Cisne Negro escrita por Gerome Séchan


Capítulo 5
Bravura


Notas iniciais do capítulo

Rumplestilskin, Regina e os sobreviventes de Storybrooke vão parar em um mundo desconhecido. Ao se perderem no ermo, eles se deparam com uma certa arqueira ruiva de cabelos cacheados e um temperamento bastante impetuoso.
.
Personagens
Rumplestilskin/Dark Rumple (sim, o gnomo louco está de volta!) | Belle | Mary&David | Merida



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/636007/chapter/5

De todos que sobreviveram à destruição de Storybrooke, Rumplestilskin foi o primeiro a recobrar a consciência. Ou assim ele pensava, deitado no assoalho de um palácio luxuoso e sombrio como só poderia haver um no mundo: seu antigo castelo.

— Hm...o que...o que aconteceu? Eu deveria estar em Storybrooke ainda. Como eu voltei para cá?

Ele cambaleou ao se levantar e pousou uma das mãos na testa, sentindo a cabeça pesada, como se despertasse de uma noite cheia de pesadelos.

Quando sua vista melhorou, ela reparou que o castelo estava imerso na escuridão. Apontando os dedos para o lustre da sala, ele produziu um estalo. Depois outro.

O lustre continuou apagado.

Ele reparou em seus dedos, e depois seu braço, e constatou que estava em sua forma humana. Seria por isso que sua magia não funcionava? Não, isso não fazia o menor sentido. Só havia uma explicação...

— Este não é o meu castelo.

Em um gesto impulsivo, ele tentou abrir as cortinas, mas elas estavam pregadas no lugar.

— Bom, se essa não é uma imitação perfeita do castelo original.

Mal as palavras saíram de sua boca, o silêncio que recaía sobre o lugar foi quebrado por uma risadinha.

Rumplestilskin sentiu seu corpo ficar paralisado de medo. A única outra pessoa que poderia estar naquele local estranho era a responsável por trazê-lo até ali...

A voz que havia rido produziu um segundo ruído, e Rumple reparou que ela soava abafada, como se um pano estivesse sobre sua boca.

Seus olhos recaíram automaticamente no espelho da sala, e com um puxão, ele removeu a cortina pesada que o encobria...

No espelho estava refletida a figura de Rumplestilskin, ainda segurando a ponta da cortina... exceto que a imagem não era seu reflexo.

Do outro lado do espelho, o Senhor das Trevas lhe encarava com seus grandes olhos redondos, sua pele verde e macilenta e seu eterno sorriso sardônico, que revelava os dentes tortos e apodrecidos.

...

Rumplestilskin recuou vários passos.

“Você deveria ver a sua cara agora. Chega a ser engraçado ver o quanto você está confuso.” – o reflexo falou.

— Que bruxaria é essa? –Rumple murmurou- Quem está fazendo isso? –ele gritou para a escuridão.

“Ai, não precisa gritar! Afinal, não tem mais ninguém aqui.” – o gnomo falou de novo, abrindo um novo sorriso.

Rumple se virou para ele assustado.

— Está insinuando que...

O gnomo ergueu as sobrancelhas várias vezes, dando a entender que o humano havia deduzido corretamente.

“Isto está acontecendo dentro da sua cabeça.” – ele apontou um longo indicador na sua direção e depois a uma de suas têmporas.

Mas Rumple se recusava a aceitar a explicação. Aquele castelo era real. Ou alguém fazia truques com a sua mente, fazendo-o acreditar que estava ali de verdade.

“Oh, não precisa ficar tão preocupado. Você não está ficando louco. Não que você batesse bem da cabeça antes de virar um humano, mas...” – Rumple lançou um olhar irritado ao gnomo abusado – “Você não deveria estranhar que estivesse conversando consigo mesmo. Vamos ser sinceros: todo mundo bate um papo dentro da própria cabeça de vez em quando. Tem gente que passa horas fazendo isso na solidão do quarto. As pessoas fingem que não fazem para não darem a impressão de serem doidas. Pode não ser comum admitir isso, mas que é algo normal, é.”

— Normal. Claro. –ele rebateu, cínico, tentando abrir as portas e descobrindo que elas estavam trancadas por fora.

Seu reflexo o seguia com o olhar.

“Eu já disse que você está dentro da sua cabeça, querido.”

Um arrepio lhe desceu a espinha ao ouvir ser chamado da mesma forma que ele costumava chamar os outros em sua vida anterior.

— Eu não estou convencido disso. – ele rebateu, procurando por um objeto pesado para arremessar contra as portas.

O gnomo ficou observando o homem em silêncio até que não conseguiu mais se conter:

“Você sabe o que acontece com todos que sobreviveram à maldição das trevas?”

