Airheart escrita por Vaalas


Capítulo 5
Capítulo 05 — The Copper War


Notas iniciais do capítulo

A música desse título também é de The Cog is Dead. É, maioria das músicas é essa banda mesmo. Gente, falta pouco menos de cinco mil palavras. YEY! ACHO QUE CONSIGO!
Agora, papo sério. Eu tirei Lemon dos gêneros e o substituí por Lime. Peço desculpas eternas aos que vieram aqui justamente pelo Lemon, mas me peguei incapaz de escrevê-lo. Eu ia fazer dessa história meu primeiro experimento nesse tipo de escrita, mas descobri que não estou pronta para isso.
Ok, eu sei que tem meninas de 10 anos escrevendo Hentai por aí kkk, o problema é que não consigo nem pensar em fazer fluir, além de não achar que combina com todo o clima daqui. Sério, espero que não se sintam enganados nem nada, não foi minha intenção e espero que entendam :D obrigada desde já.
Bem, boa leitura e gente, muito obrigada por todos os incentivos em continuar.



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Oliver estava confuso.

Apoiado contra o balcão da loja vazia, mordeu uma maçã verde e encarou o silêncio matutino se esgueirando sob a porta e entrando pelas janelas abertas, o tictaquear dos relógios expostos soando alto e irritante. A loja estava engolida pelo vazio e quietude.

E já eram dez horas da manhã.

Encarou a maçã e deu-lhe outra mordida. Bem, era meio óbvio que aquilo iria acontecer, o braço já estava pronto, no fim de tudo, e não havia mais motivos grandes para Jeremy aparecer por ali. Seria normal uma visita com alguns meses de intervalo, mais como um cumprimento do que como uma visita propriamente dita.

Na verdade, era exatamente isso que Oliver esperava, até se lembrar de que não teria esses meses de intervalo, pois o loiro iria voar sobre a Grã-Bretanha em breve. Esperava ao menos um adeus antes de ir. Bem, ao menos eram seus planos até o acontecimento da noite anterior.

Jeremy o beijara e o moreno ainda podia sentir a pele gelada no lugar onde a mão de aço tocara. O maldito loiro fora por demais imprudente e as consequências agora já se mostravam entre eles, cravadas no ambiente. O vazio da loja era a prova disso, e a falta do cheiro de café era só uma pista.

Arrancou mais um pedaço da maçã com violência.

Sentia falta da cafeína.

...

Dois dias se passaram sem que houvesse notícias do aviador. Oliver no fundo já não queria encontrá-lo: sabia que quando o fizesse, sua vontade instantânea seria socá-lo e abraçá-lo, não necessariamente nessa ordem, claro. As notícias vieram na quarta-feira, trazidas por lábios pintados de nude e pelos cabelos negros curtos modelados ao rosto.

Juliet Keating veio em sua direção com uma expressão atenta. Parecia contente por trás de seu sorriso discreto e rugas sutis nas sobrancelhas.

— Srta. Keating! O que a traz aqui depois de tanto tempo? — Oliver suspendeu a ponta dos lábios, sorrindo. Era inevitável, Juliet tinha esse efeito sobre ele. — Não me diga que mais um amigo precisa de um braço.

Brincou, mas no fundo se amaldiçoou.

Jeremy tinha esse efeito sobre ele.

— Muito engraçado, Oliver — ela riu, aproximando-se e o fitando de frente, com o balcão entre eles. — Na verdade, Jeremy me pediu para vir aqui. Parece que vocês se tornaram muito próximos nesses tempos.

O mecânico engoliu em seco.

— Não classificaria assim, mas Mr. Benedict é um homem interessante. — pigarreou. Há quanto tempo não o chamava assim? — De todo modo, por que ele a mandou? Não me parece o mais cortês a se fazer com uma dama.

A professora tocou a testa, visivelmente feliz. Correu os dedos até a sua bolsa, tirando de lá um envelope gordo, dourado e sem selo.

— Aqui. — entregou-lhe — Ele pediu para que trouxesse para você, visto que não tem muito tempo agora. Disse que você de fato o construiu o melhor braço e que ele jamais esqueceria. — sorriu — Bem, eu já sabia disso, conheço o seu trabalho.

