sua mente, Jeremy sempre estava de uniforme militar azul ou camisa social branca. Os cabelos estavam mais curtos e bagunçados, rebeldes e molhados, e havia uma cicatriz irregular e aparente logo abaixo do olho esquerdo, o lado oposto a onde estava seu ombro nu e o braço de metal brilhante. Juntando uma barba por fazer, tudo contribuía para formar a imagem de um Jeremy muito mais velho e diferente do que se lembrava.

Sorriu sem perceber, notando os olhos arregalados do aviador sobre si, em conjunto com um sorriso que parecia se alargar cada vez mais, expondo todos os seus dentes certinhos.

Não se surpreendeu ao sentir os braços se fechando em torno de si, um quente e macio e outro frio e metálico, apertando-o com tamanho desespero e emoção. Se permitiu rir alto, retornando o abraço com o mais perto da intensidade que conseguia reproduzir. Sentia falta disso. Os poucos meses que passaram juntos foram mais do que o suficiente para criarem um laço de amizade muito forte.

O clima de saudade era palpável no ar.

— Ah, Oliver, como senti sua falta. — Jeremy afastou-se, postando-se em frente ao mecânico com um sorriso expressivo, as mãos presas em seus ombros. Seu hálito tinha cheiro de álcool, mas o mecânico não pareceu notar, ou se notou, não estranhou — Você não mudou muita coisa, acho.

Ele concordou, assentindo sutilmente. Imaginou que o clima de reencontro seria mais embaraçoso, um tanto perturbador, mas as coisas pareciam excepcionalmente bem até então.

— É, creio que não. Você, no entanto, parece anos mais maduro. — revidou.

E era verdade. Havia uma sombra no modo como Jeremy olhava que Oliver sabia ser uma sombra da guerra, sem cura. Seus olhos de cobre teriam ferrugem em alguns pontos pelo resto da vida.

— Efeitos do tempo, acredito. — Sorriu vitorioso — Vamos, entre, temos dois anos para pôr em dia.

...

— Soube que está noivando — o loiro informou, oferecendo sua bebida ao moreno — Meus parabéns, ela é encantadora.

Oliver aceitou, virando a garrafa na tentativa de esconder o rubor que lhe tomou as bochechas. Não esperava entrar nesse tópico tão cedo.

— Ah... Sim, ela é. Supus que tivessem se falado pela manhã. — pigarreou, engolindo em seco com um sorriso nervoso — Desculpe, acho que não soube esperar.

— Bem, não o culpo. — retorquiu, sério. Oliver o encarou desde o início da conversa, com medo de ver algo na sua expressão que delatasse o quão insatisfeito estava, no entanto, não encontrou nada. Perguntou-se, meio confuso entre estar feliz ou triste, se Jeremy já não sentia nada por ele. — Passaram-se dois anos, você nem poderia saber se eu estava vivo ou morto, surge uma adorável moça ruiva. Não há nem o que pensar.

— Jeremy...

— Está tudo bem, juro. — tomou a bebida de volta para suas mãos, bebendo da garrafa até sentir sua garganta queimar. Oliver estava igual por fora, os mesmos cabelos da cor de grãos de café, as mesmas sardas sutis e os mesmos olhos num tom de verde escuro, mas Jeremy duvidava que estivesse o mesmo por dentro. Olhando-o de perto, notou que parecia cansado, a pouca luz do ambiente só realçava essa impressão. Não cansado como ficava ao trabalhar por horas em algum projeto, mas cansado de um jeito muito mais preocupante. — Aliás, preciso de uma avaliação sua, mecânico.

Oliver levantou os olhos do chão, encarando-o sem entender.

— Desculpe?

Ele suspirou.

— Meu braço está emperrando um pouco. — apontou com o queixo — Às vezes range em sons desagradáveis e fede à graxa durante a noite.

— Tem posto óleo onde lhe ensinei? — perguntou, levantando-se e se aproximando com rapidez — Melhor, alguém fez manutenção nele de seis em seis meses? Apertou os parafusos e porcas? Checou a corrosão das engrenagens? Tem pessoas responsáveis por isso em toda base militar, tenho certeza!

Jeremy, que ouvia tudo em silêncio, gargalhou. Seu tom de voz lhe lembrou muito do dia em que o conheceu e da sua animação ao lhe explicar sobre a construção do braço.

— Tentaram, mas nunca permiti. Esse braço é seu, Oliver, ninguém vai negligenciar a sua arte. — virou a garrafa mais uma vez. — Claro, nos meus planos essa guerra não duraria tanto tempo, imaginava estar de volta antes mesmo de completar o primeiro semestre.

Oliver sentiu-se ruborizar novamente e puxou a garrafa da mão do loiro, inclinando a cabeça para o lado com um levantar de sobrancelhas.

— Foi meio tolo de sua parte, mas obrigado. — sorriu, puxando os próprios cabelos na frente, como de costume. — Como foi voar mais uma vez, airheart?