Rumple parou de vasculhar os arredores, sinal de que prestava atenção. O gnomo pressionou o próprio corpo contra a superfície do espelho, excitado.

“Como você sabe, o que a pessoa era antes não desaparece durante seus anos como Senhor das Trevas. Ela só continua lá, escondidinha, no único fiapo de luz que sobrou dentro daquela alma corrompida.” –ele explicou- “Então um fenômeno curioso acontece.” –ele disse, abrindo os braços em forma de arco e fazendo uma careta, como se estivesse em um palco- “A pessoa desenvolve uma segunda personalidade, que cresce e ganha vida própria. A personalidade controlada pelas trevas.” – ele estendeu os dedos na frente do rosto, fazendo o número dois.

Rumple se aproximava cada vez mais do espelho.

“Esta personalidade comete as piores atrocidades que uma mente doentia poderia conceber. A lista de crimes é longa. E a única razão pela qual a pessoa não enlouquece com a crueldade de seus atos...” –ele girou o dedo, apontando para uma de suas têmporas e cruzou os olhos- “... é porque sua consciência está adormecida, dentro da personalidade original da pessoa.”

— Mas ninguém viveu tempo suficiente para sobreviver depois de se libertar das trevas. – Rumple comentou.

O gnomo abriu um sorriso satisfeito.

“Agora vem a parte interessante” – ele continuou- “Quando as trevas deixam a pessoa, ela não se lembra direito das maldades que cometeu. Somente tem uma vaga lembrança. Mas os atos de sua personalidade maligna não vão embora. Oh, não! Eles ficam guardados no inconsciente.”

Rumple estava tão próximo do espelho que sua respiração formava uma camada de vapor na superfície.

“Então... o que acontece quando a consciência desperta e lança a sua luz sobre a sombra que se esconde no inconsciente?”

O reflexo parou de falar, encarando Rumple sem se mover, ainda com aquele sorriso sinistro estampado no rosto quando seus braços se projetaram para fora do espelho e o puxaram com força para dentro do objeto.

No mundo real, Rumplestilskin despertou em meio aos próprios gritos.

...

Um par de mãos segurou seu rosto, repetindo para que se acalmasse. Quando ele se deu conta de que o pesadelo havia acabado, reconheceu as faces de sua amada Belle. Ela estava prostrada ao seu lado enquanto os demais lhe fitavam de perto com ar preocupado.

A luz da manhã encontrou seus olhos e ele tapou a visão contra a luminosidade forte. O cheiro de orvalho invadiu suas narinas, e os sons comuns da fauna local preenchiam seus ouvidos. O frio típico de uma floresta úmida o fez estremecer. O mago havia conseguido. Ele havia transportado o grupo para longe de Storybrooke.

Ainda se sentindo fraco, ele foi ajudado por David, que precisou usar apenas uma mão para erguê-lo do solo.

— Bem vindo de volta ao mundo dos vivos. – David disse.

Rumplestilskin ainda estava sem entender direito onde ele e os demais haviam ido parar. Ele levou um susto quando Belle começou a limpar as folhas presas ao seu sobretudo, que tinham sujado a parte das costas enquanto ele esteve inconsciente.

— Ei. Está tudo bem? –ela perguntou.

Ele respondeu que sim, mas na verdade, não tinha certeza de nada. A floresta não se parecia com a Floresta Encantada, nem com nenhuma região familiar que ele tivesse visitado.

— Onde estamos? Que lugar é esse?

— Nós não sabemos ainda.

Rumple verificou cada um dos membros do grupo. Faltavam duas pessoas.

— Onde estão Regina e Henry?

Os demais se entreolharam e a insegurança que transpareceu em seus rostos respondeu sua dúvida. Um medo instintivo começou a crescer dentro dele quando sua mente pensou na pior das hipóteses.

— Não me diga que...

— Nós não sabemos. — interrompeu Mary — Tudo pode ter acontecido. Quando o mago nos transportou para longe de Storybrooke, eu me lembro de ver os dois ao meu lado.

— Então por que eles não estão aqui? Onde mais eles poderiam ter ido parar? – ele disse, angustiado.

— Rumple...

Ele não podia acreditar nisso. Filho e neto perdidos para sempre? Primeiro Bae. Agora Henry? Por quê? Por que ele estava destinado a perder tudo que mais amava?

“Porque você é fraco demais para protegê-los.” – disse uma voz no fundo de sua cabeça.

Uma sombra passou por seu rosto e, devido a um truque da luz, seus olhos deram a impressão de conterem um sutil brilho de loucura...

— Rumple? – Belle o chamou, tocando seu braço, e a voz agora parecia ter se calado.

— Eu estou bem. – ele respondeu, segurando sua mão e plantando um beijo.