Oliver franziu o cenho, confuso demais para sorrir. Pegou o envelope e o sentiu um tanto pesado em suas mãos. Levantou o rosto para encarar Juliet, tentando ler suas expressões antes de abri-lo, o que era impossível, pois as feições de Keating eram impassíveis e misteriosas.

Abriu o envelope.

Notas verdes lhe cumprimentaram com um sorriso triste.

— Ah, sim. O pagamento. — riu, descrente e nervoso, pousando o envelope no balcão e se afastando — Acredita que havia me esquecido disso?

A professora arqueou as sobrancelhas, achando estranha a situação, e logo depois riu abertamente, cobrindo os lábios com a mão.

— “Srta. Keating, você sabe melhor que ninguém que não trabalho de graça”, algo assim, não? — riu, imitando sua voz. Oliver refletiu por um instante e concluiu que ela estava certa, o dinheiro que lhe era muito importante, já que apenas com ele poderia comprar novas peças, e apenas com novas peças poderia criar novas coisas. Sentiu-se triste por perceber que havia construído aquele braço com uma paixão incomum e pouco gananciosa. — Ah, sim! Quase me esqueci.

Juliet rapidamente moveu a bolsa, tirando de lá mais um papel, desta vez menor. Tinha o tamanho de seu dedo médio e era comprido e tingido de verde escuro.

— Não sei bem o que ele tinha na cabeça, mas creio que seja algo que você precise. — sorriu afetuosa, acenando — Até mais, Oliver. Poderíamos marcar para fazer algo outra hora.

O mecânico acenou de volta, esperando até os sinos soarem para ler o pequeno papel verde. Virou-o e leu em letras bem desenhadas o logotipo da Sweet Coffe e uma frase em destaque na área branca da folha.

Este cupom vale um café expresso + um pedaço de torta à sua escolha!

Sentiu um arrepio subir pelas suas costas. Jeremy havia lhe dado um café da manhã grátis através de um simples cupom, e mesmo que sua vontade fosse de sorrir com o ato atencioso, não pôde deixar de pensar que o loiro estava dando seu adeus através de um café expresso e um pedaço de torta impressos em papel barato. Não lhe parecia um bom modo de se despedir depois de todo o ocorrido três noites antes.

Crispou os lábios, batucando o balcão nervoso, e então saiu correndo, a porta da entrada batendo atrás de si. Lá fora, na rua, o movimento já havia começado, como era comum em todas as manhãs àquele horário. O sol sorria fraco no topo do céu, mas o clima estava frio ao ponto de Oliver estremecer. Parecia impossível não fazê-lo.

— Srta. Keating! Srta. Keating! — gritou, correndo na direção da sua imagem vestida de azul escuro.

A professora curvou-se para trás, olhando-o de forma um tanto curiosa.

— Sim?

— Onde ele está? — exclamou, agitado, e sentiu seu coração batendo contra o peito em tamanho nervosismo.

— Quem? Jeremy?

— Sim! — respirou fundo para se recompor — Digo, ele...

— Oliver, Jeremy passou na simulação — lhe informou, tombando a cabeça para o lado, seus olhos o fitando incrédula. — Espere, ele não lhe contou?

Sentiu os olhos arderem, tal como o rosto, mas abriu um sorriso curto. Era o que sabia fazer de melhor.

— Quando ele vai partir? — indagou apenas, e só então notou que Juliet comprimiu os lábios, um tanto pesarosa.

Os olhos de aço eram muito atrativos, mas um tanto abalados sob uma camada de curiosidade. Oliver não desviou de seu olhar nem por um segundo, tinha a expressão tão dura e pouco casual, que Juliet logo captou a seriedade do assunto.

— Hoje pela noite, acredito. Se quiser posso lhe dar o endereço dele, não acho que vá se importar. — Abriu a bolsa, pegando um pequeno bloco de notas. — Vai querer?

...

Jeremy sentia dor de cabeça.

Passara horas dentro de uma câmara de simulação, tentando provar aos seus superiores — e um pouco à si mesmo — de que era capaz de manipular os controles aéreos, usar seus dedos para atingir estabilidade e comunicar-se com a torre na mesma velocidade que um piloto sem "defeitos". E, pelo que parece, fora muito bem.

Ainda teria que passar por fisioterapia e alguns testes antes de comandar seu próprio avião, mas partiria de Londres pela noite, em direção à Cardiff e então à Irlanda, mesmo que como um mero passageiro.

Bem, ser passageiro já era algo, poderia voar, mesmo que ainda não fosse do jeito que desejava.

Era por volta das 18h, e o aviador se pegou pensando em Oliver no caminho para casa. Dentro do táxi de banco de tecido, o vento batia em seu rosto e a rua baforava ar gelado em seu corpo. Quanto tempo será que levava para ir até a oficina do mecânico, voltar para casa, arrumar as malas e partir? Acreditava que menos de uma hora.

No entanto, não achava que seria uma boa ideia. Beijar o moreno já havia sido um erro, ele iria partir, não podia mudar isso — a guerra Anglo-Afegã ainda estava em alta e o combate aéreo inglês seria um peso significativo na vitória —, mesmo que uma igual porcentagem de seu corpo desejasse se manter ao lado do outro, levando café todas as manhãs, ainda que sem braço algum para ser pronto.

E o braço. Ah, o braço cabia-lhe como uma luva. Custou-lhe dois dias para que já sentisse como se fizesse parte de si. Mesmo que com o tato perdido podia pressentir seus movimentos, a leveza dos pulsos e a velocidade dos bíceps.

— Chegamos, senhor — o motorista alertou, dizendo o preço da viagem.

Segurou o dinheiro com o braço mecânico e o pagou. O uniforme escondia toda a extensão metálica dos braços e as luvas brancas escondiam-lhe os dedos. Se o motorista conseguiu ver um brilho refletindo as luzes já acesas da rua, não disse nada.

Dentro do prédio sem elevador, subir as escadas lhe dava tempo de refletir — vinha feito muito disso nos tempos que se seguiram —, mas não pôde evitar pensar no mecânico dos cabelos escuros, pois seu braço de aço se agarrava ao corrimão ao subir, e cada engrenagem parecia clamar pela lembrança de Oliver sentado em sua mesa, trabalhando noite após noite para construí-lo.

Droga, não podia evitar sentir saudades.

Alcançou o seu andar a moveu-se em passos curtos até a porta, a chave tilintando entre os dedos. Não havia muita pressa para ir, mas tampouco havia hesitação. Sentia falta dos ares.

Foi então, quando alcançou a porta, que pousou seus olhos sobre ele.

Sentado no chão, os braços apoiados às pernas. Trajava uma calça marrom e uma camiseta cinza, a mesma boina de sempre em sua cabeça. Jeremy engoliu em seco a mais dura pedra de gelo.

— Oliver? — aproximou-se, um tanto desconcertado. — O que você... digo...

— Oi, Jeremy — cumprimentou, sorrindo tristemente. Tirou a boina verde da cabeça e entrelaçou os dedos nos cabelos castanhos, erguendo o olhar com certa raiva em sua direção. — Por favor me diga que você planejava se despedir.

O aviador olhou para a parede ao lado, para o chão e então olhou para ele. A confusão estava expressa em todos os seus atos e movimentos, e o mecânico supôs que ele talvez estivesse tão aterrorizado com isso como ele próprio.

— Eu... bem... — respirou fundo, tocando as rugas entre as sobrancelhas. — Você quer entrar?

— Na verdade não. Vim lhe entregar isso. — levantou-se, ainda apoiando as costas contra a parede. Tirou do bolso da calça um pedaço pequeno de papel verde. — Não preciso disso.

O braço de Oliver ficou suspenso no ar, esperando que o outro tomasse de si o cupom. Jeremy no entanto, se manteve impassível mesmo que com o coração falhando duas batidas por vez.

— Não me importo, dei a você, seria descortês recusá-lo.

O mecânico bufou, aproximando-se e pegando-lhe pela mão. Era a mão de metal, mas ele pôde senti-la se mover.

— Então serei bem descortês — depositou o papel em sua palma — Da próxima vez entregue-me pessoalmente. Descortês é mandar uma dama como Srta. Keating até aquele lado da cidade porque você está com medo demais de olhar para mim

— Não estou com medo de olhar para você, eu...

— Bem, só prefere me evitar, suponho. — riu incrédulo, puxando os cabelos como era de seu costume. — Quer saber, acho melhor eu ir indo. Tenha um bom... não sei, voo? — fechou os olhos, suspirando. — Adeus, Jeremy.