— Acho que... foi bom — o mecânico fitou seu sorriso triste, em alerta —, mas, bem, não sei explicar direito. Algo estava desagradável. Em parte posso culpar o clima de guerra e as muitas desgraças... ah, tanta desgraça... — sentiu a mão de Oliver em seu ombro e se segurou para não tomá-la com a sua. — Bom, eu não sei se valeu tanto a pena, perdi muito mais do que dois anos nisso.

— Jeremy... eu nem sei o que...

Mas o aviador não olhava mais para ele, a parede logo à frente parecia muito mais interessante. Tudo nele estava meio distante.

— Eu te amo, Oliver. — falou casualmente, sem olhar na sua direção. Tinha medo de lhe encarar, mas podia sentir sua palidez instantânea e a aceleração de sua respiração. Riu pelo nariz, insatisfeito consigo mesmo. — Digamos que eu tive muito tempo para pensar sobre isso e acredite, eu pensei muito em você nesse tempo todo, mas só cheguei a essa conclusão hoje de manhã, andando pelo centro depois de passar na sua loja. Seu noivado simplesmente... me desesperou. E, bom, eu sei que falei que estava tudo bem, mas não está.

O mecânico calou-se, estudando o chão abaixo de si com certo espanto. Algo em si estava tão, mas tão triste... talvez fosse efeito da bebida, mas ele queria chorar, se de raiva ou emoção, não sabia, porém tinha total noção de sua frustração.

Ele tivera muito tempo para pensar sobre aquilo também, mas ainda lhe era muito confuso. Tão confuso que ele mal podia entender sua própria confusão. Antes de ser beijado por Jeremy tudo o que poderia haver entre eles era uma amizade muito incrível, forte como ele nunca pensou que poderia existir. Mas tudo isso havia mudado de forma rápida demais para assimilar e ele não achava outras palavras para explicar o sentimento que tinha pelo loiro que não fosse confusão e grande afeto, mesmo após tantos meses.

Sua garganta travou e as lágrimas quiseram subir. Não sabia o que fazer. Dois anos atrás talvez o beijaria, era o mais coerente e feliz para se fazer, mas agora...

— Acho que — começou a se levantar, sussurrando — é melhor eu ir para casa.

O aviador continuou a olhar para frente, sem dizer nada. Oliver olhou em sua direção e ele de repente lhe pareceu uma estátua de marfim sentada no chão, apoiando o braço mecânico sobre o joelho e ainda segurando a garrafa. Se perguntou se ele estava respirando, ou se estava tão triste quanto ele próprio estava.

Havia uma angústia excruciante cravada na sua expressão, mas ele não se atreveu a olhar para o moreno uma única vez depois do que disse.

Soltou um riso de desgosto.

— Não sei se acredito que aquele beijo foi mesmo um adeus definitivo...

— Jeremy, não faça isso.

Oliver suspirou, ainda sem saber o que fazer ou dizer, e seus passos pareciam tão mecânicos quanto o braço de Jeremy ao se dirigirem à porta e a abrir, ajeitando os suspensórios no ombro ainda que não fosse necessário.

— Oliver, — o loiro chamou, e mesmo que sua voz soasse como um sussurro do vento, o mecânico ouviu, cessou o passo com a mão pronta para fechar a porta ao sair — você a ama?

Engoliu em seco, com medo da sua própria resposta. Lembrou-se do rosto de Claire, gentil e bonito, e se viu mais incerto do que antes.

— Não sei se o que sinto por ela é amor, mas se não for vou tentar fazer com que seja. — retornou os passos, andando apressado na direção dele e se postando ajoelhado ao seu lado — Não há sentido em se lamentar pelo que já aconteceu, Jeremy. A vida não é um relógio em que se pode mudar as configurações e voltar no tempo.

O olhar do aviador foi em sua direção como uma peça de gelo, fria e vazia. Sua boca era uma linha reta e melancólica, e foi com certa miséria na ação que ergueu a garrafa até os lábios novamente, bebendo o último gole do líquido que já fazia um grande efeito nos seus sentidos.

— Não é mesmo, mas assim como um relógio quebrado, você é o único que pode consertar isso aqui. — botou a garrafa no chão, inclinando o rosto em sua direção. — Decida-se, seja lá o que você escolher, estarei aqui. Eu realmente irei esperar por você.

— Eu não acho que seja capaz de deixá-la, Jeremy. — murmurou, desviando o olhar do dele — Nos casaremos na próxima primavera.

— Eu espero realmente que não. — Disse suavemente e puxou os lábios para cima em um sorriso forçado.

Virou-se novamente para fitar a parede.

O aviador não esperou pelo último olhar que o moreno lhe lançou antes de fechar a porta atrás de si, sentia-se tão deslocado que nem notara a sombra dos pés dele sob a porta, ainda parado do lado de fora. O próprio Oliver não soube identificar o que era o líquido que escorria pelo seu rosto e demorou para concluir que não era suor.

Nunca se sentiu tão confuso.


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Notas finais do capítulo

Minhas notas finais e iniciais estão sendo cortadas, não sei o que fazer e to triste #boladona. Mas bem, estamos quase nos 20 mil ahahaha. Acabei de escrever esse capítulo e nem reli, to com medo de querer reescrever tudo por odiar a vida e o mundo
Quero minhas notas inteiras ;-;