O grupo encontrou uma trilha já desgastada pela ação do tempo. Eles caminharam pelo ermo, seguindo por onde ela conduzisse. O trajeto serpenteava entre colinas e riachos, e a paisagem revelava os contornos de uma área montanhosa. Em dado momento, o grupo avistou um círculo de pedras no topo de uma colina alta. O formato delas, como dois pilares contendo uma pedra deitada em cima, lembrava a entrada de um templo.

— Bom saber que haja magia neste mundo. Já facilita bastante as coisas para o nosso lado. – Rumple comentou.

— Para você, quer dizer. –David questionou- Se a gente pode usar magia, então o mal que existir neste mundo também pode.

O clima era agradavelmente frio, e quando eles entraram de novo em uma floresta, uma neblina desceu sobre a terra, tornando impossível enxergar o caminho adiante.

David já estava ficando sem paciência

— Assim não dá. Não consigo ver quando tem uma árvore na frente! Estou cheio de cortes no rosto e nos braços por causa dos galhos.

Eles ouviram um barulho de roupa sendo rasgada.

— Alguém teria um fósforo? Se tiverem uma lata ou garrafa, posso improvisar uma lanterna. – Belle sugeriu.

Rumplestilskin segurou sua mão e disse que não havia necessidade de estragar seu vestido. Ele estalou os dedos e a neblina recuou um pouco.

— Ah, você está aí, Mary. – fez David, conseguindo ver o rosto dela e dos demais – Que maravilha. Parabéns, Rumple. Pena que não da para enxergar o resto do caminho. – ele apontou para a trilha e para a parte da floresta aonde ela conduzia, ainda encoberta pela intensa neblina.

Rumple já estava de saco cheio daquele mauricinho pomposo.

— Você reclama mais que uma velha solteirona com uma bengala enfiada no...

— Ei! Olha o linguajar na frente da minha esposa.

Os rostos dos dois estavam tão próximos que seus narizes quase se tocavam. Belle tentou apartá-los antes que saísse uma discussão.

— Parem com isso. Gente, nós estamos andando há mais de uma hora e ainda não encontramos nem sinal de pessoas. Se eu tiver de andar de novo, a sola do meu sapato vai desaparecer.

— Ela tem razão. Vamos descansar um pouco. – Mary concordou.

— Descansar? No meio do nada? Claro, que ótima ideia. Esta floresta deve estar cheia de feras selvagens, mas hey, vou dar uma parada para esticar as pernas.

Mary lançou um olhar tão irritado ao marido que até Rumplestilskin ficou com medo de olhar na direção dela.

— David, se você não sentar, eu vou dar em você com aquele galho enorme. Senta!

Ele trocou um olhar com Rumple, dando a entender que tinha de lidar com isso o tempo todo. Rumple simplesmente deu de ombros. A esposa era dele, então ele que se virasse. Belle nunca havia tentado lhe dar ordens, por exemplo. Exceto quando tentou usar sua adaga, mas isso não vinha ao caso.

— Traidor. –David murmurou, obedecendo as ordens da esposa.

...

O grupo já descansava havia dez minutos quando David pressentiu que havia mais alguém presente na clareira. E pelo que seu instinto lhe dizia, a pessoa estava lhe observando escondida atrás do matagal.

— Alto lá! Não se aproximem! –veio um grito agudo dentre a folhagem.

— O que é isso? Quem é você? – gritou Belle de volta.

O som inconfundível de um arco sendo retesado ficou bastante claro para todos.O receio tomou conta do grupo. Eles não conheciam a região. Acaso teriam trespassado no território de alguma tribo selvagem sem saber?

— Não queremos lhe machucar. Estamos apenas passando pela floresta.

— Então por que você não tomou a estrada principal? – a voz ecoou dentre as árvores.

David e Mary se entreolharam, igualmente perdidos.

— Nós nem sabíamos que havia uma estrada. Por favor, nos deixe passar!

Rumplestilskin estava perdendo a paciência com aquele covarde, que se escondia enquanto insinuava ameaças. Pelos seus cálculos, ele devia ser ainda um garoto de seus dez anos.

— Pare de brincadeiras. Mostre a cara, covarde!

A folhagem mais à direita se agitou e o agressor misterioso emergiu. Era uma figura diminuta se comparada aos adultos, e ela trajava um longo robe azul marinho. Suas mãos ostentavam seu belo arco e seus dedos estavam retesados na corda, prontos para disparar a flecha no primeiro que ousasse atacar. Seu rosto cheio de sardas estava contorcido em uma expressão feroz que lhe emprestava mais coragem do que alguém de sua idade deveria ter. Mas a características mais marcante era sua vasta cabeleira, composta de cachos rebeldes cor de fogo que cresciam para todos os lados.

