Não sabia como estava minha expressão facial depois de ter acordado de mais um sonhovisão, mas Brandan me olhou de relance com um olhar preocupado e fez o cavalo diminuir a velocidade.

– A senhorita está bem? – perguntou, com os olhos brilhantes me impedindo de pensar por um segundo.

Passei minha mão pelo rosto e o senti úmido de suor; meus olhos ardiam e minha cabeça latejava levemente. Eu realmente não sabia o que responder a pergunta dele.

– Fisicamente sim. Psicologicamente não. – fui sincera.

– Não se preocupe, ficará bem depois que chegarmos a Allium. Já estamos chegando. – ele respondeu, mas parecia um pouco nervoso.

Senti uma súbita pressão em minha cabeça e gemi baixo.

– O que há? – Brandan indagou, novamente preocupado.

– Minha... cabeça... – mas agora já não era apenas minha cabeça; sentia me estômago embrulhar também. Tentei respirar fundo; não seria nada elegante vomitar em cima de Brandan.

– Senhorita Alexandra? – sua voz me pareceu distante, conforme a pressão em minha mente almentava.

– Ai... – choraminguei como uma criancinha.

Então desmaiei. Não sei se foi um desmaio, mas foi como ser induzida a dormir, apenas para ter mais visões estranhas.

Dessa vez eu estava em um jardim com várias flores de variadas cores, e vi novamente a jovem de cabelos vermelhos. Agora que eu via a cena com clareza, podia dizer que ela tinha vinte anos e que aquilo era uma festa; haviam convidados dançando e bebendo; conversando animadamente ou apenas sentados, observando.

A mulher abriu os olhos e sorriu. Admito que fiquei com inveja, porque ela era realmente bonita, do tipo que faria modelos se sentirem inferior. Seu rosto era intocavelmente lindo, a pele parecia esculpida em mármore, e os olhos eram violetas. Não eram azuis em seu tom mais escuro, eram realmente violetas.

Ela parou de dançar, ofegante, e ainda sorrindo puxou um homem pelas mãos.

– Dance comigo, Lothar! – pediu ela, com uma voz melodiosa.

O homem que ela puxava era alto, tinha um ar importante e majestoso e os cabelos escuros. E com um susto vi que, apesar de estar mais novo na visão, era o mesmo Lothar que eu conhecera...

– Aella, sabe que só danço em público quando sou obrigado. – ele parecia sem jeito – Assim como você só canta quando está sozinha. – Lothar lançou um sorriso esperto e charmoso.

– Então é assim? – Aella ergueu uma sobrancelha, com uma expressão de que havia acabado de aceitar um desafio.

Aella se aproximou correndo aos músicos e disse algo que os fez parar de cantar e tocar, mas apenas para recomeçarem outra melodia, e a mulher começar a cantar.

“I hear your voice on the wind And I hear you call out my name

Listen, my child!' you say to me, I am the Voice of your history, Be not afraid - come follow me, Answer my call and I'll set you free.'”

Ela tinha uma voz doce, quase mágica, que me fazia sentir várias coisas. Tristeza, saudade, alegria, amor... Me sentia ficando melhor apenas por ouvir sua voz.

“I am the Voice in the wind and the pouring rain, I am the Voice of your hunger and pain; I am the Voice that always is calling you, I am the Voice - I will remain”

Seria possivel adormecer em um sonho? Parecia que isso estava acontecendo comigo. Mas eu sabia o que realmente estava acontecendo; estava sendo tirada do sonho, iria acordar, porem dessa vez de uma maneira mais suave.

“I am the Voice in the fields when the summer's gone, The dance of the leaves when the autumn winds blow; Ne'er do I sleep throughout all the cold winter long; I am the force that in the springtime will grow.”

As imagens passaram a ficar borradas, na medida em que eu começava a sair de meu subconsciente.

Abri meus olhos; minha cabeça ainda doía, mas agora era uma dor mais fácil de suportar. Acima de mim havia um teto de mármore. E eu não estava montada com Brandan em um cavalo; estava em uma cama macia e com um longo e fino vestido branco... talvez uma roupa de dormir medieval.

– Você acordou! – uma voz feminina e jubilosa exclamou ao meu lado.

Virei meu rosto e reconheci a garota de cabelos castanhos claros e olhos dourados. Astrid, a princesa. Ou Astrid dos olhos dourados, como aquele cara a havia chamado.

– Onde estou? – minha voz falhou.

– Em Allium.

***

Aella: