Airheart escrita por Vaalas


Capítulo 4
Capítulo 04 — Oh My Goth!


Notas iniciais do capítulo

A música desta vez pertence à Aurelio Voltaire.
E pessoas!!! Ultrapassei as 10.000 palavras e vou já já enviar o email pro nyah ehhhhh.
Apenas 8 mil palavras nos separam da não-flopagem. Torçam por mim!



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Oliver acordou na manhã seguinte com um barulho vindo da janela, como se pequenas pedras fossem jogadas contra ela. As cortinas estavam fechadas, mas a luz entrava suficientemente bem para que pudesse ver o relógio ao seu lado marcando dez e meia da manhã. Piscou algumas vezes, atordoado, e então pulou da cama, correndo até a janela e puxando a cortina. Nunca acordara tão tarde nos últimos cinco anos.

Lá embaixo o aviador tão bem conhecido acenou com sua única mão, largando uma pequena pedra e apanhando uma sacola de papel da calçada. Oliver acenou e saiu de visão, correndo para vestir às pressas uma camisa de botões qualquer e uma calça de flanela que estava próxima à porta. Descalço, desceu as escadas correndo até chegar à entrada da loja, girando a chave.

O loiro sorriu em sua direção.

— Desculpe... não acredito que dormi tanto... a loja.... eu...

Jeremy não pareceu lhe ouvir, entrou e depositou o pacote de papel no balcão com um humor incomum, tirando de dentro dois copos de café e algumas caixas de bolos e doces. O selo da confeitaria Sweet Coffe estava em destaque sobre o papel branco e o moreno inclinou o rosto para o lado, confuso.

— Hoje vamos comemorar, meu caro. Aqui, seu café preto e pode escolher os doces à vontade.

Oliver bagunçou os cabelos e ergueu uma sobrancelha, mas logo assentiu, puxou uma banqueta e se sentou. Deveria se apressar para abrir a loja, uma vez que estava atrasado, mas o dia por além das janelas de vidro estava demasiado bonito, talvez devesse aproveitá-lo um pouco.

— O que estamos comemorando, exatamente? — pegou um donut com confetes de estrelas. — Você está radiante.

O aviador meteu a mão no casaco e tirou de dentro um envelope branco, fechado por um selo já rompido de cera azul. O estendeu em sua direção.

— Mandei há alguns dias uma carta ao Castelo de Windsor, o QG militar. — alargou o sorriso — eles aceitaram fazer testes em simuladores com o braço, mesmo não prometendo nada. É como uma chance, Oliver. Se tudo der certo, vou ter autorização para voltar.

O mecânico apanhou a carta e passou os olhos por ela, bebericando o café. Estava assinada pelo Sargento Willian Bourbon, e mesmo sem saber quem era, supôs que fosse alguém importante.

— Bem, isso é mesmo magnífico! Um grande passo! Acho que o resto agora é por minha conta. — sorriu com o donut preso entre os dentes — Falta pouco, Jeremy, acho que acabo a parte mais difícil hoje mesmo. — o aviador sorriu animado, arrumando a gola de sua camisa. Oliver engoliu o donut e o assistiu com uma expressão satisfeita — Venha, vou te abraçar.

O loiro arqueou uma sobrancelha, divertido, e logo levantou da cadeira e se lançou em sua direção, carregando nos lábios um sorriso exageradamente grande e nos olhos um brilho de grande felicidade. Oliver largou o donut e levantou-se também, abrindo os braços para um abraço com seu provável melhor amigo. Bem, ele sabia que seria temporário, uma vez que Jeremy planejava partir em breve, mas aquela era uma amizade boa e ele sem dúvida não iria querer perdê-la.

— Você é incrível, Oliver! — seu único braço envolveu seu pescoço, apertando-o. — Não tenho ideia do seria de mim sem você, tudo parece tão... mais simples.

O mecânico riu em seu ouvido, apertando-o no abraço com tapinhas nas costas. Jeremy usava um perfume masculino forte e agradável, mas o moreno torceu para não espirrar, sem dúvidas destruiria o clima.