— Não me chame de covarde! Não se mexam ou atiro. – disse a garota, se aproximando da clareira e mirando cada um dos invasores da floresta onde ela costumava passear com seus pais.

...

— Ah, eu não acredito nisso. Só pode estar brincando. Essa coisinha diminuta estava ameaçando a gente?

— David! – Mary exclamou- Mais respeito com ela.

Mary mal a conhecia, mas havia simpatizado com a jovem de imediato. Ela parecia não ter medo de enfrentar seus inimigos, não importa o quão numerosos fossem ou a diferença de idade que tinham. A menina a lembrava de seus dias como Branca de Neve, o período mais solitário de sua vida, no qual ela teve de lutar por sua sobrevivência.

— Por favor. Nós não somos da região. Nos perdemos a caminho da nossa cidade. Se você pudesse nos dizer onde fica a estrada, ficaríamos agradecidos.

A ruiva encarou cada um deles com seus vívidos olhos azuis e decidiu que no fim das contas eles não eram uma ameaça tão grande.

— Vocês estão na antiga trilha que leva ao vilarejo de Westham. A estrada fica mais a leste.

Belle não podia deixar de reparar na pouca idade da garota.

— Você parece muito nova para estar andando sozinha na floresta. Conhece estas bandas?

— Não me subestime, moça. Já tenho idade suficiente para me alistar no exército da família real. –ela afirmou com convicção.

Todos do grupo arregalaram os olhos, divididos entre a incredulidade e a surpresa.

— Mas você não tem nem uma espada! O que pretende fazer nas tropas? Lavar o chão das fortalezas? Carregar cobertores e arrumar as camas da enfermaria? –David questionou.

—Não, idiota. Eu vou ser uma flecheira. Guerras foram vencidas graças a uma boa equipe de atiradores de longa distância. – ela disse com orgulho feroz.

Mary suprimiu uma risada ao ouvir David ser chamado de “idiota” por alguém com metade da sua idade.

— Bom, isso é problema seu. Mas guerra é um negócio desgraçado. Só espero que esteja pronta para morrer mais cedo do que seria a sua hora. –disse David, e Rumplestilskin se surpreendeu ao ouvir o príncipe repetindo o que ele pensava a respeito do assunto.

— Ainda assim, eu vou me alistar. Não me interessa saber o que você pensa sobre meu plano. –a ruiva insistiu, assertiva.

— Mas que garota simpática. –comentou Rumple- Não sei se essa empáfia toda é bravura ou burrice.

A garota voltou a retesar seu arco com assustadora rapidez.

— Se eu quiser, eu enfio uma flecha no seu peito antes que você perceba.

— E eu sou um proficiente usuário de magia. Magia das trevas. –ele enfatizou- Se eu quisesse, eu já teria lhe reduzido a cinzas com um estalar de dedos, garotinha. – ele ameaçou de volta.

— Parem com essa implicância! Isso não leva a lugar nenhum. – Belle exclamou, exasperada – Escuta, hã...qual é o seu nome, mesmo?

Merida. Significa mérito na língua dos meus antepassados. Mas também pode ser traduzido como bravura. –ela respondeu, estufando o peito.

Belle apresentou um a um os presentes a Merida e pediu que ela lhes conduzisse pela estrada até chegarem ao castelo real. Uma vez lá, talvez eles pudessem descobrir onde estavam em relação à cidade de onde vieram.

Ainda desconfiada, ela concordou, avisando que demoraria um dia inteiro de caminhada para chegar ao destino.

— Merida, espera. Antes de partirmos, eu só gostaria que você respondesse uma dúvida para esse idiota aqui. – pediu David- — Só me diga uma coisa: onde nós estamos?

A pergunta era tão sem noção que a ruiva finalmente se convenceu de que o grupo realmente vinha de uma terra totalmente desconhecida.

Este é o reino de Camelot. Fundado por Uther Pendragon durante a guerra de unificação e agora, herdado por seu filho único, o rei Arthur. Ou como o populacho costuma chamá-lo, o herdeiro do dragão.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Merida conduz seus novos amigos ao castelo de Camelot, onde eles esperam conhecer o mago Merlin, a maior lenda da antiga Bretanha. Mas ao alcançar seu destino, eles são recepcionados por uma anfitriã que está prestes a entrar para a história como sua maior inimiga e responsável pelo trágico fim do reinado de Arthur.
.
Gente, venho fazer um pedido. A fic tem 10 acompanhamentos, mas apenas 1 leitora atenciosa vem comentando até o momento. Peço que, a quem puder, que por favor ao menos torne o acompanhamento público. Assim você ajuda a história a atrair mais leitores fãs de OUAT. Obrigada pela atenção.