O loiro abriu os dedos metálicos, estudando o cupom verde e os passos de Oliver se distanciando cada vez mais. Tudo em si lhe dizia que não deveria fazer nada, o caso estava encerrado. Ainda sentia pelo mecânico uma sensação prazerosa no peito? Absolutamente sim, mais forte do que nunca talvez. E por causa disso não era certo fazer mais nada — pelo seu carinho com o outro, deveria enterrar aquilo.

Sua boca, no entanto, parecia discordar.

— Oliver. — chamou, firme, e as botas do moreno cessaram passo próximas à escada. Jeremy se aproximou. — Espere por mim.

Os olhos verdes o fitaram com certo desânimo.

— Acho que não — massageou os próprios braços, como se houvesse frio no ar — Vá voar, por favor. Construí seu braço com esse propósito, lembra-se? É onde seu coração pertence, ao ar.

Foi apenas o que precisava — e Jeremy realmente não precisava de muito. Era errado e tudo em si lhe dizia isso, não só por serem dois homens, como também porque o loiro sabia que estava deixando o outro para trás. Algo em si, tão selvagem e instintivo, ignorou tudo isso sem hesitação e avançou sobre o mecânico, agarrando suas costas e nuca com força, prendendo-o em um abraço apertado.

Oliver sobressaltou-se, deixando os braços caírem ao lado do corpo.

— Eu posso te beijar, então? — perguntou, os dedos subindo até os cabelos com grande ternura. — É o melhor adeus que consigo pensar no momento.

Oliver se afastou e o fitou nos olhos, uma distância mínima entre suas faces. Jeremy tirou a boina que o outro vestia, e, vendo seus olhos se fechando e seu peito inflando, seus lábios se selaram aos dele em um encaixe perfeito sem pensar duas vezes. Os braços do mecânico abraçaram sua cintura em resposta, aproximando seus corpos até se colarem. Jeremy afastou-se e respirou fundo, voltando a tocar-lhe os lábios com a língua, afundando na boca que ele tanto desejava. A língua de Oliver tratou de fazer o mesmo trabalho, o fôlego faltando aos pulmões.

Eles então se separaram, ao mesmo tempo e rápidos.

O moreno tossiu, sentindo o rosto corado em uma vermelhidão extrema. Cobriu a boca com a costa da mão, e, olhando-o assim, pareceu realmente tímido aos olhos do loiro.

— Sobreviva a essa maldita guerra. — disse, recuperando a postura, o olhar sério. — Volte e aí quem sabe eu possa estar esperando, na oficina de sempre.

Jeremy sorriu, desejando andar até ele e ficar na mesma proximidade de antes, mas resistiu, limitando-se a sorrir de lado.

— Eu serei o primeiro homem a pilotar um avião com um braço mecânico, não se livrarão de mim tão fácil. — agarrou a chave prata, balançando-a nos dedos. — agora, antes de você ir.

Oliver virou-se, duro como se fosse feito de latão velho.

— O quê?

— Não se esqueça de sorrir — tocou os cantos da própria boca, esticando-os levemente em um sorriso. — Essa expressão séria realmente não combina com você, te deixa por demais sóbrio. — abriu a porta do apartamento, ainda o encarando. — Sorria bastante.

— Mesmo que talvez eu queira no fundo ficar sério? Devo forçar esse sorriso?

— De certa forma, acho que você vem fazendo isso há um tempo.

Oliver suspirou, descendo alguns degraus com extrema facilidade. No entanto, parou no meio do caminho, virou-se e gritou, alto e em bom tom para que todos do prédio ouvissem.

— Ei! Ei!

— Sim?

Jeremy havia corrido até o alto da escada sem pensar duas vezes, inclinando-se na grade de proteção ao ponto de seus braços se tornarem muito visualmente bonitos.

— Não esqueça do café, airheart.

O moreno então sorriu largo, pulando escada abaixo numa velocidade incrível. O loiro inclinou-se mais, porém não pôde vê-lo. Seu rosto era cortado por um sorriso. Oliver tinha esse efeito sobre ele.

— Espero voltar logo.

Bem, ele não podia saber que demoraria um pouco mais do que o esperado.

...

Foram quase dois anos.

Jeremy sentou-se ao banco e coçou a barba, fitando o prato de sopa logo à frente. Era abril e ele havia perdido um grande companheiro naquele dia. Aaron Garder, jovem e muito habilidoso. Era comum de acontecer por ali, principalmente agora que a guerra estava por um fio — a vitória já batia à porta —, e o mais triste era ter mortes como a de Aaron quando se estava tão perto de voltar para casa.

O loiro perdeu o apetite. Tinha na boca um gosto amargo, na mente as lembranças de Londres e do comércio movimentado. Amou erguer-se no ar como antes, era deslumbrante como andar pela primeira vez, mas pouco apreciou quando sua linda criança — um novo modelo G-09, tão belo que o emocionava — descarregava bombas potentes sobre as casas afegãs, ou quando puxava os controles e atirava contra aviões inimigos, as balas de fogo cortando o ar com tamanha crueldade que a cicatriz sob seu olho esquerdo embranquecia.

Tocou a pele abaixo do olho, sentindo-a lisa. Ganhou-a alguns meses antes, quando algum projétil inimigo trincou o vidro da cabine da sua nave. Por pouco não morreu ou perdeu um olho naquele dia — com o rosto sangrando, refez o trajeto de volta à base, não sendo idiota o suficiente para pilotar com um olho fechado pelo sangue.

Suspirou, sentindo as mãos se cerrarem em punhos, sua mão metálica rangendo com a falta de manutenção. Levou os dedos até o bolso da calça, tirando de lá a carteira que carregava uma de suas poucas lembranças de casa.

Um cupom verde.

...

Enquanto os meses se passavam lentos para Jeremy, podia-se dizer que Oliver estava realmente bem. Havia expandido a loja por alguns muitos metros quadrados e feito grande sucesso ao criar a máquina de café. Ela não era barata, mas Oliver fazia questão de deixar uma na recepção, pronta para ser usada por qualquer cliente. Sr. Gregory adorava passar por ali nos fins de semana só para beber de seu café.

O mecânico estava apoiado ao balcão, era começo de manhã e seus olhos refletiam o corpo parado ante à porta de entrada, iluminado pelo sol matutino. Ouviu a voz suave e doce agradecer ao jornaleiro e pagar pelo material, logo então fechou a porta e entrou.

Claire levou os cabelos que escapavam de seu coque para trás da orelha, voltando-se ao balcão e capturando o olhar sonolento de Oliver lhe seguindo.

— Algo errado? — perguntou, sentando-se frente à ele.

— Não, claro que não. — sorriu, levantando o rosto — você está deslumbrante hoje, Srta. Ottson.

Ela soltou um riso de ironia, abrindo o jornal do dia. No entanto, Oliver não estava mentindo, Claire de fato era uma mulher deslumbrante. Possuía traços finos e delicados, olhos de águia e dedos longos de unhas bem cortadas Os cabelos eram enormes e, se soltos, desciam pelas costas em uma cascata adoravelmente ruiva, quase castanha se não fosse as suas claras raízes escocesas.

— Parece que os russos finalmente recuaram — se pôs a ler, enquanto Oliver encaixava o rosto nos braços com sono demais para qualquer coisa. — Fim de guerra, já podemos todos respirar aliviados.

— Hum — resmungou — aposto que vai haver muitos membros para serem construídos depois disso tudo.

E voltou a fechar os olhos, calando-se. Claire não pôde deixar de achar a situação divertida. O moreno parecia calmo ao dormir desse jeito, e ela precisava resistir muito se não quisesse tocar-lhe os cabelos em uma carícia.

— Oliver, não é nada bonito dormir em serviço — riu, balançando o seu braço — Vamos, suba, eu cuido da loja até que você esteja bem.

— Tem certeza?

— Já estou por aqui, não estou? — levantou-se, cutucando sua barriga — Você realmente precisa construir aquele robô devagar, sem madrugar tanto, preciso de você desperto para conversarmos sobre os planos para a primavera.

Ele sorriu, os olhos pesando. Levantou-se devagar e preguiçoso, sorrindo para a moça. Aproximou-se e tocou os cabelos avermelhados de Claire,beijando na bochecha com gentileza. O rosto da ruiva tingiu-se da cor de seus cabelos.

— Obrigado — sorriu — prometo que conversaremos mais tarde.

E sumiu para além da loja instantes depois.

Ela suspirou, lembrando de tudo o que mais gostava em Oliver — e não era pouca coisa, o moreno soava-lhe adorável aos seus ouvidos em todos os sentidos, encantador, bem humorado e genial.

Pôs-se a ler por bastante tempo, só parando quando notou que já eram dez e meia da manhã e lá fora havia um movimento grande demais. Pelas janelas de vidro muitas pessoas passavam às pressas, felizes e agitadas, e Claire sorriu ao constatar que muitos parentes estavam de volta à Londres, carregando a vitória no olhar.

A guerra havia sido declarada ganha há pouco mais de dois dias, com muita euforia e comoção. O próprio pai de Claire, dono de uma grande área portuária, havia feito uma festa com muita cerveja e rum para celebrar a conquista. A ruiva riu ao se lembrar de Oliver ao fundo, sorrindo desajeitado e bebendo uma xícara de chá verde.

O sino soou, tirando-a dos devaneios, e um homem alto como um poste deu passos para dentro.

— Pois não? — levantou-se, fechando o jornal com tamanha sutileza — em que posso ajudá-lo, senhor?

O homem olhou em volta da loja, analisando os objetos expostos e o balcão polido de verniz. Claire inclinou o rosto para o lado, estudando-o desde os cabelos loiros curtos ao uniforme que trajava. Sem dúvidas um soldado.

— Ah, me desculpe. — ele balançou a cabeça, rindo descrente — Essa é a loja de Oliver? Oliver Murphy?

A moça escocesa sorriu largo, acenando positivamente.

— Sim, é sim, mas no momento ele está ausente. Posso atendê-lo no lugar dele?

O soldado crispou os lábios, levando seu braço até o bolso do uniforme pesado. Tirou de lá um papel pequeno e fino, segurando-o entre os dedos duros. Só então Claire percebeu o metal sob o tecido, não duvidando que fosse uma criação de Oliver.

— Eu preciso... — ele estreitou os olhos — Há quanto tempo trabalha aqui? Digo, não, eu... O que quero perguntar é se pode entregar isso a ele — colocou o papel sobre o balcão.

Ela o apanhou com os dedos finos.

— Um cupom de café? — riu, erguendo os olhos para o estranho. — Posso entregar sim, sem problemas. Como é seu nome, senhor?

O homem sorriu levemente, tirando os óculos.

— Jeremy Benedict, mas ele vai me reconhecer por Jeremy apenas. — garantiu — Obrigado por me atender, srta...

— Ottson, mas por favor, me chamo Claire. E respondendo sua pergunta, não trabalho aqui — disse, com grande firmeza e certa felicidade no tom —, mas costumo passar tanto tempo aqui que pode acabar parecendo que sim.

Jeremy cruzou as sobrancelhas.

— Oh, me desculpe. É que Oliver costumava não ter muita companhia a essa hora da manhã. — a não ser a sua, claro, mas o aviador não seria tolo de dizer algo assim — Fico feliz que ele não esteja solitário.

Claire se mostrou radiante com o que foi dito.

— Bem, ele nunca mais estará. — Levantou a sua mão na altura dos olhos, e a visão de Jeremy quase falhou — Estamos noivos.


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Notas finais do capítulo

Na Primeira Guerra Anglo-Afegã, os ingleses saíram como perdedores, mas quis mudar isso aqui para trazer um pouco mais de felicidade (mesmo que a Grã-Bretanha fosse o império malvadinho que tava tentando conquistar o Afeganistão). Como não é o mesmo universo que vivemos POSSO MUDAR ISSO TUDO AHAHAHAHAH.
Agora, quanto a certas coisas que me incomodaram nesse capítulo (e preciso me desculpar sobre elas): estou meio insegura porque não estou dando atenção e revisão a esses últimos capítulos como dava antes, sinto como se estivesse sendo desleixada por conta da pressa e to com extremo medo da qualidade ter caído.
As coisas estão acontecendo meio rápidas demais, mas estou tentando amenizar isso de alguma forma, pois não acho que vá conseguir ultrapassar tanto de 20.000 e ainda há muito o que contar.
por favor, me digam como está a história em questão de escrita, diálogos e estrutura em si, não quero que a qualidade caia por causa dessa minha pressa em concluir antes do dia 31 ;-;
Obrigada desde já e até a próxima, pessoas lindonas