Amandil - Sombras da Guerra escrita por Elvish Song


Capítulo 7
Encontros com orcs


Notas iniciais do capítulo

Oi! Mais uma vez aqui, dedicando este capítulo a todos que comentaram no anterior. Vocês são demais!
Espero que gostem da nova postagem; nos vemos nas notas finais.



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Amandil teve de conter a náusea ao olhar para o rei dos Goblins: uma criatura imensa e disforme, cuja papada caía em camadas por sobre a barriga protuberante, de dedos grossos como braços de crianças, pernas curtas e largas como patas de elefantes, olhos redondos e saltados que brilhavam maldosos. Pela primeira vez, ela sentiu medo diante de um orc: não estava em campo aberto, onde poderia lutar e se defender, mas presa nas profundezas da terra, longe do céu, dos ventos e das estrelas, sufocada por quilômetros de solo, contida por amarras fortes às quais não adiantaria se esquivar, pois alguns milhares de Goblins a rodeavam. Não havia como escapar! Se estivesse sozinha, talvez conseguisse correr pelas plataformas suspensas de madeira e corda, escalar rápido o bastante para fugir... Mas nunca deixaria seus amigos para trás!

Olhando para o lado, ela viu os amigos lutando enquanto eram arrastados para diante do monstruoso ser, que perguntou:

– Quem ousa entrar em meus domínios? – a voz da criatura era fina e esganiçada, tão destoante de sua figura que, não fosse a situação perigosa, a elfa teria rido. Mas não havia como rir, naquele momento, pois os anões estavam presos, tal qual ela mesma, e Bilbo se perdera em algum momento... Que o pobre halfling não encontrasse algum orc, ou sua vida não duraria muito! – Espiões? Ladrões?

– Anões, Sua Malevolência – respondeu o orc que parecia ser líder do grupo que os aprisionara, antes de puxar Amandil com violência pelo braço, derrubando-a de joelhos diante do monstro – e esta jóia aqui. – Amandil se ergueu como pôde, as mãos atadas à frente do corpo, e encarou com altivez o disforme rei dos subterrâneos, enquanto mãos sujas e rudes a agarravam pelos cabelos para exibi-la à criatura – parece da nobreza élfica.

– Faz tempo que não temos elfos como hóspedes – riu-se o Rei-Orc – daremos a você nosso melhor tratamento, mulher. Veremos quanto tempo dura esse seu olhar arrogante. – e então dirigiu-se a seus subordinados – Revistem-nos! Revistem-nos todos! Tirem-lhes as armas, tirem tudo o que têm.

Mãos duras de garras afiadas arrancaram as armas e pertences dos viajantes; a despeito de toda a sua luta, foram despojados de tudo o que carregavam, enquanto os objetos eram empilhados diante do grande orc. De repente guinchos irromperam, quando a espada de Thorin foi arrancada do cinto do anão:

– É a Fende-Orc! A Fende-Orc! – enquanto a lâmina brilhava com sua luz fria, vários orcs agrediram Thorin. O que parecia ser o segundo em comando – mais feio ainda do que os demais, apontou então para a elfa – e ela porta o Destino! O elfo-fêmea porta a Lâmina da Morte!

Maranwër foi chutada para longe, como se fosse um objeto extremamente perigoso, enquanto golpes de cajado e socos atingiam a jovem elfa, que se desviava com habilidade, mas não o suficiente para sair incólume às agressões. O grupo todo se viu sob os ataques dos goblins, até que o “rei” se manifestou:

– Já chega. – e para a Companhia, que se recompunha – Foi divertido, mas agora isso nos leva à questão: vocês vêm à minha porta, trazendo duas armas cuja visão já é um insulto à minha espécie. Quem são vocês, e o que estavam fazendo?

Todos se mantiveram mudos, e os anões procuraram se posicionar de modo a ocultar o rosto de Thorin, que, se reconhecido, seria imediatamente morto. O orc não gostou do silêncio, e declarou:

– Se não vão falar, então vão gritar. – Um goblin alto e largo, coberto por pelos hirsutos, se aproximou com um chicote de ponta de metal – Comecem pelo mais jovem.