— Bem, eu farei o seu braço, mas acredite, não vai ser da noite pro dia que vai conseguir movê-lo com facilidade. — sentiu o rosto de Jeremy contra seu pescoço e levou uma mão até sua nuca — Boa parte do trabalho é sua responsabilidade.

— Farei o meu melhor, — sorriu, cheirando o pescoço do moreno — juro.

...

Sentou-se à mesa em todos os dias que se seguiram. Os óculos de proteção pareciam já fazer parte do seu rosto, como uma segunda pele, e as mãos ardiam levemente sob as luvas grossas. Terminado o circuito interno, a parte bruta se iniciava e o suor passava a escorrer pela nuca e a molhar sua camiseta.

Afastava-se do braço mais vezes do que podia contar, olhá-lo de longe lhe dava uma maior perspectiva sobre os resultados. Do pulso até a mão do braço construído se tinha apenas um esqueleto metálico, fino, como palitos no lugar dos dedos, mas resistente. Ele ergueu-o sobre sua cabeça, levantando os óculos e mostrando-o para Jeremy. O aviador sorriu e mergulhou folhas de hortelã em água fervida, servindo-se do chá — concluiu que muito café não seria uma boa pedida.

E assim os dias foram se passando.

Às cinco da tarde de algum dia seguinte, sr. e sra. Hillson vieram buscar o trem ornamentado de bronze e seus delicados anéis de fumaça branca. Oliver ficou feliz em ver que se contentaram com os resultados, chegando até mesmo a reservar uma próxima encomenda. Logo depois entregou dois relógios de bolso e recebeu um novo pedido. Era simples, o conserto de um rádio antigo — os circuitos de transmissão estavam velhos e corroídos, mas havia tanta beleza em uma peça tão antiga e bem-cuidada, que tentaria não mudar muito.

Jeremy sempre estava ali pela manhã e fim de tarde, sentado no seu lugar usual e conversando sobre qualquer coisa. Geralmente era ele quem lia o jornal do dia para Oliver, que dividia a atenção entre as notícias e a solda derretida que talvez queimasse seus dedos.

— Lady Holden se casará com Lorde Baratting. Casal bem prestigiado. — Ele citava.

— Ei, me traga esse pote de roscas da segunda prateleira. — Oliver revidava — Já conheci Baratting uma vez, homem simpático com bom gosto para carros.

Poucos dias depois, ao ver Jeremy entrando pela porta já retirando o casaco, se pegou pensando como seria quando o aviador fosse embora — isso se conseguisse ir, claro. Observou enquanto ele trazia café até sua mesa, cumprimentando-o com um bom dia, até se sentar no seu canto usual. Se sentiria solitário sem essa companhia? Esperava que não. Estava bem antes de Jeremy chegar, mas não seria tolo a ponto de achar que ficaria perfeitamente bem com sua ida. O loiro o havia cativado com aqueles óculos quadrados e olhos cor de cobre, não havia mais volta para isso, ele já fazia parte do seu dia-a-dia.

Seria cruel se despedir.

— Oliver — Jeremy o tirou dos devaneios — Está tudo bem?

— Desculpe?

— Você estava me olhando de um jeito engraçado.

Sorriu sem graça, vestindo as luvas.

— Não é nada, só estava pensando sobre... bem, é bobagem minha. Acho que... — bebeu do café, sentindo a língua arder — nada.

O loiro arqueou uma sobrancelha com receio, analisando bem o rosto do moreno antes de abrir o jornal com dificuldade. Deveria estar tudo bem. Oliver sempre estava bem.

...

Foi às quatro da madrugada, poucos dias depois, que Oliver sentiu a garganta arder em uma vontade absurda de chorar. Apoiou-se na mesa com os dois braços e forçou-se a engolir a bola maciça que se formava em sua boca. Quanto tempo havia passado desde que Juliet Keating entrou por aquela porta e pediu que construísse um braço para seu amigo? Não fazia ideia, mas sabia que mais de duas semanas se passaram desde que Jeremy entrara sorridente pela porta, soando o sino, agraciando-o com doces e carregando uma pesada carta no bolso de dentro do uniforme militar.

— Bem, parece que não há muito mais o que fazer.

O braço reluziu à sua frente, brilhando contra a luz da rua e a luz do próprio ambiente. Sua obra-prima, ele diria, completa. Finalizada. Acabada. Fim para aquela missão.

Adeus para Jeremy.

Sentou-se na cadeira e passou a mão pela superfície do metal, estava fria. Estaria assim também a mão de Jeremy ao segurar os controles de um avião, erguendo-o no ar, lutando pela nação — e quem sabe morrendo por ela?

Tocou-lhe os dedos cor de prata e suspirou. Era sem dúvida a coisa mais bela e sensível que já criara, quase uma poesia. Uma poesia para a guerra, claro, tão poético e profundo que sentiu enjoo. Coisas assim soavam irritantes.

Quanto tempo lhe restava? Uma semana no máximo, uma vez que o braço precisaria de um último ajuste de peso e um tempo até que o aviador se acostumasse com seus movimentos mecanizados.

Logo então, adeus.

Esperava estar preparado.

...

Poucas horas depois, ao amanhecer, Oliver levantou-se como de costume. O dia estava meio nublado, com tons de branco e cinza, agradavelmente úmido com um sol tímido nascendo sobre os telhados dos prédios. Achou que seria um bom dia para uma faxina — era domingo — e a loja estava pedindo por isso.

Jeremy chegaria em breve e seria bom recebê-lo com o lugar limpo, para dar-lhe as boas notícias. Ele ficaria muito feliz, e o moreno não pôde evitar ficar um pouco feliz também.

Abriu a porta da frente e escancarou as janelas de vidro, prendendo a franja para trás com um elástico transparente. Do outro lado da rua, sra. Molland saía para comprar os pães caseiros recém assados e sr. Ford abria a porta para receber o jornal do dia. Oliver os cumprimentou, arrastando com a vassoura a poeira acumulada na calçada.

Quando Jeremy chegou, um pouco mais tarde que o habitual, o mecânico já havia acabado tudo. O balcão e as prateleiras brilhavam pela cera recém passada e o ar cheirava a algo mais além de graxa e óleo, um aroma perfumado que dava um toque melhor ao ambiente. O aviador apoiou-se no balcão com sua única mão, vendo Oliver se aproximar nervoso e sorrindo torto.

— Bom dia, Jeremy.

— Bom dia, Oliver — retornou o cumprimento — café?

— Sempre.

Entraram então na oficina e o loiro partiu para seu lugar costumeiro, o banco solitário encostado na parede. Não havia mais trem se movendo com pequenos cordões de fumaça e o lugar parecia realmente vazio, talvez um pouco solitário.

Oliver sentou-se à sua mesa com o robô Air Driller em mãos, colocou-o sobre a superfície e limpou o topo de sua cabeça, onde uma leve camada de poeira se acumulara.

— Jeremy. — o aviador o encarou — Preciso de sua ajuda. Pode pegar uma peça que está embaixo daquele pano?

O loiro ergueu uma sobrancelha. Não havia Oliver acabado de se sentar?

— Claro. O vermelho?

O moreno assentiu, apoiando o rosto em uma mão, assistindo enquanto o outro levantava-se e andava até o pano vermelho sem muita desconfiança. Sentiu seu ventre gelar, o rosto corar, não podendo evitar certo nervosismo com o momento. Já havia entregue muitas encomendas de braços e pernas — e algumas poucas de olhos de vidro —, mas em sua maioria as peças eram enviadas para alguma grande empresa que trabalhava afiliada ao governo. Raramente entregava-os diretamente ao cliente, então de certo modo não podia deixar de ficar ansioso.

Jeremy deu um último passo, parando em frente ao pano. Tocou-o e o ergueu de uma só vez, fitando a peça de metal apoiada contra uma caixa de madeira. A prata brilhou contra seus olhos, e os mesmos correram pela extensão do antebraço, pulso e dedos.

Deu um passo para trás.

— Oliver... não me diga que...

O mecânico sorriu numa avalanche de sentimentos, tocando em um fio do cabelo. Estava possuído por certa tristeza ao terminar o trabalho, mas era impossível não se felicitar também.

— Você vai voltar a voar. — afirmou, notando os olhos de Jeremy se arregalando, encarando o braço metálico exposto à sua frente. Uma risada incrédula escapou de seus lábios e seus olhos então seguiram até Oliver. — Bem, evite se perder no ar, não quero minha obra-prima apodrecendo em alguma ilha deserta ou algo assim. Você deve saber que...

— Oliver.

— Sim?

— Obrigado.

Sentiu um calor subir às suas bochechas, por isso desviou o olhar e amassou o rosto contra a mão apoiada na mesa.

— Tudo bem, vamos logo instalá-lo em você. Acho que já esperou demais.

...

Passou os dedos por seu ombro nu, segurando o local liso onde antes seu braço se fazia presente e deslizando as mãos em busca do ponto chave, a área sensível. Jeremy observava seu trabalho, fitando seu rosto concentrado e suas mãos tocando seu corpo, controlando-se para não tocá-lo também.

Sentiu suor escorrer pela linha do nariz, então apanhou os óculos e os tirou, colocando-os em cima da mesa. Oliver desceu as mãos até a curva da axila e Jeremy estremeceu quando sua outra mão tocou o ponto exato dos nervos — era como um choque ou até mesmo cócegas pesadas contra uma área de extrema sensibilidade.

Alertou-o, e o moreno parou, tocando mais uma vez no lugar. O aviador teve um espasmo.

O mecânico riu divertido.

— Agora é a hora da verdade.

Levantou o braço e o encaixou no toco vazio, e tudo o que Jeremy sentiu fora o frio do metal tocando sua pele. Logo então, no entanto, algo cravou-se em sua carne, assim como da última vez, talvez um pouco mais forte, e o loiro arqueou as costas para trás.

— Só um instante.

Assentiu, assistindo o mecânico engatar algo na divisão entre sua pele e o metal. Tentou arduamente não olhar, mas a face concentrada de Oliver parecia chamar pela sua atenção como um imã, e a sensação de ter seu próprio braço encaixado contra seu corpo era por demais extasiante.

A dor apontou-se contra seu braço mais uma vez. Oliver se afastou.

— Está muito dolorido? — perguntou, tocando os dedos de prata. — Jeremy?

— Estou bem — respondeu, sentindo uma gota de suor escorrer pela lateral de seu rosto. — Só doeu bem mais do que o outro.

O moreno crispou os lábios, ergueu a cabeça para fitá-lo e tirou um lenço claro do bolso, se aproximando do rosto loiro. Tocou-lhe a face, secando o suor que escorria suavemente com a peça de tecido.

— Foi isso que modifiquei para a sensibilidade aumentar. Fiz a conexão dos circuitos penetrar mais no nervo, o que pode talvez resultar em uma marca, como uma cicatriz. Dessa vez a conexão dos circuitos está ligada a mais partes do seu braço. — passou o lenço pela linha do nariz, e Jeremy fechou os olhos — Espere só alguns minutos até a dor se dissipar um pouco, então tente movê-lo devagar. Está ouvindo, Jeremy?

— Sim.

— Bom — o lenço de repente se fez ausente da pele, praticamente obrigando-o a abrir os olhos. Oliver o encarava a alguns centímetros de distância, e logo afastou uma mecha do cabelo claro para longe da testa suada — vou buscar um copo de água para você.

Sem nem sentir, ergueu sua mão natural e segurou o pulso do mecânico, impedindo-o de sair. Sua boca estava seca e o suor voltava a escorrer, mas não queria que ele o deixasse ali para buscar água, precisava dele ali até o fim.

— Vou tentar movê-lo.

— Jeremy... Se exagerar vai doer, você...

Os dedos se moveram, primeiro o indicador, seguido pelo mindinho e em questão de segundos os cinco dedos moviam-se duramente numa mão de aço fria. Oliver ajoelhou-se rapidamente ao lado de seu braço e levou sua própria mão até o centro da palma de metal.

— Tente apertar minha mão — pediu —, mas se doer muito, pare na mesma hora.