Os orcs agarraram Kili, e iam jogando-o outra vez ao chão quando, ao perceber que Thorin iria inteferir, Amandil tomou a dianteira; luz intensa emanava de seu corpo, e uma onda de energia empurrou para trás todos os orcs ao seu redor, fazendo-os cair uns sobre os outros enquanto a voz dela soava, imperativa:

– Não! – ela se posicionou de modo que seu corpo protegesse o jovem guerreiro. Conseguira defende-lo, mas sua magia não seria forte o bastante para dizimar tantos orcs! Ela ainda era jovem, e não tinha a experiência de Galadriel. Mais do que depressa, tratou de tentar distrair o rei-orc, enquanto pensava em uma saída – Eles estão comigo. Eu os guiei até aqui... Eles são... Eles são minha escolta! – Ah, desculpa mais imbecil! O rei-goblin não iria engolir isso!

– Anões escoltando uma elfa? – a besta riu – se quiser mentir, mulher, pelo menos conte uma história que faça sentido. – com um revirar no trono que fez tremer a precária plataforma onde se encontravam, falou para o orc com o chicote – mas, já que ela parece mais disposta a falar algo... Arranque a verdade dela.

Um golpe de cajado derrubou a moça de joelhos novamente, e as mãos do algoz rasgaram e arrancaram sua camisa, deixando-a seminua. Um segundo inimigo a agarrou pelos cabelos e os puxou, obrigando-a a fitar o rei; toda a Companhia se debatia e gritava, tentando impedir o que se passaria, mas estavam muito bem contidos em suas amarras, e nada puderam fazer quando o chicote desceu com força sobre as costas nuas da moça. Ela trincou os dentes quando sua pele se rasgou, a dor roubando-lhe todo o fôlego, mas não gritou; apenas fitou seu adversário com ar de desafio, e declarou:

– Não vai arrancar nada de mim, besta do submundo. – Havia em sua voz mais coragem do que sentia realmente; talvez, se pudesse aguentar aquilo por tempo o suficiente, Mithrandir os encontrasse, pois ela sozinha não tinha força para matar tantos orcs, mesmo que usasse magia... Gandalf era sua única esperança. A valentia da prisioneira divertiu seu carcereiro:

– Você é forte e teimosa, então? Muito bem, vejamos até onde consegue ficar calada. Contramestre, mais forte. Quero ver as costelas dela expostas através da pele.

Mais quinze golpes caíram sobre o dorso da garota, que não pôde conter os gritos de dor quando a carne rasgou até os músculos. Se aquilo se prolongasse, ela morreria logo, esvaída em sangue! Foi nesse momento que Thorin, conseguindo escapar às amarras, arrancou o chicote das mãos do contramestre e, com um soco vigoroso, esmagou a face deformada. Havia ódio em seus olhos quando confrontou o rei dos goblins:

– Eu sou o líder desta companhia. Se quer alguém, pegue-me, mas deixe os outros partirem.

– Ora, ora, Thorin Escudo de Carvalho, filho de Thrain, Filho de Thror, Rei Sob A Montanha! – o orc fez uma mesura desajeitada e sarcástica, enquanto Thorin ajudava uma trêmula Amandil a se levantar e a vestia rapidamente com seu casaco, cobrindo-lhe o torso nu. – Ah, eu me esqueci, você não tem mais montanha... Então, na verdade, não é ninguém! – um riso maligno se espalhou pelo rosto da besta – Conheço alguém que pagaria muito bem por sua cabeça. Só a cabeça, sem o corpo. Um orc pálido, montado num Warg branco. Já o viu antes?

– Azog está morto! – declarou o rei anão, com pouca convicção na voz. Já não tinha certeza de nada. Preocupava-se com seus parentes e amigos, e também com a jovem elfa, que jazia de quatro no chão, incapaz de se erguer sem apoio. Foi só então que ele percebeu: a moça não estava prostrada de dor, mas sim, rastejando para perto das armas. Cabia a ele manter os goblins distraídos, a fim de que ela pudesse alcançar as lâminas. – Eu mesmo o matei!

– Acha mesmo? – A atenção do rei-orc estava totalmente focada em Escudo-de-Carvalho – acha que findaram os dias profanos de Azog? – um riso macabro findou a frase, antes que ele se voltasse a um goblin pouco maior que um pássaro – mande uma mensagem ao orc pálido. Diga-lhe que temos sua presa. E quanto aos outros... Tragam o esmagador de ossos!

– E a elfa, meu senhor? – perguntou um orc recurvado, que devia ser uma espécie de conselheiro.

– Vai ser a primeira a... – ele não terminou a frase, pois, veloz como um raio e livre das amarras, a elfa saltou sobre o monstro, golpeando-o com sua espada, a qual reluzia com chamas brilhantes. Mas sua mão estava trêmula e fraca após o impiedoso açoitamento, e a lâmina atravessou o ombro, em vez do peito do alvo. Com um rugido de dor, ele a lançou para longe com um tapa – a ferida feita vertia sangue e brilhava no mesmo branco luzidio das chamas de Maranwër - e exclamou:

– Quero a cabeça de todos eles!

Livre das amarras, Thorin chutou as armas para o alcance dos amigos, armando-se ele próprio. Pensou em socorrer Amandil, porém a guerreira já se punha em pé, sem ter soltado sua espada; provavelmente morreriam ali, mas não o fariam sem lutar. Postaram-se costas contra costas, e desse modo defenderam um ao outro, impedindo os orcs de se aproximarem... Mas por quanto tempo poderiam resistir? Quanto poderia durar aquela luta? E mesmo que se estendesse por dias, não havia como vencerem tantos milhares de inimigos!

A situação estava quase perdida quando, parecendo vir de todos os lugares e nenhum ao mesmo tempo, uma voz de homem se fez ouvir, entoando palavras de um élfico muito antigo. Luz intensa preencheu a caverna, fazendo os orcs correrem e gritarem, lançando-se uns sobre os outros para fugir à claridade, e uma enorme explosão de luminosidade se deu diante do trono, que estremeceu. A plataforma começou a ruir, e em meio à luz surgiu uma figura que conheciam muito bem: Mithrandir.

– levantem-se! Corram! – ordenou o mago, vendo que cada um já recuperara suas coisas. E como se tivessem asas nos pés, os quatorze prisioneiros correram, seguidos de perto pelo Istari.

*

Estavam outra vez cercados por orcs: empoleirados nos pinheiros à beira do precipício que os wargs se esforçavam em derrubar – os últimos ainda de pé - os anões, a elfa, o halfling e o mago se seguravam como podiam aos galhos das árvores, sabendo que um escorregão seria morte certa.

– Gandalf, estão derrubando as árvores! – avisou Dori, quando mais um pinheiro cedeu ao peso dos lobos gigantes, fazendo os três anões que o ocupavam saltarem para a maior de todas as árvores, inclinada à beira do penhasco.

– Vão para o precipício! – ordenou o mago, ele próprio fazendo como podia para alcançar as árvores mais próximas, em direção à árvore alta na beira do despenhadeiro. À medida que avançavam, as árvores às suas costas tombavam; percebendo que, se não retardassem os lobos, não haveria escapatória, Gandalf deixou-se ficar para trás e, com algumas palavras, fez explodir um círculo de fogo em redor do grupo, o que manteria os lobos afastados por tempo suficiente. O último pinheiro começava a ceder ao peso dos vários guerreiros, e se inclinava cada vez mais; alguns escorregavam, e foi por um triz que Bombur não caiu, escapando disso ao agarrar-se ao cajado de Gandalf. O mago agora se esforçava em segurar o pesado anão, impossibilitado de fazer o que fosse, além de evocar um encantamento: um pedido de socorro. Que a ajuda não tardasse!