O aviador tentou sentir os dedos do mecânico em sua pele de metal, mas o tato era uma matéria ainda inexistente. De certa forma, era como se ainda estivesse sem braço, com um vazio do ombro para baixo, sem nada sentir. Os sentidos enganavam, isso era óbvio, mas ao mesmo tempo os sentidos o guiavam. Seus olhos assistiam seus dedos obedecerem seus comandos, fechando-se em torno dos de Oliver sem grande dificuldade — apenas com um toque de dor gelada passageira.

— Parece mais fácil movê-lo. — comentou — Não é preciso tanto esforço quanto o outro.

Oliver sorria muito e todos sabiam disso, mas Jeremy nunca o viu sorrir tão largamente antes, seus olhos brilhavam com entusiasmo. Apertou mais a mão contra a do moreno, queria poder sentir a curva dos seus dedos.

— Isso é bom para um primeiro contato. Na verdade, muito bom. — Oliver levantou-se, ainda segurando sua mão, e Jeremy fez o mesmo. — Precisamos fazer alguns últimos testes e ajustes, preciso lhe mostrar algumas funções adicionais e você tem que beber água. Agora.

Jeremy assentiu, a face rasgando-se em um sorriso. Soltou a mão do mecânico e permitiu que fosse até a cozinha, para além da oficina. Ainda conseguia ouvir seus passos virando um corredor estreito e ficou realmente agradecido pelo outro ser tão atencioso.

Ele voltou em poucos instantes com um copo de vidro cheio de água e o colocou na mesa à sua frente. Jeremy ainda estava de pé e ergueu as sobrancelhas intrigado quando Oliver cruzou os braços.

— Tente pegar o copo sem derramar a água. E não se preocupe se derramar, não vai ser algo tão fácil quanto parece.

O aviador ergueu o braço, emitindo um movimento suave e sem rangidos. O metal escorregava pelas engrenagens de modo macio, cheio de graxa. Levantou os dedos na altura dos olhos e sentiu a dor intensa gelando a partir do seu ponto mais sensível.

Respirou fundo.

— Quantos braços já instalou, Oliver? — procurou se distrair, andando até o copo. O seu novo braço não pesava tanto quanto o modelo 114. Parecia, na verdade, estranhamente mais leve, mais confortável, diria. No entanto, há muito tempo o espaço que agora ocupava estava vazio, sem nenhum peso para sustentar. Carregar o braço de metal ainda era um pouco desconfortável.

— Acho que três. Geralmente encaminho os braços para empresas e hospitais, o governo cuida de instalá-los.

Fechou os dedos em torno do copo, tentando medir a força certa para o erguer. Era, no entanto, algo meio incerto, mesmo que movimentá-lo fosse quase tão fácil quanto um natural.

A água tremulou em suaves ondas quando o levantou.

— Não aperte demais para não quebrar o copo, mas não segure fraco demais para ele não escorregar. — Oliver ditava, analisando-o alguns passos à frente — Você está indo realmente bem, mas vai ter que treinar muito até o dia da simulação. Acredito que com o tempo, mesmo sem o tato, você vai conseguir sentir o quão forte precisa ser o aperto.

Jeremy assentiu, erguendo o braço à altura do rosto e bebendo da água. Desceu o braço novamente, talvez rápido demais já que a água saltou para fora do copo.

— Ah, desculpe, limparei isso.

Oliver sorriu, se aproximando e tirando o copo de sua mão.

— Não deveria se preocupar com coisas tolas. — disse ele, cutucando o braço metálico do outro — Se preocupe com isso aqui e... — o loiro ergueu o rosto e o encarou — Jeremy?

O mecânico inclinou a cabeça para o lado, analisando melhor o rosto do aviador. Seus olhos lhe fitavam como um sentimento engraçado, e Oliver não pôde deixar de sorrir. Era estranho pensar que já houvesse uma conexão grande entre eles, mas não se assustou ao constatar o óbvio, levando em conta todo o tempo que gastaram juntos.

Suspirou.

— Vou sentir sua falta, air heart¹. Tenho quase vontade de pedir para que não vá. — tocou o braço novamente — Minhas manhãs se tornarão tediosas.