Mas aquele que liderava o grupo de wargs e orcs não seria parado por um simples círculo de chamas: com um grito de guerra, Azog saltou para dentro do perímetro delineado pelo mago, ladeado por dois outros lobos cavalgados por dois outros orcs altos e fortes. Ao ver aquele que destruíra sua família, e jurara matar até o último de sua linhagem, Thorin abandonou toda a prudência e, saltando para o chão, bradou seu desafio:

– Venha, covarde! Venha me enfrentar! Vamos terminar o que começou em Moria!

Aquilo era pura loucura, e todos podiam ver! Os anões que ainda conseguiam escalar tentaram descer da árvore onde se abrigavam, mas foram impedidos pelos lobos, que saltavam e tentavam abocanhar as pernas dos guerreiros antes que estas tocassem o chão. Em desespero, Amandil olhou para Gandalf:

– Ele vai morrer! Não consigo usar magia, e nem a espada... Minha força está falhando! – o mago compartilhava da agonia da jovem, mas sabia que o socorro não tardaria a chegar... Se Thorin pudesse aguentar por tempo o suficiente, o ancião terminaria o feitiço que os poria todos a salvo!

Escudo de Carvalho se engalfinhara contra o orc pálido numa luta ferrenha e desleal, onde a cavalgadura do segundo era o trunfo maior. O rei anão aparava cada golpe do oponente em seu escudo, devolvendo-os com a espada Orcrist, mas longe de causar algum dano maior. O lobo protegia seu mestre, lançando os dentes afiados e o enorme peso contra o outro lutador.

Finalmente, de algum modo, Thorin conseguiu derrubar seu inimigo da montaria; enfurecido, despejou golpes de espada sobre Azog, sem perceber a besta lupina que avançava em defesa de seu amo. O grito de alerta veio de muitas vozes, mas no instante que o anão levou para se virar, algo aconteceu: o lobo ganiu e recuou, com sangue escorrendo por seu olho, e entre o animal e o guerreiro estava... Bilbo! Empunhando sua pequena espada, o hobbit protegia seu amigo, e estocara o olho da fera, que agora rosnava e tentava contornar aquele novo inimigo que tivera a ousadia de tirar-lhe uma vista!

Atordoado com o que vira, Thorin levou um segundo para retomar o foco, segundo este que foi decisivo: o impacto violento de uma maça contra suas costas o lançou de bruços ao chão, e a escuridão desceu sobre seus olhos.

Vendo o tio desmaiado, e o pequeno hobbit cercado por dois inimigos poderosos, Fili e Kili saltaram sem se preocupar com as feras que tentavam abocanhá-los, cravando suas espadas nas bocas dos lobos quando estes saltaram sobre si, e correndo em defender o tio e o amigo. Mas suas espadas não chegaram a tocar a do orc pálido, nem a de qualquer outro: piados agudos se fizeram ouvir, e um vendaval surgiu acompanhado do som do lufar de muitas asas. Como se obedecendo a um sinal, Azog e os dois orcs se retiraram, e os que haviam permanecido além da barreira de chamas fugiram como se um grande perigo os afugentasse.

Confusos, os membros da Companhia viram descer sobre si pássaros enormes, que os tomaram em suas garras e os tiraram do chão. Alguns tentaram lutar e fugir, mas Gandalf alertou:

– Não lutem, seus tolos! As águias nos levarão até um lugar seguro!

Deste modo, toda a comitiva se viu transportada através dos céus por longos quilômetros, cruzando a noite ao som do bater possante de asas poderosas, que os deixariam longe do perigo.


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Notas finais do capítulo

E então? Bilbo sendo herói, Thorin mostrando seu lado mais nobre, Amandil lutando lado a lado com os anões... Quem gostou levanta a mão!
Sei que ainda está bem parecido com a história original do filme, mas as coisas começam a mudar bastante com o encontro com Beorn (que já vai se dar de modo diverso ao do filme, mais parecido com o livro). Espero que continuem gostando, e deixando as reviews lindas que me deixam nas nuvens!
beijos, flores do meu jardim



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