Jeremy fechou os olhos, tocando a mão de Oliver que repousava em seu braço de metal. Desta vez, com o tato, pôde sentir as linhas dos dedos do moreno, então as manteve lá, algo aquecendo-se dentro de seu peito.

— Vou sentir sua falta também, Oliver. Você... inevitavelmente se tornou, bem — respirou fundo, abrindo os olhos e o encarando com aquele cobre intenso. — Deixe-me tentar algo, sim?

O mecânico ergueu as sobrancelhas e as rugas na sua testa soaram adoráveis para o outro. O que diabos estava acontecendo com ele? Como podia nutrir pelo outro rapaz sensações tão prazerosas?

Vendo que o outro permitiu seu pedido, aproximou-se, fechando o espaço restante, mas temendo aproximar-se demais. Oliver assistiu sua aproximação, o encarando nos olhos, e então sentiu sua respiração forte demais, e seu próprio coração batendo acelerado contra o peito, quase machucando-o.

Seus lábios foram pressionados e só então entendeu o que estava acontecendo. Jeremy o estava beijando, tocando a boca contra a sua, o deixando sem jeito e sem saber ao certo o que fazer. Primeiramente se assustou, indo instintivamente para trás, mas então parou, apertou a mão do outro e permitiu o ato, era uma sensação interessante, mas um tanto errada, no seu ver. Algo em si quis pará-lo, mas preferiu não.

A mão de metal subiu ao seu rosto, extremamente fria contra sua pele, descendo pelo seu pescoço e tocando-lhe a nuca. Arrepiou-se, abrindo os lábios para aprofundar o beijo do loiro e sentindo seu sorriso abrir durante o beijo. A mão fria encaixou-se nos cabelos da cor de café e Oliver ergueu sua mão até o rosto do loiro, envolvido demais para pensar em recuar.

Mas, ainda assim, o que estava acontecendo?

Jeremy se afastou instantes depois, um som estalado escapando ao finalizar o beijo. Ainda estava próximo, no entanto, e encostou sua testa à do mecânico, respirando fundo, a mão ainda agarrada à sua.

— Acho que... — Oliver pigarreou — Acho que vou fazer café.

O aviador tocou os cabelos castanhos dele e riu nasalmente. Sentiu seu rosto arder, tamanha era a emoção.

— Oliver... Você acabou de beber café. — disse divertido.

— Hm... Chá então?

— Você não quer fazer outra coisa que não seja beber? — passou os dedos por suas bochechas, sentindo-as quente. — Desculpe, devo ter te assustado, não?

Oliver balançou a cabeça negativamente, apertando os olhos ao sentir a carícia em seu rosto. A mão natural de Jeremy, diferente da de metal, era quente e atrativa.

— Não... Apenas... Acho que não esperava algo assim, estou um pouco surpreso, bastante confuso... um tanto triste também — levantou a face e Jeremy viu certa mágoa no canto dos olhos. O moreno, no entanto, sorriu, como já estava habituado a fazer. — Afinal, você vai embora, não vai?

O loiro estremeceu, inclinando-se para frente e encostando suas testas mais uma vez. Sim, ele iria, ou ao menos planejava ir. Fraquejou pela primeira vez nessa decisão ao sentir a respiração de Oliver se misturando à sua — e droga, estava realmente feliz —, mas seria capaz de desistir do ar por essa felicidade?

Ele achava que não.

Mesmo que já fosse inevitável admitir sua paixão pelo mecânico, seu coração, com certo pesar, ainda pertencia aos céus.


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Notas finais do capítulo

¹ Traduzido livremente como Coração do ar, apenas uma referência ao título da história hehe.
Muitas reviravoltas em um único capítulo, eu sei, eu sei. Fiquei meio insegura com isso, mas no fim aceitei que não teria outro jeito (além de que não tenho muito tempo para pensar e repensar sobre as coisas.)
Vou escrever adoidamente, passar fome, sono e necessidade para acabar isso, vou tentar meeesmo.
E bem, obrigada a todos que me dão apoio nesses capítulos, sério, você são lindões.
Até logo